domingo, 6 de dezembro de 2015

Insaneana Brasileira Número 88 - Asas

Um azul que nem sabemos como. Eram dias e dias marcados em amarelados papéis. E eu aqui sozinho escutando sons indistinguíveis. Como? Quando? Por que? E repetições sem resposta pintavam meu rosto. Vamos até algum lugar. Só não sabemos nem onde. É a resposta para todos os nossos erros. E quando menos esperamos acontece. Mas às vezes as coisas acabam perdendo seu encanto. Tanto quanto o brinquedo que não era tão legal. Gritemos mais uma vez e uma vez só. Em praças ou num silêncio qualquer. Porque os silêncios são os mais sábios. E o verdadeiro contentamento só é expresso pelos olhos. Os olhos falam muito mais do que se imagina. E eu continuo triste. Triste demais até. Com coisas que nunca poderei mudar. E eu não continuo triste. Diga-se a verdade: eu sempre o fui. E existem coisas que nasceram para ser o que são. Não escolho meu destino. Mas posso escolher as cartas com que jogo. Não escolho meu caminho. Mas posso escolher com que pés eu andarei. O suor escorre da minha testa. A tarde é quente. Todas as tardes são boas na verdade. Mesmo quando há desespero e luto. As manhãs são maliciosas demais para se confiar. E as noites são cruéis como abismos que temos vontade de pular. Mas as tardes não. Não vieram para nada e assim é bem melhor. Não podem e nem ferem ninguém. Só são o que realmente são. Possuem em si tudo aquilo que as horas não trouxeram. Quantos temas eu procurei fazer canções. E quantas ideias loucas desperdicei em minha lucidez. Nada mais me amedronta e isso é o verdadeiro perigo. O abandono se tornou a melhor companhia. Meus sonhos. Ah! Meus sonhos. Com tanto carinho embrulhei vocês em papel de pão. Porque era só isso que eu tinha. Quantas vezes vocês caíram no chão. Porque os meus dedos eram pequenos demais.  E a inocência era uma ferida que eu acabava aumentando. Cada corte é apenas um cão que agora se domesticou. Não há nada. Ele lambe minhas mãos agradecidamente por todos os meus afagos. E porque eu o alimentei mesmo quando não gostava de mim. Eu me lembro de todas as fábulas e ainda sei contá-las. Principalmente as que eu mesmo criei. Conte um conto e aumente um ponto. Tudo é teatro. Chega de bons conselhos. A dor nunca está ao lado. E a surpresa nunca errou seu alvo. Eu sou o meu próprio carrasco. E nunca houve algum medo que não estivesse em meu peito. Eu sou o meu próprio demônio. E fui culpado das coisas que os outros me afligiram. Caros amigos. Obrigado por me matarem religiosamente todos os dias gratuitamente. Caros amigos. O amargo do veneno que me lançaram irá matá-los um dia. Por isso tudo é muito engraçado. Tudo é um grande espelho. Todas as imagens se invertem e quase nunca notamos. Beijos negados. Poderiam trazer a ternura que nunca conheceram. Afagos que foram evitados. Poderiam lhes trazer um pouco da eternidade que nunca possuíram. Agora o tempo já passou. E o ridículo volta como a carta que o correio devolveu. Eu não sou nada. Mas o nada pode ser maior que o próprio infinito. Meus bolsos estão vazios. Mas histórias eu tenho mais que ninguém. A maldade cabe toda em mim como um desenho bonito que foi jogado fora. Eu sou o que sou. É uma grande pena. As lentes os meus óculos poderiam estar agora quebradas. E eu poderia ser mais um cliente do meu próprio engano. Asas faltam. Alguém tem alguma pra me arrumar?...

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