segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Quase Sem Perigo

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Quero trazer em mim todas 
as coisas mais possíveis
observações simples
que só os olhos conseguem viver
O triste andar das manhãs
que desconhecem os astros
mas mesmo assim possuem discreto
charme de alguma cantoria
Eis aqui os velhos filmes
e ainda as mais velhas fotografias
de uma saudade quase nada
que me restauram entre as mãos
Faço de certos detalhes meu caminho
e mesmo quando dói
ainda de minha garganta saem sons
e eu acredito em antigas mentiras
Foram-se os anéis e até os dedos
na mesma grandeza óbvia
dos sonhos que jazem sepultados
como ninguém mais o faria
Este é nosso bando de saltimbancos
cantando alegremente
enquanto todos os burgueses
jogam dados sobre nosso manto
Eu deixo as pistas espalhadas
e só não vê quem não quer
o roubo que tentei semana passada
querendo levar comigo a alegria
Os versos menores deram mais trabalho
porque assim eu o quis
sou o autor de minhas próprias loucuras
e disso não abrirei mão nunca
Todos os tiros acertam o alvo
não o mirado nem o desejado
o destino bate cartão de ponto
e cada coisa é o que deveria ser
Os sinos devem tocar
em algum lugar quase novo
enquanto esperamos deitados
a aurora de sei lá o quê
Mornas e ansiosas horas
que nos antecedem às festas
não há mais medalhas 
para premiarmos os feitos
mais comuns que acontecem...

domingo, 30 de dezembro de 2018

Esqueça

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Esqueça...
algumas palavras que vão à cabeça
falar é bom, sentir é bem melhor
tudo passa e tudo vira pó...

Esqueça...
espere que o nosso sonho cresça
perigosa é a fragilidade
que tem nossa pouca idade...

Esqueça...
chegue perto do amor e aqueça
espere paciente sua inspiração
que às vezes fala sim e outras não...

Esqueça...
sinta a dor, mas nunca esmoreça
dê valor ao que vem na ideia
é melhor que as palmas da plateia...

Esqueça...
quando precisar descer, desça 
pra ser rei não se precisa de trono
mas pra dormir tem que se ter sono...

Esqueça....
algumas palavras que atordoam a cabeça
falar é bom, sentir é bem melhor
tudo já passou, virou pó...

(Para o jovem poeta Patrick Duarte).

sábado, 29 de dezembro de 2018

Canção Morta

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Canção morta
qu'eu não escuto mais
fechou-se a porta
já estou em paz

Não dói mais
esse espinho
sigo em paz
ando sozinho

Canção bonita
que não atordoa
minh'alma aflita
agora à toa

Não atordoa
perdeu o encanto
nem má nem boa
secou-se o pranto

Canção trágica
de uma cor clara
cessou a mágica
minha pedra rara

A cor era clara
eis que anoiteceu
a ferida não sara
tudo enfim morreu

Canção morta
qu'eu não escuto mais
nada mais importa
morro em paz

Não dói mais
estar sozinho
sigo em paz
o meu caminho...

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Não Era Isso Que Eu Procurava

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Não era isso que eu procurava
quando andava
aos prantos
por todos os cantos...

Não era isso que eu procurava
quando tateava
no escuro 
com medo de algum futuro...

Não era isso que eu procurava
quando me angustiava
por aquela
de todas a mais bela...

Não era isso que eu procurava
quando me encharcava
com aguardente
por aquela demente...

Não era isso que eu procurava
quando me lamentava
dos brinquedos quebrados
passos errados...

Não era isso que eu procurava
quando a dor aumentava...

domingo, 23 de dezembro de 2018

Sob A Sombra de Mim Mesmo


Não posso falar mais do que as coisas que eu digo. É o que temos para hoje, é sinal de perigo. Não há mais teto que represente um abrigo. Não há adianta mais gritar, ninguém te escuta. Sem querer sacanear acabo sendo um grande filho-da-puta. Até pra poder respirar está tendo disputa. Não há mais um sossego, só existe carrego. Não tem mais dessa de venha cá meu nego. Não pego, não chego, sou cego, sem dengo. Não adianta ideias mirabolantes. Não sei se tudo vai mal ou está como antes. É porque nossa cegueira vem do tempo de Abrantes. Não espante, me encante. Depois ou durante. É rosa, é espinho, sozinho, sem carinho. Não há mais nada, nem caminho. Estou tão tristinho. Me dá um cigarro, me passa o vinho. Caí no asfalto, foi um carrinho. O teu cabelo em desalinho. Eu até queria fazer um rap maneiro, mas ainda não estamos em fevereiro. Noturna, me engole, na furna. Eu sou apenas mais um bocado. O meu celular já está enguiçado. Marcado, pirado, sou apenas um pobre coitado. Sem essa. Conversa. Já está atravancado meu peito, sou um cara cheio de defeito. Eu olho, olhando. Teu vulto, passando. Mil coisas, postando. A merda de ontem ainda ri agora. A bunda abunda, de fora. A morte, nem sempre demora. Pois o vírus pode ser um cara malvado, desses que passam olhando enviesado. Parando, parado. Comendo, tarado. Continência, soldado! Desconheço se o mundo vai se acabar, acabou a comida, a bebida, tem laranja para a gente chupar. A tela, a novela, a favela, cuidado com a banguela. Ai meu Deus, olhe os meus, os que acreditam, mas também os ateus. É tudo dança. Só há crianças. Uns enganados pela esperança. Estou aqui, estou ali. Olhei no espelho. E nem me vi. Estalo os dedos, são tantos medos. Veja a internet, não há segredos. Eu queria ser um cidadão mais sossegado. Só não tenho culpa de ser mais um pirado. Um pobre órfão abandonado. Já não sei mais como se faz o riscado. Apesar de não me esquecer de como é o bordado. Um cara que só faz poesia. Noite e dia. Desculpe aí, ó minha tia. Bebo demais, perdi a paz, traga meus ais, as minhas minas não são gerais. No meu canto, no meu espanto, sem esperanto. É pranto, é manto, é disfarce. Morre e renasce. Lágrima na face. Sob a sombra de mim mesmo, um atirador à esmo...

(Extraído da obra "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Venena

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Baila no ar serena forma
baila e baila até se cansar
e me matar tem como norma
malvada serpente à me encantar

Ri da vida e ri de tudo
até o fôlego lhe abandonar
mãos de aço e pés de veludo
sem barulho pra não me acordar

Vai pelas águas sereia
o meu naufrágio causar
constrói meu castelo na areia
e pede pro vento soprar

Sobe no galho mais alto
fala o que não se pode falar
pois és como o tiro do assalto
que sempre vai me acertar

Faz aquela cara de santa
brinca de roda me faz delirar
agora nem o medo me espanta
já fiz tanta coisa pra me matar

Me esfrega na cara teus pelos
até a minha pele se queimar
segura a chave dos meus pesadelos
um dia após outro é o que há

Assina com um xis analfabeta
que não sabe nem ler meu penar
fala dos meus segredos indiscreta
acaba depressa com meu bê-a-bá

És grande te chamam pequena
maior do que a vida pode acreditar
és venena que a vida envenena
quem pode seu amor dominar?...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Dois Número 4

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Estranhas maldições que me levaram
à um amor cáustico mau e insólito
como deviam ser os mortos assim
e os riscos como risos e riscos no ar
Estrelas e pérolas cantam em bando
e a minha sina foi correr até me cansar
porque o anjo e o demônio se cansaram
e acabaram trocando os seus papéis
A estética acaba no seu próprio final
e o verdadeiro testemunho do crime
hoje anda em outras noturnas águas
e à ele cabe os temporais que fiquei sob
Era o vermelho a cor da nossa morte
e os meus ciúmes deram apenas em nada
porque os piores caminhos são os escolhidos
e assim é pela mais bondosa maldade
Queria estar e não estar ali ao mesmo tempo
como o soldado que se salvou da batalha
mas acabou perdendo seu riso e sua alma
assim dizem: os ventiladores nunca descansam
Por isso venho te oferecer meu último tiro
como quem recolhe rosas para um enterro
e se algum papel foi destinado para o drama
que se cale agora e fale para todo o sempre...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Dois Número 3

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Saltimbancos de um tempo já morto
esquecemos tudo aquilo que dissemos
talvez se lembrássemos de cada pormenor
o nosso riso cessasse imediatamente
Não foi por mal que éramos malvados
os cataclismos viviam acontecendo
mas mesmo assim talvez fosse bom
cada fantasma à sua maneira
Eu não enxergo mais nem o espelho
e a minha cegueira foi assim benevolente
porque as tempestades não cessaram
mas o que importa é que não me importo
Uma reza ou uma praga são indiferentes
porque o baú do segredo fechado está
e eu me esqueci onde coloquei a chave
ou talvez a tenha jogado fora para sempre
Não espero mais por nenhuma nova manhã
e (às vezes) conformar-se pode ser heroísmo
porque covarde fui centenas de vezes
mas algo diferente segurou firme minha mão
Escrevo agora as loucuras mais lúcidas
e nada mais espero no noticiário da manhã
sei que a muitas lacunas à serem preenchidas
a fogueira se apagou e a festa terminou...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Anoiteceu

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Anoitece
o dia já escureceu...
Minh'alma padece
mas não morreu...

Meus olhos fitam as estrelas
como fossem um eterno bailado
é como se pudesse ainda tê-las
como um tesouro contado...

Conto todas com a avidez
de quem as perderá na manhã
e então chegará assim talvez
como quem perdeu seu afã...

Não há mais nada que fazer
o sereno cai e faz tanto frio
talvez fosse melhor me esconder
mas o meu peito está tão vazio...

Bem me lembro do lobo que sou
noturno bicho somente animal
não sei mais para onde eu vou
porque se arma um temporal...

Anoitece
Tudo em torno é um breu...
E uma lágrima desce
deste rosto meu...

Dois Número 2

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Jornais sem tristes notícias
é o que mais queremos
mas é inútil um sonho destes
é quase místico ou mesmo tolo
achar que a Pedra Filosofal
veio de brinde na caixinha
Histórias de amor finais felizes
só a favela tem esse nome
enquanto houver algum sol
os poetas hão de se enganar
apesar de que sonhos impossíveis
e fantasias são bem vindas
Neste mais exato momento
quero alguns cravos fora de época
ou que sejam rosas tanto faz
nem que não exista mais nada
ainda nos serve a teima
como ciranda na varanda
Beija-flores sinceros já morreram
e os morcegos usam suas lanternas
uma pitada de sal talvez basta
e um carinho meio malvado
que talvez um dia tenha tido
mas é muita coisa neste almanaque
Te amei e também não te amei
como se a morte trocasse a flauta
e agora tocasse um bongo
existem todos os motivos viáveis
mas falta um para se sofrer
talvez aprenda desaprendendo...

(Extraído o livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Dois

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Sol maneiro este
em franjas de sacrifício
por onde vai e vem
minhas costas sangram
talvez mais que os pés
na velocidade algo irritante
de todas essas nuvens...

É o cálido pálido
de coisas que nunca terei
eu procuro a felicidade
igual uma formiga
mas a solidão acaba
me impedindo de vez
as mais básicas coisas...

Não sei onde permaneço
nem a festa me agrada
talvez seja o vento malfadado
que corre feito um rio
eu acabo esquecendo nomes
e algumas feições também
e acho isso tão normal...

Eu sou o que não sou
a dificuldade óbvia do caminho
não sei mais apontar o dedo
Deus e o diabo na expectativa
quem deu o lance mais alto
perdoe meu março querido
os leões ainda estão soltos...

Crio fantasias como quem morre
de sede de alegria de um treco aí
mas fechar os olhos é alternativa
quando o desespero toma conta
e mesmo todo amor pelo sagrado
palpita e não palpita ao mesmo tempo
uma canção triste toca na praça...

É um quase medo frágil e bobo
exausto até não querer mais
a sinceridade e a traição de mãos dadas
a maldade se escondeu nos anjos
e eu ainda respiro uns enigmas
era muito e não era mais nada
eu também estou em velhas fotografias...

(Extraído o livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 16 de dezembro de 2018

Reto

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reto
sem afeto
indiscreto
vazio
afeto
agora concreto
secreto
sem cio

e mãos vazias doem
as ilusões se destroem

bonita
me irrita
não hesita
pouca
contrita
uma parasita
avilta
sua louca

o sol me queima
minha eterna teima

estada
sem estrada
mais nada
me perdi
escada
tão sonhada
vou ali

queria falar mais
me deixa em paz...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 15 de dezembro de 2018

E Eu Aqui Parado

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Há muito tempo espero o tempo
o que não tem remédio, está remediado
não sei mais o caminho que sigo
há tanta coisa tal segredo de estado
por favor não deixe mais sozinho
o mundo corre - eu aqui parado...

O mundo corre em diferentes direções
está impossível escolher qual lado
é como mais um deus-nos-acuda
na frente um abismo para ser saltado
se você erra a morte chegará logo
e o seu grito não será mais escutado...

Não escutarão mais velhas canções
é como um brinquedo novo quebrado
e por mais que a memória trabalhe
não há mais nada para ser lembrado
quero viver como cada novidade
antes que tudo esteja terminado...

É apenas um passatempo passar o tempo
pois até o tédio está ficando entediado
chamem os bombeiros tudo pegou fogo
agora o impossível é o mais cotado
por favor não me deixe mais sozinho
o mundo correu - eu aqui parado...

Ele Não Precisa

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Ele não precisa de nada
Não precisa de teto, nem de estrada
Não precisa de berço, 
Nem tampouco de terço,
Não tem interesse em nenhuma jogada

Não precisa de missa, nem de vela
Não precisa de porta nem de janela
Anda por todo que é lugar
Sem precisar ao menos andar
Não precisa de cor, inventou a aquarela

Ele não precisa da noite, nem do dia
Não precisa de servos, nem monarquia
Ele nunca dorme,
Seu nome é enorme,
Nunca é triste, ele só tem alegria

Não vê diferença, pra ele tudo é igual
É amor, está acima do bem e do mal
Sua mão move as estrelas
Pois nela pode todas contê-las,
Sempre dança, vai no festival

Ele é o dono de toda esperança,
Está no velho, no moço e na criança,
Ele é apenas o que É,
É pai, é filho, é irmão, é mulher
Tudo que existe sua vista alcança

Ele não precisa de nada
Não precisa da força, nem da espada
Não precisa de berço, 
Nem tampouco de terço,
Que todos se amem, no fim da jornada...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Quando O Amor

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Quando o amor te chamar, não pensa duas vezes - segue-o. Mesmo que os caminhos sejam os mais tortuosos e difíceis possíveis. Mesmo que a poeira da estrada te suje a roupa, as pedras te firam os pés e eles sangrem. Vai assim mesmo, sem escolha de tempo ou clima, com o amor, todos eles são bons ou pelo menos valem a pena...
Quando o amor te sorrir, retribua. Ainda que tua alma sangre, que as nuvens da tristeza pairem sobre teu teto e que tenhas sido pego de surpresa na solidão do teu choro. Nós temos uma constante luta contra perigos que machucam e até matam, mas o amor é o único que fortalece a alma e nos dá a verdadeira imortalidade dentro da imortalidade...
Quando o amor te fizer exigências, não tenhas medo, obedece. Ele é um grande mágico, é capaz de fazer proezas que mais nenhum outro pode fazer. É o grande inversor de leis aparentemente imutáveis, quanto mais ele é dado, mais aumenta. Não sejas egoísta, isso fere o amor e pode até matá-lo, matar o amor é pior que matar a si próprio...
Quando o amor dançar, não esqueça de acompanhar seus passos, mesmo se reclamares de certo cansaço, sempre valerá a pena. A dança que só ele conhece totalmente faz mover as marés no seu interminável vaivém, para que ele dance os pássaros cantam e vida e morte se tocam seus instrumentos como exímios músicos como assim o são...
Quando o amor se enfeitar, elogie-o. É o único que consegue vencer as barreiras do tempo, permanece intacto desprezando relógios e espelhos. Os malvados não conseguem abalá-lo com suas obras, em suas mãos ele traz a certeza de que os sonhos um dia serão realidade...
Quando o amor te der ordens, não hesites por um segundo sequer - obedece-o. Ele traz coisas maravilhosas que são de sua exclusiva posse e seus feitos são inigualáveis. Ele é o autor da paz, o grande aniquilador das guerras, o afeto e a ternura conjuntamente em todos os seres e todas as coisas da criação...
Quando o amor te acenar - vai correndo. Ele tem seus próprios caprichos, tem pressa em ser atendido e nunca pára em sua trajetória, tem coisas mais importantes para fazer. Ele tem que embalar o sono das crianças, amenizar a dor dos velhos, tem a tarefa de escrever todos os versos que saem do peito dos poetas...
E, finalmente, quando o amor te convidar para seu último gesto, não tenhas medo, fecha os olhos com toda calma e sorri, ele será sempre contigo, acabaram-se os motivos para tuas queixas, a solidão não te afligirá nunca mais, aí sim saberás o que é a felicidade que a vida inteira procuraste e agora ela veio ao teu encontro...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Encanto, Desencanto

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Encanto, desencanto, desalento
Uma paisagem cinza, ora lilás
É tanto luto, não fico mais atento
Toda saudade já ficou lá atrás

Amor, desamor, indiferença
Um dia amei, hoje não amo mais
Não tenho mais a sua presença
Foi feito barco que partiu do cais

Alegria, luz, treva, escuridão
Onde estarão os meus festivais?
O destino nunca tem explicação
Por que a dor sempre quer mais?

Espera, demora, impaciência
Veja a notícia que você me traz
Pois nem a morte, outra consciência
Poderá me trazer perdida paz

Encanto, desencanto, desalento
Uma paisagem cinza, ora lilás
Já não escuto nem mais o vento
Toda saudade já ficou lá atrás...

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Inútil Sol, Inúteis Coisas

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Inútil sol que tenta nos acordar
na verdade sonhamos que sonhamos
sem saber na verdade onde estamos
se somos pedras ou nuvens à flutuar...

Inútil vento que vem cantando
que canta as coisas que eu queria
o que agora fere e não feriu um dia
e eu nem sabia que estava amando...

Inútil água desse verde mar
que tenta me falar nesse vai-e-vem
não estou mal e tampouco bem
viver pode ser igual à se matar...

Inútil nuvem que no alto desenha
dispenso desenhos, não quero mais ver
aprendi que viver é o mesmo que sofrer
que todo o esquecimento que logo venha...

Inútil sol, inúteis coisas, todas elas
deixe-me sossegado num canto deitar,
não sei quando o fim vai vir começar,
já fechei a porta, mas abri as janelas...

domingo, 9 de dezembro de 2018

Muito Tempo, Pouco Tempo

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Agora tanto faz. Se são bailarinas doidivanas saindo de um suave quadro de pintor renomado. Ou de selfies das pistoleiras do baile de um favela. Tudo faz sentido. Menos o que pode acontecer. Por isso e por não outro motivo. Eu mesmo assino minhas sentenças.
Há centenas de preocupações que estão em nosso trabalho de casa. E muitas tarefas que nunca poderemos fazer. Tudo pode mudar. Menos a obrigatoriedade de certas mudanças. Por isso e por não outro motivo. Já me conformei que os sustos são artigos banais.
Quase nunca brinco com coisas divertidas. A seriedade possui agora um certo charme. E eu sinto falta de mim mesmo que me canso de me procurar o dia todo. Alguém me viu por aí? Eu estava vestido com azul em outra cor que não era essa. Havia em meu rosto um pouco da purpurina que sobrou de um carnaval que fico lá atrás.
Faço questão de toda banalidade possível. Acabei de comprar a alma do faraó dia desses. E todo um cortejo de andorinhas com toucas de um inverno mais ameno. Até alguns rios se cansam. E sustos podem acelerar corações ou pará-los. É tudo uma simples questão de dialética. Todos os pecados com muitas cópias. Por isso e por não outro motivo. Grito na noite para acordar alguém.
O tiro pegou de raspão. A primeira namorada é hoje a míope senhora de riso desconsolado. Temos a idade das pedras. Os sonhos são mais duradouros e mais cruéis. Não era para entender nada. Só respostas não respondidas possuem sal. Um dia farei um banquete só de olhos-de-sogra e brigadeiros. Degustação máxima. Por isso e por não outro motivo. Os gatos já desceram o morro.
Acabamos não notando nada. Esquecemos rostos e alguns nomes. O comerciante drogado me servia traçados enquanto eu chorava sobre a intemporalidade do tempo. Nunca houve consolo algum. As rodas dos veículos são mui marvadas. Aprendi à dançar com as águas. As que caem do alto e percorrem calçadas com a pressa da mais pura timidez. Por isso e por não outro motivo. A nicotina agora mancha os meus dedos.
Invento dramas. E uns outros são verdadeiros. Não há muita diferença entre eles. Nunca aprendi certas lições. O impossível faz muito bem seu papel. Alguns toques no teclado e o mundo caiu. Esfera de vidro coloridas podem ter seu próprio reino. Eu quase tropecei em minha sombra. Certos armários transbordam de segredos. Por isso e por não outro motivo. Ainda me emociono com os baticuns que acontecem ao longe.
Uma flauta pode cortar mais a nossa alma. Minha alma tem calma de sobra. Mas as sobras são bem vindas. Sem rimas agora. Faça-me o favor. Tudo está politicamente correto. Corretamente acorrentado. Não existem reais diferenças. Por isso é que notamos. Um samba em Berlim. Um tango em Paris. Um milagre logo ali. O dragão chinês foi um ótimo sorvete. Por isso e por não outro motivo. Abalos sísmicos acontecem na sala de estar.
Os beijos ainda ultrapassam limites. Eu sou mestre de coisa alguma. Cato restos com olhos tortos e ninguém o percebe. De vez em quando consigo roubar alguns sonhos. Tudo cabe em meu peito. Quase como uma câmera escondida. Não me neguem tal deleite. Não nasci para mais coisa alguma. No meio da litania acabei rindo alto. E na hora do pedido dei uma topada e xinguei bem alto. Por isso e por não outro motivo. Queria saber do final de histórias que não acabaram.
A vertigem me atinge quase todo o instante. É a mágica das engrenagens de velhos relógios. Nunca mais faça isso. As cordas do piano também podem matar. Sei de quase tudo que não preciso. E consumi algumas noites jogando cartas. Agora não dá mais para certas canções. Minha memória se recusa à lembrar. Por isso e por não outro motivo. Nada me satisfaz e tudo me basta... 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Não Há Segredos (Desesperadamente Sem Desespero)

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Não há mais segredos
e o tempo passa como números
numa caixa registradora...
Fingimos um certo encanto
poque a etiqueta manda
e estamos aqui à cumprir ordens...
Os pássaros estão cansados
e agora certos galhos
estão servindo como fast-foods...
As guerras continuam por aí
e estamos mais ou menos irritados
porque sabemos tudo de antemão...
Eu até gostaria de novas coisas
mas assim como todo mundo
a vida usa de velhas correntes...
Não que eu esteja desenganado
porque até o nosso desengano
acaba faltando na lista de compras...
Todo carrasco entrega seu pescoço
à um outro carrasco que o substituiu
pois hoje era o seu dia de folga...
Podem apagar essas luzes coloridas
os começos dependem dos finais
e nós nem reparamos nessa morbidez...
Um dia fui um menino tímido
hoje continuo sendo um velho tímido
mas acabei aprendendo à gritar...
O meu cinzeiro cumpre bem o seu papel
tenho mais marcas na alma do que na pele
e essa maldita teimosia de viver não me larga...
Em algumas vezes acabo pensando
que parece que não sou esquecido nem lembrado
será que me enganei e nunca existi?.,,

Vento do Sol

já aprendi que quase todos os amarelos
são laranjas um pouco mais discretos
e assim vão se sucedendo tudo que há
as fatalidades são sugestões do cardápio
e abismos são locais como quaisquer outros
briguei por certas expressões a vida inteira
e hoje vejo como as letras brincaram comigo
quanto mais embriagado mais lúcido baby
não tenho compromisso algum até às quatro
já olhei em todos estes meus bolsos
e o medo deve ter se perdido pelo caminho
cada poema que faço é assistir um parto
em que dolorosamente rio de pura aflição
há muito apertei o botão do controle remoto
e acabaram-se todos os dilemas de meu tempo
nada mais me resta senão o que nos restou
demorei mas aprendi o idioma dos meus olhos
e neste ponto não precisei de mais nada
se for para jogar futebol chamarei a morte
a vida é muito perna-de-pau e exigente demais
quer tudo muito perfeito e eu sou ruim de tiro
estou dispensando de agora em diante
toda piedade que me faz crescer às avessas
sei que fracassos podem até ser vitórias
quando alguma coisa sobrou neste front
a madrugada inteira fiquei insone e dormi agora
é tarde demais para os passos que deu retrocederem
mas novas festas ainda são e serão bem vindas
eu gosto muito de falar de coisas que não entendo
as que eu entendo estão todas já arrumadas na gaveta
e não quero ter dois trabalhos ao invés de um só
basta! estou cansado demais desse cansaço
e o ar que me cerca é curioso demais para tal
e suas perguntas produzem um tédio que dispenso
é fato consumado que os poetas e os bandoleiros
nestes tempos de chumbo que sempre se anunciam
ainda olham para o mais adiante com certa paixão
cuidado! ter cuidado demais é errar no sal
as batucadas ainda podem varar noite adentro
e podemos ter saudades até do que nunca tivemos
as mesas não foram somente feitas para comer
deitam-se nelas até os que um dia oprimiram
o balanço da rede é inevitável segundo as leis da física
o destino é um camelô cheio de algumas novidades
vamos brincar de antagonismos que nos afligem
e acabamos esquecendo toda a nossa fala
é que algumas vezes me esqueço que sou humano
e é nessas raras vezes que consigo ser feliz
pegarei todos os meus vícios e lhes darei uma medalha
minhas virtudes ficam no sofá da sala vendo novela
eu queria haicais como borboletas em bando
mas os metais ainda sabem confundir muito bem
é fascinante o encanto de certas estampas antigas
atravessar as paredes já virou um lugar-comum
e até a tua beleza ficou um pouco sem graça
quando coloco as reticências o menino até chora...

(Extraído o livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Rápida Eternidade

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Rápida eternidade,
passageira, fugaz,
esconde todas as cartas,
só mostra - o ás

Instante congelado,
não há o mais,
passa sempre apressado
nem olha atrás

Festa que começa,
foi tudo, bem mais
vários nascimentos,
alguns funerais

Não dá tempo de pensar,
há sempre temporais,
todas os enigmas,
adivinhe-me se for capaz

É tudo inédito,
não esperamos jamais,
fomos pegos de surpresa,
jantar com os canibais

Agonia verdadeira,
esperamos demais,
até o tempo espera,
traga logo meus sais

Rápida eternidade,
passageira, fugaz,
esconde todos os fatos,
só mostra o que traz...

Carta Para As Duas Belas

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Desculpe-me, minha cara, sei que reclamas a minha presença desde o meu primeiro despertar. Sei que o nosso encontro é inevitável, poderá acontecer qualquer hora dessas, mas por ora, não.
Posso estar errado, como da maioria das vezes minha acontece, mas é o que acho. Ainda existem alguns sóis em algumas manhãs que mirarei. Quero ainda escutar aquela canção sem nome e sem letra que me lembras de muitas coisas que quase esqueci. Algumas chuvas também me surpreenderão enquanto vou pelo caminho.
Não importa, se chorarei mais algumas vezes, isso consta do script da grande peça que tenho minha participação. Ainda preciso viver mais algum amor talvez e se ele não existir, pelo menos alguns suspiros ofertarei ao silêncio das paredes do meu quarto.
Sei que o tempo me consome, não sou mais o mesmo, no meu rosto as rugas chegam e aquele meu sorriso se vai. Não tem importância alguma, aprendi o maior segredo de todos - rir. Rio agora das ilusões que um dia quis, rio do impossível que acompanhou certos sonhos. 
Muitos amores que eu queria, já foram; muitos que amei, também seguiram por aí. Alguns pelo mundo, outros foram contigo. Por que então pressa? Um dia encontrarei á todos e nesse dia seremos felizes.
Não coloque essa máscara, não adianta fingir. Sei que ambas são belas, apesar de tantos medos. 
No meio da noite já sei procurar as estrelas, é tudo tão certo e tão simples como quem navega usando suas cartas. Há muitos portos ainda e eu ainda procuro o meu.
Ainda faltam alguns passos de minha dança, fogueiras que ainda serão acesas, histórias que não foram contadas quero ainda algum carnaval para poder usar a minha fantasia.
O dia a dia é meu inimigo, o tédio tenta envenenar minhas veias, eu tenho um coração ferido pelas dores do mundo, sei que às vezes faltam-me ternura e compaixão, paciência e piedade, mas sou isso que todos podem ver. 
Eu sou a dicotomia frequente de bem e mal, em meu ser o anjo usa suas asas para pairar entre as nuvens e o demônio rasteja em seu abismo com suas pesadas correntes. Aqui em meu peito estão juntos o enigma e a resposta, a doença e a cura; assim como em minha mente convivem juntos o sonho e o pesadelo.
Prometo que se ganhar vários anos, mais alguns meses, ou semanas, ou apenas um dia, tudo será usado da mesma forma. Não pretendo fazer castelos que rasguem os céus, os ventos do correr do tempo transformam pedras em cartas e elas sempre caem. Não me importa fazer grandes feitos, a memória dos homens é muito curta, não é meu objetivo ficar guardado em páginas empoeiradas em velhas e indiferentes prateleiras. Pretendo fazer outra coisa - apenas viver.
Existem coisas que por serem simples, passam desapercebidas da maioria, mas são elas que possuem real valor. O sorriso que darei para a criança que passa na rua e foi retribuído será tão eterno quanto o brilho das estrelas. O bom dia que dei para a pessoa de aparência triste e mau-humorada em alguma coisa mudará o curso da história. Olá, pequenas flores sem nome, seu trabalho em colorir o mundo e diminuir a tristeza está sendo bem executado, meus parabéns! Ainda não tinha reparado, mas que canção bonita, vocês, senhores passarinhos, cantam todos os dias sem se cansar. O cão de rua abanou-me a cauda e, reparando bem. ele consegue ser muito simpático. 
Desculpe-me se algumas vezes te chamei, minha cara, no fundo eu sei que não existe nem inimizade e nem adversidade entre nós, a tua tarefa é mal compreendida pelas histórias que sempre nos contaram por aí. Hoje compreendo que tudo tem sua hora e és muito ocupada e pontual em teu serviço. 
Na verdade, não és o acabar das festas e nem sequer o apagar das fogueiras. Não és o fim do amor, mas o verdadeiro perpetuar deste. És a prova maior da grandeza do Criador, toda vez que o ovo se quebra e a semente se transforma, todas as vezes que o fogo sacrifica os metais e o diamante sofre ao ser lapidado. Toda dor incomoda, mas passa, ou pelo menos se ameniza; todo sofrimento machuca, mas ensina.
Desculpe-me se pensei em algum instante em te incomodar, alguns outros assim o fizeram (e não irei julgá-los por isso), mas eu não. Tentarei ser como a pedra sob a chuva, esperarei a vinda de um outro novo sol. Ainda, por onde andarás, escutarás minhas queixas, minhas muitas queixas, mas não ligue, não se importe, não atenda meus pedidos, serão apenas meu modo louco de reclamar mais por hábito do que por necessidade, sou assim mesmo. Afinal, isso faz parte de nós, eternos sonhadores que somos.
Outra bela, fiel companheira, aqui estou, não repare na lágrima que escorre agora em meu rosto, é assim mesmo...

(Para Beth Albuquerque, com todo o carinho do mundo).

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Vento Sagrado

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Vento que entra pelas narinas. São sinas. Esquinas. Em meus passos mais desencontrados. São certos. Errados. Eu não sei mais quem mesmo sou. Sou pai. Sou filho. Avô. Acerto. Errou. Onde ando tem perigo. Nem ligo. O abrigo. É o céu. Um véu. Um léu. Olha que eu faço escarcéu. Dedéu. Uma guerra de travesseiros. São bons. Maneiros. Não faço até muita questão. Tenha dó e tenha compaixão. Que nada. Que não. Sou apenas mais um safado. Um tonto. Embriagado. Quem me dera ter acertado. Nessa tal loteria. É noite. É dia. Por favor. Me volta Maria. Não tenho. Engenho. Mais nenhuma alegria.
Vento que escorre no rosto. Que gosto. Desgosto. Acabei arranjando um sanhaço. Bufão. Palhaço. Pode sobrar até algum traço. Ferido. Perdido no espaço. Estela. Estrela. Tão bela. É triste não tê-la. Perdê-la. Novela. Não vê-la. Não me dê mais um tiro. Me firo. Socorro! Chama logo essa enfermeira. Madeira. Maneira. Eu não passo de uma caveira. Cadeira. Esteira. Eu não passo de página virada. Sem sorte. Nem morte. Nem nada. Escorre água pela parede. É um verde. É a sede. Não veja. Vede. Nu pela cidade. Não venha. Falta tudo. Falta até a idade. Sou mais velho que as montanhas. Deixe em paz. Bem mais. As minhas próprias entranhas.
Vento que fala aos ouvidos. Abelhas. Centelhas. Zumbido em meus ouvidos. Parentes. Serpentes. Fica o sorriso e vão-se os dentes. Acho que estamos dementes. Tão iguais e tão diferentes. Não ouse e nem tente. Coloque nos teus cabelos um permanente. Nem sou. Nem gente. Mas o problema é que sou imortal. Geral. Onde é que está meu mingau? É fita. Bonita. Maldita. Atrás de conversa vem o engano. Um dia ainda viro ser humano. Sem pano. Sem dano. Meu mano. Vê se adivinha o que eu trago. Um trago. Um rasgo. Sou novo gangster lá de Chicago. Feliz. Tempo vago. 
Vento que traz cisco nos olhos. Que faz a lágrima rolar. Tenho não tenho. No cenho. Mais o que chorar. Morreu. O meu. O seu. O nosso verbo amar. E a musa. Escusa. Com seios fora da blusa. Me tenta. Aguenta. O rio que vai pro mar. Estamos. Gritamos. Escutem o meu cantar. Não importa. Se é morta. Que pode até ressuscitar. É fêmea. A blasfêmia. A pele é de jaguar. Em rima. Em cima. Se formou um bafafá. Laranja. Estranja. É o que agora há. Mendigo. Perigo. Um pingo. A goteira há de pingar.
Vento que arrepia a alma. Sem calma. Eu quero agora correr. O tempo. Contratempo. Ainda quero viver. Não é mole. Mais um gole. Toque o fole. Me escapole Tudo que já vivi. Aqui. E Dali. Segura na minha mão. É queixume. É ciúme. Mas faço até questão. Largue a arma. Segue o Karma. Uma vida. Outra vida. Fala vida. Tão querida. Me jogo no precipício. Foi assim. Ai de mim. Teimar virou um vício. As madeixas. Várias queixas. Várias deixa. Não me deixa. Falo nada. Vou na estrada. Subo a escada. Minha fada. Mais danada. Sabe nada. Que eu sempre quis. Um tango lá em Paris. 
Vento sagrado. Tudo acabou. Está parado...

(Para o jovem poeta Júlio Morikawa Filho, mais um poema).

Vamos Matar O Poema?

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Eis o nosso grande plano
Cortar o poema em pedaços
Ou julgá-lo sem defesa
Culpá-lo de nossos fracassos

Apontar o dedo em sua cara
Mostrar todo nosso asco
Torturá-lo de várias maneiras
Depois entregá-lo ao carrasco

Contar várias mentiras
Falar de atrocidades que não fez
Dizer que ele não presta
E que já virou um burguês

Tirar todo o seu interesse
Fazê-lo ser esquecido aos poucos
Mostrar todos seus perigos
Interná-lo num asilo de loucos

Vamos então vilipendiá-lo
Cortar sua carne de navalha
Dar vários tiros no peito
Tombá-lo no campo de batalha

Vamos profanar sua musa
Acabar de vez a inocência
Fazê-lo perder as contas
Esgotar sua paciência

Vamos matar logo o poema?
Vamos encerrar esse assunto
Mas vou logo avisando
Se ele morrer eu vou junto...

domingo, 2 de dezembro de 2018

Eu Sou, Eu Sim, Eu Não, Mais Uma Vez

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Mais uma vez no palco da vida. Vida mal planejada, mal encenada, mal aplaudida, mas vivida. Em gestos aflitos sem nenhuma compaixão. Somos o que somos, humanos sem dúvida, escolhendo palavras absurdamente piedosas para a nossa falta de compaixão. Eis o que fazemos - tentamos explicar o inexplicável e reparar o irreparável, réu e juiz ao mesmo tempo.
Mais uma vez na mira da morte. Com medos inconfessáveis à nós mesmos, contamos cada segundo que passa de forma instintiva. A nossa vela pode apagar, nosso castelo de cartas desmoronar e para isso basta um sopro, basta um gestou, bastam simples palavras. Rei morto, rei posto. O fatalismo da lógica nos oferece uma coragem por vezes insana.
Mais uma vez nas mãos do tempo. As raízes cresceram, estão firmes, mas acabam secando. Tudo passa, quase nada importa, só os sonhos se escondem nas entranhas da alma e ali sobrevivem. O desejo é o papel pega-moscas e a teimosia é a cola. O café esfriou, mas é o que temos. A realidade não é nossa inimiga, houve um grande engano. Ela só quer nos livrar das decepções, as ilusões são venenos mortais, são inimigas dos verdadeiros sonhos.
Mais uma vez por entre as sombras. Procurando motivos pra partir ou ficar. Nada possui uma explicação possível, mas assim é e assim o será sempre. O mistério é o tempero de tudo o que há, evidência e enigma comem no mesmo prato, bem no mesmo copo e dormem na mesma cama. Isso não é problema algum, só os tolos insistem nisso.
Mais uma vez junto aos fantasmas do passado. Cada vez mais a loucura não tem me visitado, isso é deveras preocupante. Sem ela os meus pés adormecem, os meus braços doem e o sono do conformismo acaba fechando meus pobres olhos. O maior perigo que podemos correr é achar que não corremos perigo algum.
Mais uma vez entre os perigos, sejam eles incomuns ou cotidianos, sejam eles os que o invento ou aqueles que são como a maré que sobe. O choro é inevitável, dispensando adjetivos e superlativos para sua presença. 
O vento sopra agora, pode ser bom ou não...

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Céu Bobo Sem Prata

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a solidão também mata
eis-me aqui
sem ter onde fugir
minha ilusão barata

onde é que estou?
estou num pesadelo
aflito sem apelo
pouco me restou

a maldade me desacata
eis-me estendido
quem dera ter fugido
dessa minha ingrata

onde é que eu sou?
choro todo o dia
sem sua companhia
nada assim restou

o amor é uma chibata
eis-me aqui a ver
um mundo sem você
um céu bobo sem prata...

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Aquilo Que Eu Queria Dizer e Não Disse

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A boca ficou calada no último instante
É pena... Me faltou a voz...
Gostaria de gritar como alguns poucos
Mas é a vida que segue adiante.
Que os pássaros cumpram sua tarefa
E alegrem mais um dia triste...
Não sei se as palavras sairiam bonitas
Como um tempo julguei até ser
Ou sei feias como a minha alma agora...
Aquilo que eu queria dizer e não disse...
Aquilo que eu queria falar e não falei...
Que eu queria fazer parte da sua turma
Porque afinal eu não era tão sério assim...
Eu que sempre tive medo de estender a mão
E a coitada ficar pendente no vazio...
Não adiantou meu gesto amedrontado
Porque hoje sei que a vida tem duas respostas
Não existe o meio para a maioria das coisas...
O olhar ficou o mais tímido de todos
Deveria saber... Talvez já soubesse...
Mas como sempre vivemos negando
E até nossos sonhos se tornam pesadelos
São sempre tênues as linhas entre os opostos...
Tanto bem e mal aprenderam a sorrir
Mentiram e verdade foram amigos de escola
Morte e vida passeiam pelo mesmo caminho
Dia e noite fazem parte do mesmo relógio...
A boca ficou calada no último instante
É pena... Me faltou a voz...

(Extraído do livro "Todo Amor Que Eu Não Tive" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Na Garganta Número 2

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Chega!
Mentiras demais é o que temos
E isso não pode ser assim...
Do que você tem medo?
Da morte? Da dor? Do ridículo?
Por que ter medo da morte?
Ela virá mais dia, menos dia,
Baterá em nossa porta
E entrará de qualquer forma...
Temos medo da dor?
Já nascemos chorando,
Vivemos do choro o tempo todo,
Seja o nosso ou o que provocamos...
Será que o ridículo nos aterroriza?
Nada deixa de assim o ser,
Olhamos sempre com nossos olhos,
Mas esquecemos de muitos outros...
Chega!
Já temos provas mais que suficientes
Que somos a maior praga do mundo...
Do que você tem medo?
Da morte? Da dor? Do ridículo?
Por que ter medo da morte?
Ou você vai pra onde merece,
Ou vai pra lugar nenhum,
O que no fundo dá na mesma...
Temos medo da dor?
Então tomemos vergonha na cara
E paremos de uma vez
De causar ou esquecer da dor dos outros...
Será que o ridículo nos aterroriza?
Aprendamos com os bichos e as crianças
Que vivemos jogando fora a pouca alegria
Que podemos ter em troco de nada...
Chega!
Aproveitemos totalmente as manhãs que temos
É o maior espetáculo da terra estarmos vivos...
Deixemos de negar pelo menos nosso sorriso,
Sorrisos não dados são mais tristes que flores mortas...
Tenhamos mais um pouco da coragem que nos falta
De não aceitarmos a covardia, a maldade e a violência...
Não se esqueça que a injustiça que aceitamos
Um dia também irá nos atingir com toda a certeza...
Não escondamos a verdade sob o tapete
Mesmo quando ela aponte o dedo contra nós...
De forma alguma desperdicemos nossos defeitos,
A consciência deles nos ajudará com nossos acertos...
Não somos anjos e nem tampouco demônios,
Somos os dois e isso é que o somos pra caminhar...
Temos que rir mais, dançar mais, cantar mais,
Sem nos importarmos com as amarguras que passarão...
Ah! E não esqueçamos nunca de fazermos versos,
As meras palavras seguem, os versos ficam...
Chega!
Era só isso que eu queria falar, meu querido amigo...

Na Garganta Número 1

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Na garganta
preso
não adianta
o peso

Paremos de mentiras enfeitadas
protegendo nós corremos
mais ainda sem batalhas travadas
é o que para hoje temos

Nada olhamos
inocentes
só salvamos
parentes

Para a mentira eis a senha
faça tudo escondido
nada impede que a morte venha
ai quem dera ter morrido

Não ouvimos
moucos
só caímos
loucos

Somos fracos e somos covardes
disso não temos vergonha
por dias e por dias e por tardes
nos mata a nossa peçonha

Na garganta
preso
não adianta
surpreso

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...