Sem um sudário algum
Pobre espectro perdido na noite
(Quando o silêncio é companhia
para qualquer solidão)...
Perfume sequer tem aí
Nada tão difícil como a facilidade
(Gregos e troianos num carnaval
cujo tema é o luto)...
Nada para comermos
Enquanto o costume entortou bocas
(E os espelhos nada respondem
por não entender nosso idioma)...
Cada trago do cigarro
É como um dragão feito ao avesso
(E a minha esperança raivosa
acaba atrapalhando meu vão sono)...
Toda moralidade imoral
Como um poltergeist mais vulgar
(E o medo apenas tem medo
de ser a próxima piada do dia)...
Toda moeda uma lâmina
Falar de amor não é para ninguém
(O rato não roeu nenhuma roupa
porque o rei estava somente nu)...
Todo pecado à granel
O filme mudo começou a discursar
(Eu engoli as cores de uma só vez
para geral desmaio das opacas nuvens)...
A proibição aguça a vontade
Como um cachimbo de ópio vazio
(A dúvida é agora solene e clamada
aos oito cantos deste miserável mundo)...
Limpei o dicionário com a bunda
Orei para ser expulso desta vil escola
(A regra mais clara que pode existir
é que não exista mais regra alguma)...
Esta dor involuntária
É apenas amostra grátis deste vício
(Consequência natural de estranheza
que só heróis e vilões conhecem)...
Vão me crescer asas
Mesmo que sejam apenas de papelão
(A alegria não sabe escolher
e acabou escolhendo qualquer coisa)...
Meus delírios têm passaporte
Cada vez mais é tudo cada vez menos
(Todo começo custa apenas um final
enquanto apagam-se as teclas do piano)...
Não! Não! Não! Não! E não!
Gritava o novo profeta sem pergunta alguma...
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