domingo, 10 de novembro de 2019

Segundas, Quartas e Sextas

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Eu não me preocupo mais como serão os dias, não por fatalismo, mas o tempo me ensinou que é assim. Dores atingem nossas carnes de igual forma. Chuvas e sóis são igualmente bons e maus...
Muitos acordam, outros não. Muitos vivem, outros morrerão. O trem de uns chega e de outros parte da estação...
Guardo-me como marisco se defendendo do mau tempo que aqui está, é a única coisa que posso fazer. Não fujo como um covarde, mas certas porradas doem mais que outras...
Muitos comem, outros não. Uns voam, outros caem no chão. Uns têm a benção, outros a maldição...
Vivo atento à todos os fatos como uma fera na selva, presa e predador sempre. Sobreviver sempre, mas nem sempre isso é vantagem. Tudo é uma grande corrida sem prêmio algum...
Muitos gritam, outros não. Andam alguns sob o sol, outros na escuridão. Muitos são cruéis, outros tem compaixão...
Perdi a noção de tempo, misturei tudo que há em meu mundo, não sou passado, presente ou futuro, sou apenas impermanência. Toda ilusão é mais real do que se possa imaginar...
As figuras expostas no meu álbum não dizem mais nada, perderam o sentido. Não é que o esforço foi vão, mas tudo carrega uma forte dose de ironia...
Muitos estão por aqui, muitos não estão. Alguns na realidade, outros na imaginação. Uns dormem no frio, outros acordam no verão...
Todo tesouro é mais uma banalidade levada à sério, a teoria da relatividade funciona perfeitamente sob todos os aspectos. As flores que eu te levava escaparam-me das mãos...
Muitos são o original, outros a versão. Uns usam a cabeça, outros o coração. Alguns têm a calma, outros têm aflição...
Eu tomei medidas de segurança inúteis, a morte não vem de fora, brota de todos os peitos. Toda fogueira cansa e se apaga e só nos resta ficar no escuro...
Muitos são o espinho, outros o botão. Uns passeiam de pé, outros de avião. Ontem foi o dia do gato, hoje é o dia de cão...
Tudo em seus mínimos detalhes até que a casa caia, caiu a alma e todo resto também caiu, é assim mesmo, não há um outro jeito. Eu me crucifico todos os dias pela ascensão que nunca vai haver...
Muitos são o inimigo, outros são o irmão. O pobre não tem nada, o rico comprou a razão. Tudo é tão doce, parece até um limão...
Os meus demônios têm sede e querem água benta para benzerem suas mazelas mais fúteis. A dor é um artifício como qualquer outro, já que nada mais é interessante...
Muitos usam trapos, outros passeiam em Milão. Cada qual com sua perda, cada qual com seu quinhão. Não me faça cara séria, você é o nosso bufão...
Eu quero velhas músicas esquecidas das pessoas, afinal de contas, o mais esquecido sou eu. O louco de plantão sem sobriedade alguma. Ninguém me quer, vejo objeto jogado num canto...
Muitos comem farelo, outros comem ração. Pare de besteira, feche esse bocão. Tudo é apenas flor, tudo é apenas canhão...
Os lixeiros aqui na rua passam nas segundas, quartas e sextas, me coloquem num saco e deixe que eles me levem...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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