quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Nova Dança

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Eu sorria sem motivo por qualquer esquina vida e nem sabia o porquê...
Veja, meu amor, essa cortina negra cai sobre nós sem pena alguma e nem a morte poderá nos consolar. Os meus olhos já estão cheios demais de figuras e lágrimas como quem olha através da vidraça a chuva que impede o passeio de domingo à tarde...
Permanecia calado sabendo que bons ventos nunca mais iriam vir ao meu encontro...
Saiba, meu amor, que meu coração é apenas um poço esquecido em um terreno baldio onde o mato cresce. Cada batida é como um tambor na mão de um menino que vai brincando sozinho porque só conhece mesmo é a solidão...
O meu desespero é o mais tranquilo possível e isso acaba me irritando cada vez mais...
Não queira saber, meu amor, o demônio que se esconde por trás da cortina enquanto a plateia permanece silenciosa esperando o grande espetáculo que talvez nunca mais aconteça. Aqueles dardos invisíveis me feriram gravemente...
Nem sempre o sol aquece nossas almas e isso pode ser fator determinante dos sonhos morrerem...
Ainda tento, meu amor, fazer um final feliz para minha novela, mas o impossível gosta muito de dar seus palpites e isso não é nada bom. As figurinhas que recortei o vento já levou...
As naus já partiram do cais e os trens correram sobre os trilhos, eu acabei perdendo a viagem...
Não se preocupe, meu amor, tudo acontece, tudo pode acontecer dentro de qualquer espaço, nada escapa. Eu posso estar aqui nesse exato momento e ser abduzido imediatamente para as estrelas mais distantes, nesse caso, nunca mais voltarei...
Estou cansado de tanto estar cansado, quero o espaço das águas de um pequeno riacho onde dormir seja a palavra de ordem...
Perdoe, meu amor, sou apenas mais um órfão que perdeu seus brinquedos, que não pode mais abraçar sua própria ternura, sigo meu caminho de incerteza por onde vá, é apenas assim...
Fique comigo pelo menos mais um pouco, até que eu dê meu último suspiro, depois uma nova dança lhe espera...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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