Papéis rasgados e espalhados pelo chão
Tal qual cinzas dos cigarros que mesmo faço
Enquanto meu desespero brinca comigo
(Eram de ladrilhos de cimento amarelados)
Eu faço apenas um esforço sobre-humano
Para que a memória não falhe mais ainda
E o cansaço não dê mais socos em minha cara
(Eis aí a chave de tudo aquilo que temos!)
Cada um tem seu preço seja alto ou baixo
Enquanto tudo é igual em sua diferença
São bailarinas descalças sobre as pedras
(Quem poderá nos salvar de nós mesmos?)
Minhas mãos estão todas sujas de tempo
E maior é a minha pressa de comer alguma coisa
Antes que eu mesmo seja engolido pelos chãos
(Não haverá mais azuis quando sobrarem cinzas)
Me ajoelho contrito e peço alguma misericórdia
Como um gato que dá pulos repentinos em roseiras
E faz do cão que o persegue sua nova vítima
(Todo sangue é vermelho e todo medo amarelo)
Os dentes dela apodrecem cada vez mais
Enquanto suas formas tão belas ficam disformes
E o tesão que todos tinham acaba passando
(Não fale aquilo que poderá se arrepender!)
Cada nome é apenas mais um original ou não
E todas as poses a fotografia acaba engolindo
Enquanto as velas se consomem aos poucos
(Poderei dormir enquanto o sono não chega?)
Numa quinta com gosto de sábado fiz segunda
Disputei milho com alguns pombos da praça
Mesmo quando não estava mais nela de vez
(Eu nunca fui bem comportado e não o serei)
Qualquer hora resgato aquilo que perdi
Até os versos que acabei jogando fora
Brinquedos quebrados e festas terminadas
(Será tudo feito de uma vez só ou não?)
E mesmo quando o pó tomar conta de tudo
E os vidros estiverem todos eles embaçados
Talvez alguém ver se minha febre está alta
(Como um delírio que afinal sempre tive...)
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