domingo, 20 de dezembro de 2015

Eu - O Vivente

Eu não falo mais - só canto
Já arrumei meu quarto - a imensidão
Eu não ando mais - só voo
Minha companhia - é a solidão
Minha cama é outra - as nuvens
E eu já estou chegando - na estação
Meu mundo é outro - o sonho
E cada dia o mesmo - o de cão
Eu não choro mais - deságuo
Mas sei desaguar bonito - como verão
Não quero mais viver - existo
E existir é correr - para a extinção
Minha palavra de ordem - teimosia
Coisa que não tive e nem quero - padrão
O país onde vivo - o Carnaval
Onde roubo alegrias - como ladrão
Minha filosofia - a dúvida
Já toquei no fogo - queimei a mão
A minha amada - são todas elas
Porque todas elas - me dão tesão
Meu conceito estético - eu quero
Mas quando me irrito - não quero não
Meu conceito ético - eu gosto
Mesmo quando paro - é minha ação
Minha aritmética - é a sorte
Minha simplicidade - a complicação
Meu contentamento - mais uma
Quando aí me canso - basta o chão
Meu grande enigma - a claridade
O meu carro segue - pela contramão
Meus labirintos - os segundos
Minha memória se perde - na confusão
Minha grande tela - o mar
A cor dos meus olhos - a escuridão
Não me frustro mais - apenas repito
O resultado da prova - a exaustão...

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