segunda-feira, 11 de agosto de 2014

ContraMão

São tão poucas as alegrias. Mas são tantos anos vividos. Em cada um um pedaço de solidão. Incontáveis passos pra lá e pra cá numa espera doente que persiste. É o relógio na sala brincando com as horas. São as quenturas de uma mesma febre teimosa que dura há séculos sem nunca acabar. Eu me arrependo senhores. De tudo aquilo que não fiz. Das chances que deixei perder. Eu me confesso de todos os pecados que existiram pelo mundo. Eu sou o mau que só quer o bem. E quem colhe flores pelo meio do caminho. Não pulei cercas. Nem peguei flores em alheios jardins. Eu estou só como o doente largado em seu leito para a morte. Eu sou o mago que perdeu seus poderes sob o sol. Mas guardo um grande trunfo sob as mangas da camisa. Eu tenho versos à granel. E posso usá-los quando eles o quererem. Não que eu fale coisas bonitas. Porque coisas bonitas geralmente sorriem. E os sorrisos sejam eles grandes ou pequenos são mudos. A satisfação sincera sai pelos olhos. Seu caminho é lá. Não tenhamos medo da noite. Façamos novas fogueiras que além de iluminarem afastam o triste frio. Cada um com suas cores. E juntemos todas elas pra uma grande obra. Eu bebi todos os tragos. E se a mente se entorpeceu não tive culpa. Era engraçado tanta coisa que nem me lembro mais. Olhem pra trás. E lá está o mesmo menino assustado de sempre. O brilho do vidro faísca e entorpece as dores. Foi há muito tempo. Lá e cá. Quando nem sabia contar os dedos. E os doces na calçada eram o céu. Muitas calçadas muitas mesmo. E imprevisões seguras sobre os passos que se sucederiam. Aqui e ali. Não me reconheço mais. Mesmo sabendo a solução de todos os enigmas. Logo saberei a hora e isso entristece apenas um pouco. Cada um tem seu sono bem profundo. Mas tudo continua no mesmo lugar quando nossa vista escurece. Permitam-me encenar a peça enquanto ainda existem cortinas. Permitam-me um último riso debochado como sempre dei. Era um riso de rio de coisas que acabam acontecendo. A sorte está lançada. E nós que vamos viver te saudamos ò Cesar! Muitos pontos e poucas exclamações. Nada de vírgulas. Nesse meu idioma de muitas pátrias. Nessa minha explosão de muitos tiros. Minha ampulheta só conta trinta segundos. E o velho carro vai seguindo na contramão...

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