quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Tão Logo

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Tão logo chegar o vento
- eu partirei...
Tenho pressa de chegar
onde foram parar 
aqueles meus sonhos
que há muito não vejo...

Tão logo amanhecer o dia
- não mais me verão...
Tudo tem a sua hora
e eu preciso resgatar
aquele triste menino
que eu já fui ontem...

Tão logo as nuvens bailarem
- eu irei até elas...
Já não aguento mais 
sofrer sem motivo algum
e falar palavras estranhas
que não consigo entender...

Tão logo o amor me matar
- levantarei da cova...
Tudo pode acontecer
e até a nossa tristeza
faz parte desse jogo
que teremos de jogar...

Tão logo escurecer de novo
- poderei então dormir...
Será o sono mais calmo
pois já perdi a impaciência
(o tempo assim ensinou)
de esperar por um novo dia...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 39



Eu me confundo comigo mesmo
e nesta mistura faço a minha festa
os sentimentos vestem suas fantasias
e existe lugar para o comum e o óbvio
inventar pode ser até engraçado
mas todos os caminhos são caminhos
nada mais tenho à declarar
à não ser aquilo que escondo
há séculos sob a poeira do meu desejo...

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Final triste
final feliz
na verdade são todas histórias...

Grandes histórias
curtas histórias
eu pensava em tanta felicidade...

Quentes dias
frios dias
todos ele passaram afinal...

Todos opostos acabam chegando
e o destino se diverte sempre...

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Quase morte, quase não,
não é bem essa a questão,
quase calma, quase aflição
eu queria, mas queria não
continuar só na escuridão...

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Todos os domingos
já viraram segundas-feiras
e as quartas 
são mais desesperantes ainda
nunca me chame para beber
se não há embriaguez suficiente
e nem velhas paisagens
para se olhar
sim, todas as chances são perdidas
quando os segundos tropeçam

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acabei de morrer
não sinta dó de mim
tudo ainda na velha máquina
está mais ou menos no seu lugar
é que se morre 
em muitas proporções
e estou numa delas
a morte de amor é a pior
acabei de morrer
não se aproximem do morto...

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todos os castelos caem
uns mais depressa outros não
os de pedra sempre caem
mesmo se permanecem de pé
alguns de cartas caem
mas continuam em seus sonhos
os sonhos não morrem
quando muito
vão andar em outros caminhos

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sereia
o que serei eu?
apenas areia...

e talvez uma conchinha largada
no nada
de uma praia vazia
e a vida 
tão fria...

estrela
onde estás? aqui...
tão perto e tão longe
e ainda nem parti...

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segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 38

Resultado de imagem para menino tomando café da manhã
Correntes caseiras é o que temos
correntes pessoais é o que fabricamos
em cada nuance vislumbrado
mais um novo pesadelo à ser vivido
tal real como todos nossos desejos

Cela coletiva é o mundo que vivemos
cela individual sem porta e sem janela
mas nunca vamos fugir delas
porque nosso papel há de ser cumprido
mesmo que custe todo tédio e frustração 

Batemos de cara no muro e estamos feridos
mas nunca iremos perceber tal coisa...

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cansado de me cansar
eis minha sina
sonhador às avessas
doem-me as feridas
que eu mesmo fiz...

cansado de me cansar
eis minha meta
sobrevivente quase morto
entre vida e morte
não sei onde vou...

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quero fazer meu mundo...

pode ser de simplicidade
pouco me importa
copos d'água 
flores sem cor determinada
a classificação geral
já era...

quero fazer meu mundo...

de pedras inteligentes
e montanhas amigáveis
onde o mau-humor
virou as costas
e se foi...

quero fazer meu mundo...

que tenham dias constantes
sem tristes madrugadas
e velhas festas
voltem finalmente
para sempre...

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sei que é errado
remoer coisas do passado
tudo está morto e enterrado
mas a dor continua...

sei que é errado
andar sem ter andado
sonhar sem ter sonhado
minh'alma é tua...

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Dias frios 
erros mudos
daquele que é apático
e não chora mais
que para si mesmo
Nada levamos
até as lembranças
se esvaem
e aí nada mais resta
que lamentar
a bondade perdida...

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como livrar-me da loucura
se ela mesma amparou-me
em meus maiores desesperos?

como acompanhar a lucidez
se ela só me deu o tédio
que me matou sentando na sala?


como manter-me correto
quando a apatia virou lei
e meu próximo morre ao meu lado?

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um grande teatro
é o que temos
independente 
de que hajam sóis ou chuvas
há um dualismo presente
em tudo que há
tristeza e alegria
acabam se confundindo
como o café e o leite
que o menino bebe
tranquilamente 
todas as manhãs...

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sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 37

Resultado de imagem para menino sendo atacado no chile
Eu sou um cara comum como muitos outros que andam por aí pelo mundo. Visto meu luto em cores claras para disfarçar o abismo que criei e nele mergulho com os pesos da minha tristeza e do meu tédio. Não entendo nada. A força do impulso leva meus passos assim como as folhas soltas obedecem ao vento. Complicados dias estes. Onde nada se escolhe, mas se pensa assim. Onde tudo se quer, mas nada sacia e acabamos consumidos por isso. Onde a apatia produz um desespero no lugar da esperança. Eu sou um cara comum como muitos que andam por aí...

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Só deixei uma luz acesa em toda a casa - no corredor. Eu não queria símbolo algum, mas eles costumam dominar todas as cenas. Símbolos são necessários tanto em fantasias quanto em realidades. Nos corredores tudo passa, nada fica. Assim também é a nossa vida, tanto chegou e nada ficou. É mentira dizer que existe permanência em algo. Nós mesmos já partimos inúmeras vezes e nem o percebemos. O menino, o jovem, o adulto e o velho só existem como figuras de linguagem. Cada dia existe algum desconhecido em nós. No corredor quem mora aqui ou vem aqui, por ele passa. Para nada ou para tudo. Assim é a nossa vida, um simples e sincero corredor...

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De que posso te falar? De terras distantes? Lá nunca lá estive... Fiquei vagando pelas ruas sujas de nossa triste cidade. Mas creia-me, nelas vi mais coisas que se possa imaginar. Vi batalhas mais extraordinários que nos livros de história ou nos games mais famosos. Não eram batalhas por reinos inteiros, nem por lindas donzelas de olhar sonhador e lânguido. Também não eram para destronar tiranos malvados e insanos. Estas já existiram muitas, o mercado anda saturado delas. Eram guerras pelo básico, pelo óbvio e pelo normal. Vi gente sem teto, sem pão, sem trabalho, sem carinho, sem expectativa, e, principalmente sem sonhos... De que posso te falar? De terras distantes? Lá nunca estive... Meu choro é daqui mesmo...

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Venha alegria! Venha ao meu encontro, eu te pago um café, me escute. Temos que pôr muitas coisas em dia, muitas mesmo. Desculpe se não te fiz esse convite antes, eu andei cego uns dias atrás achando que poderia me livrar da tristeza. Ela vem junto comigo e, afinal de contas, não posso reclamar muito disto. Ela é uma companheira como qualquer outra, tem seu lado ruim, mas também tem seu lado bom. A presença das duas me tem feito alguém mais forte, ou pelo menos, menos fraco. Consigo olhar com mais clareza as cores do dia, sejam elas bonitas ou não. Consigo me sufocar menos com tudo aquilo que me preocupei e não serve para nada. Tenho dado mais valor ao tempo, não esse tempo em que se luta para conseguir o que vai ser jogado quase que imediatamente fora, mas o tempo real, para arregaçar as mangas e conseguir aquilo que preciso de verdade. Rir mais (juntos, certamente) ou chorar um pouco mais (a tristeza irá colaborar com isso). Prestar mais atenção em tudo que vale a pena e que desprezei quase sempre. Na inocência das crianças, na pureza dos bichos, na esperança teimosa dos velhos, tudo enfim, que não pode cair dos bolsos e nem ser alvo dos ladrões. Venha alegria! Não se acanhe... O tímido aqui sou eu...

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Eu ia deixar pra lá, morrer mais um sonho, como outros já morreram. Eu ia me confessar derrotado antes da briga, mesmo desconhecendo a força do meu oponente. Ia esquecer o meu amor, achando que a chance seria do meu rival. Mas veio a loucura e gritou ao meu ouvido: 
- Tente! Só há duas respostas para todas as perguntas...
Queria parar de andar, não contar mais passos, esquecer que andei sob sóis e chuvas, deixar de lado minha insistência, enterrar os dias nas covas rasas dos indigentes sem nenhum epitáfio. Ser apenas mais um burguês, falso e tolo e comum. Mas veio a esperança em gestos largos e exagerados para mim:
- Insista! Vida e morte são apenas as opções que temos...
Quis ser apenas mais um número apático e impessoal entre muitos, viver calmamente em branco. Ter tudo aquilo que foi determinado e que na verdade eu não escolhi. Mas veio o próprio destino, apontou o dedo na minha cara e rude exclamou:
- Volte aqui! Aproveite cada minuto...
E mesmo cansado teimei...

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Quer ler um bom livro de anedotas? Leia livros de história. Neles estão contidas as tolices que os homens executaram e não deu em nada. As cavernas estão vazias e as fogueiras não existem mais para assar a caça. Lá estão as pirâmides que permaneceram, mas que não mais servem de descanso para seus cadáveres. Roma há muito tempo jaz em suas ruínas e os jogos nas arenas deram férias para as feras. Os exércitos não marcham mais deixando seus rastros de sangue. Átila, César, Napoleão, Hitler, são agora figuras nas páginas folheadas ou esquecidas. Toda tecnologia agora é obsoleta e toda novidade envelheceu. A única novidade é que não há mais novidades. Quer rir bastante? Leia as regras dos burgueses e seus paradoxos...

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Dormem tranquilos e nus poetas em espirais de um desencontro malvado e tão bonito. Confundo eu mesmo minh'alma se necessário for vez por outra. Filho de diversas coisas nem eu mesmo basta para minha imaginação. Tempestuosos desejos servem-me de cobertor, mas mesmo assim faz bastante frio. Numa noite destas, quase agora, embriaguei-me com o amor e a ressaca de tal bebedeira me aflige mais que muitas tempestades iminentes que as telas anunciam. Algumas olheiras são tão bonitas, mas o resto do rosto colabora para tal. O punhal que empunhei acabou por ferir-me. Era o que eu queria e não terei jamais. Quem ama geralmente escolhe deitar e dormir no meio dos muitos espinhos das rosas.

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Tão Nu e Tão Cru

Resultado de imagem para natureza morta mesa posta
As folhas sempre cairão
É tudo questão de oportunidade
Os amores assim morrerão
Dentro de sua própria eternidade

A mesa posta
A casa arrumada
Do que se gosta
Não há mais nada

Os rios passam e vão
Para um grande mar sem fim
E à noite uma escuridão
Vem tomando conta de mim

A janela aberta
A porta fechada
A rua deserta
Não há mais nada

Calendários cumprem a missão
Mesmo que sejam tão cruéis
Quer pareçam ou pareçam não
Estes são os seus tristes papéis

O amor assassinado
A paixão acabada
O olho fechado
Não há mais nada...

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 36

Resultado de imagem para cabana
faço
desfaço
disfarço
o cansaço
os pés doem e alma dói bem mais
os desenganos são apenas espinho
eu desabo como fazem os temporais
eu sempre andei muito e sozinho
planejo
almejo 
mal vejo
o desejo
a decepção manipula seus dados
os dados correm entre os seus dedos
nós humanos estamos todos marcados
para engolirmos estes nossos medos

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quando a dor entrar
feito seta em teu peito
não se desespere
tudo passa
o que é bom e o que é mal
quando a desilusão
esbarrar pelo caminho
não se desespere
ela acaba
o que incomoda ou agrada
vivemos num constante 
e malcriado dualismo
que vive nos afligindo...

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um cheiro forte nas narinas
invade todo o ar em volta
o que faremos nós?
é o cheiro da morte
que impregna o que vivo é

um gosto de sal nos olhos
acaba quase nos queimando
o que faremos nós?
é o gosto da tristeza
que termina com a festa...

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quando o amor chegar
não resista
mas se for a paixão
corra dela
o amor gosta das nuvens
a paixão gosta de abismos
o amor te ferirá
sem querer
mas a paixão
gosta de malvados jogos
nada nessa vida
acerta na mosca
seus objetivos

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um zumbido em meus ouvidos
uma figura escondida na retina
tudo misturado e confundido

uma ocasião foge aos berros
um desespero se acalma
tudo misturado e confundido

um silêncio de velhas estátuas
um cálculo de todos os epitáfios
tudo misturado e confundido

Se posso pedir algo alguma coisa
me deem rosas muitas rosas mesmo
para mentir pela última vez
dizendo que houve perfume e beleza...

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na hora certa
não haverá hora
assim deve ser
aquilo que é
perfeito e será

na hora certa 
não haverá som
alguns silêncios
são solenes 
e isso nos basta

na hora certa
não haverá nada
e seguirei mudo
descobrindo enfim
que isso foi sempre...

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tudo aparentemente vai certo
mesmo quando errado está
faz parte dessa dança louca
que chamamos vida...

todas as probabilidades são gastas
nas mais absurdas arquiteturas
faz parte dessa pergunta
que não será nunca respondida...

todo sonho salva de alguma forma
porque sem ele não temos sentido
faz parte do nosso desespero
acabar mesmo continuando...

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domingo, 20 de outubro de 2019

Sem Saída

Dividir todas as ruas com os cães vadios
Disputar as migalhas jogadas aos pombos
Fazer das tripas coração e vice-versa
Eu, sem saída pois nunca terei você...

Ter uma chuva forte sobre sua cabeça
Observar ruínas dentro e fora de si
Trazer a tristeza consigo para a festa
Eu, sem saída pois nunca terei você...

Dar um tempo de descanso para o espelho
Assumir definitivamente ser um maldito
A chama se extingue e isso não importa
Eu, sem saída pois nunca terei você...

Ter as mãos vazias de quaisquer sonhos
A estrada fica logo ali e eu não quero
Os meus planos são labirintos que me perco
Eu, sem saída pois nunca terei você...

Fazer todos os desafios que inexistam
Continuar procurando em vão feito louco
Joguei fora a chave da minha cela afinal
Eu, sem saída pois nunca terei você...

Dividir todas as ruas com os que vivem nelas
Disputar as migalhas jogadas da alegria
Fazer dos sonhos pesadelos e vice-verso
Eu, sem saída pois nunca terei você...

Sem saída...
Sem saída, sem saída...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 35

Resultado de imagem para menino olhando para trás
um vento bate em minh'alma
mas agora desconheço donde vem
será que de dias antigos
onde minha solidão não havia?

um tempo se esvai aos poucos
como águas de chuva em calçadas
será que uma só vez apenas
amores impossíveis ressuscitarão?

águas profundas e tão escuras
onde meus pecados se escondem
será que conseguirei evitar o desastre
de morrer finalmente respirando?

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amiga me tire logo
desse jogo confuso
de emoções baratas
amiga me ajude 
a ser eu mais uma vez
antes desse tempo mau
me esconda sempre
sob as tuas grandes asas
da solidão que oprime
eu não consigo mais
nem ao menos olhar 
como fazia antes 
deixe que navegue
como sempre quis
e não me sinto mais
apenas um sozinho

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o vento e o sono
companheiros velozes
da minha ida definitiva
o sopro e a dúvida
os únicos pertences
para minha bagagem
a mágoa e a lembrança
aquilo que ganhei
de presente dos dias
o choro e o silêncio
aquilo que não queria
uma estranha festa
tudo se confunde
em minha alma
diluída aos poucos

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há silêncio na cidade...
nos domingos morreu o afã
e veio à tona 
qualquer forma de divertimento
seja bom ou seja mau...

há silêncio na cidade...
cada alma com seu domingo
onde transitam sonhos
e ainda qualquer maldade possível
expressa em medo...

há silêncio na cidade...
mesmo parecendo o oposto
porque assim é
quase sempre a contradição chega
feito assim um rio
e sempre vai na mesma direção...

há silêncio na cidade...
há silêncio em mim...

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me enrolo em edredons macios
e espero que o sono chegue
incontenti
disfarço o que a vida me deu
troco tristeza por alegria
improvável
o vento sopra e eu sinto frio
não quero um minuto à mais
impossível
a minha fome ultrapassa barreiras
e anda por cima das águas
impertinente
faço toda a questão
de não fazer questão de nada...

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o paciente abriu a boca
para o médico examinar
a puta abriu as pernas
para cumprir sua sina
o poeta abriu sua alma
para poder se libertar
toque todos os solos
possíveis ou impossíveis
eu ainda quero dançar

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luz e trevas me perseguem
certamente
em tudo que sinto e faço
nada mais quero
nada mais posso
e se alguma coisa restou
assim o desconheço
imitei todos os gestos
de minha ilusão
e nem mesmo sei
onde fui enfim parar

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quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Um Cadáver Tomando Café

Resultado de imagem para café e cigarro no cinzeiro
Trago todos os excessos em mim
como todo perdido neste caos
pelas janelas milhares de invasores
que sangram minha pobre pele
eu nem sei os compromissos 
que um dia assinei às pressas
para me livrar de mim mesmo

Eu sou um cadáver tomando café
olhando as moscas que voam em torno
saindo diretamente da tela de uma TV
meus olhos cravados em negras cores
sofrem o engano que todos devem ter
eu choro falsamente rindo todos os dias
e ainda tenho tempo de me pensar feliz

Temo em sair e dar uma volta lá fora
mosquitos e balas são mais suficientes
para poder me derrubar de uma vez
e vá que algum dinossauro me ache
as coisas velhas são tão atordoantes
e absolutamente não há mais regras
sobre a diferença entre morrer e viver

Eu sou um cadáver fumando um cigarro
não sei o que me mata mais depressa
se são os venenos ou as impossibilidades
não vejo a hora de descobrir tal coisa
o meu calendário está enlouquecido
e mesmo que eu ande somente de joelhos
o mesmo destino ainda continua mouco

A minha insensibilidade está em alta
e todos os riscos me deram até coragem
não somente de ser um ganhador
mas sobretudo de perder sem desespero
o abismo perdeu sua única arma
e agora a vertigem é coisa comum
como se bebe um simples copo d'água

Eu sou um cadáver tomando café
em casa e em todos os bares por aí
a fumaça sobe o aroma me agrada
apesar de muitos outros cheiros
façam um bailado mais sinistro
como um pesadelo como tantos 
até que os tempos se consumam...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 13 de outubro de 2019

Poema para Os Cinco Sentidos

Resultado de imagem para menino olhando para o alto
o que eu sinto
o que eu não sinto
se espalha a brisa na manhã
as primeiras folhas mortas
o choro da noite passada
ainda existe...

o que eu vejo
o que eu não vejo
as cinzas da fogueira arrefecem
recordar agora só faz mal
muitos mortos perderemos
sem até quando...

o que eu ouço
o que eu não ouço
boatos de guerras tão comuns
as sedes dos que se afogam
na fome dos que comem
nada percebem...

o que eu respiro
o que eu não respiro
o medo se entranha nas narinas
e há uma mistura solene
do agradável e do repugnante
tudo em sua vez...

o que eu provo
o que eu não provo
confundem-me todas as barreiras
que eu mesmo não construí
mas que tenho de suportar
apenas engano...

o que eu sei
o que eu não sei
quieto aqui no meu canto
procuro desconhecer o que sei
nada melhor que fechar os olhos
até a consumação dos séculos...


sábado, 12 de outubro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 34

Imagem relacionada
já experimentei doces sonhos
hoje sinto o gosto de amargos dias
isso faz parte da sina de um qualquer
dias de sol e dias de muita chuva
não temos abrigo para o repente
e nem controlamos nossas emoções
faça-me o favor encha meu copo
e pode deixar a garrafa aqui mesmo...

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com a maciez das pedras
com a leveza de um furacão
faço versos como quem se feriu
e não quer fechar seu corte
assim é minha paixão
engolindo milhares de estrelas
não sei onde vou parar...

com a brevidade de uma lápide
com a fugacidade de uma flor
assim passa o vento do tempo
ele tem toda a pressa do mundo
assim é minha paixão
destruindo todos os versos
não sei onde vou parar...

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eu gostaria de esquecer tudo
e nem mais conhecer minhas cicatrizes
mas o impossível é a palavra de ordem

eu gostaria de sonhar um pouco menos
porque a decepção afoga todos os náufragos
mas o sofrer é sempre o prato do dia

eu gostaria de rir ao invés de chorar
só que não existem motivos para tal façanha
mas mesmo assim insisto em viver...

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saudade do que não conheço
eu estive em lugares que não fui
tudo é estranho após um segundo
o espelho acaba sendo um desconhecido

vontade do que não tenho 
senti gosto do que nunca pus na boca
assim são as trilhas que seguimos
desorientados em nossa vã ciência

estou quase desistindo da dança
que o meu corpo fique parado
e que minh'alma só contemple
o que ainda não teve oportunidade

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o brinquedo quebrou
a alegria foi embora
a novidade envelheceu
nada mais há para falar...
as filas são intermináveis
e nada podemos fazer...
o jardim se fechou
o sonho saiu correndo
o encanto se desfez
num simples piscar de olhos...
todo acaso acaba tendo
o mais firme dos propósitos...

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Por que existem poemas todos os dias
nestes meus velhos cadernos?
Porque existem novas tristezas
que aparecem pelos cantos mais sombrios...
Por que me desespero todos os dias
se tudo vai indo meio comum e normal?
Porque o tempo me corta maldosamente
com a mais afiada de todas as lâminas...
Por que continuo teimando em viver
se pareço um náufrago no meio do oceano?
Porque de todas as ilusões mais absurdas
acabou me restando apenas esperança...

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Cabeça baixa
olhos no chão
calado aí
Sem ter beleza
cato os restos
que a felicidade
me deixou
Cabeça baixa
olhos no chão
quieto aí
nem todas as tristezas
devem ser choradas...

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quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Solo de Violino para Amadores ou Teoria das Impossibilidades segundo C.A.


Eu não sei tocar violino. Não sei, não sei e não sei. Acho até legal quem sabe tocar esse instrumento, igual ao menino menor que vende doces num carrinho tocando buzina pelas ruas do meu bairro. Ou ainda, quem sabe tocar qualquer um outro. Ou quem sabe cantar com harmonia exatamente na nota. 
Não me deram nenhum destes dons. Falta-me habilidade em minhas mãos, mãos estas que com o passar do tempo andam até enrijecidas pela má-circulação em suas extremidades. Cantar? Isso então, nem pensar. Dizem que tenho um timbre de voz semelhante à um menino, o que me deixa um tanto quanto encabulado, sabe? Mas sou extremamente desafinado, minha voz não tem quaisquer predicados que possam me ajudar em tentar tal ofício.
Apenas tenho ouvidos, me entusiasmo em escutar música enquanto posso, nunca se sabe o que o tempo vai aprontar. Minha mente para tal colabora e me vejo com certos trechos em minha mente, ou ainda, quando conseguem escapar, na forma de solfejos ou assovios de um velho solitário por sozinhas ruas.
Eu não sei andar de bicicleta. Não sei, não sei e não sei. O equilíbrio nunca foi o meu forte, nunca o será, a vida mesmo já me deu tombos suficientes e muitas cicatrizes ainda são vivas como dias antes. A minha direção é louca, parecida com alguns personagens reais que acabaram saindo de cena sem uma satisfação satisfatória e isso não é uma ironia, apenas uma afirmação real.
As pipas no alto não se mantinham muito tempo comigo, acabavam caindo em abismos que fiz com minha pobre habilidade. Os mais simples muros eram barreiras intransponíveis e os medos das escadas gritavam aos meus ouvidos que a morte era a única realidade possível. Todos os brinquedos ficavam enfileirados numa grande caixa de papelão.
A escada, as escadas, tudo enfim, a vontade de estar lá no alto e o meu medo aqui embaixo, uma mistura bem diferente em que o meu destino segue. As noites do bacurau cantando lá fora e o menino correndo pra dentro com o coração aos pulos.
Os olhos parados e tortos contendo o mundo todo dentro de si, nada mais que isso, A boca cerrada, os pequenos dentes em descanso fazendo cara de choro. Os óculos disfarçando, fazendo a cara séria que não existia.
Eu não sei nada dos que os outros meninos, pelo menos, souberam em outro dia desses. Não sei, não sei e não sei. Mas agora, nada me incomoda mais...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Um Banquete, Uns Banquetes

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Banquete dos cinco sentidos,
quando é rosa,
quando goza, 
sem gemidos...

Banquete das quatro estações,
quando quero,
quando espero,
vem os senões...

Banquete de quatro elementos,
quando feito,
quando suspeito
soltos aos ventos...

Banquete dos três poderes,
quando oprimem,
quando comprimem
todos os seres...

Banquete dos quatro cantos,
quando vão,
quando são
apenas encantos...

Banquete das três marias,
quando nuas,
quando suas,
toda a alegria...

Banquete dos sete mares.
quando imensidão,
quando expansão
todos lugares...

Banquete de nove vidas,
quando ciência,
quando sobrevivência,
fim das feridas...

Banquete dos cinco sentidos,
quando é rosa,
quando é prosa, 
sem gemidos...

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Mudos

Resultado de imagem para menino mudo
Pássaros mudos,
cenas mudos,
mudos corações
beirando ao comum.

Não sei
ou me esqueci
dos feridos caminhos
que por mim passaram.

Cama vazia,
alma vadia,
arquitetando gestos
maus e também bons.

O novo dia
vem sem desculpas
enterrar a morte 
da noite passada.

Perigo tão leve,
paixão impossível,
só escolho
se for o meu pior.

Sem libras,
mãos nos bolsos,
cabeça baixa
vou por aí...

Alguns Poemetos Sem Nome Número 33

História O viajante da vida - História escrita por lirioazulmar ...
Há invenções que faltam no mercado:
Precisamos urgentemente de jardins instantâneos
para poder curar os olhos que estão tristes;
Precisamos também de sóis infintos
que apaguem as madrugadas de certas almas aflitas;
Precisamos de espelhos mais pacientes
que nos mostrem as vantagens do tempo que passa;
Precisamos de pílulas de calma
para quem sofrer da impossibilidade do amor;
Precisamos de apagadores de ilusões
que não tirem o encanto dos nossos sonhos;
Precisamos de mais loucura esclarecida
que desenferruje a velha roda da história;
Precisamos de um novo veneno que mate a caretice
e que ponha para correr o politicamente chato;
Precisamos de dias maiores, alegrias mais intensas,
de fogueiras que não se apaguem nunca mais;
Precisamos de uma humanidade mais humana,
menos máquina do que a que anda na moda;
Precisamos de algo que nos console mais 
e que nos exija bem menos do que somos agora;
Precisamos de novas doses de esperanças
que nos façam esquecer compromissos vãos;
e finalmente, precisamos que seja inventado
um jeito maior de amarmos mais à nós mesmos...

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num deserto plantei minha esperança
e as flores que brotaram
sobreviveram bebendo o meu sangue

sinto o excesso de ar que assim sufoca
dezenas de veículos
fazem uma sinfonia mais que infernal

perdi a noção do que é noite e o que é dia
e assim vou cambaleando
não indo mais ao meu próprio encontro

onde andará aquela graça que eu achava
escutando histórias inocentes
que minha mãe contava em infindáveis dias?

a única salvação para minh'alma ferida 
é esse pequeno manacá
que há de crescer até quando não poder mais...

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tão signos
entranhados nas carnes
feito ferpas
nos cantos das unhas
a tristeza
é minha dona sem reservas
nos espaços
armo solenes armadilhas
vou arisco
como um vento vai à galope
é estranho
guardar amor com desamor
vento quente
vai invadindo minhas narinas
eu não tenho
mais um motivo pra estar aqui
quando vim
parece que tinha há muito partido

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quando a escuridão atacou-me
só pude chorar até não mais
quando a brutalidade chegou
eu já tinha ido quase embora
canto flores com meus olhos
em todos os tão frios verões
e em rimas tão dispensáveis
me lamento do que nunca veio
não me firo, é a solidão que fere
cada detalhe é que presta atenção
dou parabéns ao meu espelho
por ter me aturado tanto tempo

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pássaros indefinidos
escassas palavras
cenas mais pobres
cada vez menos mais
faça-me o favor
não me maltrate
a morte é temporal
e os ânimos descansam
em versos curtos
ou longos às vezes
nenhuma ação é total
deixar de te amar
é apenas uma mera
questão de pura sorte

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não quero descansar no teu colo
definitivamente não quero
eu sou o mar que mesmo parado
ainda assim se movimenta
na tola discrepância de eternos
e emblemáticos paradigmas
um dia hei de morrer eu bem sei
mas até lá vou fazendo sem querer
os mais breves ensaios à respeito

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minha pele
carrega os símbolos
de um sofrimento
sem gosto
por amargo demais
não há mais detalhes
muito menos enfeites
eu fui direto ao assunto
querer ou não querer
não é uma simples questão
eu cambaleio
e cambaleio muito
e ainda cambaleio demais
na aceitação dos lutos
(talvez muitos ou não)
que nem vi
silenciosamente chegarem

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domingo, 6 de outubro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 32

Sonhar com cova - Teu Sonhar
Faço versos
como quem não tem nada,
pensa em nada, 
nada faz,
que se perdeu na jornada,
pela estrada,
bem lá atrás...

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Esqueci meu sonhos,
pareço agora uma folha de papel,
estar vivo e morto,
boca calada, não há mais escarcéu

Inútil saliva, 
cuspo no chão,
a alma é viva,
é morto o coração...

Esqueci meus sonhos,
pareço agora folha voando ao léu,
ser bom e ser mal,
sem máscara alguma, sem véu

Inútil ouvir,
me calo em aflição,
o que há de vir,
apenas exaustão...

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eu quase morri,
isso é bem pior que tal,
eu quase morri,
deve ter sido no carnaval,
fechou o tempo,
procure abrigo, é temporal,
pra cada tristeza, 
basta o seu mal...

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perdi todo o tempo possível
querendo o impossível
o que eu quis?
ser o herói do dia? não...
ser o mais belo dos belos? não...
o sábio entre poucos? não...
ter o maior dos amores? não...
queria as coisas mais simples
que existiam no dia
mas que foram negadas
ao meu menino...

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há muito me desconheço,
olho no espelho e vejo um estranho,
há muito o sono me domina,
devem ser essas noites mal dormidas
que me perseguem por aí,
há muito que me calo
e o meu silêncio grita pelo ar...

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saudade morta - enterrem logo o cadáver
memória torta - quase tudo é esquecido
os dias são fantásticos disfarces para ilusões
o tempo é um grande comedor de pedras
e aprecia drinks feitos com os metais
mergulhemos nos espelhos mesmo com risco
faça-me um favor se possível
procure uma trilha sonora adequada na internet

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serão necessários vários sóis
para esquecer tanta mágoa
vários ventos meus amigos
para parar de arder a ferida
muitas águas gentis, amáveis
para não lembrar o que passou
ando disfarçado por aí
como uma pedra ou um passarinho
tanto faz desde que seja vadio

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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...