quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Clara Maldição


se afasta de mim o mais depressa possível esquece de ter pena não olhe para trás o tempo já consumiu as minhas chances como se fossem apenas carnes expostas num açougue se afasta de mim não ouça as súplicas que porventura gritar são falsas não cometi pecados mas tive sonhos o que é bem pior se afasta de mim nem me toques pode ser contagioso a ânsia de alçar aos céus e mais ainda abrir a boca e falar somente a verdade isso é perigoso nos bons dias de hoje se afasta de mim some entre a multidão cumpre o seu papel de cidadão de bem homem honrado cumpridor das normas sociais e ditames da moda tudo o que cega protege e tudo que cala faz bem aos dentes se afasta de mim não me deves nada nada ninguém deve ao próximo segundo a lei da indiferença que beneficia com um sono tranquilo e um gesto de pena de quem passa a bola para outro fazer o gol se afasta de mim sou um maldito chorei por aqueles corredores até não poder mais como quem abriu os braços e fez um Cristo de si mesmo bobo da corte sem remuneração se afasta de mim esquece que me conheceu por mim falam as nuvens por mim cantam as águas e as montanhas ecoam as canções que eu fiz um dia em noites de tempestades velhas frases que um dia disse serão repetidas nos tambores das nuvens e os raios serão os lampejos que tive em amores que já morreram esquece desse velho rosto que talvez tenha sido velho sempre ande em passos largos não olhe para trás finge que apenas um susto sem motivo e que algum estranho rosto lembrou de um sonho mau que aconteceu dia desses aliás noite dessas quando o suor escorria na testa e os mosquitos zumbiam em seus ouvidos...

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