sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Malditos


Malditos sejam os sonhos. Os meus não. Mas os seus. Os meus já os bendisse há muito tempo. E fiz com que suas dores não me atingissem mais. Os meus não. Já acendi uma vela faz tempo. E sonho meus sonhos não mais no escuro. Eu os fiz retroceder no tempo. E agora são meninos. E os meninos (por mais cruéis que sejam) não metem medo.
Malditos sejam os sonhos. Os meus não. Mas o de toda gente. De toda gente que acha normal ser normal. Que segue as regras inventadas e impostas. Que escuta o galo cantar sem saber onde. Que espera o ciclo normal do imprevisível. Que esperam o carnaval com o fim dele. Ovelhas que caem no mesmo precipício. Uniformes comprados no cartão de crédito. Mesmas notas de uma feia melodia.
Malditos sejam os sonhos. Os meus não. Mas os seus. Os meus já os guardei a sete chaves tem muito tempo. De vez em quando eu os visito em tardes de loucura. Quando qualquer dia é domingo. E qualquer coisa tem qualquer cor. Qualquer cor é toda cor. E bandeiras são em mastros ou varais.
Malditos sejam os sonhos. Os meus não. Mas o da multidão lá fora. Viva a grande idéia! Viva a nova idéia! Viva a velha idéia! De justificar novamente o que não tem justificativa. Ou pedir perdão pelos mesmos pecados não cometidos. Sem querer querendo. Disfarçando. Enquanto novas covas são cavadas todos os dias.
Malditos sejam os sonhos. Os meus não. Mas os seus. Os meus cabem em qualquer cruzamento de ruas. Em qualquer bolso furado. Mesmo quando há olhos marcados sobre mim. E nada do que eu queira tenha sua vez. Mesmo quando há escutas em qualquer telefone. E vá embora a liberdade que nunca existiu.
Malditos sejam os sonhos. Os meus não. Mas os de qualquer um. Qualquer um desses que um tempo antes. Qualquer um destes que há muitos anos. Há muitos dias. Muitas horas. Ou qualquer minuto atrás. Fez o que fez. Jogou a lágrima no rosto. O doce no chão. Ou prendeu a palavra na minha garganta...

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