quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Um Cadáver Tomando Café

Resultado de imagem para café e cigarro no cinzeiro
Trago todos os excessos em mim
como todo perdido neste caos
pelas janelas milhares de invasores
que sangram minha pobre pele
eu nem sei os compromissos 
que um dia assinei às pressas
para me livrar de mim mesmo

Eu sou um cadáver tomando café
olhando as moscas que voam em torno
saindo diretamente da tela de uma TV
meus olhos cravados em negras cores
sofrem o engano que todos devem ter
eu choro falsamente rindo todos os dias
e ainda tenho tempo de me pensar feliz

Temo em sair e dar uma volta lá fora
mosquitos e balas são mais suficientes
para poder me derrubar de uma vez
e vá que algum dinossauro me ache
as coisas velhas são tão atordoantes
e absolutamente não há mais regras
sobre a diferença entre morrer e viver

Eu sou um cadáver fumando um cigarro
não sei o que me mata mais depressa
se são os venenos ou as impossibilidades
não vejo a hora de descobrir tal coisa
o meu calendário está enlouquecido
e mesmo que eu ande somente de joelhos
o mesmo destino ainda continua mouco

A minha insensibilidade está em alta
e todos os riscos me deram até coragem
não somente de ser um ganhador
mas sobretudo de perder sem desespero
o abismo perdeu sua única arma
e agora a vertigem é coisa comum
como se bebe um simples copo d'água

Eu sou um cadáver tomando café
em casa e em todos os bares por aí
a fumaça sobe o aroma me agrada
apesar de muitos outros cheiros
façam um bailado mais sinistro
como um pesadelo como tantos 
até que os tempos se consumam...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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