Há muito tempo. Num tão distante em que eu mesmo não sei dizer. Existia um menino com muitas águas. Mais do que as águas de um mar de vidro vindo com a morte. Mas muitas águas mesmo. Águas que molham. Mas nunca se secam. Não evaporam. Não se enxugam. Águas do peito. Decerto de vidro também. Quentes e frias. Contraditórias talvez. Mas só às vezes. Águas de um coração apertado e vazio. Um coração vadio sem asas. Preso ao medo por correntes infindáveis. Andando em seus labirintos de Creta. Tateando no escuro. Cego por todos os tempos. Ainda presente em cada gesto. Em cada cor. Em cada figura antiga de perdidas revistas. Todas as vezes que fecha seus olhos. Um desfile de cores intermináveis bailam. E o tempo se confunde como nunca foi. Nada haverá exceto flores. As flores sem cheiro que enfeitam paredes. As rosas de plástico que a poeira acumulou. Olhe o outro vidro. Brilha a cristaleira. Com seus insondáveis rituais de vida e morte. Nada lhe escapa. Nada passa despercebido. Tudo será devidamente polido e bem guardado. Num cofre secreto onde nada escapa. Até o tempo será ali preso. E o fim será constante para que não desapareça. Não tenham pena do que acontece. Se fosse de outro jeito. Se fosse previsível e feliz. Não haveriam versos. A felicidade na verdade pouco tempo tem. Por si basta e não pára sua dança. A tristeza sim é vaidosa. Se olha no espelho mil vezes. E ao contrário do que pensam se maquia. Se cores tristes ou alegres. Isto é outra história. O que importa é isso. Os versos continuam. Se bons ou maus só quem os leia poderá dizer. Eles não procuram a perfeição. São apenas pés cansados que ainda andam. E mãos agora trêmulas que ainda fazem gestos. Gestos de carinho para o ar que cerca. Ainda esperando o dia de serem visto. Desculpem quem acena. Pois quer atenção. Esqueçam a gramática por um minuto. Deixem a lógica guardada em seus bolsos. Há mais fantasias para serem vestidas. E essas fantasias continuam em seus carnavais. Carnavais idos que ainda estão lá. Cada loucura e sua cara triste e alegre ao mesmo tempo. Nesse tempo havia a roda-gigante de finais de semana. E o mar lá embaixo. Um mar negro de perdidos maus sonhos. E ao mesmo tempo tão bom. Quase tão bom como a hora do recreio. Quase tão bom quanto o beijo desejado. Ou a vontade de fazer mágicas. Ou voar. E lá está. No mesmo lugar. Com o mesmo rosto. A mesma roupa. O mesmo jeito. Alegre e triste. Eterna contradição. Escrevendo ainda a igual história. Que se repete. Mas não tem fim...
Perdido como hão de ser os pássaros na noite, eternos incógnitas... Quem sou eu? Eu sou aquele que te espreita em cada passo, em cada esquina, em cada lance, com olhos cheios de aflição... Não que eu não ria, rio e muito dos homens e suas fraquezas, suas desilusões contadas uma à uma... Leia-me e se conforma, sou a poesia...
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322
O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...
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O caminho que vai dar no mar. Consequências de tudo o que pode acontecer. E lá estão barcos e velas incontáveis. E amores em cada porto ...
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Não sabemos onde vamos parar Mas qualquer lugar é lugar Quantos pingos nos is temos que colocar Quantos amores temos que amar Quantos ...
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Um sorriso no escuro Um riso na escuridão Um passado sem futuro Um presente em vão... Mesmo assim insistindo Como quem em a...
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