quinta-feira, 21 de abril de 2022

Alguns Poemetos Sem Nome N° 161

Cansado de canções que passam, enrouqueço a minha voz, dia sim, outro também. Sentido-me como uma folha que cai sem aviso, sem adeus, de um amarelo que só pode mostrar um mudo desespero. Cale o mundo por um instante, esse será meu luto, nada mais. Os passarinhos, principalmente, fiquem de bico fechado. E se as ondas puderem, não façam barulho também. Cansado de estações que passam, enlouqueço minha mente, dia sim, outro também...


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Ela era tão linda... Com seu sorriso indefinido de muitas (poucas) luas que não voltarão jamais. Com seu enigma feito de perguntas simples como outro qualquer. Como se o amanhã fosse um espelho quebrado que não tem mais jeito algum de colar. Com suas singelas letras e determinantes algarismos que nunca mais mudarão. Olho solene e triste pedindo em desespero porque nada pode ser alterado. Ela era tão linda... Tenho que parar de ficar lendo epitáfios...


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O corpo dança, a alma ri. As asas nos levam para longe, barcos também levam. Fogueiras sobem com mãos de fumaça, quebram o meio da noite. Fiquemos alegres, mesmo quando existem motivos para tristeza. Até a solidão é uma forma de companhia. Desenhemos sóis pelo chão, afugentemos as chuvas. E não nos esqueçamos de outras mágicas pelas paredes, não importando a sua cor. Minha mãe lia tantas histórias para mim! E meu pai sabia algumas de cor... Eu repetirei minhas fantasias até que elas retornem, tão bonitas quanto já foram em um passado dia...


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Chicle de bola. Tutti-frutti, às vezes hortelã, uva para nossa alegria. Ou a caixinha comportada de surpresas comuns. Não um só, vários para compensar não saber fazer bolas. Quase ruminando. Sem sóis e sem chuvas necessários. Mascar no canto como os quase heróis e louras fatais. Um monte, quase clandestino, proibido até. Se engolir, morre, eis a lenda daqueles tempos. Guardar escondido num cantinho do congelador. Novas maravilhas de uma tecnologia. O tempo passou. Os chicles também...


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Faça de conta que o tempo não passou. Se esforce ao máximo para isso. Faça de conta que nada mudou. Que é apenas uma ilusão e tudo está na mesma. Faça de conta que antigos sonhos irão se realizar. Que não envelhecemos. Que a morte não está mais próxima. Que antigos rostos voltarão em breve. Faça de conta que antigos carnavais não terminaram.


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Ouço um silêncio que acaba me oprimindo. Um silêncio que só as máquinas podem dar. Oprimidos e opressores - quase a mesma coisa. O trem se atrasou e o barco não veio também, minhas viagens acabaram não acontecendo. Respiro um ar quase sujo que apenas me adoece. Todas as nossas alegrias agora são imitações baratas de umas outras tantas imitações. As cores saíram do meu rosto de clown e nem ao menos posso adentrar no picadeiro novamente...


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Nada contra os grandes seres, até me simpatizo com muitos deles. Mas prefiro os pequeninos, aqueles que fazem grandes viagens pelo que chamamos quase nada. Joaninhas com seu colorido caprichado, pois não? Vaga-lumes desafiando as estrelas, socorrendo as noites sem lâmpadas elétricas. Borboletas chegando como destaques de um carnaval que nem vimos. Abelhas fazendo piruetas entre flores. E formigas, essas parecendo alegres, mas apenas tristes, parecendo seres humanos, nós, principalmente quando estão em alheios funerais...

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