sexta-feira, 31 de julho de 2015

Me Tenha

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Me tenha como quem tem um bicho
Como o urso que você dorme abraçado
Me tenha mesmo que só seja um capricho
Brinquedo novo que você deixa de lado

Me guarde como quem guarda um tesouro

E me possua como se fosse uma tirana
Incomode meus ouvidos com um besouro
Sempre me inclua nos teus fins de semana

Me faça fazer todos os versos apressados

Rima com rima até que não possa poder
E sair dando tiros para todos os lados
É que estou sentindo ciúmes de você

Me esgote toda a minha eterna paciência

Como se fosse um poço que agora secou
Agora acho decente toda minha indecência
E acho vida naquela flor que já murchou

Me estrague aquela minha festa surpresa

E atrapalhe aquela música que eu escuto
Distorça os meus conceitos de beleza
E me provoque até que eu fique puto

Me embriague sem eu nunca ter bebido

Que eu fique andando tonto cambaleando
Falando coisas sem ter o menor sentido
Se ao menos saber o que estou falando

Me tenha como quem tem um bicho

Como o urso que você dorme abraçado
Por favor não me jogue fora no lixo
Como se eu fosse um brinquedo quebrado...

Juliano e As Nuvens Número 2

O jeito é esperar mais um pouco
Meu querido Juliano...
Sorridente como se fosse louco
A passagem de cada ano...
Cada ano com sua sina
Nosso destino dobrando a esquina
Tão sagrado e tão profano...

O jeito é aguentar mais um pouco
Meu querido Juliano...
E gritar até que se fique rouco
Lutando por cada plano...
Cada céu com seus carneirinhos
Porque mais que estejamos sozinhos
E que o esforço seja insano...

O jeito é segurar mais um pouco
Meu querido Juliano...
Mesmo doendo igual à um soco
Quando a briga é mano à mano...
Cada pedra nessa estrada
Que vai dar em tudo ou em nada
E a felicidade deu cano...

O jeito é perseverar mais um pouco
Meu querido Juliano...
Tão ciente como se fosse um louco
A alegria nunca foi engano...
Cada riso será um presente
Um remédio pra alma doente
Este é o nosso grande arcano...

O jeito é respirar mais um pouco
Meu querido Juliano...

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Como Duas Velas Acesas


Teus olhos eram tão bonitos como velas acesas...
Brilhavam no escuro e me tiravam dele...
E eu submergia deles como um novo demônio
Cheio de tanta tristeza querendo agarrar a alegria!
Sim uma alegria sem nome e sem idade
Como tantas outras que ainda andam por aí...

Teus olhos eram tão bonitos como duas gudes novas...

Traziam uma nova cor como nunca tinha visto antes...
E eu as segurava com as mãos ainda muito trêmulas
Como só um menino pode então entender!
Com o sentimento infinito que enche a alma
Que só mesmo os loucos e os poetas podem ter...

Teus olhos eram tão bonitos como uma dois ventos do mar...

Um deles era a brisa mas outro era a tempestade...
E eu conhecia muito bem todos os dois
Como quem conheceu várias vezes vida e morte!
E teus olhos enchiam de imagens todos os caminhos
Que um vagabundo poderia ter ou querer...

Teus olhos eram tão bonitos como dois passarinhos avoando...

Um deles queria partir e outro queria chegar...
E mesmo cumprindo a mesma trajetória quem sabe
Nunca mais desenhariam o que chamei de meu céu!
E todas as lágrimas que o mundo pôde ter
Não foram as minhas quando da tua partida...

Teus olhos eram tão bonitos como duas velas acesas...

Como as duas velas que agora me velam silenciosamente...

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Simples História


Simples história sem enredo
Como tantas outras são
É cedo mas já veio o medo
Já pousou no meu coração

Simples história sem retoque

Feita de sim feita de não
A realidade é apenas um choque
Quando coloco minha mão

Simples história sem começo

Eis aqui toda a questão
A tristeza já tem meu endereço
Já bate no meu portão

Simples história sem ter fim

Nunca mais verei o verão
Mas ainda há um sol em mim
Acabando com a escuridão...

terça-feira, 28 de julho de 2015

Insaneana Brasileira Número 78 - Lixo e Lixos


Cada papel é uma nítida história. Sem enredo. Sem personagens. Que parou esperando a morte que já veio faz muito tempo. Não há para onde correr. Cada canto existe uma nova armadilha.
Cada brinquedo quebrado é um suspiro num peito desconhecido. Um menino que perdeu o riso. Novidades que envelheceram antes do tempo. Como foi bom mesmo quando não foi. Era tudo que se pode guardar sem tempo.
Cada jornal uma manchete morta. Que os moradores da rua deitem em cima. E os cães usem como prato. A rua se enche. Em cada noite há um Jesus crucificado novamente. E uma Madalena que não se arrependeu. E um Judas com os bolsos vazios e sem culpa.
Cada resto de comida um desejo. Uma boca cheia ou quase cheia. Num grande cortejo de humanos não mais humanos. O que dá vida também mata. E a que sustenta a alma pode colocá-la entre os bichos. Nada mais triste que a fome.
Cada pedaço de pano uma vaidade falida. Um sonho que morreu alvejado. São cores e vaidades ao léu. Podendo ou não. O tiro acertou na mosca. E toda nudez será somente olhada. Furtivamente. Se possível pelo buraco da fechadura. Sonho de menino e masturbação.
Cada monte uma montanha. Quase chegando aos céus. Como se os pombos se tornassem urubus. E cada mal cheiro um perfume novo vindo de não sei onde. É a dádiva da cidade. O ganha-pão dos que tem menos. E a burrice humana em forma concreta e exata.
Cada canto. Cada sombra. Cada poesia formada de antiversos. Um mundo destroçado por uma guerra sem declaração. O quase-humano e o mamulengo malvado que dá sustos. O choro da criança. A desesperança do velho. A maldade do novo. O feitiço mal lançado. A rotina do carrasco. O passatempo do serial killer. E o quinto cavaleiro que chegou atrasado...

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Me Pague O Que Você Me Deve

Me pague o que você me deve...
As noites que privado de meu sono caminhei milhas e milhas no escuro do quarto sem saber onde iria porque lá fora o medo me esperava pior do que a própria morte...
Me pague o que você me deve...
Todos os sustos naqueles corredores estreitos e abandonados porque eu era apenas mais um menino destes que choram o tempo todo sem conhecer o que é alegria ou ainda alheia compaixão pela culpa que nunca teve...
Me pague o que você me deve...
Tanta coisa que você me negou e me fez tanta falta e seria tão simples de você me dar: o beijo na testa ou nas faces e um sorriso cheio de cumplicidade e ternura como aqueles que não tive e nunca mais terei...
Me pague o que você me deve...
Os desvios que você colocou no meu caminho e que fizeram pegar atalhos que me fizeram ir até o nada e quando eu quis voltar também fui dificultado pelas promessas mais vãs que alguém poderia ter tido...
Me pague o que você me deve...
Aquelas minhas canções que ficaram sem letra desde quando só meu peito podia cantá-las no mais solene silêncio e eram como uma flauta mágica que só os magos poderiam ouvir e eu acabei me tornando mais um deles...
Me pague o que você me deve...
Foram tantos dias de luta contra aquela febre que me consumia quase aos poucos e se não matou foi por pura maldade para me deixar ficar neste mundo mesquinho onde todos os dias são novas tristezas vindo à galope...
Me pague o que você me deve...
Aquelas fotografias já se desbotaram e aquelas figurinhas já se rasgaram e aquelas novidades já envelheceram e tudo que havia de bom nesse mundo já perdeu toda a graça...
Me pague o que você me deve...
Me pague logo Vida porque não fui eu que lhe escolhi e tem vezes que eu nem lhe quero mais...

sábado, 25 de julho de 2015

A Morte das Coisas

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Até o que não tem olhos fecha os olhos
E quem não respira pára de respirar
O coração não bate mais em quem não tem
E até quem não sente também pára de amar

Até o sorriso da foto também desaparece

O tempo de agora vira apenas uma lembrança
Pela manhã o amanhecer enfim anoitece
E temos então a nossa mais velha criança

O brinquedo está sério em qualquer canto

A manchete agora é apenas mais um papel
Onde se embaralham letras e por enquanto
Não há mais novidade debaixo desse céu

A guerra acabou sem perdedor nem vencedor

O jogo da decisão também acabou empatado
O prazer acaba acabando sempre em dor
Foi tão bom mas agora viremos para o lado

Até o que é imóvel agora saiu correndo

E as pedras ficam chorosas com sua doença
Foi tudo em vão e vai tudo então morrendo
Sem ter tido em si qualquer uma diferença

Até o que não tem cansaço se cansa

E quem não respira pára de respirar
O coração não bate mais em quem não tem
E até quem não sente também pára de amar...

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Insaneana Brasileira Número 77 - Arroz de Festa


A graça que não temos. O troco que veio. Eis o dia. E cada sentido despertado em cada uma das coisas que existem. Está tudo aí. Como um enfeite novo e sem sentido. Eis o homem. E seus complexos complexos até demais. Um só solo de guitarra basta. E todas as desilusões apresentadas num palco vazio com um só espectador lá na plateia. Não fale. Mantenha o silêncio necessário para que o tempo passe. Não modifiquei nenhuma palavra. Mas dei um novo sentido para cada uma delas. Acendi todas as fogueiras possíveis. A noite é minha. E todas as putas e travecos que andam como mariposas donas da escuridão. Os faróis passam pelas estradas. E as estradas são sócias da morte que nunca aparecerá. Outro dia e outras fotos. Sairá no jornal ou não. Sons espanhóis trazem saudade e muita. Acabou toda a graça. Acabou o sangue nas veias. E o pulsar teimoso e ainda bom. Sejamos todos bem vindos sem hostilidades e animosidades. Com bailados e tochas tremulando. Minhas jóias rebrilham e são ouro só. Eu sou o rei dos ciganos. E rei de mim mesmo se assim o puder. Eu perdoei setenta vezes sete vezes mil vezes. E ainda quero mais. Minhas tatoos já dizem tudo. Cada uma é companheira de interminável solidão. Cada fato é um rito sagrado ou mais profano possível. Eu que eu profano os meus túmulos. Já morri inúmeras vezes. Em várias carnes. Com vários ataúdes de cores solenes. Em vários menus sou o prato do dia. Rachaduras e infiltrações nada dizem. Há beleza nas rugas também. E todo pulsar é válido. Mesmo que invalidado pela lógica concreta. E pela armadura que os famosos fazem. Não queremos mais conversa. É viver e acabou. É isto. A pedra que eu ponho entre os dedos só conhece as minhas mãos. E rolou em muitas terras. E as muitas terras eram muito lindas. Faça o que quiser mas nunca me deixe só. A solidão é como um vinho. Tem sabor mas embriaga. Eu já ando tonto o suficiente para não ser mais feliz. Mas teimo em parecer com tal cidadão de vez em quando. Chove no deserto e coisas ainda mais inverossímeis acabam acontecendo. Mais admirável ainda é sobreviver no meio de batalhas rotineiras. Tudo é um grande teatro. Onde está a plateia? Ainda coloco acentos em palavras que não mudam jamais...

terça-feira, 21 de julho de 2015

Cuidados Especiais Número 2


Há de cada um se cuidar
Para que o amor não morra
Por um simples palavra mal dita
E por um desencontro de um minuto
Mas isso é tão normal...

Há de cada um se cuidar

Para que a mente não enlouqueça
Por um rito e um ritual feitos errados
Por boas intenções mal interpretadas
E notícias mal faladas...

Há de cada um se cuidar

Para que o sonho não saia correndo
Como um menino que chora assustado
Pois os meninos choram muito e muito
Com cada detalhe escapado...

Há de cada um se cuidar

Para que as bandeiras não machuquem
E para que as fronteiras não magoem
Tudo é igual debaixo do velho sol
E nada podemos carregar pra sempre...

Há de cada um se cuidar

Para que seus espinhos não firam tanto
E seus sonhos não acordem aos outros
Cada passo deve ser com pés de algodão
E cada pranto sua hora de poder secar...

Há de cada um se cuidar

Para que as armadilhas sejam inúteis
E os passarinhos voem soltos por aí
Ainda é hora de nossa brincadeira
E se ela não acabar melhor ainda...

Há de casa um se cuidar 

Para que não aconteça mal nenhum...

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Cuidados Especiais


O paciente requer extremos cuidados
Tire a temperatura verifique a pressão
Os sintomas tem que ser todos checados
Tome cuidado com o seu coração

Seus remédios devem ser administrados

Com seu horário com extrema precisão
Seus alimentos devem ser preparados
Leves mas com um bom grau de nutrição

Seus dias não devem ser nunca agitados

Todos eles desprovidos de qualquer agitação
Seu ambiente deve ser limpo higienizado
Deve ser prevenida qualquer uma infecção

Mesmo assim piora conforme os dados

Seu corpo vai chegando numa exaustão
Por mais que sejamos todos bem cuidados
Lá vem a morte cumprindo sua missão...

domingo, 19 de julho de 2015

Os Sonhadores São Os Mais Realistas


Gostamos de sonhar com realidades
Todas tiradas de velhas revistas...
Sonhamos com velhos amores, eram dores,
Sumiram do alcance das vistas...

Pra que ter ruas que sejam tão belas

Se não podemos mais voar?
Vamos abrir as nossas janelas
Pra que o sol possa logo entrar!
Faltam aqui nossas donzelas
E algum dragão pra matar!

Gostamos de sonhar com realidades

Novos planos velhas conquistas...
Sonhamos com novas cores, eram flores,
Eram doces crimes sem pistas...

Pra que tantas moedas em nossos bolsos

Se não temos o que festejar?
Vamos ser novamente os mais moços
Pra nos lançar logo ao mar!
Foi tão em vão aquele nosso esforço
Perder é o mesmo que ganhar!

Gostamos de sonhar com realidades

Todas tiradas de velhas revistas...
Sonhamos com velhas dores, eram amores,
Sumiram do alcance das vistas...

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Algum Dois


O vento frio me deixa vazio
O vento quente me deixa contente

O teu beijo só traz desejo

Onde havia amor só há dor

O fim de festa é o que me resta

Eu me escondi e acho que me perdi

Não haviam carnavais pelos quintais

Mas um sonho dormente na minha mente

O passar do tempo é mais um passatempo

E cada trovão só traz sua preocupação

As pedras correm e as coisas morrem

Não há dúvida alguma sobre o peso da pluma

Vamos que vamos e olha que mal levantamos

Por uma longa estrada que vai dar em nada

Eu sempre sou permanente por ser diferente

Ser apenas realista é cegar a sua própria vista

Eu já diversas vezes conversei com meus deuses

Devemos ter carinho pela flor e pelo espinho

terça-feira, 14 de julho de 2015

Marcas

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As marcas não estão na pele
As marcas estão na mente
Da gente
As marcas que existem no corpo
Não são exatamente
O que me deixa doente
O que me adoece
É a tristeza que cresce
É o fogo que arrefece
Vagamente
Abala toda estrutura
Com sua luz tão escura
Como se sente
É mais que uma tatuagem
É extrema viagem
Tão diferente

As marcas não estão na pele

As marcas são diferentes
São lentes
As marcas que existem no corpo
São dormentes
O que me deixa latente
O que me falece
O que me padece
É a tristeza que esquece
É o tempo que envelhece
Tardiamente
Sacode toda estrutura
Acabou toda a ternura
Como se sente
É mais uma imagem
É extrema visagem
Tão incoerente...

domingo, 12 de julho de 2015

Até Os Lobos Sabem

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Até os lobos sabem...
Do perigo que corre lá fora
Dentro de cada uma noite escura
Junto cada corpo vadio
Junto de cada destino adulterado...

Até os lobos sabem...

De cada juízo que foi comprado
Cada carta que foi marcada
Estamos todos num jogo sujo
Onde ganha quem mais pagou...

Até os lobos sabem...

Que nos espelhos tudo se inverte
As estatísticas foram fraudadas
E cada mente se sente doente
Como minhas rimas sem propósito...

Até os lobos sabem...

Que cada perigo também corre perigo
Cada frase tem um triplo sentido
E o sonho é uma moeda novinha
Que o menino achou na calçada...

Até os lobos sabem...

Que às vezes o mal também é bem
Que a justiça sente muito sono
Que ser ou não ser nunca foi a questão
E que toda fumaça também sobe...

Até os lobos sabem...

Que a fome paralisa a alma
Que notícias falsas andam por aí
Que algumas perguntas diferentes
Podem ter a mesma resposta...

Até os lobos sabem...

Nem sempre se uiva pra lua
Mas se mata pra ser pop star
São apenas alguns pequenos detalhes
Que se guarda debaixo do tapete...

Até os lobos sabem...

Da hipocrisia vinda da falsa moral
Da loucura mais consciente que existe
A luz noturna reflete na poça d'água
Que governa o chão onde pisamos...

Até os lobos sabem...

Insaneana Brasileira Número 76 - Cabeça de Tolo

Cabeça de tolo chinfrim apensa que ganhou? Ganhou nada seu sabichão de primeira! Ganhou amuito mal o direito de ficar ali num cantim de boquinha calada e sem pensar. Pensar faz mal pro estômago e dá gases. Muitos gases peidão do dia! Enquanto o mundo desaba em todas as direções tu fica chorando pela novela. Fica pensando em quem comeu quem. Se é que se pode chamar essa merda de pensamento... Fica exprementando a primeira tumbica que sacodem nas tuas ventas. O vermelho é bem melhor! É por isso que come mais quinhentos contos do teu bolso seu porra! Te passaram a perna malandro! E a tua ginga é um rebolado desse teu cu seco passando vergonha! Tu mesmo ri da tua caferice burrago! Tu mesmo fala que broxou na hora do vamuvê... Te botaram aquele chifrão lá no alto da monga e tu nem aí. Vamos colocar os surripas lá no palácio pra limpar tudim. Não vai sobrar uma moedinha pro pimposo e nem pro decumê. Fica aí fudido bosta seca! Faz um pagode falando da dor dos culhões ô manero! Deixa a puta te passar o conto no rego babaca! Nem com um fuzil cheio de azeitona tu se defendia arrenegado do caraio! Tomavam a porra da tua mão e te pipocavam ô cenora. Enquanto o mundo desabafa nos teus cornos tu fica puxando o saco do cara que tá rindo da tua fudiba! Ele quer é mais! Bolso vazio num dá tesão nem de mijo! Estercônio safado. E pensa que o outro é que caiu de manceba. Foi tu maleducado de mãe guariba. Porque a vida inverte o catatau e aí ferrou tá ferrado. Chora quem tá rindo e bebe quem não tava nem pensando nisso. Lambreta saiu correndo e subiu a rampa. Eram tempos de trovão. De muitos trovões e sem disfarces. De bacuícas de montão. Quase que nem madura estralando na boca debochada. Falta muito ainda e falta tão pouco. Um dia derrubando o outro que nem peça de dominó. E o elefante se equilibrando na corda de linha num corridão. Viva o rato do rei! Eu sei. Eu vi. De déu em déu é o créu. Tive todas as chances deste mundo e nenhuma. Bati com a cara na parede. Bicho brabo e semvergonho da porra. É só isso e mais nada. Vamos na errança até astuporar tudim...

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Dias de Guerra, Dias de Paz

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É como sempre falo. E ando ruas sem movimento algum. As ruas é que andam... Nós estamos bem parados num canto qualquer. Os olhos é que se movimentam. E o coração guarda toda água que nosso choro produz. E todos os nossos vícios acabam se romantizando e nossos pecados absolvidos. A física é que está certa. Tiradas as certas proporções estamos aqui pelo menos. Só que até quando nunca sabemos. O menino de hoje nunca me verá sendo o velho como sou hoje. Faz parte da batalha conhecermos a solidão. As mãos trêmulas conhecem os muitos anéis. E num dia de escuro não escreverei mais. Sejamos realistas. Os doces também acabam um dia e nem calçadas teremos mais. Mas talvez seja até bom rever os que foram. Como o grande sono que imaginei um dia. As velas estavam acesas e como brilhavam. Era noite de fogueirinhas pelo quintal e tantos risos... Mas nada é por nada. E as batalhas estão aí. E os soldados choram de medo em cada dia que se segue. E as letras embaralham diante dos olhos. E nas lápides são escritos sonhos em códigos. Não falem mais nada. Deixe que o paciente melhore por si mesmo. Que a febre passe aos poucos. Em providenciais suores. E em brigas de ruas com outros meninos. Joelhos ralados já foram signos... E nossos sonhos coisas bem mais simples. Em crônicas bem arrumadas. Que dá gosto ver. O uniforme impecável em quadriculados surreais. E cenas bem fortes para quem entende. Só isso. Faz tempo que eu me separei da noite e adotei somente o dia. Os enterros são com a claridade. Eu sempre reparo em coisas e coisas. Em coisas que existem e em outras que nem tanto. Quem vai saber? Até ruídos fazem canções. E frases de outdoors acabam virando sonetos. Quantas estrelas estão no céu nesse exato momento? Talvez nenhuma. São o brilho da imensidão passada que nos engana novamente. Eu levanto as bandeiras mais impossíveis possíveis. E ofereço as minhas mãos mais sinceras. Mesmo que toda essa guerra seja em vão...

Rebelião


Não me dite regras, me dê rosas,
É agora a sua estação.
Não me dê metas, estimativas,
Eu só conheço meu coração.

Não me coloque amarras, me beije,

Isso aumenta o meu tesão.
Eu não escondo os meus pecados, 
Não há fantasmas lá no porão.

Não me prenda aqui, me solte,

Lá fora tem a imensidão.
Além existem rios e têm mares,
Eu tenho minha embarcação.

Abra a janela, já sei o que é voar,

Ficar me faz ter aflição.
Há muito sei o que é o sofrer,
Passageiro da ingratidão.

Há muitos carnavais, eu bem sei,

Faz parte de uma exaustão.
E como envelheceu a minha fantasia,
Mas isto é uma outra questão.

E se as carpideiras choram, que chorem,

Faz parte de sua profissão.
Enquanto vou carregando meu tesouro,
Todos eles no meu caixão...

terça-feira, 7 de julho de 2015

Feliz Aniversário


Feliz Aniversário,
Ainda que falte o riso,
A alma às vezes ri quieta
E tudo que é preciso
Aquela paixão secreta...

Feliz Aniversário,

Ainda que falte o esmero,
É normal ter desespero
E a vontade de vencer supera
Toda e qualquer fera...

Feliz Aniversário,

Mesmo sem bolo sem festa
Viver é tudo o que resta
Viver é tudo que falta
E é tudo que está na pauta...

Feliz Aniversário

Com esses versos tão meus
De sentimentos nobres plebeus
Vamos vivendo com o coração
Cavalgando nas nuvens de algodão...

(Para Jullyano Lourenço, meu querido Poetinha).

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Nada


É como uma praia que secou
É como o amor que se acabou
O tempo que foi saindo correndo
São imagens que não estão se vendo
O encontro do sagrado com o profano
O nada - o que temos de mais humano

É como um beijo que não se deu

É como a ideia brilhante que morreu
A chance perdida por apenas um segundo
Perder a sua alma como se perde o mundo
A dança entre a tempestade e a calmaria
O nada - este é o nosso prato do dia

É como um passo que se tropeça

É como a desistência que se começa
Quantos passos eu poderia novamente dar?
Conte aí quantas gotas poderemos ter no mar
O azeite e a água agora também se misturam
O nada - é isso que nossos desejos procuram

É o nada e é o nada e é o nada

Coma e fique de boca calada
É a bicicleta caída a perna ralada
É medo de amanhã e choro pela calçada
Cuidado que a barra é pesada
A nossa favela já foi atacada
É o nada e é o nada e é o nada!

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Porta Infinita


Eu tenho medo de passar por aquela porta
Estreita e pequena e ainda contraditória
Pode ser que a minha alma esteja morta
E não consegui escrever a minha história

Tenho medo de ir até o fim desse caminho

E bem tarde saber que vai dar em nada
Que finalmente a verdadeira rosa era o espinho
E que não existe nem mesmo alguma estrada

Medo que os meus planos que aconteceram

No final tudo tenha sido apenas desilusão
Meus sonhos que eram vivos afinal morreram

E se apenas continua batendo esse meu coração

É que tantas águas por si só é que escorreram
Caíram pelas calçadas e escorreram pelo chão...

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Apressados

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Não há tempo os passos são largos
Os passos são vagos
Não dá pra medir
Só cuidado pra não cair
Cair no engano
Ser humano e profano
Ser frio e ser quente
Mas a notícia é mais urgente
Urgente não sempre é apressada
Uma salva de palmas pro nada
Uma salva de tiros pro morto
É o pensamento mais torto
É o baile é a curtição a moda
O resto é só a foda
A foda a fada o fado
Num círculo quadrado
Cada um em seu cada canto
Não sei falar esperanto
Enquanto isso continua a crucificação
Meu carro na contramão
Eu sei o que é solidão
Eu conheço o medo da facção
Eu sei muito bem o que é fome
Eu mal sei qual é o meu nome
Só porque está na carteira
Eu vivo à minha maneira
Não há tempo os passos são vagos
Os passos são largos
Não dá pra cair
Porque o chão já está aqui
Cair no engodo 
Ser magro ou ser gordo
Ser bicho ou gente
Mas a notícia é mais quente
Quente nem sempre é arrojada
Uma salva de palmas pra rapaziada
Uma salva de tiros pro militar
A nova onda morrer ou matar
É a televisão o rádio o cinema
O resto do resto é nosso poema
O poema o grito a canção
Cada um na sua prisão
Nem sei se tenho razão
Eu sei apenas que tudo some
Eu sei apenas que tudo come
Só porque está na carreira
Nós vivemos sem ter maneira

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Insaneana Brasileira Número 75 - Diálogos entre Mingos e Mangos


São belas histórias que eu nem sei bem contar. É o mundo. Com suas carreirices e sutaques que nem te conto. Aí vêm também as histórias feias. Tudo tem que existir num dado momento. É por aí. E não é por nada. A descobrice é quem manda. E mesmo que falando não dá certo. Faceirice muita. Cada qual com seu sol. E com suas estrelas mais que apagadas. Aqui se briga por tudo e por nonada. 
- Oi, bom dia! 
- Oi, tudo bem?
- Bem que nada! Olha o mundo...
- Que que tem o mundo? É ansim mesmo...
- Ansim a como?
- Desse jeito que ocê tá vendo aí...
- Ah, tá... Mas eu lá não me conformo...
- Mas devia... Se nasce agorinha, minutinho seguinte, esticou-se o pernil... Carpideiras precisam comer... E os gatos-pingados idem...
- Que comam pra lá, uai!
- É o prato do dia... É o prato do dia...
- Que prato que nada! Empurro com a barriga e o carro anda...
- Anda se tiver gasosa, meu vizinho. No resto é a coisa...
- Que coisa?
- Quatro cavaleiros sem pôneis, mas também não são pangarés. E correm...
- É... Mas de vez em quando acontece...
- Acontece o que?
- Da carne vir no entremeado, meu bom. E aí lambisca e lambuza...
- Pode até ser, mas no geral, caiu na arapuca, vai pro espeto...
- Isso até concordo, mas a teimança é grande, maior que o beleléu, sabia?
- É porque todo mundo quer parecença com a novela...
- Nem me fale, a sala é a solidança acompanhada...
- E parece que todo beijo dá certinho...
- Pois é, mas tem vez que o dentista dormiu e esqueceu, aí não tem pintor que salve... Nem Picasso, nem Dali, nem de lá...
- É nos conforme, filósofos saindo pelo ladrão sem tico nem taco...
- Sim, sim, sem um tiquinho de blusa com bico apontando...
- Nem me fale, nem me fale, tem coisa que prefiro a esquecença.
- Sá Ninha tem toda razão.
- E se tem! Melhor um chazinho num canto sossegado que brigar pelo boi. E não é covardia não! É estratégia de guerra, deixa o modismo morder o próprio rabo que nem a peçonhenta no lugar quente...
- Pois é, tudo que dá certinho é tudo que deu errado...
- Sim, sim, gastejo de material, tudo é novidade nova, mas velha. É pra nada... Gasto de cor e almejo...
- Até o de boca é ansim... Quando menos se vê, caiu no buraco, tudo é frechada e poe frechada nisso. Quanto mais juntos os dentes menos prejuízo...
- Sim, sim. A verdade é pancada bem dada... É teco no lombo e lombeira. Quem tá na fila?
- Uns poucos, porque dormir sem sono é o tal. Quando se viu fechou as butucas e contar carneirinho nem percisa. Passou de um é pulo no abismo. Nem tem recibo isso tudo. Nem mais-valia. Recebido o convite, a festa é certa. 
- E poe festa nisso. Esqueceram que era velório e babau. Não se comemora certas coisas, a burrice é muita. 
- Pois é, nem carrasco, nem encarrascado, tudo vai pra peneira. Que nem aquele arroz que Ziquinha enfestiado faz no domingo que chegam bons ares. Comemos tudo, carreteiro dos bons...
- Favela e cidade tudo na mesma malha, pobreza que nem lastrinha, vem e vai na mente e no peito de qualquer, mais batuta que seja. Luxeza não dá ganho, mas acaba dando. Ninguém reza padre-nosso sem ave-maria. O casaco é do dono e a tartaruga sabe que casco tem. O corcunda desfila de vem enquanto em concurso de moda.
- Pois tá. E ainda assim tem quem fale. Bigodes à parte e tonteiras de não. Na verdade tudo é doutoreza que manda e nem manda mesmo.
- Mas como tudo é motivo de festança até quando se chora. Carnaval de muitos choros e ventos de se perder a conta de quanto conto que foi. Nem o cabelão resistiu. É vento! É vento! É vento!
- E ventos não são bons e nem ruins. São o que são. No mar então... Do nada se tornam tudo. Noite adentro no meio do nada. Só escapam as estrelinhas.
- Estrelinhas são boas. E novidades de camelô mesmo que num forçamento bem baratim. E que o seja. Tudo amanhã é objeto não-identificado. 
- E aquelas que explodem, então? Tudo tão nito, mas esparsado e sem pé nem bêça. 
- Antão? E aquela monteira de vela acesa? Tudo é fogo e a fé desliga a tomada. Fica tudo no escuro mesmo na luz e escuro é tudo igual. Tem quem mexa, mas não dá certo. O Cara lá reclama e não escutam ele, pobrezito. São cada quiabo na boca do Camonico. 
- E a briga? Todo mundo chama e sai de pé na bunda. Bate até na nuca. E vamos que vamos. Tudo ao contrário. Meninos andando de costas e caindo no chão. Raladura muita. E nem foi no joelho. Na testa mesmo. E um arrependimento vazio e sem volta. 
- Como assim? 
- Simples. Folha de papel ofício. 
- Continua...
- Qual lado do papel? Não tem. Gregos e troianos. Peões e reis. Todo mundo certo e sem razão alguma. Qualquer cor é uma letra só à mais. Tudo ardendo e doendo igual. A mesma manha. Fábrica de bandeiras. Parece até varal de roupa em quintal... Tacaram fogo nas folhas secas e sujou tudo...
- Ah, isso é...
- Querem tanta lei pra não cumprir nenhuma...
- E nem seguirem os desenhos juntando os pontinhos...
- Exatamente.
- E nós que sozinhos vamos nunca paramos. 
- Sim, sim.
- Margens do lago e cana boa na goela. Madrugadas bem aproveitadas num riso só nosso.
- E muitas estrelas acesas com o isqueiro ou com fósforo mesmo. Que nem velas de bolo ou da brincadeira dos antes. Eu me lembro destas com um cadernico anotado. 
- E um sono molesto, mas bom demai. Incontáveis dedos de vezes. De fazer rir no engasgo.
- A conversa foi boa, meu abure, vamos na repetência dia desses...
- Feito o trato. Agora vamos, Sá Ninha espera pra comença, e se se atrasam a velha é pior que jiló caprichado de vamos repetir.
- E não sei? Depressa é vagar...
Conversam os homens e conversam ainda. Eu quase não sei de nada à não ser aquelas que os olhos falaram e a dor ainda continua em todos os cantos. Velhas músicas e círios ardendo numa solenidade bem ensaiada. Eu queria era ser um anjo...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...