Eu não sei tocar violino. Não sei, não sei e não sei. Acho até legal quem sabe tocar esse instrumento, igual ao menino menor que vende doces num carrinho tocando buzina pelas ruas do meu bairro. Ou ainda, quem sabe tocar qualquer um outro. Ou quem sabe cantar com harmonia exatamente na nota.
Não me deram nenhum destes dons. Falta-me habilidade em minhas mãos, mãos estas que com o passar do tempo andam até enrijecidas pela má-circulação em suas extremidades. Cantar? Isso então, nem pensar. Dizem que tenho um timbre de voz semelhante à um menino, o que me deixa um tanto quanto encabulado, sabe? Mas sou extremamente desafinado, minha voz não tem quaisquer predicados que possam me ajudar em tentar tal ofício.
Apenas tenho ouvidos, me entusiasmo em escutar música enquanto posso, nunca se sabe o que o tempo vai aprontar. Minha mente para tal colabora e me vejo com certos trechos em minha mente, ou ainda, quando conseguem escapar, na forma de solfejos ou assovios de um velho solitário por sozinhas ruas.
Eu não sei andar de bicicleta. Não sei, não sei e não sei. O equilíbrio nunca foi o meu forte, nunca o será, a vida mesmo já me deu tombos suficientes e muitas cicatrizes ainda são vivas como dias antes. A minha direção é louca, parecida com alguns personagens reais que acabaram saindo de cena sem uma satisfação satisfatória e isso não é uma ironia, apenas uma afirmação real.
As pipas no alto não se mantinham muito tempo comigo, acabavam caindo em abismos que fiz com minha pobre habilidade. Os mais simples muros eram barreiras intransponíveis e os medos das escadas gritavam aos meus ouvidos que a morte era a única realidade possível. Todos os brinquedos ficavam enfileirados numa grande caixa de papelão.
A escada, as escadas, tudo enfim, a vontade de estar lá no alto e o meu medo aqui embaixo, uma mistura bem diferente em que o meu destino segue. As noites do bacurau cantando lá fora e o menino correndo pra dentro com o coração aos pulos.
Os olhos parados e tortos contendo o mundo todo dentro de si, nada mais que isso, A boca cerrada, os pequenos dentes em descanso fazendo cara de choro. Os óculos disfarçando, fazendo a cara séria que não existia.
Eu não sei nada dos que os outros meninos, pelo menos, souberam em outro dia desses. Não sei, não sei e não sei. Mas agora, nada me incomoda mais...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
Eu não sei andar de bicicleta. Não sei, não sei e não sei. O equilíbrio nunca foi o meu forte, nunca o será, a vida mesmo já me deu tombos suficientes e muitas cicatrizes ainda são vivas como dias antes. A minha direção é louca, parecida com alguns personagens reais que acabaram saindo de cena sem uma satisfação satisfatória e isso não é uma ironia, apenas uma afirmação real.
As pipas no alto não se mantinham muito tempo comigo, acabavam caindo em abismos que fiz com minha pobre habilidade. Os mais simples muros eram barreiras intransponíveis e os medos das escadas gritavam aos meus ouvidos que a morte era a única realidade possível. Todos os brinquedos ficavam enfileirados numa grande caixa de papelão.
A escada, as escadas, tudo enfim, a vontade de estar lá no alto e o meu medo aqui embaixo, uma mistura bem diferente em que o meu destino segue. As noites do bacurau cantando lá fora e o menino correndo pra dentro com o coração aos pulos.
Os olhos parados e tortos contendo o mundo todo dentro de si, nada mais que isso, A boca cerrada, os pequenos dentes em descanso fazendo cara de choro. Os óculos disfarçando, fazendo a cara séria que não existia.
Eu não sei nada dos que os outros meninos, pelo menos, souberam em outro dia desses. Não sei, não sei e não sei. Mas agora, nada me incomoda mais...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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