sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Nem Voei

Portanto, nem imaginei que agora estaria aqui, neste fim de meu mundo, engolindo silêncio como fosse saliva. Solenes hiatos como fossem mosquitos. Tudo é engano, minha senhora, tudo é engano, qual um duelo de espadachins no filme antigo nas tardes televisas que já nem tenho coragem de ver. O copo rasgou, o copo também, a roupa quebrou. As bruxas de Salem mandaram mensagem que logo viriam. Cantarão um feliz réquiem para mim. Pingo d'água, pinga-fogo, mardita pinga, tudo dá certo, mas quando dá errado, certo também foi. Olhos tortos também merecem algumas palmas. Nem sempre a beleza vem peidando e os meus arrotos podem ser de alguma alegria. Trouxe algumas lembrancinhas de Marte, inclusive alguns monstros imaginários. Faço o primeiro e faço o último, explicações à carte, nos cartéis existem todas as explicações. Eu sou um mestre nos cigarros de papel e nos passos que acabam dando em obscuras cavernas. A grande festa está montada, só falta agora algum motivo para isso. Estou cheio de francas repetições, todas elas. Somos apenas marinheiros no deserto catando baldes de areia. Meu suor agora escorre à cores. Sou um punk sem moicano que adora valsas lituanas cantadas em francês havaiano. Canjica sem leite é castigo. Eu sou apenas um bebê que bebe. Estamos entendidos? É assim, mais nada. Violinos e reco-recos acabam se combinando vez em sempre. Só as madames de classe média baixa não enxergam isso. Minha pintura me atura, tenho que parabenizá-la dia desses com algum belo corte de tecido baratinho. As minhas manchas não são minhas, são empréstimos que não pedi. As espadas já não contam mais naquilo que eu via, mas não ouvia. Luzes no escuro, encontro fortuito de pirilampos, alguns amores perdidos em massa. Sob alucinações todas as palavras caem da boca, é o meu chão de estrelas sem estrela alguma. Bebo gim como ginástica. Castiçais castiços cumprem seu papel. Portanto, nem voei...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).  

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