quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Saudade

Saudade é a corda no pescoço
Esperando pra poder nos pendurar
E é o nosso tempo de moço
Que já não quer mais voltar...

Saudade é um bicho vadio
Que está sempre perseguindo
E que entra sempre no cio
E que nos mata sorrindo...

Saudade é uma febre terçã
Que nos coloca no leito
E fica esperando o amanhã
Para matar o nosso peito...

Saudade é a veia arrebentada
Que sangra sem querer parar
É aquela próxima parada
Que nunca iremos encontrar...

Saudade é o alvo ao contrário
E quando se acerta se erra
Um carta sem ter destinatário
Que ia terminar com a guerra...

Saudade é é o nó na garganta
É a nossa cabeça rodando
É assombração que espanta
É o nosso nervo pulando...

Saudade é tudo aquilo que fala
Saudade é só aquilo que eu vejo
E que não poderemos matá-la
Porque é mais forte que o desejo...

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Poema Vagabundo Para Ser Lido Escutando Mambembe de Chico Buarque

Amor meu não se engane
O avião entrou em pane
E o céu que pode cair.
Amor meu é muito tarde
Pro herói ser o covarde
Que agora há em mim.

Eu me tornei o que sou agora
E meu relógio não tem ora
E não estou nem aí.
Escrevo algo quando posso
Falando do que tão nosso
Que teve que partir.

E já passei por todos os carros
E fumei todos os cigarros
E não parei mais de tossir.
É o coração que fraqueja
E não me importa que esteja
Quase que hora de cair.


A culpa não foi mesmo de ninguém
É bom que agora esteja tudo bem
E afinal nós poderemos rir.
Fique então aquele meu beijo
Que afinal ficou só no desejo
E boa noite já vou dormir...

Mundo Viramundo

o que falar se nada há? vamos simbora mundo afora como o vento quer e eu escrevei um versos novos pra cada parada cada mancada que cada um de nós dar são os quatro cantos do mundo que cada um andará andemos então sem nenhuma direção e estaremos ainda no mesmo lugar e se não rimei até agora é que não era a hora certa de me entregar dizer que gosto tanto mesmo do espanto que cada um fez pra mim e na verdade eu não era bom e nem tão mal assim era só o que eu era e talvez mais um pouco no fundo um demônio um anjo ou um louco ou as três coisas de uma só vez e não iremos nos culpar ou quando muito falar do que cada um fez porque tudo importa ou nada importa e cada um sabe qual a sua parte morta e como a arte se comporta vejam o brilho de cada um olhar e seu sonho é o filho pequeno e calmo e sereno que vamos embalar e escutemos mais uma velhas canções que esquecemos e não nos atemos aos velhos sermões boa noite bom dia boa tarde sou o herói e sou o covarde sou o padre e o feiticeiro sou o dezembro e o janeiro sou a pedra e a flor o que chora de tesão e ri de amor o mundo é meu o mundo é nosso e nisso é que eu posso dizer coisas sem sentido por ter vivido entre as estrelas e tê-las como louras fatais e até bem mais nem queiram saber vocês estão aqui e até você saberá e nem poderá esquecer eu amei a mais bonita eu queria tanto o tanto e nem fiz fita com minha cara de espanto eu amei em cada canto e pedi a cada santo mas nenhum deles me escutou e nem promessa que não interessa se realizou e agora se tenho o que preciso é o riso bom ou insano que cada dia cada semana mês e ano é a mesma coisa ou outro plano há vários barcos mas é o mesmo paz que estejam bem estejam em paz...

Ou É Ou Não É

Quem tenham palmas pra me dar?
Estou no palco na peça e é essa
Minha melhor forma de te agradar

 Eis aqui o que tenho à guardar
Estou cantando a vida e a lida
E sempre é mais fácil de se chorar

Tudo é um grande jogo de azar
E de medos e de mais segredos
É o que mais temos pra falar

Não quero dormir mas sonhar
Nisso consiste tudo o que existe
Enganar outros ou se enganar...

Impressão

Corre devargarmente o fio ligeiro
Improvavelmente onde deve passar
E passa gota à gota por inteiro
Separadamente junto à se separar
É a beleza do que é feio que conta
E a impaciência de saber esperar
Sofreguidão que finalmente desponta
Que está nos céus lá no meio do mar
Coragem é o medo não mais correndo
Esperando morrer e que foi matar
Matou a morte que foi sobrevivendo
E que no silêncio também sabe cantar
E em antiversos a poesia mais vela
Fala de coisas que não sabe expressar
E o sol também descansa lá na janela
E um vento rápido quis também parar
Vamos fazer um bloco das carpideiras
E aqui dentro é obrigatório fumar
É um caminho de diversas maneiras
Acorde logo vamos todos sonhar
Justo agora que eu mesmo aprendi
À ter mais pressa de correr devagar
E publicamente os segredos escondi
São só segredos pra poder publicar
É impressionante toda essa impressão
Que o o caos eterno quer descansar
Eu sou menino educado e sem educação
Que me impressiono sem me impressionar...

Insaneana Brasileira Número 16 – As Flores

o dia em que o dia foi dia e nada mais que isso sol e chuva são sol e tristezas fazem parte do que o nosso peito leva pra qualquer lugar a água e o sal em termos bem do jeito e assim letras e letras coordenadas em versos letalmente belos e selvagemente do jeito que devem ser tudo como deve ser é rápido é lépido é sensacionalmente estatístico como podemos ser em alerta sem problema algum amamos sim e nem por isso saberemos mais do que isso é uma fórmula mágica e ao mesmo tempo receita caseira tão boa quanto e como onde estão? em colunas novas de uma fumaça branquinha e legal são notícias vinte e quatro horas por dia falando as mesmas coisas nada que não seja previsto pelos senhores vá que consigamos e a coisa mude vai que o paciente melhore e ainda vai que o motor pegue e o carro suba a ladeira são novas elegias e alguns odes que nem precisamos entender sigamos as pistas do grande mistério e o grande mistério é o mais simples de ser conhecido e alguma vez que possa reconhecido talvez não me falem apenas deixem entrever quando será ou não houveram indícios de felicidade mas são apenas pedras rolando de ladeira acima mesmo sob a admiração de um grande público pagante nada à declarar por enquanto mas isso é apenas alguma coisa eu que tenha paciência e seja um paciente que quase não reclame de uma dor quase que maior ou não são registradas novas caras e velhas bocas e estados sem mais estrelas que outros o problema é uma linha em que andamos num novo jogo que os meninos inventaram damos nós em nós até poder mais ou não salve todo aquele que dança cordiais saudações para os que aindam viram ou não o nosso cordão que saúda e pede passagem viemos trazer a alegria que os palhaços esqueceram no bolso parece pouca e muita é uma alegria que tem até nome não há piada nova mas novos modos de contá-las é isso muito obrigado por nada e isso pode ser até bem essencial o povo haverá de entender mesmo com chinelas de dedo e eu falo e falo como quiser para que não entendam mesmo nem eu mesmo entendo e quando por acaso entendo faço uma festa em casa e que venha quem quiser o portão está só encostado mas a porta permanece aberta que pensem em novos medos pois eu prefiro o antigo a velha maquiagem que não precisa muito de espelho o que está no alto está no baixo ao alcance das mãos e eu mesmo sei disso há um bom par de anos desde que conheci as mesmas pílulas coloridas olá enfermeira quantos dias passei dormindo? alguns poucos segundos ou muitos séculos mas acordei acordando quero ter labirintos particulares onde possa realmente descansar qualquer comparação é apenas uma comparação e eu nem quero tocar neste assunto não há necessariamente necessidade sejamos protegidos de nós mesmos eu quero ser salvo de mim mesmo e da gula que se deixada poderá consumir até meus dedos e ainda deixarão meus anéis no mesmo lugar é o jeito às vezes apontar com o olhar horizontes e apenas mesmo com o olhar mais que eu possa ou deva mas farei ah! entendi... você quer mirabolantes manobras radicais e isso não chega nem mesmo na metade do sonho não me negue um prato de comida e nem um pouco mais do que isso as coisas irão para onde irem e isso pode ser um grande perigo ou só o que tem que ser agora ou não fiquemos tranquilos e vivamos enfrentando risos e tempestades e no mais quem sabe possamos beber um copinho de vez em quando nós aqui estamos e estamos aqui e isso nos fará tão bem como menos imaginamos é o que vai e vai e demos por encerrado a questão enquanto andamos por entre as flores...

Quando Jean Chegou No Carnaval

Quando Jean chegou
Era terça-feira de Carnaval
E então ele pensou
Que isso tudo era normal
E quase que ele colocou
Isso na rede social

E então Jean dançou
Como nunca havia dançado
E dizem que ele cantou
Nunca antes tinha cantado
E quase que ele voou
Mas no fim ficou cansado

 E depois assim esperou
Pra ver o sol que nascia
E então ele perguntou
O que era aquele novo dia
E porque é que cessou
Toda aquela alegria

Mas ninguém parou
Pra poder lhe explicar
Que o Carnaval terminou
Ele  tem que terminar
E o que agora nos restou
É viver e apenas chorar

E então Jean voou
Pra onde tinha vindo
Não sabemos se chorou
Ou até se foi sorrindo
Porque ele imaginou
Que outro Carnaval vinha vindo... 

Quero Palavras

Eu quero todas elas.
Todas que existirem.
Todas que puder.
Porque serão minhas testemunhas
Do que sinto ou não.
Todas de uma vez
E ainda uma à uma.
Palavras de paz ou ferozes.
Palavras de ordem ou brinquedos.
Palavras mais feias ou poemas.
Algumas palavras indecifráveis.
E outras que se escutam pela eternidade.
Palavras que eu mais gosto.
E outras que nem mesmo conheço.
Eu quero todas elas.
Todas que me derem.
Todas que eu puder pegar.
Eu as usarei como um alquimista
Usa cada ingrediente de sua fórmula.
Palavras de pura loucura.
Palavras de fraca lucidez.
Algumas cultas demais.
E outras que vieram da rua.
Podem ser de línguas mortas.
Ou ainda da gíria da moda.
Podem ser apenas emprestadas.
Ou podem morar para sempre comigo.
Eu quero todas elas...

Carta ao Poetinha

Meu caro Poetinha:
Que esta carta te encontre bem. Que ela chegue depressa com os skates que passam pela pista e que seja quase tão hábil quanto eles, mesmo quando em queda. Assim como as pessoas, as palavras às vezes também caem... Que ela chegue nas asas de mil anjos. Anjos são bons para nos embalar...
Como vão as coisas? Os versos ainda saem da tua mente como os amores chegam ao teu coração? Encontraste a amada que esperavas ou ainda andas pelos caminhos tocando tua flauta de Pã para as nuvens? Ainda sorri dos belos jardins que se espalham pelo mundo ou ainda reclamas do amargo das doses mal bebidas?
Não esquente, meu caro Poetinha. As histórias podem ser tão bonitas como assim o quisermos. E a meia-noite pode nunca chegar. Depende do nosso sorriso ou do nosso sono...
Não reclame, meu caro Poetinha. Ser bom faz parte do grande jogo e errar é apenas acidente de percurso. Nos muitos caminhos que andamos há muitas pedras, mas também muitas águas, e águas sempre são bonitas, até as mais tristes ou escuras...
Vá sempre adiante, mesmo quando isso pareça impossível. O impossível é a única opção que temos para nossas almas ...  
De mim não posso te dar muitas notícias. Continuo o mesmo cara triste de sempre. E as dores que sinto acabam sendo minhas amigas de viagem. Ainda continuo furando meus bolsos para nada levar neles. A minha jornada é única e não me preocupo em medir o tempo como medem muitos homens. Agora e amanhã ou qualquer tempo são a mesma coisa. A loucura ainda continua sendo o meu relógio... E o imprevisto é o único roteiro que conheço. Rasguei os mapas há muito tempo e cada terra que conheço chamo de meu país. Já vi tanta coisa que não podes imaginar...
O que me importa agora é que esta carta te encontre bem e com ela a saudade que tenho possa dormir um pouco. Sim, dormir, porque as saudades dormem e nunca morrem como os sonhos costumam fazer.
Se puder, manda-me notícias também. Os anjos maus costumar querer saber como vão as coisas no alto das nuvens.
Atenciosamente,
                               o Poeta.

É

Fechem a cortina caia o pano
Os segundos acabaram de ir embora
Ergamos mais um brinde
Porque a nossa tristeza tem sentido
Todas as possibilidades estão esgotadas
Logo de cara meus senhores
Por certo estúpidos como somos
Nem por isso devemos ser idiotas
Ali está o sol todos os dias
E entre nós e ele muito mais coisas
Não temos manto mas temos dados
E toda sorte já está lançada
Um brinde senhores mais um brinde
Ergamos nossos copos ao alto
Vários números devem ser recontados
E algumas notícias recontadas também
Somos aquilo que nunca queremos
E nossos pés andam sozinhos
A fumaça nos guia ao longe
E a mente nos oferece um abrigo
Da fera que há em nós
Já anoitece em qualquer canto
E as luzes se acendem uma à uma
Nao tenham medo nunca
O cão que nos vigia não morde
Porque somos deuses travestidos
Em frases feitas de frágil efeito
Mas tenham medo sempre
Há versos tão belos que nos fazem chorar
Escutem agora com muita atenção
A canção silenciosa dos seres noturnos
Que parece com o que cantaram
Para um dia nos ninar
Lá fora existem aqueles que não sonham
Mas esses sofrem mais porque não sabem
E não saber é muito ruim quase sempre
Ainda estamos decidindo com cautela
Se levantaremos da mesa ou continuaremos
Falando sobre canções que desconhecemos
Ou se a pedra filosofal já funcionou
Falando sobre filmes com vilões melhores
Ou sobre tudo aquilo que eu não sei
Um outro brinde senhores
Desculpem a minha insistência
Sou apenas um humano da pior espécie
Já amei mais vezes do que possa lembrar
Passei por aí como muitos passam ou não
E se os cabelos já estão brancos
Não foi minha culpa e sim do tempo
Que fez questão de me acompanhar
Não venci nenhuma das grandes batalhas
Que os livros de história contam
E não fui nenhum mercador de estrelas
Eu fui o que não queria ser
Apenas mais um destes andarilhos
Que povoam o mundo de estampas
E se sei alguma coisa nem sei se sei
Como qualquer um não levarei nada
E quando muito deixarei apenas um epitáfio:
“Aqui jaz quem passou pelo mundo
Mas que ainda é!”
Um brinde por isso senhores um brinde
Boa noite e muito obrigado por sua atenção... 

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...