Não me dite sequer regra
Eu gosto muito de quebrá-las
E o elefante está dormindo
Ontem também foi hoje
E a mágica foi agora
Berenice foi quem disse
Espelhos tem olhos castanhos
E o gosto no copo ficou
Nunca se sabe onde se vai
Porque toda metade é começo
No pagode tem sempre violino
O rouxinol acabou ficando rouco
A segunda perdeu a graça
Vamos comer pedras agora
A minha barba me esconde
Enfia essa cerveja no teu cu
Ninguém cala o meu riso
O normal acabou saindo de moda
Deixe essa cortina abaixada
Só falo quando não me silencio
O rio deu parou para descansar
O macaco gosta de usar pente
Eu também fico uivando pra lua
A diferença nunca teve diferença
Acreditar é uma forma de dúvida
O amanhã apodrece tudo que há
Depois que se goza acaba tudo
A esquina do Pecado é logo ali
As bactérias dançam ciranda
O sangue também foge das veias
Marmelada é quase goiabada
A maldade adora todo detalhe
Todo sucesso vira um fracasso
Todo grão é insuficiente agora
Devo ter peidado ontem certamente
Já quase andei pelado na rua
Palmas imaginárias caem bem
O acaso acaba vindo ao acaso
Esse ano vai virar ano passado
Minha coleção de pecados é extensa
Mandarim é mais fácil do que água
Toda demora também tem sua hora
A beleza é só um nó na gravata
A poeira nunca conseguiu me comer
Dinheiro de passagem para o Inferno
Quando respiro estou me matando
Perdi meus olhos bem anteontem
Teu cabelo ficou quase uma merda
O astronauta tem síndrome do pânico
Quase comi meus dedos de calma
Eu danço catira de cabeça para baixo
Raul bebeu e acabou chamando raul
Meu dicionário vive em branco
Marlon Brando perdeu a brandura
Nunca que falar foi tão fácil
A feira só cai numa feira exata
O polvo caiu na boca do povo
O xá nunca gostou muito de chá
Sou inteligente como qualquer idiota
Variações sobre um tema inexistente
Todo o ineditismo de uma rotina
Faltou a luz no trio-elétrico
Eu me transformei sem transformação
Brabo é o gato quando está latindo
Os carneiros ainda não acordaram
Acabaram as pilhas do pirilampo
O rei roeu a roupa do rato de Roma
Dance lambada na marmelada
Não existe algum fato sobre o fato
Narcisa sofre de grave narcisismo
Compre ali uma peruca genital
Eu quase nego o ego e fico cego
O que está feito agora mora no peito
Tem um olho bem no meu cisco
Lá vem aí o bumba-meu-boy
É inacreditável ter que acreditar
Vamos em Genebra tomar uma genebra
E vamos em Praga rogar uma praga
Tem café até no balde se preferir
Confundir é a maior arte ensinada
Nem todo sorriso acaba sorrindo
A pera é amarela como o azul
Dancem xaxado no meu funeral
O quilo agora só tem cem gramas
O general está passando mal
Na feira livre ninguém é livre
Não me dite sequer regra
(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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