Virei um fazedor de rimas,
Algumas bem imperfeitas,
E assim vou andando
Por essas ruas estreitas...
Virei um fazedor de rimas,
Algumas delas sem graça...
Por que fazer tantas rimas?
Eu as faço só de pirraça!
Virei um fazedor de rimas,
Desenho pobre e malfeito...
Por que teimar em fazê-las?
Obedeço às ordens do peito...
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As bruxas não são mais
queimadas em fogueiras,
Os hereges não são mais
pendurados em cordas,
Galileus estão em falta
para serem presos,
Os tempos são outros
(em essência não)
Os inquisidores agora
estão usando ternos
pregando exatamente
o oposto do que fazem...
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Eu sou minha própria vítima
Enveneno-me com os meus sonhos
Alguns em grandes doses
Outros em doses bem menores
Mas todos eles letais...
Eu sou meu próprio carrasco
Permaneço em lúgubre silêncio
Segurando meu afiado machado
Para cortar tranquilamente
A cabeça de minhas ilusões...
Só os meus desejos
Esses sobreviverão até o fim dos tempos...
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Olhos fechados na escuridão do quarto,
Numa profundidade nunca imaginada antes...
Quantas léguas daqui até a parede?
Talvez a distância mais do que suficiente
Para seguir toda a noite antes de seu fim...
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Perdoa-me, junto as mãos em súplica
Se fui o culpado, juro que foi sem querer
Tentei voar, mas as asas permaneceram fechadas
Tentei dançar, mas os pés acabaram tropeçando
Era para chegar a tempo para a festa, atrasei-me
Fiz caretas perante o espelho, fui malcriado
Exigi demais, acabei não tendo nada
Feri-me sem querer, não vi os espinhos nas rosas
Queria voar, mas as asas falharam-me e caí
Perdoa-me, eu mesmo, foi sem querer...
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Silêncio em dias frios
Não consigo entender tão complicada metafísica
O vento do mar deve estar cortando!
Enquanto os barcos estão atracados em silêncio
As garças cumprem sua triste sina
Quase tão tristes como nós seres humanos
Barulhos sem propósito algum
Numa monotonia carregada de ineditismo
Não deveria ter ligado a televisão...
Um avião sobrevoa e aguça minha curiosidade
Há pouco ou quase nada para se fazer
E só há silêncio em dias frios...
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Morri ontem mesmo
mas estou vivo hoje...
Ressuscitei-me sem terceiro dia
e sem jogada de marketing...
Corri muitas léguas
mesmo sem sair do lugar...
Há tantos céus, terras e mares
dentro desse meu peito...
Sou talvez um náufrago
que voltou das profundezas...
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