Mais uma vez no palco da vida. Vida mal planejada, mal encenada, mal aplaudida, mas vivida. Em gestos aflitos sem nenhuma compaixão. Somos o que somos, humanos sem dúvida, escolhendo palavras absurdamente piedosas para a nossa falta de compaixão. Eis o que fazemos - tentamos explicar o inexplicável e reparar o irreparável, réu e juiz ao mesmo tempo.
Mais uma vez na mira da morte. Com medos inconfessáveis à nós mesmos, contamos cada segundo que passa de forma instintiva. A nossa vela pode apagar, nosso castelo de cartas desmoronar e para isso basta um sopro, basta um gestou, bastam simples palavras. Rei morto, rei posto. O fatalismo da lógica nos oferece uma coragem por vezes insana.
Mais uma vez nas mãos do tempo. As raízes cresceram, estão firmes, mas acabam secando. Tudo passa, quase nada importa, só os sonhos se escondem nas entranhas da alma e ali sobrevivem. O desejo é o papel pega-moscas e a teimosia é a cola. O café esfriou, mas é o que temos. A realidade não é nossa inimiga, houve um grande engano. Ela só quer nos livrar das decepções, as ilusões são venenos mortais, são inimigas dos verdadeiros sonhos.
Mais uma vez por entre as sombras. Procurando motivos pra partir ou ficar. Nada possui uma explicação possível, mas assim é e assim o será sempre. O mistério é o tempero de tudo o que há, evidência e enigma comem no mesmo prato, bem no mesmo copo e dormem na mesma cama. Isso não é problema algum, só os tolos insistem nisso.
Mais uma vez junto aos fantasmas do passado. Cada vez mais a loucura não tem me visitado, isso é deveras preocupante. Sem ela os meus pés adormecem, os meus braços doem e o sono do conformismo acaba fechando meus pobres olhos. O maior perigo que podemos correr é achar que não corremos perigo algum.
Mais uma vez entre os perigos, sejam eles incomuns ou cotidianos, sejam eles os que o invento ou aqueles que são como a maré que sobe. O choro é inevitável, dispensando adjetivos e superlativos para sua presença.
O vento sopra agora, pode ser bom ou não...
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