Foram dias ainda tão quentes como estes. Em que a ânsia por luz era mesma. Não pela liberdade. Essa era um brinquedo de papel que alguém rasgava. Mesmo assim foi um tempo bom. Com as suas próprias luzes coloridas. E seu cheiro que não sai de minhas narinas. Olhem. É noite. E o mar de noite visto lá de cima é tão bom. Suas poucas luzes já refletem o mistério que eu queria. Eu tenho medo da queda. Mas desta vez não. A alegria às vezes cega o peito. E protege quem tem medo. Era bom. Era sim. Mas era a saudade. A saudade da rotina. Dos corredores. Da sucessão de dias numa rotina infinita. E do medo espreitando em cada virada. Olhem. Não existem amigos. Mas apenas quem nos olha e não nos vê. Olhem. Nada é garantido. Tudo é dúvida. Tudo é desassossego. Mas atrai a vítima como a serpente. É a lâmpada atraindo o inseto. E sua queda é precisa e fatal. Luz. Luz. É o que eu afugento. Mas quero mesmo assim. O que repele é o que atrai. Calor. Calor. É o que molha a testa. Como febre alta. Mas o suor também tem seus encantos. Som que incomoda meus ouvidos. Mas eu quero. Nomes feios que repito em oração. Não me castigue seja lá quem for. Mas tenha um pouco mais de compaixão que os meus dias. Eles não têm culpa do que são. Ms eu também. Não fui que fiz o ciúme. Nem outras coisas que fazem doer a carne sem machucar a pele. Não fui que escolhi meus pecados. Foram como os doces que comi sentado naquela calçada sem olhar a rua. Era o gosto doce na boca. E que um pouco ainda resta. A canção vai tocando no rádio velho nota à nota. O rádio que dormia lá na sala. Junto do quadro aceso cheio de pontos luminosos. Isso dava medo. Como dava medo muita coisa. Era o canto do bacurau. Mesmo quando chovia. Ou a lua era forte demais querendo imitar o sol. Tudo imita o sol. Em sua espontaneidade de invadir. Pelas fendas vem nossa visita. E o pó baila em suaves ondas. Nada lhe impede. Nada lhe aflige. Mesmo quando aguarda por séculos. Mas ali está. E fará malabarismos quando chegar sua hora. Todas as coisas. O poço. A moenda. Os coqueiros. O pé de laranja lima. Os cães. Os gatos. Os periquitos. E um lento vendaval que tudo isso levou. E não me devolveu. Eles ainda existem. Porque tudo que existe ainda nos aflige. Percebendo ou não. Velas que ardem mas não se consomem. É o infinito. Trancado em quatro paredes. Preso e solto. Livre e parado. Foram dias ainda tão quentes como estes. Ou até mais...
Perdido como hão de ser os pássaros na noite, eternos incógnitas... Quem sou eu? Eu sou aquele que te espreita em cada passo, em cada esquina, em cada lance, com olhos cheios de aflição... Não que eu não ria, rio e muito dos homens e suas fraquezas, suas desilusões contadas uma à uma... Leia-me e se conforma, sou a poesia...
sábado, 8 de dezembro de 2012
Dias Tão Quentes Como Estes
Foram dias ainda tão quentes como estes. Em que a ânsia por luz era mesma. Não pela liberdade. Essa era um brinquedo de papel que alguém rasgava. Mesmo assim foi um tempo bom. Com as suas próprias luzes coloridas. E seu cheiro que não sai de minhas narinas. Olhem. É noite. E o mar de noite visto lá de cima é tão bom. Suas poucas luzes já refletem o mistério que eu queria. Eu tenho medo da queda. Mas desta vez não. A alegria às vezes cega o peito. E protege quem tem medo. Era bom. Era sim. Mas era a saudade. A saudade da rotina. Dos corredores. Da sucessão de dias numa rotina infinita. E do medo espreitando em cada virada. Olhem. Não existem amigos. Mas apenas quem nos olha e não nos vê. Olhem. Nada é garantido. Tudo é dúvida. Tudo é desassossego. Mas atrai a vítima como a serpente. É a lâmpada atraindo o inseto. E sua queda é precisa e fatal. Luz. Luz. É o que eu afugento. Mas quero mesmo assim. O que repele é o que atrai. Calor. Calor. É o que molha a testa. Como febre alta. Mas o suor também tem seus encantos. Som que incomoda meus ouvidos. Mas eu quero. Nomes feios que repito em oração. Não me castigue seja lá quem for. Mas tenha um pouco mais de compaixão que os meus dias. Eles não têm culpa do que são. Ms eu também. Não fui que fiz o ciúme. Nem outras coisas que fazem doer a carne sem machucar a pele. Não fui que escolhi meus pecados. Foram como os doces que comi sentado naquela calçada sem olhar a rua. Era o gosto doce na boca. E que um pouco ainda resta. A canção vai tocando no rádio velho nota à nota. O rádio que dormia lá na sala. Junto do quadro aceso cheio de pontos luminosos. Isso dava medo. Como dava medo muita coisa. Era o canto do bacurau. Mesmo quando chovia. Ou a lua era forte demais querendo imitar o sol. Tudo imita o sol. Em sua espontaneidade de invadir. Pelas fendas vem nossa visita. E o pó baila em suaves ondas. Nada lhe impede. Nada lhe aflige. Mesmo quando aguarda por séculos. Mas ali está. E fará malabarismos quando chegar sua hora. Todas as coisas. O poço. A moenda. Os coqueiros. O pé de laranja lima. Os cães. Os gatos. Os periquitos. E um lento vendaval que tudo isso levou. E não me devolveu. Eles ainda existem. Porque tudo que existe ainda nos aflige. Percebendo ou não. Velas que ardem mas não se consomem. É o infinito. Trancado em quatro paredes. Preso e solto. Livre e parado. Foram dias ainda tão quentes como estes. Ou até mais...
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