Ando levando comigo esse fardo pesado de mim mesmo como uma besta de carga - e é o que sou... Fico desejando alegrias que poderão nunca vir - e decerto não virão... Tento rotas de fuga da maldade que manda nos homens - mas também sou humano...
Intransponível barreira de tristeza que os sonhos ajudaram a construir...
Canto canções que foram esquecidas há muito e perderam o sentido - mas ainda assim canto... Erro as datas e acabo pensando que todos os dias são carnaval - mas talvez sejam... Fico olhando os edifícios (bestas de concreto) que construíram e não entendo - acho que ninguém...
Intransponível barreira de tristeza que a vida sempre nos oferece e não podemos recusar...
Tento entender filosofias baratas de um otimismo exagerado - mas a prática é outra... Em vão desejo arrancar o tumor da ternura e toda tentativa é inútil - ela há de me matar... Corro desesperado do amor que me aniquila - mas essa fera é mais ligeira do que eu...
Intransponível barreira de tristeza que me trouxe de presente a solidão...
Levanto o dedo quando chamam por um idiota - sou o maior deles... Tento me desviar dum tapa na cara - a verdade me agride... O destino me deu tantas negativas - como um indigente...
Intransponível barreira de tristeza que comeu minhas carnes e agora rói-me os ossos...
Não consigo conter as minhas taras - elas são simples demais... Os meus bolsos andam sempre vazios - muito mais a minh'alma... Acordo pelas manhãs tentando me livrar dos pesadelos - mas o dia será mais um deles...
Intransponível barreira de tristeza onde a misericórdia já foi embora faz muito tempo...
A chuva que cai agora de mais nada adianta - morreu o jardim... Eu olho em todas as direções - todos já partiram... Até respirar se torna um fardo - um dos mais pesados...
Intransponível barreira de tristeza feita de um óbvio que me foi uma grande surpresa...
Aquela que eu amava se tornou mais um espectro - agora é apenas isso... O veneno que corre em suas veias - é o que me mata mais... A paz é um muro alto que não consigo subir - sei que me machucarei demais...
Intransponível barreira de tristeza que cada segundo aumenta de tamanho até que me sufoque de vez...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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