Na casa de mãe Joana, Joana não mora
e sabemos isso quando o tempo passa.
Eu não sei mais nada porque tudo esqueci...
Sem sombra de dúvida - a dúvida
palitará os dentes com meus ossos.
Eu vivo evitando mirar nos espelhos...
Continuam minhas loucuras - todas elas
como um grande bloco que desfila.
Ser insano tem lá as suas vantagens...
Se existe felicidade - eu desconheço
seu gosto é estranho para minha boca.
Eu me entorpeço cada vez mais...
Há muitos rios por aí - morrem todos
e são sepultados no mesmo lugar.
Talvez de fogo me torne água um dia...
A lâmina brilhou no escuro - como pirilampo
e o vazio faz até o medo ir embora.
Toda tempestade traz seus clarões...
Nem sempre beleza e tesão deitam juntos - acontece
assim é feito nosso quadro de absurdos.
Minha reza pode ser uma ofensa ao sagrado...
Eu sinto o aroma do perigo - em muitos cantos
minha selva tem edifícios e muito asfalto.
Não sei se sou o carrasco ou o condenado...
Quero quebrar todas as regras - pisei em ovos
e mesmo assim juro a minha inocência.
O cinismo não precisa de nenhum ensaio...
Eu tenho todos os nomes - e nenhum deles
sou o anonimato mais público que existe.
Uso todos os vernáculos possíveis de vulgaridade...
Quase tudo nem notamos - são formigas no chão
e pisamos na cabeça de todas as oportunidades.
A felicidade muitas vezes o lixeiro levou...
Casa de ferreiro - o espeto é espeto
e sabemos isso quando o tempo passa.
Eu não sei mais nada porque tudo esqueci...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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