segunda-feira, 6 de março de 2023

Auto-Retrato I

A careta disforme na sala de parto

continua rindo em seu choro...

Um dia, dois dias, um século, tanto faz,

para tristezas e feios adjetivos

Que chegam sem pedir licença...

Façamos caretas ante o espelho...

Eis o nosso consolo!

Não repare em suas cáries

Elas são visitas que acabarão

por fazer uma bagunça em sua casa...

Não me lembro qual foi

aquele primeiro palavrão que disse

mas acabaram me ajudando...

Eu fui o estouro da bomba

que queimou meu dedo...

Não deveria ter roubado o primeiro beijo

que agora não sei qual foi...

E nem buscado prazer no velho banheiro

porque me perseguiria sempre...

Velhas revistas e figuras velhas

de quem agora morto já está...

O primeiro trago num canto

e o primeiro gole no outro...

O permitido e o proibido

acabam formando um par...

A raiva em alguns versos...

O caminho de abandonadas ruas...

A morte em cada uma delas...

Quantos adeuses forçados...

Móveis e brinquedos quebrados...

Em que casa estará o coelho?

Não sei... Mas eu estou aqui...

 

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