Perdido como hão de ser os pássaros na noite, eternos incógnitas... Quem sou eu? Eu sou aquele que te espreita em cada passo, em cada esquina, em cada lance, com olhos cheios de aflição... Não que eu não ria, rio e muito dos homens e suas fraquezas, suas desilusões contadas uma à uma... Leia-me e se conforma, sou a poesia...
domingo, 27 de novembro de 2022
Minha Espiral
quinta-feira, 24 de novembro de 2022
Da Natureza dos Porcos
Comemos a merda do outro e nem vemos...
Há muitos chiqueiros por aí...
Alguns mais limpos, outros mais sujos,
Mas sempre isso - chiqueiros...
Chiqueiros caros, chiqueiros baratos,
Chiqueiros com muros, outros nas calçadas...
Chiqueiros barulhentos com muita festa,
Outros mais silenciosos com restos mortais...
Somos porcos, não temos noção alguma,
Queremos engordar, mas não sabemos do abate...
Há porcos pensantes, outros mais tolos,
Porcos letrados, outros que não estudaram...
Há porcos mais bonitos, com bundas lindas,
Outros sem estética, mas também porcos...
Que porcos mais mentirosos que somos,
Nossa principal preocupação é comer
E quando podemos também - foder...
Somos porcos, quase sempre enganados
E o que nos engana é aquilo que queremos...
Mesmo limpo o corpo, a alma é suja...
Vamos remexer nos baldes de lixo,
Procurando restos mais sujos possíveis,
Restos de sonhos agora semidevorados,
Pedaços de taras mal disfarçadas...
Somos assim desde outros tempos,
Sujeitos à mudanças que não nos muda...
Somos porcos, porcos que se dizem sábios,
Porcos sabidos, porcos mais malandros...
Não escapamos do açougueiro do destino,
Que vai nos expor em muitos pedaços,
Linguiças, pernis, toucinhos, costelas
Para os mais variados gostos e preços,
Nós mesmos é que nos vendemos,
Por algumas sujas e pobres moedas
Que nem ao menos de prata são...
Somos porcos, humanos porcos vis
Numa grande sujeira chamada mundo...
(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).
quarta-feira, 23 de novembro de 2022
O Mar Não Tem
Eis o menino
que um dia quase se afogou
em sua beira
num dia de muito e muito sol...
Não pregarás mais estas peças...
Os castelos de areia
há muito inexistentes
não haverão mais em tua areia...
E aquelas boias de pneu?
Agora o menino não brinca nelas
e nem quer voltar a brincar...
Papai não me acordará bem cedo
para pegar a maré cheia
com a água ainda morninha
antes do sol bater seu ponto...
Eram dias felizes...
O velho carro cheia de coisas
para alguns dias fora de casa
até que a saudade fosse presente...
Não há também rodas-gigantes
que subíamos felizes
em noites quase generosas
dos fins-de-ano com lâmpadas...
Eu não sei... Eu não sei...
Eu não me lembro mais...
Onde foi parar o barco vermelho
de plástico com salva-vidas amarelo...
Eu não sei... Eu não sei...
Eu não sinto mais...
Aquele amor por que foi embora?
Foi o peso dos anos que chegou?
A tristeza que transbordou?
Algum vento mal que virá
sem ao menos dar algum sinal?
Mar... Mar... Querido mar, desculpa-me...
Continua com teus barcos serenamente
parados enquanto continua
tua tarefa de ir e vir sem cansaço...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
Alguns Poemetos Sem Nome N° 212
Aos sós - a solidão,
ferida sem tamanho exato,
deserto ou multidão...
Aos sós - o desespero,
um desespero que não fala,
que tortura com esmero...
Aos sós - a morte viva,
que chega de mansinho
e desse banquete é conviva...
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Não sei quando amei pela primeira vez,
acabamos esquecendo de coisas antigas,
deve ter sido num dia destes perdido...
Há até outras coisas mais antigas
que surpreendentemente me lembro...
Deve ser que essas doeram bem menos...
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Não sou desse tempo líquido
onde as pessoas perdem a vida
atrás de efemeridades
que se suicidarão fatalmente...
Meu tempo é outro...
É um tempo que tem tempo
Para alguns sonhos
e até algumas impossibilidades...
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Deixa a porta aberta pra eu entrar
Não sei se venho daqui ou de lá
Se voei pelos mais altos ares
Ou me embriaguei pelos bares
Se falei besteiras sem sentido
Ou chorei quando deveria ter rido
Enfeita teu cabelo com aquela flor
E não estranhe - esse é meu amor...
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Quero lugares- comuns
Não me importo com mais nada
O tempo correu e eu
Não tenho mais tempo algum
Para assumir outros compromissos
Quero sentir cada pétala macia de flor
E a vida que as folhas possuem
Antes de uma por uma morrer...
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Todo verso é teimoso
Traz um mundo dentro de si
Um universo que não consegue
Ir na esquina ver novidades...
Todo verso é egoísta
Quer dentro dele todas as cores
Quer pintar todas as paredes
E gravar corações nas árvores...
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Sento-me comodamente em meu túmulo
Vestindo minha mortalha da moda
Enquanto escuto a notícia do meu falecimento...
Eu morro em cada momento
Com as notícias do mundo...
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Erros Flexionais
Nada é,
Tudo era...
Flexionamos tudo erradamente
O momento chega e tão-somente
Antes de vermos já foi embora
Tudo não possui o riso agora...
Nada tem,
Tudo tinha...
Não adianta fazer algum alvoroço
O sonho é apenas um vão esforço
As gotas do soro caem lentamente
Todo igual fica diferente...
Nada posso,
Tudo podia...
Quando eu estava há pouco tempo aqui
Desconhecendo as tristezas que já vivi
Tudo agora é cinza e dessa mesma cor
Será feito uma colcha de retalhos de dor
Nada quero,
Tudo queria...
Frases feitas não darão em nada
Gestos ensaiados são apenas piada
Chega de ter o que resta todo perdido
Escrevendo versos sem algum sentido
Nada voou,
Tudo voava...
A queda nem sempre é o que há de pior
Anular-se pode causar uma ferida maior
Pedras não são quebradas com socos
Hospício sem médicos, apenas loucos
Nada espero,
Tudo esperei...
As feridas insistem de ser no mesmo lugar
São semelhantes os opostos - amar e desamar
É só mudar uma só letra e aí estão temporais
Vivemos cometendo meros erros flexionais...
Nada é,
Tudo era...
terça-feira, 22 de novembro de 2022
Cemitério de Pássaros
a fantasia rasgou,
sonho? Não tem mais...
A guerra foi declarada,
claro que não foi nada,
foram meros temporais...
A morte descansou em pequenos túmulos,
vemos lápides de tantas perdas e acúmulos,
vemos anonimatos e fatos dignos de nota,
aquele vencedor e o que abraçou a derrota...
A tua encomenda chegou,
teu cão não avisou,
desejo? Não tem mais...
A vulgaridade foi aplaudida,
é o que chamamos vida,
não haverão festivais...
A morte arrumou os seus canteiros,
bem vindos conhecidos e forasteiros,
todos aqui chegam ao mesmo destino,
o rico e o pobre, o velho e o menino...
O teu ar já cessou,
o tempo que roubou,
ir por aí? Não tem mais...
Agora só há essa casa,
sem voar mesmo com asa,
pode descansar em paz...
sábado, 19 de novembro de 2022
Estático ou Não
Estático -
o dia como todos os dias o são...
Ilusão nossa -
o tempo usa sua máscara
acaba existindo o inexistente...
Os pássaros acabam colaborando...
O mesmo canto nos engana
Pois a novidade envelheceu...
As ruas -
continuam com a mesma cara...
Os versos -
repetem sua mediocridade e batem no peito:
- Mea culpa! Mea culpa! Mea culpa!
Enquanto a sinceridade
ensaio um novo tango sem sentido...
Esperem! -
disse a Morte procrastinando
seu último dever de casa...
Escuto o barulho de águas
Caindo sobre mim...
Não sei -
se o amor estava vindo ou indo,
trens ou barcos são assim...
Tão forte -
como uma pedra teimosa
em ser mais que a maldade
da destruição aos poucos....
E fraco -
como a ternura que engana
e domina tudo e todos...
Numa foto -
o rio passou e não passou
o que passa são olhos...
Aquele menino
sou eterno...
sexta-feira, 18 de novembro de 2022
Alguns Poemetos Sem Nome N° 211
Estrelas tímidas
Que acabam nunca falando
O silêncio dos céus
São infinitos gritos
Mais do que imaginamos...
Estrelas de tamanho sem fim
Desenham por todo espaço
São grandes passarinhos
Que nos olham lá de cima
E vivem cochichando sempre,,,
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Perdi meu dinheiro
Perdi a razão
Perdi a matéria
Transcendental não
Perdi o arroz
Perdi o feijão
Perdi o rumo
Acabei perdendo o pão
Perdi o meu sim
Perdi o meu não
Sou apenas mais um
Infeliz cidadão...
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Homem cortado ao meio,
Não homem-pedaço,
Mas meio-homem sim...
Abaixe a cabeça ao dinheiro,
Acredite nas mentiras capitais,
Se impressione com o mesmismo
De antigas e rotineiras "novidades"...
Espere a sua morte no sofá,
Sem fazer nada, andar nada,
Apenas se lamentando
Que a vida passou e ninguém viu,
Muito menos você...
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Num tempo que o tempo era tempo
Não sabíamos de quase nada...
De algodão eram feitas as nuvens
(seriam de algodão doce?)
Existiam varinhas de condão
enquanto mágicas e milagres aconteciam...
Todo mundo era bom
(até quem nos assustava)...
Num tempo que o tempo era tempo
Eu nem pensava na morte...
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Estou no meio...
No meio de um vulcão que eclode
e mal noto o seu calor...
No meio de um tiroteio
e as balas são apenas mosquitos....
No meio de uma explosão de estrelas
e o pó delas é apenas purpurina...
No meio de um jardim feito de sonhos
e mesmo assim espinhos me ferem...
Estou no meio...
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Peguei um copo d'água
e engoli meu lirismo...
Sua presença não incomodará
mais ninguém nem eu mesmo...
Fiz dele um simples comprimido...
Não ocupará espaço...
Chegará ao estômago
e finalmente, morará em minhas veias
até que me envenene de uma vez....
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Estou sentindo um cheiro de céu...
Não sei se a chuva que vem chegando
Para compor outro buquê de terra molhada
Que quase me faz sentir alegre...
Não sei se é apenas o vento amigo
Que vem trazendo alguma boa notícia
Como já não tenho faz tanto tempo...
Não sei se é cheiro de circo,
Se é cheiro do parque, dos cinemas
Ou das festas de igreja que eu ia...
Das férias de fim de ano
Ou de velhos carnavais que não voltarão...
Só sei que estou sentindo um cheiro de céu...
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quarta-feira, 16 de novembro de 2022
Aleatórium Number 1
Sem tipo. sem previsão,
Apenas aquilo que é,
Sem causa, sem ficção,
Sem descrença, sem fé
tantas mágoas vieram me chamar de bicicleta
nunca soltei suspiros quando comi suspiros
mergulho todos os dias numa piscina vazia
nas coisas mais banais descobrimos alegria
Sem motivo, sem rumo,
Vou dar de cara no muro,
Sem parede, sem plumo,
Sem passado, sem futuro
o mágico tirou um elefante da sua cartola,
nem todos os que morrem viram notícia,
a baiana exagerou no vatapá da minha pimenta,
a felicidade só chega se for em câmera lenta
Sem choradeira, sem carnaval,
Não houve vaias e nem palmas,
Sem previsão, sem fato fatal,
Sem corpos, sem almas
quem dita todas as regras é o nosso freguês,
a nossa fome determina aonde iremos parar,
eu perco meu juízo algumas dezenas de vezes,
nesse grande curral do mundo somos as reses
Sem insônia, sem cochilo,
Não houve rotina, nem acidente,
Sem preguiça, sem o esquilo,
Sem oculto, sem evidente
eu tenho os fósforos mas não tenho a caixa,
tenho todos os motivos e nenhuma razão,
as evidências acabam pulando na cara,
a vulgaridade se transformou joia rara
Sem tipo, sem previsão,
Apenas um sanatório,
Sem causa, sem razão,
Tudo é apenas aleatório...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
sábado, 12 de novembro de 2022
Pix
Sem pix
sem pax...
Um pix, tá pago,
um gole, um trago,
o remendo, o rasgo,
o i-food,
o nude...
Sem like,
sem bike...
Um like, tá feito,
uma bunda, um peito,
o errado, sem defeito,
o i-food,
o grude....
Sem combo,
sem rombo...
Uma balada, um porre,
uma porrada, um corre,
quem vive, quem morre,
o i-food,
o gude...
Sem nexo,
sem sexo...
Um perigo, um castigo,
um predador, um inimigo,
o moderno, o antigo,
o i-food,
a vicissitude...
Sem pix,
sem pax...
quinta-feira, 10 de novembro de 2022
Filosofia para Idiotas
Eu fumo sal
Eu bebo carvão
Eu me enveneno
Tomo banho de fumaça todos os dias
Me envelheço com a minha mocidade
Como um prisioneiro voluntário
Me jogo no chão
Sujo minha roupa
Voluntário de erros
Acredito nas minhas reais mentiras
Exagero no meu mais fiel conformismo
Passeio calmo no meio de um tiroteio
Eu falo merda
Esqueço tudo
Compro uma briga
Eu me drogo consumindo droga nenhuma
Enfio mentiras de minha goela abaixo
Gasto tudo que tenho por mais um nada
Eu me dou mal
Na escola de tolos
Só tiro nota dez
Acabo rasgando todos os livros que são meus
Santifico toda e qualquer ignorância que há
Eu faço a minha lição de casa com cuidado
Falta de espaço
More num buraco
Sou quase rato
Eu mato o pau e não mostro nunca a cobra
Preparo os golpes mais idiotas possíveis
Acredito em tudo aquilo que me contarem
Eu engulo tudo
Não tenho nojo
Espero a morte...
Alguns Poemetos Sem Nome N° 210
Quintas com gosto de quintas
Assim como toda semana
Novidades mais banais
A surpresa é o prato do dia
Hoje é a vida
Hoje é a morte também
Decepções à granel
Como Bandeira um dia falou
Vamos tocar um tango argentino...
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Sou mais um idiota na fila
Achando que sei alguma coisa
Mas sou apenas um enganado...
As flores estão à venda no mercado
As estrelas estão impassíveis
Todos estão olhando para o lado
O choro não convém para as pessoas...
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Um passo, dois passos,
Tudo feito numa incerta noite
Como muitas por aí...
Os jardins são atacados,
Todos os soldados são malvados...
Todos os passarinhos perdem as asas,
Acabaram-se todos os voares...
Um passo, dois passos,
Na noite incerta da morte...
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Leve como plumas não existentes
são nossos sonhos latentes
dormindo sob cinzas apagadas...
Os rios com suas vertentes
lembram-me de tantos ausentes
que se transformaram em nadas...
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Eu hei de dançar sob pedras
descansar sob elas
não como quem está
sob uma caverna...
Ainda há muito o que fazer
depois farei mais coisas...
Descansarei sob o silêncio
de todos os jardins do mundo...
Todos eles são silenciosos...
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Fábulas modernas acontecem
quando damos razão aos que não possuem
Quaisquer palavras são parecidas
desde que nos tirem o trabalho de pensar
Há bem mais sob os montes de lixo
do que aquilo que nós imaginamos
Somos mansos cordeiros que mordem
e cada um briga pelo seu bom pedaço
Vamos logo olhar a nova bunda da semana?
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O meu tiro acertou em mim
é o meu fim
O meu tiro acertou no próximo
não foi nada...
Eu dei perdão para meus erros
eu sou perdoável
Alguém acabou de fazer errado
cortem sua cabeça...
O meu amor deve ser respeitado
mesmo não amando...
O coração alheio pode ser ferido
isso é o de menos...
Quem é o próximo? Quem é?...
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quarta-feira, 9 de novembro de 2022
Alguns Poemetos Sem Nome N° 209
Claro-azul de rosas serpentinas, eu ando desnorteado como um pássaro no meio da fumaça, ando cego como um colibri entre metais. Esqueci meu nome, de onde vim, para onde vou. Fico o dia todo olhando as bolhas de gás que sobem pelo refrigerante e penso se não poderia ir com elas. Dói o corpo, mais a alma, não sei como explicar isso, mas é o que acontece. Às vezes vozes inarticuladas chegam aos meus ouvidos. Será apenas um canto ou um anúncio sem trombetas de velhos anjos?
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Um carrossel gira, gira, gira sem parar. Sua velocidade pouco importa. Ele vai consumindo nossos dias, nossas chances. Ele engole nossos sorrisos, nossas ideias, nossa resistência. Vai rasgando nossa fantasia, terminando nossos carnavais. Ele não é o carrasco, nenhuma carpideira, amigo ou inimigo não é. Vai realizando sua tarefa, não observa detalhes, não escuta gritos, não analisa lamentos. Faz caretas no espelho, mostra a língua aos passantes, tira as calças em público. Um carrossel gira, gira, gira sem parar. Que carrossel? O da nossa vida...
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Pedra de encanto
Perdida no meio do mar
Pensei que nunca te veria
Mas o destino gosta de brincar...
Umas vezes ele faz caretas
Outras vezes ri conosco...
Pedra de encanto
Solta no meio das nuvens
Eu contei todas as estrelas
Até te achar entre algumas delas...
Não sei qual delas brilha mais
Mas acredito que sejam teus olhos...
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Morte em versos
água só
Continuemos nossa teima
até faltar pedaço
Preciso de um carinho
por mil anos
Perdi todos os meus dias
malvado tempo
Pode parar com esse choro
não me salva mais
Morte em versos
vento só...
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Vejo a mudez de meus próprios passos numa escuridão que só há em mim. Escuto barulhos imaginários que só pertencem ao meu próprio medo. Espero dias mais felizes que pararam pelo caminho e nunca mais virão. A fogueira está acesa, mas suas chamas não me iluminarão nem tampouco me aquecerão por entre frias madrugadas. Os ossos muito me doem, sou apenas eles, numa brancura espectral que antes nem eu mesmo conhecia. Vamos brincar de fantasmas?...
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Tiros para todos os lados
o que temos
o que podemos
o que pode nos salvar...
Gritos em todas as direções
o que nos assusta
o que me faz tremer
o que me faz tontear...
Sombras quase todas
é quase noite
é tudo escuro
eu quase nem vejo...
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Quem não tem, não tem
Quem não tem, tivesse
O mal junto ao bem
O que sobe e o que desce
Quem não faz, não faz
Quem não faz, fizesse
A guerra junto da paz
Fizeram uma quermesse
Quem não ama, não ama
Quem não ama, amasse
A comédia com o drama
Tem as duas um enlace...
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segunda-feira, 7 de novembro de 2022
Lírio Delírio (Um Poema de Coisas)
Papéis rasgados e espalhados pelo chão
Tal qual cinzas dos cigarros que mesmo faço
Enquanto meu desespero brinca comigo
(Eram de ladrilhos de cimento amarelados)
Eu faço apenas um esforço sobre-humano
Para que a memória não falhe mais ainda
E o cansaço não dê mais socos em minha cara
(Eis aí a chave de tudo aquilo que temos!)
Cada um tem seu preço seja alto ou baixo
Enquanto tudo é igual em sua diferença
São bailarinas descalças sobre as pedras
(Quem poderá nos salvar de nós mesmos?)
Minhas mãos estão todas sujas de tempo
E maior é a minha pressa de comer alguma coisa
Antes que eu mesmo seja engolido pelos chãos
(Não haverá mais azuis quando sobrarem cinzas)
Me ajoelho contrito e peço alguma misericórdia
Como um gato que dá pulos repentinos em roseiras
E faz do cão que o persegue sua nova vítima
(Todo sangue é vermelho e todo medo amarelo)
Os dentes dela apodrecem cada vez mais
Enquanto suas formas tão belas ficam disformes
E o tesão que todos tinham acaba passando
(Não fale aquilo que poderá se arrepender!)
Cada nome é apenas mais um original ou não
E todas as poses a fotografia acaba engolindo
Enquanto as velas se consomem aos poucos
(Poderei dormir enquanto o sono não chega?)
Numa quinta com gosto de sábado fiz segunda
Disputei milho com alguns pombos da praça
Mesmo quando não estava mais nela de vez
(Eu nunca fui bem comportado e não o serei)
Qualquer hora resgato aquilo que perdi
Até os versos que acabei jogando fora
Brinquedos quebrados e festas terminadas
(Será tudo feito de uma vez só ou não?)
E mesmo quando o pó tomar conta de tudo
E os vidros estiverem todos eles embaçados
Talvez alguém ver se minha febre está alta
(Como um delírio que afinal sempre tive...)
Alguns Poemetos Sem Nome N° 208
Sujas estrelas
de poeira azul
Caminham por um céu
onde beija-flores
e algumas borboletas sentimentais
fazem um coro...
Alto-falantes são rouxinóis,
são rouxinóis, são, são...!
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A casa cai
O tempo vai...
O que sobrará para nós?
Apenas a voz...
A voz enfraquecida?
Eis o que sobrou da vida...
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Eu duvido de quase tudo
Da volta da paz qualquer dia
De novos sóis menos malvados
De outros sorrisos que brotarão
De brincadeiras pra nos distrair
De que os pássaros lembrarão de mim
De que as flores me serão generosas
De que algum gato roçará minhas pernas
E de que um cão lamberá minhas mãos
Eu duvido de quase tudo
Menos dessa teimosa esperança
Que não passa um dia sem me castigar...
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Me confundo com todo mundo
Em querer o que não preciso
Me confundo com todo mundo
E me machuco sem um aviso
Me confundo com todo mundo
Quando perco até meu siso
Me confundo com todo mundo...
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Abissais
Abidoces
Talvez algum perfume nos salve
Ou ainda que não
Nos console...
A arte acabou caindo de fome
Várias dores de cabeça
Sem analgésicos
Para salvá-la...
Um dia chegarei lá
E não perdoarei
Nem meus desencantos...
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Está esquecido
quem é ou quem era
Só meus passos
poderão acompanhar-me
Antigas lanternas
não mais funcionam
E tudo que já vi
há muito morreu
Nem mais sombra
eu sou ou serei
Quero bailar agora
por toda eternidade
Embalado docemente
por alguns enigmas
que não me matem mais...
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Estático
e ainda assim vivente
Tolo
e ainda assim pensante
Rindo
e ainda assim de luto
Feroz
e ainda assim tão manso
Amando
e ainda assim malícia
Tudo e nada
todo o tempo todo...
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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322
O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...
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O caminho que vai dar no mar. Consequências de tudo o que pode acontecer. E lá estão barcos e velas incontáveis. E amores em cada porto ...
-
Não sabemos onde vamos parar Mas qualquer lugar é lugar Quantos pingos nos is temos que colocar Quantos amores temos que amar Quantos ...
-
Um sorriso no escuro Um riso na escuridão Um passado sem futuro Um presente em vão... Mesmo assim insistindo Como quem em a...