Aquilo que gosto vai contra o tempo. E mesmo que chorasse tudo. Não voltaria. Foram coisas que ficaram para trás. Ou um vento forte levou. Ou perderam toda graça. Não dá mais. Virou-se a página deste livro. E as cartas que fiz são sem remetente ou destinatário.
As cartas que fiz quando muito foram lidas por alheias pessoas. Elas podem entender tudo. Menos as coisas que eu digo. Podem presenciar tudo. Menos as coisas que eu sinto. Podem aplaudir tudo. Menos o drama que se repete em cada plano.
E cada plano é um inocente fracasso. A mesma tentativa em diferentes nuances. A mesma fantasia em diferentes carnavais, O que há? Nada que queremos. O samba-enredo nos diz de lugares-comuns. E ganhar ou perder é apenas ponto de vista. Nem nós sabemos o que queremos. Só nossa vontade nos diz alguma coisa.
Alguma coisa que nos incomoda. Que nos atrapalha. Que dificulta nossos passos. Mas os impele. Quanto mais sofremos. Menos podemos parar. Não paramos. E vamos ao encontro em linha reta. Para a morte que não queremos. E a imortalidade que nos incomoda. Haveremos de viver.
Viver como se vive agora? Escondendo o que se é para si mesmo. Sim. Claro. Angelical. Em toda sua crueldade. Com brincadeiras que mais ferem. São batalhas diárias travadas contra nós mesmos. Contra o sono que pesa aos olhos. Contra o pesadelo que molha a testa. E contra o dia a dia fazendo o não-planejado.
O não-planejado sucesso do momento. Os cinco minutos de fama mundial. Os cinco segundos de bom-senso de um dia agitado. E mais nada. Mais nada para se fazer ou pensar. É um rio! É um rio inavegável! É o Ganges pelos cabelos de Xiva. E nosso meditação feita aos berros. Aos palavrões. Só a nós serve. A desculpa é nossa.
A desculpa para um epitáfio decente. Em que números e letras se confundem. Estamos juntos e misturados. Como nunca tivemos antes. Na horizontal. Num silêncio bobo com flores murchas. E um dia para completos soluços. Dos que um dia também virão. Cada um é cada um.
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