Cicatrizes enganam...
Carregam consigo a memória de choros
que nem mesmo o tempo destrói
ainda que ele seja o responsável...
Saudade mata...
Mesmo que a morte não apareça
e assim continuemos andando
achando que estamos vivos...
Os sonhos gargalham...
São fantasmas que atormentam
e gargalham em nossos ouvidos
até que cheguemos na loucura...
Cicatrizes enganam...
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Eu sou o paciente
que a sobreviva maltratou
antes acabasse quase tudo
Parem o canto dos passarinhos
congelem o dia por inteiro
eu quero um silêncio absoluto
Se é que ele pode existir...
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Façam de conta que é ontem
que o dia nem mesmo nasceu
Façam de conta que é festa
mesmo que o silêncio nos engula
Façam de conta que o esquecido
foi apenas um erro de percurso
Façam de conta que é amor
o desejo que nasceu quase agora
Façam de conta que eu escrevi
um poema e esqueci onde foi...
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Eu escolhi morrer quase agora
sem sintoma algum
sem mal algum
porque você nem veio
por isso não partiu
Eu escolhi morrer quase ontem
sem medo algum
sem tristeza alguma
isso dói bem menos
que qualquer impossibilidade...
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Eu não sou nada
e por isso mesmo
acabo sendo alguma coisa...
Eu não vivi alegrias
e por isso mesmo
sei o valor que elas têm...
Eu não sonhei
e por isso mesmo
uma vertigem me acerta...
Eu não pulei do abismo
e por isso mesmo
sei calcular as distâncias...
Eu não fui amado
e por isso mesmo
conheço de perto o desamor...
Eu não sou nada
e por isso mesmo
acabo sendo alguma coisa...
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Os domingos morrem
as segundas festejam
É tudo uma caçada
mesmo que invisível
Os domingos agonizaram
as segundas riram
Há crueldade em tudo
como a forma mais natural
Os domingos desconheciam
as segundas e seus ardis
O tempo é uma sucessão
de inúmeros abismos
Os domingos vieram
as segundas fizeram tocaia
Só se esquecem
que as terças também virão...
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A chuva caiu!
Bem feito pra ela!
As nuvens bonitas
viraram água...
Andarão por terras
ou ficarão paradas
mas nada falarão...
Antes conversavam
sobre o que viam
aqui em baixo...
Brincavam juntas
de fazer desenho...
Agora são apenas
um choro apenas
de vida ou morte...
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Nada mata mais que a vida
nada mais deixa insone que o sonho
O caminho tem todas as cores
mas a que queremos faltou
A pressa é apenas mais um medo
o medo do relógio que dispara
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