domingo, 12 de maio de 2024

Carliniana XLIII (Claros Labirintos)

Sem um sudário algum

Pobre espectro perdido na noite

(Quando o silêncio é companhia

para qualquer solidão)...

Perfume sequer tem aí

Nada tão difícil como a facilidade

(Gregos e troianos num carnaval

cujo tema é o luto)...

Nada para comermos

Enquanto o costume entortou bocas

(E os espelhos nada respondem

por não entender nosso idioma)...

Cada trago do cigarro

É como um dragão feito ao avesso

(E a minha esperança raivosa

acaba atrapalhando meu vão sono)...

Toda moralidade imoral

Como um poltergeist mais vulgar

(E o medo apenas tem medo

de ser a próxima piada do dia)...

Toda moeda uma lâmina

Falar de amor não é para ninguém

(O rato não roeu nenhuma roupa

porque o rei estava somente nu)...

Todo pecado à granel

O filme mudo começou a discursar

(Eu engoli as cores de uma só vez

para geral desmaio das opacas nuvens)...

A proibição aguça a vontade

Como um cachimbo de ópio vazio

(A dúvida é agora solene e clamada

aos oito cantos deste miserável mundo)...

Limpei o dicionário com a bunda

Orei para ser expulso desta vil escola

(A regra mais clara que pode existir

é que não exista mais regra alguma)...

Esta dor involuntária

É apenas amostra grátis deste vício

(Consequência natural de estranheza

que só heróis e vilões conhecem)...

Vão me crescer asas

Mesmo que sejam apenas de papelão

(A alegria não sabe escolher

e acabou escolhendo qualquer coisa)...

Meus delírios têm passaporte

Cada vez mais é tudo cada vez menos

(Todo começo custa apenas um final

enquanto apagam-se as teclas do piano)...

Não! Não! Não! Não! E não!

Gritava o novo profeta sem pergunta alguma...

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