Não sei
quantos passos dei... Não sei quantos passos ainda irei dar... Os passos por si
mesmo existem... Os passos por si mesmo se dão... Os passos sabem por si mesmo
a direção... E sua natureza determina se param ou não...
Não sei
quantos passos dei... Não sei como na verdade se apresentam... Uns trôpegos...
Outros resolutos... Uns sujos... Outros impolutos... Uns fáceis... Outros quase
não... Uns querendo... Outros de pura aflição...
Não sei
quantos passos dei... Não sei quantos restam... Se neles encontrarei algo que
valha a pena... Ou daqueles que existem sem ter porquê... Uns para que todos
vejam... Uns para que se faça poeira... Serão uns de propósito... Ou sem querer
serão... Uns vão ser a maneira... E os outros apenas a questão...
Não sei
quantos passos dei... Em tristes começos de semana com chuva... Ou em finos
domingos de alegres passeios... Eram férias... Ou o alegre pesadelo de todo
dia... Era tudo bom... Era tudo tão... Verdade ou não... E eu não sabia se era
doente ou são... Se eu era mau... Ou se eu tinha um coração... Se tudo era
vida... Ou uma assombração... Se eu estava a salvo... Ou se começou a
estação...
Não sei
quantos passos dei... Se realmente foram passos... Ou se na verdade não saí do
lugar... Se me valeram à pena... Ou se foram perda de tempo... Se os fiz como
uma pintura inútil... Uma pichação num muro qualquer... Nada significando... Ou
com alguma significação... De estar vivendo... De estar respirando... Ou ser
apenas impressão... Eu mesmo nem estar notando... Que acabou... Que foi em
vão...
Não sei
quantos passos dei... Quem foi verdadeiramente o mestre de tal façanha... Se há
um sentido nisto tudo... Ou se o verdadeiro objetivo são apenas os passos... Se
os passos são ilusões perdidas... E verdadeira só mesmo a rua... As ruas são
inúmeras... Ou apenas há uma... Que se disfarça bem aos nossos olhos... Não
saímos do lugar... É que nem um filme... Pura encenação... Acelere o carro... Estamos em contramão...
Não sei
quantos passos dei... E os repeti em versos pobres... Sem propósito... Ou com
todos eles de uma vez... Todos os sentimentos em um só... Inocente e bárbaro...
Rude e terno... Ou cheio de tesão... Feito de olhos... Ou feito de mão... Como
água parada... Ou bomba em explosão... Todo de sim... Ou todo de não...
Não sei
quantos passos dei... A cabeça roda... A febre começa... Eu sou um cidadão do
mundo... Ou abuso de reticências e lugares-comuns... Escrevo mal... Se é que
escrevo... A culpa nunca foi minha... E quem teve culpa inocentado foi... Foi
uma página virada faz muito tempo... Num grande livro nem sei quantas vezes
relido... Mesmo que varie a forma... Eu sou um cidadão... Que não conta
passos... Não conta não... E que caminha sem direção... Com pés em exaustão...
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