quarta-feira, 12 de novembro de 2025

P. Gentil ( Miniconto )

O P. Gentil de gentil não tinha nada! Aliás, P. Gentil, não! Doutor P. Gentil. Ai de um funcionário do condomínio que esquecesse o doutor e o chamasse sem o título antes. Quando estava sóbrio (o que era raro) era uma pessoa desagradável, pedante, cheia de si, como a maioria que tem mais dinheiro do que tem a maioria que é pobre. Mas quando bebia (a maior parte do tempo) fazia jus ao seu sobrenome, apesar de ser também chato. Era o terror dos taxistas da Barra. Naquela época, tempos que nem se imaginava internet e muito menos aplicativos para chamar Uber, os funcionários faziam ouvido de mercador para os pedidos dele de chamar táxi (que ele mesmo chamasse, ora). Só eu que não sabia, acabei pedindo uma vez. Ele se escondeu atrás de uma coluna, tentou entrar no táxi, quando tentou, ganhou um empurrão de volta, caiu no chão, feito um saco de batatas (dos pequenos, claro, era um sujeito baixinho e mancava). Tivemos que socorrê-lo, pobre coitado. De uma outra vez que conseguiu, ao voltar pra lá de bêbado, esqueceu e bateu de cara na porta de vidro, outro tombo. Tinha sorte, praticamente não se machucava. Por que era assim? Dizem as más e as boas línguas também, é porque sua amada vivia ali, naquele mesmo prédio e para não lhe dar atenção alguma, simplesmente o ignorava. Os presentes que ele mandava entregar-lhe, ela não se dava nem ao trabalho de ver o que era, que os funcionários ficassem com eles, fossem de qual natureza fossem. Alguns até bem legais. No começo eram românticos ou bem caros, depois mais práticos e por isso mais úteis. Mas que dava pena, isso dava, sabe? Doutor P. Gentil, baixinho, manco, vivendo sob o mesmo teto de seu amor impossível, feito melodrama latino da década de cinquenta... 

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