Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem janela, chão sujo de muitos anos, tralhas e lixo espalhados por todos os cantos (bela decoração, não?). O vaso quebrado, sem sifão, a merda descia direta com o mijo e o cheiro "agradável" subia. Coleção de goteiras, matagal no quintal, coleção de mosquitos com fome e outros insetos daninhos. Algumas lacraias pra dar algum medo, claro. Vez ou outra, alguma cobra. Mobília? Tá de sacanagem, né? Umas roupas velhas, ou espalhadas pelo chão duro ou em sacolas de mercado, alguns cobertores velhos ou aquele edredom que um dia prestou. Inumeráveis pontas de cigarro do Paraguai e cinzas de maconha. Quem entra lá? Qualquer um! É só estar pra lá de bêbado ou ser tão miserável quanto os moradores fixos. Algum toco de vela por aqui ou por ali (a luz foi cortada faz tempo). Água? Só da chuva ou pega na vizinha que fazia cara feia, mas dava. E, finalmente, maravilha das maravilhas, dois pedaços de concretos já pretos de fumaça, onde vez em quando, o fogo surgia embaixo (madeira velha catada em quintais baldios ou achada em entulhos de obra) onde as latas de tinta vazias ou algumas panelas já velhas e amassadas ferviam a comida igualmente miserável para encher a barriga de quem a cachaça também virou comida. Não adianta roubar nada, aqui não tem nada que preste, apesar de que pode surgir um pobre mais pobre do que os pobres que moram ali, nunca se sabe. O casal dorme junto, abraçados e talvez até sonhem que vivem enquanto não...
Perdido como hão de ser os pássaros na noite, eternos incógnitas... Quem sou eu? Eu sou aquele que te espreita em cada passo, em cada esquina, em cada lance, com olhos cheios de aflição... Não que eu não ria, rio e muito dos homens e suas fraquezas, suas desilusões contadas uma à uma... Leia-me e se conforma, sou a poesia...
sexta-feira, 17 de maio de 2024
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Carliniana XC ( As Calçadas do Impossível )
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