quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Passos Passados No Passado


Eu deito em jornais e durmo na calçada em noites frias e vazias. Aproveito as chuvas para ficar molhado até os ossos. Sujo muito meus pés no barro de velhas ruas em dias de muito frio. São apenas passos e passos são assim mesmo...
Enterros com voluntárias carpideiras sem vintém algum e trabalho caprichado. A última visão de rostos entre flores no sono mais terrível. Eu choro quando certas cenas que não me lembro colocam suas mãos para fora no lago da memória. Despedidas sempre doem e são apenas despedidas...
Conversas em bares que já fecharam sem ter acabado o expediente e nem a cerveja. Foram loucuras que não mais praticamos porque o corpo não mais obedece as ordens agendadas. Eu sou o último bêbado indo para casa e amanhece...
Olhos olhando para uma escuridão sem limites e que faz tanto e tanto mal. Eles entortaram com o fogo mal colocado inocentemente e agora não adianta se voltarão ao seu lugar. De azuis ficaram quase que negros. E como enxergam tão pouco...
Um amor desesperado como em folhetins baratos de feiras impossíveis. O rosto mais lindo que poderia se ver em algum tempo. E um adeus sem adeus para todo o sempre. Onde estará ninguém sabe...
Que os deuses me ajudem e façam propícios meus discursos para as plateias mais cheias. E as minhas ideias sejam altas como as nuvens que estão nos céus quase todos os dias. E meus versos os mais loucos possíveis...
Eu como os doces que deram e morro aos poucos como quem viaja. Vamos aos portos de cada coração ver navios que chegam e partem. Vontades que nascem mesmo que abortadas. São lindas todas as águas mesmo que mortas...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Cobras


As cobras vêm chegando... Atenção!
Umas vêm voando, outras rastejando pelo chão...
Umas vem sibilando, outras cantando a canção...

As cobras estão perto... Muito cuidado!

Umas vêm pela direita, outras pelo outro lado...
Algumas estão chorando, outras acham engraçado...

São muitas cobras... Cuidado com elas!

Umas são realistas, outras adoram novelas...
Umas dizem que curam, outras são as mazelas...

Possuem muitos tons... Como são coloridas!

Umas gostam de sonhos, outras de suas vidas...
Umas falam de paz, mas as picadas são doloridas...

Enganaram Adão e Eva... Podem enganar você!

Muitas histórias escritas, mas proibidas de se ler...
A força é que sabe tudo, mas ninguém pode saber...

As cobras vêm chegando... Atenção!

Cuidado com o seu pé, cuidado também com a mão...
Elas apenas vêm cobrando se você fez sua lição...

É Como É


É como é não tem mais jeito
É como é não tem defeito
A briga pelo dia a dia
A briga pela alegria
A briga mas quem diria?

É como é não tem escola

É como é não tem esmola
A vida te maltrata
A vida quase te mata
A vida também retrata?

É como é não tem mais chance

É como é não tem revanche
A regra é usar trapaça
A regra é a desgraça
A regra já virou fumaça?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Não Tem Pra Ninguém


Não tem pra ninguém
Eu faço o mal penso que é o bem
Não tem pra ninguém
Eu dou uma de rebelde e acabo dizendo amém
Não tem pra ninguém
Eu acho que supero e fico aquém

Eu bailo na ponta dos pés

Eu penso e falo o invés
Tenho dedos quero anéis

Não tem pra ninguém

Eu não tenho tesão e tenho um harém
Não tem pra ninguém
Fui eu que queimou as bruxas de Salém
Não tem pra ninguém
Eu digo que é filé mas é acém

Eu escondo a minha cara

E a multidão toda pára 
Que careta mais odara

Não tem pra ninguém

Eu espero dias melhores e não vêm
Não tem pra ninguém
Morro de medo de coisas do além
Não tem pra ninguém
Não tenho um mas tenho cem

Eu não conheço a letra

Mas sei fazer careta
Pra disfarçar a treta

Não tem pra ninguém

Essa vida só tem um porém
Não tem pra ninguém
Eu dou uma de careta adoro o vaivém
Não tem pra ninguém
Fala como adulto penso como neném

Não tem pra ninguém!

Insaneana Brasileira Número 91 - Espírito de Coisas

Esta é a história. Tantas vezes contada e algumas esquecida. Dias quentes estes. Onde há de tudo. Até frio. E frases bem pequenas de efeito. Quando se valia alguma coisa. Mas sem saber exatamente o que era. Mas eras. Mesas grandes de madeiras. E mistérios óbvios que faziam nosso coração palpitar. Um encanto morto e moedas espalhadas pelo chão. Muito bons. Mas as névoas chegaram e não há pra onde fugir. Linda a universalidade das coisas bem pequenas. E aquilo que eu queria e nunca tive. Sábias bobagens. E ainda muito mais. Mesmo quando sabemos que estamos mortos. Queremos nos levantar. É assim. Faz parte de tudo aquilo que não vemos. Até onde podemos. É o óbvio batendo na nossa porta e vendendo sua desnecessária enciclopédia. O sucesso vem num espirro e o fracasso já está chegando.
Esta é a história. O vestido da minha prostituta de luxo já está todo manchado e cheio de remendos. E as rugas surgiram na juventude morta de cada dia. Eu nunca faço desafios que não me levem ao abismo. Mas durmo nas noites frias abraçado ao urso de pelúcia. É bom se aliar aos que mais poder possuem. Há muito abandonei os símbolos. Mas sou um deles. Eram dias e dias manchados de belas manchas. E o natural apenas sobrenatural. Tanto medo que o medo se tornou coragem. E boas surpresas vieram até de algumas pequenas tragédias. Das gregas não. Porque as gregas já vem com lentes de aumento em seu kit. Nunca mais toquemos em determinados assuntos. 
Esta é a história. E milhares de tombos ralaram milhares de joelhos. E os mares ainda foram bons conosco. As telas mudaram e só não mudaram demais. As mesmas palavras cansadas ainda andam pelos muitos caminhos. Eu repetirei sempre as mesmas orações. E a minha fé ainda anda guardada em um destes baús. Onde está a chave desconheço. A cerveja está gelada e a alegria se contagiou com um deboche bem comportado. E a gramática me puxa as orelhas de vez em quando. É uma corda bamba chamada chão. E antes de dormi pensamos na manhã que poderá ser falha. Muitos alguns não as tiveram. E alguns muitos desejaram não tê-las. Eu sou o gênio da lâmpada.
Esta é a história. Feições iguais para diferentes pessoas. E um vaivém de brinquedos abandonados em sujas e pobres praças. Quantas cores desperdiçadas e tintas jogadas foras. Num mesmo ritmo que se não enoja pelo menos entendia. Os golpes falham e vamos ao chão. E nossos dentes se desgastam tremendo de frio. Os olhos são os maiores mentirosos. E os ouvidos os seguem em largos passos. Não queremos mais nada à não ser esquecer. E algumas mentiras piedosas que restam no fundo da caixa grande de papelão. Me tiraram a voz. Mas o canto continua. Alguns versos simples que fazem doer de tanta ternura...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Como Deve Ser, Como Deveria Ser

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Não é que eu faça regras,
Regras foram foram feitas pra se quebrar,
Eu apenas jogo pedras,
Pedrinhas na beira do mar, 
E o mundo vai girando,
Vai girando sem parar
E eu nem vou notando
Como o tempo está a passar...

Não é que eu faça caras ou bocas,

Eu até tento disfarçar,
Como minhas ilusões mais loucas
Que não canso de guardar,
Guardo nos lugares mais diferentes,
Guardo no fundo do mar,
Está nas fogueiras mais quentes
Ou num raio de luar...

Não é que eu queria ser seu dono,

Não é que eu queira mandar,
As nuvens me trazem sono
E eu já não posso mais acordar,
Estou sozinho no meu quarto
Do meu lado alguém não há,
Talvez algum dia eu parto
Só não não sei quando chegar...

Eu Já Nasci


Eu já nasci morrendo
Não era nada do que eu queria
Eu já nasci sofrendo
E logo acabou a alegria

Eu já nasci lutando

E nada disso entendia
E caminhei chorando
Aonde quem saberia?

Eu já nasci quieto

No meio duma litania
E meu amor foi secreto
Ninguém o corresponderia

Eu já nasci de luto

O luto que me caberia
Com um coração bruto
Senão não conseguia

Eu já nasci tremendo

Daquilo que não bebia
E acho que estou morrendo
Um pouco em cada dia...

domingo, 20 de dezembro de 2015

Eu - O Vivente

Eu não falo mais - só canto
Já arrumei meu quarto - a imensidão
Eu não ando mais - só voo
Minha companhia - é a solidão
Minha cama é outra - as nuvens
E eu já estou chegando - na estação
Meu mundo é outro - o sonho
E cada dia o mesmo - o de cão
Eu não choro mais - deságuo
Mas sei desaguar bonito - como verão
Não quero mais viver - existo
E existir é correr - para a extinção
Minha palavra de ordem - teimosia
Coisa que não tive e nem quero - padrão
O país onde vivo - o Carnaval
Onde roubo alegrias - como ladrão
Minha filosofia - a dúvida
Já toquei no fogo - queimei a mão
A minha amada - são todas elas
Porque todas elas - me dão tesão
Meu conceito estético - eu quero
Mas quando me irrito - não quero não
Meu conceito ético - eu gosto
Mesmo quando paro - é minha ação
Minha aritmética - é a sorte
Minha simplicidade - a complicação
Meu contentamento - mais uma
Quando aí me canso - basta o chão
Meu grande enigma - a claridade
O meu carro segue - pela contramão
Meus labirintos - os segundos
Minha memória se perde - na confusão
Minha grande tela - o mar
A cor dos meus olhos - a escuridão
Não me frustro mais - apenas repito
O resultado da prova - a exaustão...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Mamãe, Olha Eu Aqui! (É Normal)


É normal não ser mais normal
É normal ser alguém mais cruel
Fazer num enterro um novo carnaval
Achar que no Inferno está o Céu!
E eu perdi toda a minha razão...
Mamãe, olha eu aqui na televisão!

É normal não ter mais calma

É normal desconhecer a piedade
Fazer do seu corpo a sua alma
Achar que manda na cidade!
E eu me perdi e perdi feio...
Mamãe, olha eu aqui no tiroteio!

É normal não ter mais ética

É normal poder passar a perna
Fazer a traição mais profética
Achar que a recompensa é eterna!
E eu perdi a briga nem se mete...
Mamãe, olha eu aqui na internet!

É normal não enxerga mais nada

É normal ser mais um louco varrido
Confundir caminho com estrada
Esperar que nada tenha sentido!
E eu me perdi pelo meu sucesso...
Mamãe, olha eu aqui no Congresso!

É normal não entrar em desespero

É normal bater palmas pro que não entendo
Eu não quero nada nada espero
Por trintas pratas eu também me vendo!
E eu perdi a noção de certo e errado...
Mamãe, olha eu aqui no Senado!

É normal não saber de onde vim

É normal não saber aonde irei
Faltaram as flores no meu jardim
No meu reino não existe mais lei!
São muitos olhos e muito pouca vista...
Mamãe, olha eu aqui na revista!

É normal não ser mais normal

É normal ser alguém mais cruel
Fazer num enterro um novo carnaval
Achar que no Inferno está o Céu!
E eu perdi toda a minha razão...
Mamãe, olha eu aqui na televisão!

Proibido


Não queira não pede não pode
Não ande não pare não peça
Não fale não reclama não fode
Só faça o que interessa

Não cante não cale não come

Não estude não leia não entenda
Não viva não beba não tenha fome
O soneto é pior que a emenda

Não reclame não clame não proteste

Não passeie não perca não espere
Não conspire não pergunte não teste
A palavra também nos fere

Não adoce não amargue não tempere

Não cogite não acenda não aponte
Não cure não salve nem supere
Há muito secou a fonte

Não seja não faça não realize

Não imagine não cumpra não acorde
Não peça não dê não precise
A vida já é um recorde

Não queira não deseje não pode

Não sonhe não peça não exprime
Não vive não morre não fode
Aceite logo esse crime...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Pequenas Coisas


Eu falo de pequenas coisas
Pequenas coisas que não queria falar
Falo de tudo que passei
De coisas que não queria passar
De estradas que percorri 
Com um calor daqueles de matar
Andarilho que fui e sou
Coisas que não se podem mudar
Nuvens brincando no céu
Nuvens que brincam no ar
Sonhos se tornando pesadelos
Que fazem na noite acordar
Que o coração bate bem rápido
Que só me fazem chorar
E sobre essa mesquinhez humana
Que não tem jeito de parar
São muitas manchetes que falam
Do que não pode salvar
Brinquedos mais que modernos
E que podem machucar
Estamos todos no meio da praça
Mas ainda nos falta o ar
Eu falo de coisas pequenas
Coisas pequenas que não queria falar...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Insaneana Brasileira Número 90 - Modus Operandi


Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... Olhe para a frente porque nos lados não existe nada. Olhe para a frente porque as vitrines estão lá. Olhe para a frente porque novos códigos falam sobre nada.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... Não espere a esperança porque hoje ela não vem. Não espere porque o futuro agora dorme. Não espere porque a luz faltou e a net caiu.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... Todas as histórias são as mesmas requentadas. Todas as lendas possuem um fundo de mentira. Todas as promessas para sempre foram quebradas.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... É a força fazendo uma queda-de-braço desonesta. É a força fazendo com que a fila interminável não ande. É a força pedindo desculpas por ter apenas te matado.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... Mil adaptações para que tudo se torne obsoleto. Mil adaptações para que o mundo pare de girar. Mil adaptações para que a raiva cegue milhares de olhos.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... Uma nova dança para quem não tem pés. Uma nova cor para quem perdeu o juízo. Uma nova novidade para velhas velharias.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... As fronteiras calam os sonhos. As fronteiras cavam muitas covas. As fronteiras quebram os brinquedos de todas as crianças.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... Um carnaval com as caras mais sérias. Um carnaval repetido em todos os altares. Um carnaval onde as carpideiras possuem seu bloco.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... E qualquer lado está errado. E qualquer dia está frio. E qualquer amada nos trai.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... Não há piedade na fome que nos ataca. Não há piedade na mão que nos fere. Não há piedade no escárnio que nos persegue por escuros corredores.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... O corpo está caído no asfalto. O corpo carrega todas as dores do mundo. O corpo leva a culpa de todos os desatinos da alma.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... Já começou a temporada de caça. Já começou o discurso sem palavras do mais sábio dos homens. Já começou o amor que nos jogará no abismo.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai... O que eu não entendo nos serve de abrigo. O que eu não entendo serve como qualquer outra desculpa. O que eu não entendo me abriga do perigo.
Tantas vezes se repete. E a inteligência se vai...

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Protege-Me

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Protege-me de mim mesmo quando choro
Porque meu choro pode conter o perigo
Das vinganças mais impulsivas e tolas...

Protege-me do mundo que está lá fora
Com seus carros loucos e a falta de tempo
E de todos estes edifícios que irão cair...

Protege-me da falta de flores no jardim
Porque os colibris cometeram suicídio
E as borboletas entraram em greve...

Protege-me das falsas ilusões da vida
Os meninos jogam suas bolas de meia
E ninguém pode sorrir tanto ou mais que eles...

Protege-me da vergonha de chorar
De demostrar minhas emoções em pleno palco
E de plantar cambalhotas lá no picadeiro...

Protege-me da falta de ar e de toda pressa
Dos ternos de marca que nem sei falar o nome
E do modismo que fica ainda mais feio...

Protege-me de toda e qualquer transa barata
Que tira o sabor dessa nossa malícia
Como a comida que se come com pressa...

Protege-me das intermináveis fileiras de soldados
Com seus uniformes com suas cores tristonhas
E com seus projéteis que matam todo sonho...

Protege-me das mentiras que falam por aí
Eu não quero ser mais um tolo balançando a cabeça
E quero minhas dúvidas aonde elas estão...

Protege-me e na noite dorme ao meu lado
E se no meio do sono acordar meio assustado
Possa ter a única certeza que estou protegido...

Eu Quero Temporais


Eu quero andar sob os temporais
Mais de um! Muito mais...
Brincar com seus raios seus trovões
Fazer belas pinturas com seus clarões
Viver todas estas emoções!

Eu quero andar sob os temporais

São lindos! São meus carnavais...
Participar da dança das folhas caídas
Trazer de volta tantas e tantas vidas
Me esquecer das despedidas!

Eu quero andar sob os temporais

Sua agitação! É a minha paz...
Poder me molhar até meus ossos
Fazer valer todos meus esforços
Matar todos os remorsos!

Eu quero andar sob os temporais

Todos eles! Muito mais...
Esquecer até quem é que sou
Me perder no caminho onde vou
Amando como nunca se amou!!!

Impossível Impossibilidade


Quando fomos dar o grande salto
Olhamos pro chão e não pro alto
Quando demos o primeiro gemido
Não havia mais nenhum sentido...

Impossível impossibilidade

De reter a idade
De conter a maldade
De matar a saudade

Quando nos atrevemos à sair

Olhamos pro chão e ele ia cair
Quando vimos já era muito tarde
Pra fazer o papel de covarde...

Impossível impossibilidade

De comer a cidade
De cantar a verdade
De trazer a felicidade

Quando estivemos em outras terras

Olhamos que haviam outras guerras
Quando entendemos toda a questão
Acabou-se então nossa razão...

Impossível impossibilidade

De fazer a atividade
De acalmar a tempestade
De findar a adversidade...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Queria Porque Queria


Queria porque queria
Não era noite nem era dia
Eu vim aqui foi à revelia
Deixei guardada minha alegria
Aonde estava? Quem saberia?

Queria porque queria

Não é saudade é nostalgia
Não há fraqueza só teimosia
E eu dançava e eu sorria
E destes tiros eu me protegia

Queria porque queria

Não é rotina é monotonia
Era o canto do canto da afonia
Dentro da escuridão eu via
Que era o fim da euforia

Queria porque queria

E quem fazia e quem faria
O fim de toda essa apatia
Talvez ciência talvez magia
Mas com certeza uma alquimia

Queria porque queria

Não era noite nem era dia
Eu vim aqui foi por picardia
Deixei de lado minha romaria
Aonde estava? Quem saberia?...

Depois da Chuva

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Depois da chuva... Tudo molhado...
E o ar agora meio que inconsistente...
O ar que dançava parece parado...
E o meu coração ficou doente...

O chão está úmido... Está encharcado...

A água continua ainda aqui presente...
O fogo agora está de todo apagado...
E se existe vida ela ficou latente...

O céu chorou... O mundo todo chorado...

Cada qual com tem a sua vertente...
E eu fico no meu canto calado...
Pelo menos agora não estou contente...

Depois da chuva... Tudo molhado...

E esse nosso dia está tão diferente...
Meu coração ficou assim parado...
E o meu corpo ficou indiferente...

domingo, 13 de dezembro de 2015

O Vento Não Mais Me Espanta

Tempestades longe de mim!
O sopro das nuvens não mais me alcança
Assim como já perdia toda esperança
E não há mais flores em meu jardim!

Não choro perdi todo o encanto

Agora só há esse semblante fechado
Não há felicidade só há espanto
O que era o mais certo só deu errado!

Ventania pode ir logo embora

Já não há mais nada para refrescar
Cada um tem seu destino sua hora

Não temos como disso escapar!

Eu até entendo que há uma demora
Vá logo venta pelas bandas do mar!

O Tamanho do Nome

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O seu nome está esquecido...
O seu cartão está vencido...
Valeu a pena ter vivido?

Quanto mais o tempo assim passa

Vamos nos perdendo em meio à fumaça
Vítimas de uma mesma trapaça!

A sua moda está ultrapassada...

A sua sorte já está fadada...
Valeu a pena brigar por nada?

Quanto mais vai mudando tudo

Vamos ficando com o canto mudo
Com mãos de aço e pés de veludo!

O seu passado está presente...

O seu reinado está doente...
Valeu a pena ser demente?

Quanto mais o mundo vai girando

Vamos pelo caminho que vão levando
Só nunca sabemos até quando!

A sua luta está vencida...

A sua causa está perdida...
Valeu a pena ter essa vida???

sábado, 12 de dezembro de 2015

Infinita Persistência

Desde os tempos dantes:
Os nossos corações batem descompassados numa rotina de muitos sustos. E às vezes, até nossa alegria nos faz mal. Isso é assim, assim sempre o será...
A dúvida habita em nós:
As cartas estão marcadas desde do primeiro jogo que foi jogado. E os dados são lançados sobre o manto que não temos. Até o doce tem seu amargo no fim...
É hora dos novos brinquedos:
Nossas mãos são trêmulas desde a nossa mais nova juventude. E quando menos esperamos, quebram ao cair ao chão ou simplesmente perdem sua graça. Esse foi o dia de ontem que tanto prometia...
As cinzas acabam cobrindo tudo:
Num canto da noite iluminavam e eram tão pequenas como nós mesmos. E tudo se apaga, um dia enfim, até sol irá embora junto com as estrelas. Esta é a proporção que o matemático assim sonhava...
Nada detém as cores:
Nem na sua vinda nem sua ida, os jardins tremem de prazer ao sabor de incontáveis estações. Os carros passam apressadamente na metrópole vazia e vadia. Onde estão os corações que se alegravam alegremente?
Eu posso ver finalmente um claro enigma:
Fui crucificado e nunca o soube, mas as dores acabaram por domesticar o meu demônio pessoal. As correntes estão quebradas e isso o prende muito mais. É hora de bailarmos sobre os túmulos tal noturnos fantasmas...
É tão barato rir:
Eu não sabia do maior de todos os segredos, todos estamos enfileirados e dores e medos são exatamente iguais. O assassino de hoje fará amanhã sua cama no mesmo asfalto. E as notícias só sabem falar certas frases...
Eu nunca pude te amar:
E agora que tudo já se passou agradeço aos deuses que me livraram duma morte por antecipação. A rotina envenena como as raízes quebram pedras. E o pulo no abismo é uma vez só...
Tudo é bem ensaiado:
Não há improviso, as reações chegam como deveriam assim chegar em nossa carne e só os ossos possuem a verdadeira coragem. A certeza é o Leviatã que espreita sob as águas. Cada monstro que faça seu papel...
Eu sou aquilo que sou:
Há em mim todos os defeitos possíveis, até aqueles que ainda não foram inventados. Voo em altas horas sobre noites escuras na procura da próxima presa. E meus olhos são como dardos mortais como só a tristeza pode ser...
Desde os tempos dantes:
Os nossos corações batem descompassados numa rotina de muitos sustos. E às vezes, até nossa alegria nos faz mal. Isso é assim, assim sempre o será...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Innsaneana Brasileira Número 89 - Magic

Estrelas sentimentais nunca cairão. E olharemos sempre ao alto para poder vê-las. Os símbolos são o maior engano da praça. São o que são. Exatamente exatos como tudo deveria assim o ser. Eu escolho palavras. Como quem colhe espinhos com muito carinho dentro de um roseiral. Eu ando por milhares de léguas. Sem alguma trégua. E tudo é por acaso até o ser. Não me condenem e nem se afastem de mim. Eu preciso ser incomodado em doses homeopáticas. Cada grão de poeira é um detalhe preciso. Eu ainda preciso de lágrimas. Dos rios que percorrem meu rosto. Rios amazônicos talvez com certeza. E muito calor para os dias frios. Nada mais importa senão delicadas insignificâncias. Aqui mesmo em algum lugar conhecido que desconheço. Foi tão bom mesmo sendo um pesadelo. Fique aí com suas muitas moedas nos bolsos. Mortos não tem bolso nem teoremas para comprovar. É tudo sono. E os sonos são mais fortes que as avalanches que cobrem as aldeias e fazem sucesso em rede nacional. Há muitas transformações por aí. E o idiota também pode ser o herói do dia. E a clareza pode enceguecer os olhos mais que o nevoeiro em Londres. Filmes antigos é o que temos. E o que podia ser mais bonito se tornou o mais feio. Juramos de pés juntos que acreditamos em tudo. Mas as dúvidas acabam indo conosco para a cama. Faça da maneira mais incorreta o incorreto. E vamos brincar de vice-versa até cansarmos o fôlego. Pouco há para ser dito. Faltam aves-marias e padre-nossos em nossos parcos depósitos. Cada refeição acaba sendo a última e por isso mesmo tem a saudade como tempero principal. Modestamente sou o melhor dos melhores. E minha teimosia é bem vinda todas as vezes que quiser vir me visitar. Nem precisa bater palmas no portão. Guarde suas palmas para me aplaudir. Mesmo quando o tombo magistral não foi de propósito. É que eu bebi muito na semana passada. E a embriaguez teima em nunca mais sair de nossas vistas. Quando e onde e por que. Há muitos trios que fazem frios e não economizaremos em seus plurais. É o erro de bom tamanho. E o soco que cada cotidiano deveria levar. Nada mais ou nada menos. Eu devolvo seus presentes e faço presente minha perseguição. Sou cruel como todo mundo e tento até ser um pouco mais. Vá que as coisas melhorem e pelo menos uma vez a maldade triunfe. Eu me canso pelos segundos segundos. E não sei onde vou parar. É que todas as convicções convenceram à si mesmas do contrário que queriam falar. Não é meu e nunca foram nossos o desencontro das idéias. É porque cada palhaço acaba tendo tintas diferentes e os pincéis ainda são trêmulos e insanos. Há venenos com bons aromas e outros com gosto ainda melhor. O esperanto espera. E já desisti de ser um bom menino fazem eras e eras. Só sei que ainda quero algumas flores e um pouco de ternura porque a minha já se acabou. Lemos velhas revistas em salas de espera. Tudo muda e até as mudas mudam de lugar. É assim mesmo. Alguns velhos amigos envelhecem mais da conta e outros são apenas eternos. Nada mais faço. À não ser brincar com as palavras até a hora de sua partida. Porque eu permanecerei em altos brados por todas as vogais e todas as consoantes que usei. Muitos poetas hão de existir e muitos filósofos e até alguns bêbedos profetas de final de semana. Duvido que com tanto amargo como eu. O meu amargo às vezes se traveste em belos doces. Não tente me comer. Eu mesmo o aviso. Há veneno em profusão na minha pobre inocência. Minha inocência não é como a dos pássaros e meus sonhos não podem ser descritos nem com os olhos. Morcegos e bacurais me caem bem melhor. E eu acabo imitando a imitação da imitação e faço isso todas as vezes que assim puder. Nada é diferente disso. As duas velhas senhoras se tornaram amigas. E o velho dragão troca elogios com seu Criador. Não mande mais cartas. Os correios agora só entregam contas. E afinal de contas são aquilo que esperamos. As estatísticas enlouqueceram e muitos panos escondem fantasmas bonitos que são os mais ruins. Paremos por aqui bem aqui e bem agora. Onde está a mágica? O cara da cartola que o diga...

Quando

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Quando sinto de mim mesmo
Um certo asco
Vou andando à esmo
Sou meu carrasco
Me penduro na forca e me mato
Me matando em vida
Isto é mais um fato
Ou apenas a minha lida...

Quando me deliro intransigente

Eu quero porque quero
Vou pensando ser gente
E aí me desespero
Me machuco todo acabo me firo
Não procuro socorro
Foi apenas mais um tiro
É claro que eu não morro...

Quando me revolto com o mundo

Eu tenho que calar
Tudo muda num segundo
Hão sempre de mudar
Me arrisco na frente da bala
Eu sou meu alvo
A razão é a primeira que cala
Ninguém está salvo...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Poema das Cortinas


Cortinas amigas onde brinco escondido
Ai de mim que sofro porque tenho vivido
Cortinas comportadas e bem silenciosas
Ai de mim e minhas feridas mais dolorosas

As cortinas são sombras mais esparsas

São o próprio teatro com as suas farsas
São o próprio tempo o tempo em tudo
Vamos ouvir o discurso de um surdo-mudo

Cortinas amigas onde escondo meu choro

Ai de mim que nem ao menos tive namoro
Cortinas bem vestidas com um véu colorido
Ai de mim que sofro porque tenho vivido

As cortinas escondem a tristeza do nosso dia

São o próprio teatro com toda a sua poesia
São o próprio respirar até não poder mais
Muitos dias de guerra e poucos dias de paz

Cortinas amigas onde vivo escondido

Ai de mim que sofro porque tenho vivido
Cortinas comportadas e mais silenciosas
Ai de mim no meu enterro coloquem rosas...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Só A Poesia (Ela Vem)


Quando ando sozinho por estas ruas
E o frio me castiga tal qual a tristeza
Aquela mesma tristeza de dias idos
Ela vem e acaba me consolando...


Quando a febre vem queimando o rosto
E os delírios atingem a vida em seu ápice
E até respirar se torna uma tarefa difícil
Ela vem e sopra vida em minhas narinas...

Quando as pedras machucam os meus pés

E mesmo reta a estrada acaba dando no nada
E mesmo que o choro vem em cada minuto
Ela vem e seu beijo traz a ternura que foi...

Quando velhas fotos me fixam pelas paredes

E o que um dia foi alegria faz crescer meu medo
Mas não consigo mais correr ou me esconder
Ela vem e me faz quarenta anos mais novo...

Quando eu enlouqueço um pouco a cada dia

E as manchetes furam meu peito como lanças
E mentiras caem como num castelos de cartas
Ela vem e suas palavras são mais que eternas...

Quando meu sonho prepara suas malas pra partir

E nada resta nem meus anéis nem os meus dedos
E as coisas porque lutei foram todas vãs
Ela vem e me dá mil motivos pra continuar...

Filha mãe esposa amiga amante e puta - Poesia...

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O Menino Grita!


O menino grita grita pra ser escutado
Grita nas ruas na praça não escolhe lugar
Não importa se é certo ou se é errado
Ele apenas quer poder enfim sonhar...

O menino grita e nunca escolhe quando

Fala de coisas que vê e que também sente
A sua esperança sempre estará esperando
Mesmo como este mundo que está doente...

O menino grita até que ele fique rouco

Não quer mas acaba chamando a atenção
Cuidado! O médico acabou ficando louco
Pode haver veneno em sua medicação...

O menino grita e acabou a brincadeira

Cansou e agora vai pra casa dormir
Cada um tem sempre a sua maneira
Até logo até nunca não estou nem aí...

domingo, 6 de dezembro de 2015

Insaneana Brasileira Número 88 - Asas

Um azul que nem sabemos como. Eram dias e dias marcados em amarelados papéis. E eu aqui sozinho escutando sons indistinguíveis. Como? Quando? Por que? E repetições sem resposta pintavam meu rosto. Vamos até algum lugar. Só não sabemos nem onde. É a resposta para todos os nossos erros. E quando menos esperamos acontece. Mas às vezes as coisas acabam perdendo seu encanto. Tanto quanto o brinquedo que não era tão legal. Gritemos mais uma vez e uma vez só. Em praças ou num silêncio qualquer. Porque os silêncios são os mais sábios. E o verdadeiro contentamento só é expresso pelos olhos. Os olhos falam muito mais do que se imagina. E eu continuo triste. Triste demais até. Com coisas que nunca poderei mudar. E eu não continuo triste. Diga-se a verdade: eu sempre o fui. E existem coisas que nasceram para ser o que são. Não escolho meu destino. Mas posso escolher as cartas com que jogo. Não escolho meu caminho. Mas posso escolher com que pés eu andarei. O suor escorre da minha testa. A tarde é quente. Todas as tardes são boas na verdade. Mesmo quando há desespero e luto. As manhãs são maliciosas demais para se confiar. E as noites são cruéis como abismos que temos vontade de pular. Mas as tardes não. Não vieram para nada e assim é bem melhor. Não podem e nem ferem ninguém. Só são o que realmente são. Possuem em si tudo aquilo que as horas não trouxeram. Quantos temas eu procurei fazer canções. E quantas ideias loucas desperdicei em minha lucidez. Nada mais me amedronta e isso é o verdadeiro perigo. O abandono se tornou a melhor companhia. Meus sonhos. Ah! Meus sonhos. Com tanto carinho embrulhei vocês em papel de pão. Porque era só isso que eu tinha. Quantas vezes vocês caíram no chão. Porque os meus dedos eram pequenos demais.  E a inocência era uma ferida que eu acabava aumentando. Cada corte é apenas um cão que agora se domesticou. Não há nada. Ele lambe minhas mãos agradecidamente por todos os meus afagos. E porque eu o alimentei mesmo quando não gostava de mim. Eu me lembro de todas as fábulas e ainda sei contá-las. Principalmente as que eu mesmo criei. Conte um conto e aumente um ponto. Tudo é teatro. Chega de bons conselhos. A dor nunca está ao lado. E a surpresa nunca errou seu alvo. Eu sou o meu próprio carrasco. E nunca houve algum medo que não estivesse em meu peito. Eu sou o meu próprio demônio. E fui culpado das coisas que os outros me afligiram. Caros amigos. Obrigado por me matarem religiosamente todos os dias gratuitamente. Caros amigos. O amargo do veneno que me lançaram irá matá-los um dia. Por isso tudo é muito engraçado. Tudo é um grande espelho. Todas as imagens se invertem e quase nunca notamos. Beijos negados. Poderiam trazer a ternura que nunca conheceram. Afagos que foram evitados. Poderiam lhes trazer um pouco da eternidade que nunca possuíram. Agora o tempo já passou. E o ridículo volta como a carta que o correio devolveu. Eu não sou nada. Mas o nada pode ser maior que o próprio infinito. Meus bolsos estão vazios. Mas histórias eu tenho mais que ninguém. A maldade cabe toda em mim como um desenho bonito que foi jogado fora. Eu sou o que sou. É uma grande pena. As lentes os meus óculos poderiam estar agora quebradas. E eu poderia ser mais um cliente do meu próprio engano. Asas faltam. Alguém tem alguma pra me arrumar?...

sábado, 5 de dezembro de 2015

Não É Problema

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Não é problema a satisfação garantida ou seu dinheiro de volta
É uma dor que cresce aos poucos vem trazendo revolta
É ver que há tanta mas tanta coisa por aí que tá errada
E saber que o seu sacrífico acabou dando em nada...

Não é problema quem é dono do céu quem é que manda

Se é Islamismo Budismo Judaísmo Catolicismo ou Umbanda
É que parece que Deus é eterno mas tá morrendo aos poucos
Quando vê seu rebanho se tornando um bando de loucos...

Não é problema se ela é a mais bonita ou é a mais tesuda

Os que viram as costas são os que mais precisam de ajuda
É como o doce acabasse virando mais uma coisa amarga
Acabaram cagando no vaso mas esqueceram de dar descarga...

Não problema ter medo de ir dormir e não mais acordar

É que o bandido entra pela tela e acaba atacando o teu lar
E aquele que devia te proteger acaba sendo quem te ataca
E eles roubam na cara mas você não se sente como babaca...

Não é problema ficar em silêncio ao invés de ter cantado

O problema maior é saber se ainda existe qualquer lado
Pois sempre vem a tempestade mas nunca vem a bonança
Pois o caubói caiu do cavalo e já morreu a nossa esperança...

Não é problema se como cadáveres ou se eu virei vegano

O problema maior se a minha presa é um outro ser humano
Se eu aprendi à matar pelo mais simples e mais puro prazer
Se eu só conheço o "eu" mas nem imagino quem é o "você"...

Não é problema se a moda passou e isso fico logo esquecido

É que qualquer coisa tem que ter pelo menos algum sentido
Pois nem o carnaval ele nunca foi nem será a alegria do povo
Estamos apenas construindo um Admirável Mundo Novo...

Não é problema se meu carro quebrou e levei pra oficina

Mas é problema saber que se mata na guerra até pela gasolina
E há tantas coisas que eu não pararia nunca mais de falar
Vamos parar por aqui e fique com Deus até logo e até já...

Quando Vem O Vento

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Quando vem o vento sopra novidades
Vem trazendo notícias sobre as tempestades
Quando o vento vem vem falando alto
E vem tocando sua flauta mágica pelo asfalto

Ele não se incomoda se incomoda as pessoas

Vem falando de coisas ruins e de coisas boas
De coisas antigas que faz tempo que passaram
E de coisas novas que ainda não chegaram

Quando vem o vento sopra novidades

Parece que quer acabar com todas as maldades
Não tem pena dos que erram justo e impiedoso
Descobre todos os segredos é tão malicioso

Ele não se incomoda se é muito indiscreto

Vem derrubando coisas pois é o seu objeto
Faz um bailado de folhas vivas ou mortas
Vem batendo as janelas ou fechando portas

Quando o vem vem sopra novidades

Vem trazendo notícias sobre as tempestades...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

É Poesia


É poesia...
O despertar duma noite maldormida povoada de sonhos
Onde o amor nos persegue de forma implacável assim
E grandes versos banais acabavam vindo tomar o café da manhã...

É poesia...

O anjo que pousa em nosso telhado roubando os raios de sol
Para fazer deles grandes brinquedos para os meninos que brincam
Ainda nos fundos daquele nosso grande quintal...

É poesia...

As muitas linhas que escrevemos desesperados um dia
Palavras que nunca haverão de ser lidas pela destinatária
Porque muitas vezes o segredo existe por si só...

É poesia...

A ternura que teima em nunca mais sair de nosso peito
A saudade que nos come uma à uma cada entranha
Por aqueles que partiram e esperam nossa partida também...

É poesia...

Cada cinza que jaz no fundo do cinzeiro mansamente
Porque foi esperança e desespero ao mesmo tempo
E no tempo todas as coisas se confundem diante nossos olhos...

É poesia...

O amor mais ou menos sujo que ficou em cada porto
O beijo da puta que nos pareceu mais novo que o de costume
E o sem sentido do tesão que apareceu e fez ficar vermelhos...

É poesia...

Nossa voz que grita na praça pública pelo fim dos enganos
Pela certa incerteza do fim de todas as hipócritas teorias
E quem faz a vida ter sentido mesmo que esse seja apenas risco...

É poesia...

Qualquer caminho que seja proibido qualquer maldita estrada
Cada beco escuro que apresenta seu risco máximo e noturno
E cada sombra que nos aparece de repente como assombração...

É poesia...

A viva vida que só nos restou apenas amareladas fotografias
Os motivos que se acabaram sem que ao menos percebêssemos
E os velhos ursos de pelúcia que ainda nos dão carinho...

É poesia...

O meu canto o seu canto o canto dele e o nosso canto
Junto na mais linda das canções que o mundo pôde ter 
Porque somos afinal os verdadeiros donos dos dias...

É poesia...

A velocidade em milhares de anos-luz pelas ruas da cidade
O passeio solitário em dias de festa que há tristeza também
E um olhar maior que o universo querendo enxergar o futuro...

É poesia... É poesia sim...

Não É Poesia


Não é poesia...
É um enterro solitário que ninguém compareceu
Um enterro sem flores nem velas e nem carpideiras
Onde quem amou agora dormirá sob a terra fria...

Não é poesia...

É um adeus dado sem explicação alguma de mau jeito
Onde as promessas do mais terno amor foram palavras vãs
E cada sorriso foi apenas uma máscara feita de papel barato...

Não é poesia...

É apenas o joelho ralado no susto da brincadeira de mau gosto
Onde os dias que poderiam ter sido os mais alegres não foram
E todo sonho era um pesadelo que acordava no meio da noite...

Não é poesia...

É o dia a dia dos homens maus e seu egoísmo mais que barato
Onde lutamos exatamente por nada e morremos por quase nada
E os prédios apontam pro céu rezando uma reza em vão...

Não é poesia...

É um rosto bonito servindo como o maior de todos enganos
Da menina nova que não tem mais nenhuma inocência
Cobiçando com olhos tristes as poucas moedas do meu bolso...

Não é poesia...

É o michê de traços envelhecidos e com a cara de sonhador
Que elogia a beleza que na verdade eu nunca tive e nem terei
Que caminha à passos largos pra mais triste de todas as mortes...

Não é poesia...

É a cachaça servida solene no balcão sujo e cheio de moscas
Para aquele que deixou todas as suas esperanças num dia qualquer
E hoje nem sabe mesmo que nome possuía a tal da felicidade...

Não é poesia...

A piada óbvia daquele se veste de palhaço na frente de loja
Achamos graça de tudo que ainda assim vai nos afligindo
E somos os alvos mesmo quando todo e qualquer um tiro...

Não é poesia...

A morte que nos dá tesão e a alegria que nos dá tristeza
Anos e anos já se passaram sem que nossa doença fosse curada
Apesar de que os sintomas sumissem e tivesse alta o paciente...

Não é poesia...

Quantos versos foram desperdiçados em vãs carnavais
E o vendedor apregoa sua mercadoria em dias de luto
Mesmo sabendo não vender porque sua boca precisa comer...

Não é poesia...

O beijo na boca sem tesão cercado do mais puro mau hálito
As baratas passeando pelo único quarto do barraco na favela
E os tiros que fazem parte da noite como tantas outras...

Não é poesia...

Mesmo que se façam os versos mais perfeitos do poeta famoso
Que apareça no programa famoso de todos os nobres horários
Que se invertam todas as posições possíveis de todas as palavras...

Não é poesia...

Nunca foi... E nunca será um dia...

Estados Estúpidos e Necessários


Vamos nos acariciar feito lobos
Vamos nos apaixonar feito bobos

Isto faz parte do drama que se chama vida

Isto causa a necessidade que se chama ferida
É assim que sempre foi assim que sempre será
Sabemos que o fogo queima e vamos nos queimar

Vamos fazer versos feito otários

Vamos nos perder nos diversos itinerários

É o carro novo a nova roupa a casa nova

É o sarro do povo a nova foda a asa moda
Há um otário na frente de cada um espelho
Cada vergonha e o nosso rosto fica vermelho

Vamos tentar nos matar logo na segunda

Vamos admirar cada dia uma nova bunda

É a falsa notícia que nós ainda acreditamos

É a falta de malícia com que nos adoentamos
É medo de polícia medo de bandido de ricaço
É a dispensa que está vazia constante cansaço

Vamos ter tesão como dois animais

Vamos fazer guerra pra depois a paz

Isto faz parte da nossa mais insana sociedade

Isto é a nossa mais que eterna e louca insaciedade
É o que queremos agora e queremos eternamente
Fazer parte da torcida por um mundo mais doente

Vamos nos acariciar feito lobos

Vamos nos apaixonar feito bobos...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Sem Temer

Não fique assim, meu amigo. As coisas não são tão ruins como parecem ser. Eu sei que choramos desde o primeiro momento, mas isso faz parte do jogo. Os que choram, sentem, e, benditos sejam os que choram. Benditos os que possuem histórias mais diversas pra poder contar...
Eu sei que as coisas demoram, meu amigo. E que aquilo com que sonhamos, às vezes, teimam não vir. Não é questão de conformismo, é questão de coragem vê-los ir embora como nuvens que caminham para outras paragens do céu. Sem falar que existem sonhos que estão disfarçados, não passando de decepção...
Eu concordo que a morte seja cruel, meu caro. Mas o que fazer? As rosas também possuem muitos espinhos e espinhos, sempre ferem. Vamos então viver cada segundo preciosamente, fazendo de nosso riso um presente que damos para nós mesmos...
Cada dia é um dia. Um companheiro que não conhecemos, mas que vem nos visitar. Pode ser alguém bom ou ruim, mas tudo depende dos olhos de quem está vendo. Bem e mal sempre andam juntos, de braços dados, inimigos sim, mas companheiros sempre...
Cada oportunidade é única, tenha certeza. Os rios nunca voltam atrás, assim também faz o tempo. O tempo, esse beberrão incorrigível que sempre nos conta piadas de mau-gosto, mas muito engraçadas...
Não se desespere, meu querido. O destino é a tempestade, mas a vontade é o barco. Naveguemos sobre as ondas furiosas até que chegue ao porto mais seguro...
Que suas mãos sejam rudes pelo trabalho, mas as mais ternas ao acariciar quem você ama. Que seu grito sejam escutado aos quatro cantos do mundo, mas seu suspiro só as flores escutem. Que seus olhos mesmo que molhados de lágrimas, nunca deixem de enxergar todas as flores que o jardim lhe oferece como a maior prova de todas que tudo vale a pena, mesmo quando isso significa sofrer.
Vá adiante, meu camarada. Ainda que faltem pés, a estrada sempre existirá. A poeira é eterna e serve de companheira para todos os viajantes. Novas peças serão encenadas, a platéia é sempre generosa com seus aplausos, mas sempre o pano tem que cair.
E, por fim, não tema. O medo não faz parte do nosso enredo, nem está escrito em nossos versos. A máscara do bicho-papão cai no chão quando a noite vem e, até ele, treme de frio e de sono. Não tema...

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Velhas Modernidades


O começo é o começo do fim
Não sei nem porque que eu vim
Xô! Saia de perto de mim...

A velharia do ano passado

O certo que deu mais errado
A elegância do mau-arrumado

Já contei tim-tim-por-tim-tim

Chorei muito por aquele jardim
Não sou tão mau assim...

A música que eu não escuto mais

Aquela sua promessa de paz
A minha coleção de muitos temporais

Não fui eu que amaldiçoei Caim

Nem sobrevoei pelos céus de Berlim
Nem construí torres de marfim...

O brinquedo que já foi esquecido

O trato que não foi mais cumprido
Você tire logo esse seu vestido

Eu sou palhaço não sou arlequim

Minhas faces estão com carmim
Gosto de rosas e não de jasmim

A velharia do um tempo fechado

O plano que já nasceu errado
A sombra do mal-assombrado...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...