sábado, 27 de janeiro de 2024

Adversidade


 

O poeta come mangas fora da estação

Sonha com sonhos de uma rude realidade

Sob um dia ensolarado haverá chuva?

O poeta cata as cinzas de um crematório

Para desenhar nas paredes do banheiro

Daqui mil anos vai ser talvez lembrado?

Todos os marginais vestiram seus ternos

E até a rebeldia pediu seu armistício 

Porque o tudo costuma resultar em nada...


O poeta acaba rindo perdendo a graça

A piada era de vidro e caiu e se quebrou

Por que todos os dramas acabam repetindo?

O poeta tentou voar e a aeronave caiu

Esqueceu de que tinha asas para fazer isso

Resta a dúvida: ele era anjo ou demônio?

Todos os heróis têm medo e saem correndo

Nem toda a amizade é feita para sempre

E todo amor tem seu prazo de validade...


O poeta teve que engolir algumas palavras

Já que a ditadura dela acaba nos atingindo

Que plano maligno existe para as ovelhas?

O poeta agora não pode falar de tristeza

Mesmo quando ela é tudo aquilo que temos

Por que a tristeza dá tão grandes passos?

Pois a raça humana é inimiga de si mesma

Não adianta encerrar a temporada de caça

Se as armas ainda estão nas mãos de todos...


O poeta ainda tem suas mãos tão trêmulas

Um verso novo acabou de surgir do nada

Será este o mais derradeiro de todos eles?...


(Extraído da obra "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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Poesia Gráfica LXXXVI

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