quarta-feira, 22 de maio de 2024

Diálogo de Porra Nenhuma II

 

Ele desejava um boa buchada de gato

Acompanhada de camarões quilométricos

E um suave refresco de cacto venenoso

Por falta total de tais petiscos originais

Engolia sua pobre saliva quase extinta

Enquanto olhava no espelho já aposentado

Do quase banheiro na favela onde residia

E lembrava celeremente do diálogo que teve

Como Joyce Zóio verão passado:


Eu: E aí? Vamos ou não?

Ela: Pra onde?

Eu: Se pudesse respondia...

Ela: ...

Eu: Vamos... Sei lá... Dar uma volta no tempo, um peido, qualquer coisa...

Ela: Logo um peido?

Eu: E o que tem de mais? Não é crime e nem pecado. Todo mundo dá todo dia, mais de um...

Ela: Claro, meu amor, mas há coisas bem mais interessantes para fazermos...

Eu: Tipo o quê, vida?

Ela: Ah, sei lá, meu marimbondinho de cuscuz seco... Tipo quem imita uma estátua com soluço...

Eu: Boa ideia, boa ideia, mesmo, meu periquito australiano com cara de nova-iorquino da favela do Arará, muito boa mesmo...E quando começaremos?

Ela: Na terça-feira que cair na quarto, sobretudo, se for num domingo que tenha ciranda de petiscos na casa da dona Chiquinha Boca-de-Bagre...

Eu: E dona Chiquinha está viva? Pensei que tinha morrido fazem uns quarenta anos de dez segundos cada...

Ela: Não, não, de forma alguma. A pobrezinha tinha que terminar de costurar um lençol freático maior do que aqueles do Saara tropical. Faltou até camelo...

Eu: Por que não usou um avestruz então?...

Ela: Porque avestruz estava em falta na venda do "seu" João.

Eu: Que João?

Ela: Aquele que todo dia cai se estrebuchando no chão...

Eu: Ah! Então tá...

Ela: Tá o que, amor?

Eu: Sei lá, tá lá, tá cá, tá aqui, tá acolá, que nem dona Tatá, a fandangueira de plantão no morro do Belisca...

Ela: Aquela que cisca? Ou aquela que pisca?

Eu: Qualquer uma serve, principalmente se não tiver, que nem feijão na falta de sino da igrejinha...

Ela: Ah, você é o mínimo do máximo...

Eu: Você acha? E você é mais bonita que um leão voando de asa delta...

Ela: Jura?

Eu: Juro pela sua mãe mortinha. Com os olhos arregalados que nem bolinha de pingue-pongue e quatro palmos de língua pra fora...

Ela: Que lindo! E cheia de formiga?

Eu: Sim, sim. Com todas elas, de uma vez só. E um copo de guaraná...

Ela: Nossa! Mais lindo do que isso só espelho quebrado em dia de decisão de campeonato de cuspe à distância...

Eu: Que nada... Maldade sua. Minha cachacinha de litro e meio...

Ela: Assim dá vontade de fazer um estrogonofe de farinha bem caprichado...

Eu: Pois faça, meu amor, colocarei a bunda na janela enquanto isso. 

Ela: Viu? Você é brilhante com essas ideias de jerico viciado em amarula...

Eu: ...

Ela: Por que ficou tão quieto, agora, meu sanduíche de alpiste?

Eu: ...

Ela: Fala alguma coisa!

Eu: Alguma coisa...

Ela: Agora sim, pensei que um bonde tivesse comido sua língua com batata...

Eu: Nunca! Pelas barbas de dona Floricema e as calcinhas de "seu" Napoleão. Sem falar no conhaque do "seu" Peixoto...

Ela: Mais lindo ainda... 

Eu: Então vamos falar porra nenhuma!

Ela: Com torradas bem branquinhas e café?

Eu: É tudo que eu sempre quis...


Fim.


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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