quarta-feira, 23 de novembro de 2022

O Mar Não Tem

Eis o menino

que um dia quase se afogou

em sua beira

num dia de muito e muito sol...

Não pregarás mais estas peças...

Os castelos de areia

há muito inexistentes

não haverão mais em tua areia...

E aquelas boias de pneu?

Agora o menino não brinca nelas

e nem quer voltar a brincar...

Papai não me acordará bem cedo

para pegar a maré cheia

com a água ainda morninha

antes do sol bater seu ponto...

Eram dias felizes...

O velho carro cheia de coisas

para alguns dias fora de casa

até que a saudade fosse presente...

Não há também rodas-gigantes

que subíamos felizes

em noites quase generosas

dos fins-de-ano com lâmpadas...

Eu não sei... Eu não sei...

Eu não me lembro mais...

Onde foi parar o barco vermelho

de plástico com salva-vidas amarelo...

Eu não sei... Eu não sei...

Eu não sinto mais...

Aquele amor por que foi embora?

Foi o peso dos anos que chegou?

A tristeza que transbordou?

Algum vento mal que virá

sem ao menos dar algum sinal?

Mar... Mar... Querido mar, desculpa-me...

Continua com teus barcos serenamente

parados enquanto continua

tua tarefa de ir e vir sem cansaço...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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