segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Lírio Delírio (Um Poema de Coisas)

 

Papéis rasgados e espalhados pelo chão

Tal qual cinzas dos cigarros que mesmo faço

Enquanto meu desespero brinca comigo

(Eram de ladrilhos de cimento amarelados)

Eu faço apenas um esforço sobre-humano 

Para que a memória não falhe mais ainda

E o cansaço não dê mais socos em minha cara

(Eis aí a chave de tudo aquilo que temos!)

Cada um tem seu preço seja alto ou baixo

Enquanto tudo é igual em sua diferença

São bailarinas descalças sobre as pedras

(Quem poderá nos salvar de nós mesmos?)

Minhas mãos estão todas sujas de tempo

E maior é a minha pressa de comer alguma coisa

Antes que eu mesmo seja engolido pelos chãos

(Não haverá mais azuis quando sobrarem cinzas)

Me ajoelho contrito e peço alguma misericórdia

Como um gato que dá pulos repentinos em roseiras

E faz do cão que o persegue sua nova vítima

(Todo sangue é vermelho e todo medo amarelo)

Os dentes dela apodrecem cada vez mais

Enquanto suas formas tão belas ficam disformes

E o tesão que todos tinham acaba passando

(Não fale aquilo que poderá se arrepender!)

Cada nome é apenas mais um original ou não

E todas as poses a fotografia acaba engolindo

Enquanto as velas se consomem aos poucos

(Poderei dormir enquanto o sono não chega?)

Numa quinta com gosto de sábado fiz segunda

Disputei milho com alguns pombos da praça

Mesmo quando não estava mais nela de vez

(Eu nunca fui bem comportado e não o serei)

Qualquer hora resgato aquilo que perdi

Até os versos que acabei jogando fora

Brinquedos quebrados e festas terminadas

(Será tudo feito de uma vez só ou não?)

E mesmo quando o pó tomar conta de tudo

E os vidros estiverem todos eles embaçados

Talvez alguém ver se minha febre está alta

(Como um delírio que afinal sempre tive...)

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