Malditos
sejam os sonhos. Os meus não. Mas os seus. Os meus já os bendisse há muito
tempo. E fiz com que suas dores não me atingissem mais. Os meus não. Já acendi
uma vela faz tempo. E sonho meus sonhos não mais no escuro. Eu os fiz
retroceder no tempo. E agora são meninos. E os meninos (por mais cruéis que
sejam) não metem medo.
Malditos
sejam os sonhos. Os meus não. Mas o de toda gente. De toda gente que acha
normal ser normal. Que segue as regras inventadas e impostas. Que escuta o galo
cantar sem saber onde. Que espera o ciclo normal do imprevisível. Que esperam o
carnaval com o fim dele. Ovelhas que caem no mesmo precipício. Uniformes
comprados no cartão de crédito. Mesmas notas de uma feia melodia.
Malditos
sejam os sonhos. Os meus não. Mas os seus. Os meus já os guardei a sete chaves
tem muito tempo. De vez em quando eu os visito em tardes de loucura. Quando
qualquer dia é domingo. E qualquer coisa tem qualquer cor. Qualquer cor é toda
cor. E bandeiras são em mastros ou varais.
Malditos
sejam os sonhos. Os meus não. Mas o da multidão lá fora. Viva a grande idéia!
Viva a nova idéia! Viva a velha idéia! De justificar novamente o que não tem
justificativa. Ou pedir perdão pelos mesmos pecados não cometidos. Sem querer
querendo. Disfarçando. Enquanto novas covas são cavadas todos os dias.
Malditos
sejam os sonhos. Os meus não. Mas os seus. Os meus cabem em qualquer cruzamento
de ruas. Em qualquer bolso furado. Mesmo quando há olhos marcados sobre mim. E
nada do que eu queira tenha sua vez. Mesmo quando há escutas em qualquer
telefone. E vá embora a liberdade que nunca existiu.
Malditos
sejam os sonhos. Os meus não. Mas os de qualquer um. Qualquer um desses que um
tempo antes. Qualquer um destes que há muitos anos. Há muitos dias. Muitas
horas. Ou qualquer minuto atrás. Fez o que fez. Jogou a lágrima no rosto. O
doce no chão. Ou prendeu a palavra na minha garganta...
Nenhum comentário:
Postar um comentário