Meu caro Poetinha:
Que esta carta te encontre bem.
Que ela chegue depressa com os skates que passam pela pista e que seja quase
tão hábil quanto eles, mesmo quando em queda. Assim como as pessoas, as
palavras às vezes também caem... Que ela chegue nas asas de mil anjos. Anjos são
bons para nos embalar...
Como vão as coisas? Os versos
ainda saem da tua mente como os amores chegam ao teu coração? Encontraste a
amada que esperavas ou ainda andas pelos caminhos tocando tua flauta de Pã para
as nuvens? Ainda sorri dos belos jardins que se espalham pelo mundo ou ainda
reclamas do amargo das doses mal bebidas?
Não esquente, meu caro
Poetinha. As histórias podem ser tão bonitas como assim o quisermos. E a
meia-noite pode nunca chegar. Depende do nosso sorriso ou do nosso sono...
Não reclame, meu caro Poetinha.
Ser bom faz parte do grande jogo e errar é apenas acidente de percurso. Nos muitos
caminhos que andamos há muitas pedras, mas também muitas águas, e águas sempre
são bonitas, até as mais tristes ou escuras...
Vá sempre adiante, mesmo quando
isso pareça impossível. O impossível é a única opção que temos para nossas
almas ...
De mim não posso te dar muitas
notícias. Continuo o mesmo cara triste de sempre. E as dores que sinto acabam
sendo minhas amigas de viagem. Ainda continuo furando meus bolsos para nada
levar neles. A minha jornada é única e não me preocupo em medir o tempo como
medem muitos homens. Agora e amanhã ou qualquer tempo são a mesma coisa. A loucura
ainda continua sendo o meu relógio... E o imprevisto é o único roteiro que
conheço. Rasguei os mapas há muito tempo e cada terra que conheço chamo de meu
país. Já vi tanta coisa que não podes imaginar...
O que me importa agora é que
esta carta te encontre bem e com ela a saudade que tenho possa dormir um pouco.
Sim, dormir, porque as saudades dormem e nunca morrem como os sonhos costumam
fazer.
Se puder, manda-me notícias
também. Os anjos maus costumar querer saber como vão as coisas no alto das
nuvens.
Atenciosamente,
o Poeta.
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