segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Uma Valeriana

 

Na casa de mãe Joana, Joana não mora

e sabemos isso quando o tempo passa.

Eu não sei mais nada porque tudo esqueci...

Sem sombra de dúvida - a dúvida

palitará os dentes com meus ossos.

Eu vivo evitando mirar nos espelhos...

Continuam minhas loucuras - todas elas

como um grande bloco que desfila.

Ser insano tem lá as suas vantagens...

Se existe felicidade - eu desconheço

seu gosto é estranho para minha boca.

Eu me entorpeço cada vez mais...

Há muitos rios por aí - morrem todos

e são sepultados no mesmo lugar.

Talvez de fogo me torne água um dia...

A lâmina brilhou no escuro - como pirilampo

e o vazio faz até o medo ir embora.

Toda tempestade traz seus clarões...

Nem sempre beleza e tesão deitam juntos - acontece

assim é feito nosso quadro de absurdos.

Minha reza pode ser uma ofensa ao sagrado...

Eu sinto o aroma do perigo - em muitos cantos

minha selva tem edifícios e muito asfalto.

Não sei se sou o carrasco ou o condenado...

Quero quebrar todas as regras - pisei em ovos

e mesmo assim juro a minha inocência.

O cinismo não precisa de nenhum ensaio...

Eu tenho todos os nomes - e nenhum deles

sou o anonimato mais público que existe.

Uso todos os vernáculos possíveis de vulgaridade...

Quase tudo nem notamos - são formigas no chão

e pisamos na cabeça de todas as oportunidades.

A felicidade muitas vezes o lixeiro levou...

Casa de ferreiro - o espeto é espeto

e sabemos isso quando o tempo passa.

Eu não sei mais nada porque tudo esqueci...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).


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