Eis os que passos que eu dou, que você dá, que nós damos, como se os pés não tropeçassem e caíssem, mas quase sempre isso acontece...
Falta o ar mesmo quando ele existe, como se tudo à nossa volta nos sufocasse da maneira mais cruel e impessoal, aconteceu porque tinha de acontecer...
Dúvidas existem como sempre e nem o relógio de pulso já não nos serve mais. A ilusão do tempo se acaba e apenas tudo demora e vai rápido ao mesmo tempo...
Aguço meus ouvidos na procura de sons mais amistosos, mas tal não acontece. É apenas um engano, mesmo as notas musicais aprontam certas armadilhas...
Muitas luzes contradizem o que se pensa, mas tomemos cuidado, estas luzes podem nos salvar ou nos matar, dependendo de onde estamos, alvos ou não...
Estou bêbado, todos nós estamos, dependendo do ângulo que somos vistos. A embriaguez é um caleidoscópio colorido onde todos os nuances podem valer alguma coisa ou bem menos que a menor das moedas...
Esqueci minha razão em casa, junto aos meus compromissos de burguês. Talvez o cinismo de tentarmos nos salvar desse certo, pelo menos uma vez e nossa alma perdida estaria quase salva...
Os bichos da noite cumprem suas obrigações habituais. Tudo perdeu seu sabor de mistério, a mesma realidade que torna as paredes multicoloridas, é a mesma que veste as mesmas de luto e nos assombra...
Não sei se chego ou fico pelo caminho, tem vezes que parecemos com certos sonhos, todos eles no começo pareceram que iam dar certo, mas acabaram não dando...
Não tenho pressa, a pressa acabou. Qualquer espaço é o mesmo, qualquer lugar agora é lugar, perderemos todos eles uma hora ou outra, só nos resta aproveitar as sobras do grande banquete que desperdiçamos um dia...
Consigo chegar, milagres podem até existir, sejam eles banais ou não. A claridade que nasce é uma fumaça às avessas. Os pássaros já tomaram seu café da manhã? Parecem tão animados e sempre que me esqueço de perguntar o motivo...
Eu era apenas um vulto que voltava para casa. O que sou agora? Apenas mais um triste deitado em sua cama solitária...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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