quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Tempo Eterno


Eram flores mas não morriam.
E eram frases com virgulas sem propósito.
Eu escuto notícias sem decifrá-las.
E abuso de pontos sem percebê-los.
A música haverá de se repetir.
Mais ainda que jingles da moda.
Vamos passear com os memes.
E atravessar florestas obscuras.
A sensação da morte corre nas veias.
Porque nada é frio como o dia.
Não sei o que comi ontem.
E talvez outra pessoa comeu no meu lugar.
São estas as nossas sentenças.
De bom grado andamos e andamos.
Só há uma pista para vários crimes.
E só uma puta para atender todos.
Cubra sua cabeça e respeite a chuva.
Os pingos tentam voltar e não conseguem.
O rio tem dúvidas mas prossegue.
E versos malfeitos são escritos.
É chique prever o final do mundo.
E mais ainda beber em copos de plástico.
Odeio o politicamente correto.
E velhos desenhos em cartilhas.
Estamos em cores confundidas.
Se é que podemos exibir cores.
É luxo pensar e dizer o que se pensa.
Mas existe Bahia pra qualquer lugar.
No meio da noite ainda acordado.
Com a mesma cara de todos os dias.
Ser feliz é um risco que se corre.
Tradicionalmente inovador.
Com as mangas que dão no quintal.
Num ciclo interminável de se dizer.
No nude e não pude.
Desfilar motivos inteiros e plausíveis.
O último doce virou guerra.
Mas ainda há sóis suficientes em liquidação.
Uma nova fórmula há de ser desejada.
Mas nada ganhou seu quinhão.
Eu tenho nome e todos têm.
Mas em breve serão somente números.
O óbvio vem aí e nós corremos.
As desculpas estão lá na gaveta.
E eu trouxe o meu almoço de casa.
Não ria desse pobre palhaço.
Nem chame a atenção do mágico.
Eu cerquei o circo com um círculo.
E catei todos os papéis do chão.
Não há vestígios de tristeza.
Nem a leveza que envolve pesados pesos.
Os passos nunca foram vacilantes.
Foram sempre etílicos e nada mais.
Muda-se a letra e muda-se a sentença.
Nunca quis fazer o poema de outrem.
E pra falar a verdade nem os meus.
É um porto que o peito quer.
E os pés teimarão até pararem.
Não peçam aos leões boas notícias.
Nem falem ao telefone ao mesmo tempo.
Os séculos passam rápido.
Mas os segundos claudicam muito.
Há várias e novas cirandas.
E projetos caindo do papel.
Francamente por que tanta franqueza?
É só boas-vindas e chega.
O sono também é nosso inimigo.
Só somos quem não somos.
Nosso paladar está esgotado.
E minha paciência também.
Só tenho com dízimas periódicas.
A dançarina não sabe dançar.
E as carpideiras tiveram ataques de riso.
Guarde os ossos dos invertebrados.
Há fantasmas pra serem guardados.
Eram flores mas se mexiam.
Um vento bom às vezes soprado.
Eram os sonhos que me nasciam.
Mas talvez fosse no tempo errado.
Narciso quebrou o espelho.
É o máximo que aconselho.
O tempo é grande seu fedelho.

(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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