sexta-feira, 29 de abril de 2022

Upuranga Nenê



Nascer sem nome como todos nascem

A fila de espera demorou um tento

E como feras nessa selva cacem

Pra sobreviver é preciso alimento

E ante outra fera maior se disfarcem

Muito cuidado com o contravento


Nada nos livra do correr de um dia

O sol nos aponta com inúmeros dedos

Com a mais movimentada monotonia

Em seus desnecessários segredos

A nau navega com sua grave avaria

Somos apenas mais pobres brinquedos


Os miseráveis estão pela calçada

Juntam seus trapos com certo capricho

Ter o mundo e só não ter mais nada

Do que a cidade acaba jogando no lixo

E mesmo a noite não ter mais calada

Cada um escondido em seu nicho


Nascer sem nome como todos nascem

Filhos da poeira e do pó e do cimento

E como estrategistas caminhos tracem

Tenham cuidado com cada momento

E ante outra fera maior se disfarcem

Muito cuidado com o contravento...

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