quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Non Mi Dicte

Não me dite sequer regra

Eu gosto muito de quebrá-las

E o elefante está dormindo

Ontem também foi hoje

E a mágica foi agora

Berenice foi quem disse

Espelhos tem olhos castanhos

E o gosto no copo ficou

Nunca se sabe onde se vai

Porque toda metade é começo

No pagode tem sempre violino

O rouxinol acabou ficando rouco

A segunda perdeu a graça

Vamos comer pedras agora

A minha barba me esconde

Enfia essa cerveja no teu cu

Ninguém cala o meu riso

O normal acabou saindo de moda

Deixe essa cortina abaixada

Só falo quando não me silencio

O rio deu parou para descansar

O macaco gosta de usar pente

Eu também fico uivando pra lua

A diferença nunca teve diferença

Acreditar é uma forma de dúvida

O amanhã apodrece tudo que há

Depois que se goza acaba tudo

A esquina do Pecado é logo ali

As bactérias dançam ciranda

O sangue também foge das veias

Marmelada é quase goiabada

A maldade adora todo detalhe

Todo sucesso vira um fracasso

Todo grão é insuficiente agora

Devo ter peidado ontem certamente

Já quase andei pelado na rua

Palmas imaginárias caem bem

O acaso acaba vindo ao acaso

Esse ano vai virar ano passado

Minha coleção de pecados é extensa

Mandarim é mais fácil do que água

Toda demora também tem sua hora

A beleza é só um nó na gravata

A poeira nunca conseguiu me comer

Dinheiro de passagem para o Inferno

Quando respiro estou me matando

Perdi meus olhos bem anteontem

Teu cabelo ficou quase uma merda

O astronauta tem síndrome do pânico

Quase comi meus dedos de calma

Eu danço catira de cabeça para baixo

Raul bebeu e acabou chamando raul

Meu dicionário vive em branco

Marlon Brando perdeu a brandura

Nunca que falar foi tão fácil

A feira só cai numa feira exata

O polvo caiu na boca do povo

O xá nunca gostou muito de chá

Sou inteligente como qualquer idiota

Variações sobre um tema inexistente

Todo o ineditismo de uma rotina

Faltou a luz no trio-elétrico

Eu me transformei sem transformação

Brabo é o gato quando está latindo

Os carneiros ainda não acordaram

Acabaram as pilhas do pirilampo

O rei roeu a roupa do rato de Roma

Dance lambada na marmelada

Não existe algum fato sobre o fato

Narcisa sofre de grave narcisismo

Compre ali uma peruca genital

Eu quase nego o ego e fico cego

O que está feito agora mora no peito

Tem um olho bem no meu cisco

Lá vem aí o bumba-meu-boy

É inacreditável ter que acreditar

Vamos em Genebra tomar uma genebra

E vamos em Praga rogar uma praga

Tem café até no balde se preferir

Confundir é a maior arte ensinada

Nem todo sorriso acaba sorrindo

A pera é amarela como o azul

Dancem xaxado no meu funeral

O quilo agora só tem cem gramas

O general está passando mal

Na feira livre ninguém é livre

Não me dite sequer regra


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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