Eu sou o desejo que sufoca o peito
A manhã mais linda que veio o temporal
Tapei o sol e não há mais nenhum jeito
Eu vim chorando e olha que era carnaval
Eu sou a noite que escureceu toda a tela
Um mendigo que pensou que era o tal
Não tive nenhum beijo nem o da novela
Eu sou o riso que não foi coisa normal
A falsa notícia de melhora veio ao doente
Mas o seu estado era apenas o terminal
Comecei à rir como se estivesse demente
Não colho mais flores lá no meu quintal
Eu sou a boca em mais falsas promessas
E eu mesmo me condeno à pena capital
Sou a coragem que vai correndo às pressas
Com medo das vezes que cantou o bacurau
Estou em todos lugares e em lugar algum
Fiz de dolosas lágrimas mais um festival
Não fiz nenhuma festa mas estava bebum
Fui a desalegria que veio e abalou geral
Eu sou o carrasco que às vezes acaricia
Que vem com fome e sua fome é animal
Estamos com febre mas a testa está fria
E aquilo que é comum se torna especial
Não faça nenhum comentário se cale
Foi o silêncio que salvou o fulano de tal
A vantagem deste mundo é que equivale
Ao prêmio de qualquer uma estatal
Eu sou o desejo que sufoca o peito
A manhã mais linda que surgiu o temporal
Sou corrompido e não há mais jeito
Eu sou o mal! Eu sou o mal! Eu sou o mal!...
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