Há muito tempo. Num tão distante em que eu mesmo não sei dizer. Existia um menino com muitas águas. Mais do que as águas de um mar de vidro vindo com a morte. Mas muitas águas mesmo. Águas que molham. Mas nunca se secam. Não evaporam. Não se enxugam. Águas do peito. Decerto de vidro também. Quentes e frias. Contraditórias talvez. Mas só às vezes. Águas de um coração apertado e vazio. Um coração vadio sem asas. Preso ao medo por correntes infindáveis. Andando em seus labirintos de Creta. Tateando no escuro. Cego por todos os tempos. Ainda presente em cada gesto. Em cada cor. Em cada figura antiga de perdidas revistas. Todas as vezes que fecha seus olhos. Um desfile de cores intermináveis bailam. E o tempo se confunde como nunca foi. Nada haverá exceto flores. As flores sem cheiro que enfeitam paredes. As rosas de plástico que a poeira acumulou. Olhe o outro vidro. Brilha a cristaleira. Com seus insondáveis rituais de vida e morte. Nada lhe escapa. Nada passa despercebido. Tudo será devidamente polido e bem guardado. Num cofre secreto onde nada escapa. Até o tempo será ali preso. E o fim será constante para que não desapareça. Não tenham pena do que acontece. Se fosse de outro jeito. Se fosse previsível e feliz. Não haveriam versos. A felicidade na verdade pouco tempo tem. Por si basta e não pára sua dança. A tristeza sim é vaidosa. Se olha no espelho mil vezes. E ao contrário do que pensam se maquia. Se cores tristes ou alegres. Isto é outra história. O que importa é isso. Os versos continuam. Se bons ou maus só quem os leia poderá dizer. Eles não procuram a perfeição. São apenas pés cansados que ainda andam. E mãos agora trêmulas que ainda fazem gestos. Gestos de carinho para o ar que cerca. Ainda esperando o dia de serem visto. Desculpem quem acena. Pois quer atenção. Esqueçam a gramática por um minuto. Deixem a lógica guardada em seus bolsos. Há mais fantasias para serem vestidas. E essas fantasias continuam em seus carnavais. Carnavais idos que ainda estão lá. Cada loucura e sua cara triste e alegre ao mesmo tempo. Nesse tempo havia a roda-gigante de finais de semana. E o mar lá embaixo. Um mar negro de perdidos maus sonhos. E ao mesmo tempo tão bom. Quase tão bom como a hora do recreio. Quase tão bom quanto o beijo desejado. Ou a vontade de fazer mágicas. Ou voar. E lá está. No mesmo lugar. Com o mesmo rosto. A mesma roupa. O mesmo jeito. Alegre e triste. Eterna contradição. Escrevendo ainda a igual história. Que se repete. Mas não tem fim...
Perdido como hão de ser os pássaros na noite, eternos incógnitas... Quem sou eu? Eu sou aquele que te espreita em cada passo, em cada esquina, em cada lance, com olhos cheios de aflição... Não que eu não ria, rio e muito dos homens e suas fraquezas, suas desilusões contadas uma à uma... Leia-me e se conforma, sou a poesia...
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Rudes Realidades
O amor nunca foi um deus
É o produto de circunstância e teimosia
O resultado da mais absurda equação
Nunca devemos confiar-lhe coisa alguma
A virtude geralmente é derrotada
O sistema domina os homens
O dinheiro move o sistema
E os dois sempre fabricarão marionetes
A moral está fora de moda
Deus tem vergonha de seus sacerdotes
Muitos mentem e outros fingem acreditar
Para todo pecado haverá perdão
O poder está onde não vemos
Quando você lê falsas notícias
E fazem que engula todas as imagens
Se o suicídio for moda você o fará
Você não vale pelo que é
Você só vale pelo que tem
Se importa farão de você um herói
Se importa farão de você um merda
O livre-arbítrio só existe no papel
Você não pode escolher o que come
Nem pense em vestir o que deseja
O maior medo é o de passar ridículo
A solução para todos os velhos erros
Não está em quaisquer fórmulas mágicas
Não será resolvida de um dia para o outro
Porque ser humano é o único erro
A vida nunca foi um grande jogo
Não existem regras para a nossa loucura
Na verdade não há vitórias nem empates
A morte chega sempre no final
Os versos que escrevo são cruéis mas reais
Mais cruel que estes versos é a vida
Mais cruel que a vida é o homem
Mais cruel que a vida somente a esperança...
A Matança dos Peixes
Sonhos mortos pelas redes
A água que não terá nunca
Eu fui menino e um dia pensei
Por que não faziam nada?
Por que não lutavam por seu reino?
Se tinham um céu verde e voavam
Com olhos abertos iam enfileirados
Em direção ao nada
Onde estaria a sereia
Pra atrair os navegantes?
Quadros tortos pelas paredes
A mágoa que não serei nunca
Eu fui menino e um dia pensei
Por onde andava a fada?
Por que nos obrigavam o treino?
Cada um tinha sua sede e choravam
Com olhos despertos via assustado
Em direção ao nada
Onde estaria a areia
Pra distrair meus instantes?...
Adoráveis
Adoráveis bocas faltando dentes
Adoráveis mentes sofrendo crises
Adoráveis celas com inocentes
Adoráveis crimes com finais felizes
Adoráveis seitas fazendo clones
Adoráveis dedos sobrando anéis
Adoráveis seios e seus silicones
Adoráveis músicas de decibéis
Adoráveis gentes e assassinatos
Adoráveis famílias e suas manchetes
Adoráveis festas com gatos e ratos
Adoráveis louras e fatais chicletes
Adoráveis putas dormem comigo
Adoráveis mentiras e seus jornais
Adoráveis crimes sem ter castigo
Adoráveis canalhas nos pedestais
Adoráveis países fazendo guerra
Adoráveis reis destruindo a paz
Adoráveis vermes comendo a terra
Adoráveis vírus que pedem mais
Adoráveis mães que abortam filhos
Adoráveis pais que vendem coca
Adoráveis estrelas sem ter brilho
Adoráveis raposas em sua toca
Adoráveis pastores e seu falso livro
Adoráveis pernas e suas celulites
Adoráveis covas que esperam o vivo
Adoráveis loucuras sem ter limite
Adoráveis mestres ensinando nada
Adoráveis velhices da miséria do dia
Adoráveis destinos e sua porrada
Adoráveis fome e sua fantasia
Adoráveis crianças cheirando cola
Adoráveis ódios enchendo as mentes
Adoráveis sonhos que são esmolas
Adoráveis esmolas pra nós doentes
Tudo tão adorável...
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Sono
O sono pesava os olhos
Os olhos fechavam o dia
Tal qual num transe profundo
Eu ria e fazia um mundo
Meu mundo de fantasia
Às vezes acordava mudo
No meio da noite vadia
Chorava de medo do escuro
Com medo do futuro
Mas poucos de novo dormia
Onde estão estas minhas terras
Que dormindo eu percorria?
Voando sem possuir asas
Por cima de todas as casas
Enquanto a treva fugia
O sono findava dos olhos
Os olhos reabriam pro dia
E eu saía de um transe profundo
E voltava pra este mundo
Onde meu coração morria
O sono ainda pesava os olhos...
Dizia o Mestre
Todo possível é pouco!
Todo plausível é louco!
Dizia o mestre sem escola
Sentado numa sarjeta
Enquanto pedia esmola...
Esmola não! Gorjeta!
Velho de barbas brancas
Contava as suas pratas
E parava para ver as ancas
Das pedestres mulatas!
Um pão vale tanto!
Nada vale o pranto!
Dizia o mestre esfarrapado
Sentado numa calçada
Vendo este mundo errado
Que nunca vale nada!
Velho de trapos puídos
Bebendo sua cachaça
Ouvindo apenas ruídos
De carros e sua fumaça!
Nos apetece a quimera!
Nos arrefece a espera!
Dizia o mestre banguela
Com sua bunda no chão
Esperando o fim da novela
Que será num caixão!
Cada um e seu destino
O destino eterna procura
O velho atrás do menino
E a doença aguardando cura!
Todo desastre é iminente!
Todo contraste é indiferente!
Dizia o mestre esquisito
Sentado no meio do lixo
Achando tudo bonito
Menos o humano bicho!
Velho sem ter parentes
Velho sem ter amigos
Com seus olhos inocentes
Apesar de tantos castigos!
Todo possível é pouco!
Todo plausível é louco!
Dizia o mestre sem escola
Sentado numa sarjeta
Enquanto pedia esmola...
Esmola não! Gorjeta...
Reais Estruturas
Quem são os pássaros que vertem
A sólida luz deste dia?
Quem são os sonhos que se convertem
Em cada pedaço desta folia?
Quem são os desejos que pervertem
Esta vida insossa e vazia?
Quem são os fantasmas que divertem
Nossa mais profunda idiotia?
O que é este choro tão entrecortado
Que a si mesmo não se tem?
O que é que nos faz ter esperado
Por dias felizes que não vem?
O que é esta corda que tem sustentado
Outros teoremas vindos do além?
O que é que nos tem informado
Construindo mentiras tão bem?
Aonde está este rápido vento
Que vai escapando de nossa mão?
Aonde bailará o louco pensamento
Que ainda pensamos em vão?
Aonde será feito o sacramento
Que transforma nossa imaginação?
Aonde descansaremos só um momento
Antes que fuja o que resta da razão?
Quem? O que? Aonde?...
Triângulos
A perfeição do Deus Insondável
O descanso que não manca
O brinquedo entre tuas pernas
Os que se submetem ao quarto
O bailado das eternamente nuas
Os dias de todo nosso desvario
Os deuses de um eterno movimento
Os guardiões de cada rosto
Meus amigos que fazem o riso
Quem nos defende do acaso
Os pedaços que fazem o todo
Os aspectos básicos do intemporal
Reinos que fazem o mundo
Os tantos que eu te afago
As velas que ardem no silêncio
Os pilares que sustentam o velho
Os passos que levam o moço
Os tambores que convidam os santos
Os lugares que tem o espaço
As heranças de diferentes mortos
Condições de vida de um cidadão
Como se conseguir a beatitude
As virtudes que nós conseguimos
Os círculos para nossa redenção
Os aspectos básicos do ar que nos cerca
As irmãs que vivem na noite
As perguntas que Freud responde
O mistério vindo do meio do mar
A perfeição do Deus Insondável...
Saudade Número Um
Um auto roda no vaivém.
Da rua descalçada.
Cheia de poças-d 'água.
Cheia de nada.
Vazia de tudo.
A cena parece nitidamente
Com um quadro impresso
E amarelecido pelo tempo.
Parece as casas pintadas
De amarelo-palha.
Um auto!
Grita a gente.
E roda no blim-blim
De um sininho de cabrito.
Num sorriso de cabelos castanhos.
E o ar da estranheza do por-enquanto.
Ele voa nas asas da camisa
Do quadriculado miúdo azul-e-branco.
Um auto roda no vaivém.
Por onde ele anda?
Ele anda pelas ruas
Dum tempo com saudade.
Mas saudade indiferente...
(Para Aristides Godoy, de muito tempo).
Cheia de poças-d 'água.
Cheia de nada.
Vazia de tudo.
A cena parece nitidamente
Com um quadro impresso
E amarelecido pelo tempo.
Parece as casas pintadas
De amarelo-palha.
Um auto!
Grita a gente.
E roda no blim-blim
De um sininho de cabrito.
Num sorriso de cabelos castanhos.
E o ar da estranheza do por-enquanto.
Ele voa nas asas da camisa
Do quadriculado miúdo azul-e-branco.
Um auto roda no vaivém.
Por onde ele anda?
Ele anda pelas ruas
Dum tempo com saudade.
Mas saudade indiferente...
(Para Aristides Godoy, de muito tempo).
Saudade Número Dois
Jogos de flipper.
Emoção de encontro de rua..
Só tenho dez dedos nas mãos
E já perdi a conta
De quanto nossos olhos não vêem
E são coisas que o coração sente ainda.
Conversas de corredores.
Segredos traídos nos olhos.
Desejos inconfessáveis.
E nossas boas intenções.
De refazer quadro por quadro
O riso que já tivemos.
Sim, claro.
Vestimos as roupas do ontem
As mesmas calças curtas.
O menino de braço engessado
E sorriso permanente.
Quem tem o sol aí?
Vamos brincar enquanto podemos.
Jogos de flipper.
Emoção de encontro de rua.
(Para Cleber Neves de Souza, sempre amigo).
A Casa de Todos os Loucos
A eterna casa...
O eterno caso...
A casa de todos os loucos
Tem terrenos loteados
Pode comprar à vista
Ou pode pagar parcelado
Me queira bem
Não me queira mal
Se isso não cheira bem
Não importa: é carnaval
Não importa se é Maria
Não importa se é João
Todos nós daremos comida
Para o banquete do chão
A casa de todos os loucos
Tem histórias mal contadas
De olhos cheios de nada
Me beije hoje
Não me espere amanhã
A espera é quimera
E a morte é nossa irmã
E a morte é nossa amiga
Não é má só é certeza
Mas se ela é bonita
Não queremos boniteza
A casa de todos os loucos
Tem Messias rotineiros
Louvando ao deus escondido
Bem atrás do dinheiro
Me dê a alma
Me venda o corpo
As minhas boas intenções
Já saíram do porto
Já saíram da mente
Que não voa só rasteja
Igual mosca caída
No resto da minha cerveja
A casa de todos os loucos
Tem cômodos mal divididos
Não sabemos quem sobrou
Entre mortos e feridos
Me dê a noite
Não me dê a fama
Se meus anjos são bonitos
São garotos de programa
São garotos que brincam
Que pulam jogam e correm
E as nossas esperanças
São as únicas que ainda morrem
A casa de todos os loucos
Tem seus terrenos baldios
Sete mares sem direção
Que desembocam no rio
Me escute a voz
Não me dê perdão
Se perdoa quem erra
É pena: eu tenho razão
É pena: chegou a hora
Caiu quebrou o brinquedo
Por mais que não se espere
É o fim que vem mais cedo
A eterna casa,,,
O eterno caso...
A vida e o mundo...
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Satisfação
Eu coloco os chinelos no teto
Eu coloco as telhas no chão
Afago teus peitos com afeto
Meu secreto objeto de afeição
Eu conto os beijos que te dei
Como quem faz sua confissão
Perigos que são a minha lei
Passos que se fazem prisão
Eu bebo o rio por inteiro
Eu faço tratos com o Cão
Por teu rosto de janeiro
Por teu sexo em minha mão
Eu blasfemo em voz alta
Me aquieto como um furacão
Eu inocento a tua falta
Minha vontade é só explosão
Eu morro em cada segundo
Esperando outra encarnação
Te dou de presente o mundo
Também te dou esta estação
Eu espalho flores pela parede
Adoço a vida com um limão
Prendo os fatos com a rede
Da sede de minha imaginação
Eu choro linha por linha
Canto bêbado qualquer canção
A tua culpa será a minha
E minha a tua satisfação
Eu coloco na mente um projeto
Coloco a vida na tua mão
Propago meus jeitos sem secreto
No concreto direto da perfeição
Eu conto desejos sem rei
Como quem faz a revolução
Abrigo que sempre esperei
Mas minhas pedras foram ao chão
Eu faço o frio em janeiro
Eu traço mapas em direção
Por teu gosto por inteiro
Pelo teu nexo sem razão
Eu reclamo a tua falta
Me arredo com aflição
Eu construo a torre alta
Da piedade sem compaixão
Eu corro a cada segundo
Encontrando uma explosão
E gozei por quase um segundo
O teu amor sem medição
Eu espalho as cores pelo verde
Esboço a lida sem pôr a mão
Vendo os tragos para a sede
Da minha rede conspiração
Eu bebo vinha por vinha
Faço límpida nossa comoção
A tua boca será a minha
E minha a tua satisfação!
Códigos
A cartola do mágico
A escola do trágico
Digite a senha
E tome lenha!
Você vive de códigos de normas legais
Você vive de modas de regras gerais
Ouça seu próprio apelo
Liberte-se deste pesadelo!
A maresia do vídeo
A fantasia do índio
Espantar o tédio?
Não há remédio!
Você vive de códigos de normas morais
Você vive de ordens de farsas sociais
Ouça o seu próprio gemido
Isto não faz sentido!
O receio do ridículo
O recheio do círculo
Existem traumas
Em todas as almas!
Você vive de códigos de metas normais
Você vive de restos de sobras fecais
Ouça mais e creia menos
Cuidado com estes venenos!
A ferida do peito
A medida do jeito
Esqueça o tango
Ataque o rango!
Você vive de códigos de medos mortais
Você vive de versos de canções banais
Ouça a sua consciência
Livre sã sem decência!
A emoção do logro
A estação do fogo
Há tantas mágoas
Em tantas águas!
Você vive de códigos de fomes vitais
Você vive de niqueis de truques banais
Ouça a sua própria boca
Mesmo que a voz seja rouca!
A cartola do trágico
A esmola do mágico
Visita a feira
Desta besteira!
Você vive de códigos de normas legais
Você vive de modas de regras gerais
Ouça o seu próprio apelo
Livre-se deste escabelo!...
Certa Estrutura
Vela acesa sobre a mesa
Num incômodo cômodo
O que me vela a vela?
O que me importa a porta?
Que deixes meus peixes
Ao tolo todo o dolo
Ao fútil o que é inútil
Ao cego eu nada nego
Ao bobo todo o globo
O mudo já disse tudo
O poeta tem sua meta
O ladrão sua razão
Imoral é o escambau
A fome é que dá nome
A farda não nos guarda
Do estreito preconceito
Não dá alento o vento
Nem tino o destino
Quem lavra a palavra
Seu domínio é o fascínio
Os metais são reais
Mas os amores são incolores
Todo fardo é um dardo
Em direção ao não
O leito é o único jeito
Se a doença mata a crença
Só o sol joga futebol
Se a lua empresta a rua
Não há pão nem perdão
Mas o povo quer o novo
No carnaval carne em aval
Na quarta-feira a saideira
O nosso enredo é o medo
Quem tem aí pra onde sair?
Nossos portos já são mortos
Pal-Nosso não temos remorso
Ave-Maria perdemos o dia
Das boas ações as aberrações
Tudo é preso ao peso
Tudo é uso e é abuso
Luz acesa sobre a mesa
Num cômodo incômodo
Ai quem me dera a quimera
Cada um bebe o que recebe
Na mais pura estrutura
domingo, 26 de agosto de 2012
Outro Cinema
Eu quero um outro cinema.
Em nova tela.
Não é preciso outra tecnologia.
E lá estará a minha bela.
A nova vida que nem novela.
Uma vida nova sem ironia.
Que cada um sua parte estrela.
Que cada um vive seu dia.
Eu quero um novo cinema.
Com outras cores.
Não é preciso nem capricho.
E lá estarão os meus amores.
Poemas que já joguei no lixo.
E os peguei sem falsos pudores.
Pois acabaram as minhas dores.
Com uma alegria feito bicho.
Eu quero um novo cinema.
Em outro domingo.
Não é preciso ser feriado.
Só quero alguém ao lado.
Sendo certo ou sendo errado.
Um ombro amigo.
Pra não ficar abandonado.
Como num tempo antigo.
Rude Poesia
Eu sou a poesia anti-poética.
A que se perdeu pelo caminho.
Não espere ganhar qualquer carinho.
Pois sou resultado da genética.
Sou a poesia sem poética.
Aquela que seu gesto só é rude.
Eu fui doce e terno enquanto pude.
Agora sou guiado pela estética.
E a minh'alma segue cética.
Em tudo acreditando sem orar.
E descrendo mesmo a acreditar.
Até na poesia que é profética.
Eu quero que um dia morra a ética.
E venha a tona que tenho escondido.
Tanta dor sem um gemido.
Presa em uma caixa hermética.
Eu sou a poesia anti-poética.
Que um dia teve carinho.
Morreu a rosa e ficou o espinho.
Nem há mais dialética...
sábado, 25 de agosto de 2012
Como Todos São
Como todos são. Sem exceção nenhuma. Mesmo quando antagônicos parecem ser. Uniformes. Indo em direção ao tudo ou ao nada. E isso não faz tanta diferença como se pensa. Pensamentos novos. Sonhos antigos. Embalagens de papel ou plástico. Politicamente correto. Ou anormalmente normal. Até quando não sei. Mas visível para qualquer olho.
Os epitáfios são lidos. Mesmo quando a distração direciona o rosto. Não há nada diferente sob o sol. E o Destino é um dadaísta divertido que experimenta novos lances. Mas sem querer os repete sem perceber. Ontem ou hoje ou amanhã são nomes duvidosos para a mesma coisa. Todas as flores nascem para murchar.
O carrossel roda. Pegue-o logo antes que a música pare. E só haja próxima sessão. Não há bem tão precioso. A espera é o castigo dos tolos.
Eu não vim para dar detalhes. Quando percebi isto a máscara caiu do rosto da vida. Mas a grande ilusão é perseguir o fim desta. Tudo continua. O cego não o percebe porque enxerga demais. O bom-senso muitas vezes atrapalha. Nem sempre a loucura nos agride. A imaginação vende em praça pública.
Não há um único poema. Todos são diferentes vezes lidos por diferentes pessoas. Eles parecem ser iguais. Mas não são. E elas igualmente. Tudo é diferente de si mesmo. Saber disso é talvez a única maneira de não se perder em seu próprio labirinto. E devorar o Minotauro quando der fome.
A matemática sempre se desesperou. E nem aplicados escoteiros desfazem tais nós. Os nós somos nós. Se o carrasco tirasse o capuz seria grande surpresa. Nós seguramos o machado. A cabeça rolou Nós puxamos a corda. Abriu o alçapão. E há um corpo pendente no ar.
É divertido. É só tentar. Montar quebra-cabeças de milhões de peças. Pão e circo. Cada um em sua vez para as feras. E as feras para elas mesmas. Perfeitamente como há de ser...
O Vento Não Chora
O vento
não chora. Leva coisas.
Pra bem
longe. Todas elas.
Não tem
pena. Nem tem dó.
Sejam
feias ou belas.
Não pede
licença. Não escolhe dia.
Invade as
janelas.
O vento
não chora. Leva sonhos.
Nunca
chora. Nós que choramos.
Pelo que
tivemos. Ou não tivemos.
Pelo nosso
amor. Pelo que odiamos.
Tanto faz.
Assim somos.
Aonde ele
vier. Nós estamos.
O vento
não chora. Leva eu.
Já chorei.
Não choro mais.
Havia
muitos planos.
Todos
ficaram lá trás.
Foram
pontes quebradas.
E eu sigo
em paz.
O vento
não chora. Leva as folhas.
Leva sem
perguntas. Pelas pontas.
Em loucos
redemoinhos.
Nossas
almas ficam tontas.
Como nada
mais houvesse.
Nossas covas
estão prontas...
sábado, 18 de agosto de 2012
O Sol É Testemunha
O sol é testemunha. Brinquemos.
Brinquemos sem medo.
Pela simples razão. Não temos
Quaisquer outros brinquedos.
O sol é testemunha. Dancemos.
Dancemos esta ciranda.
Pela simples coisa. Tememos
Qualquer coisa que manda.
O sol é testemunha. Bebamos.
Bebamos quase tudo.
Pelos simples fato. Falamos
E qualquer coração é mudo.
O sol é testemunha. Deliremos.
Delirar é a última cartada.
Pelo simples jeito. Temos
Mas o que temos não é nada.
O sol é testemunha. Escondamos.
Esconder é a estratégia.
Pelo simples motivemos. Morremos.
É o fim da tragédia.
Delirar é a última cartada.
Pelo simples jeito. Temos
Mas o que temos não é nada.
O sol é testemunha. Escondamos.
Esconder é a estratégia.
Pelo simples motivemos. Morremos.
É o fim da tragédia.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Avesso
Eu sou o avesso do que sou
Bom e ao mesmo tempo mau
Ando e não sei aonde vou
Não saio e a rua é meu quintal
Quando sonho eu pesadelo
E acordo assustado
Mas não ouvem meu apelo
Não há ninguém do meu lado
Quando acerto também erro
E não há nenhum perdão
Nada mais há que um berro
Perdido na escuridão
Inocente vou às galés
Criminoso não há pista
E tudo vai é tudo invés
Fantasia antes não vista
Versando de nada falo
Choro em plena folia
Sou palhaço ao teu regalo
Com a mesma fantasia
Eu sou o avesso do que sou
Bom e ao mesmo tempo mau
Aquele que ninguém olhou
E que morreu num carnaval
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Parecia
Parecia humano
Mas não era...
Era insano
Era a fera
Parecia fogo
Quem me dera...
Era um jogo
Tudo supera
Parecia água
Mas não era...
Era uma mágoa
Que nos espera
Parecia terra
Quem me dera...
Era uma guerra
Outra quimera
Parecia ar
Mas não era...
Era como matar
A primavera
Parecia um sonho
Quem me dera,,,
Algo medonho
Que desespera
Parecia e parecia
Mas não era...
A poesia
Que me impera...
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
O Poeta
O poeta
que vos fala não é mais humano. Isso foi num tempo muito antigo. Em que chorar
parecia ser o mais certo. Mas nada adiantou. Em que viver parecia ser uma coisa
boa. E foi apenas um engano. Em que o menino existia atrás dos sonhos. Mas eles
correram bem mais rápidos.
Quem vos
fala não tem corpo. Quando muito pés cansados de uma jornada sem caminho. E
olhos atentos ao que não existe mais. Sumiu o dia. Sumiu a paisagem. Sumiram os
detalhes. Mas o resto ficou. Saudades são venenos que circulam pelas veias. E
não há antídoto que os cure.
Pare com a
música um momento. Um minuto de silêncio. Por favor. Pela morte de cada objetivo.
Pelo desvario de cada bom senso. Pelo fracasso de cada plano arquitetado. Mesmo
que pareça ter tido sucesso. Um minuto de silêncio. Por favor. Para nossas
desculpas esfarrapadas e egoístas. De que cada problema não é nosso. E que
seguimos por cima de outros cadáveres. Podem continuar agora. Música maestro.
Por favor.
O poeta
que vos fala. Nem disso merece ser chamado. Ele escreve coisas malfeitas em sua
ignorância. E não recebe visitas para seus versos rudes. A poesia é como ele.
Em preto e branco. Maciça. Sólida. Mesmo quando tenta ser terno e delicado. E
seu doce sempre amarga.
Um café. Por
favor. E mesmo que seja politicamente incorreto. Um cigarro também. Mesmo que
matem. Estão nos versos. Como tudo o mais. Que também mata. Algumas coisas mais
rápidas. E outras de formas mais lentas. Alguns parados na esquina. Outros sei
lá onde. Mas que estão. Isso estão.
Nunca mais
reclamarei. E os rostos que me olham. Não me amedrontarão. Nada falam. Nada
comentam. Não querem se comprometer. Mas está bom. Eu mesmo pergunto. E eu
mesmo respondo. Eu mesmo grito. Eu mesmo xingo. E bato palmas para meus próprios
absurdos.
O poeta que
vos fala. É o mesmo. Hoje e sempre. Um menino brincando com as nuvens...
domingo, 12 de agosto de 2012
Nada a Declarar
Nada a declarar
Nem uma queixa
Tudo está bem
Me deixa
Veja a novela
Chore pelo drama
Depois feche a janela
Vá pra cama
Amanhã tome café
Leia o jornal
Viver por fé
É tão normal
Escute o som
Não importa a letra
Porque o bom
É ser careta
Vote no cara
Vá pra platéia
Que a vida pára
Se ter idéia
Seja bonzinho
Seja correto
Não nasce espinho
No que é concreto
Não se desespere
Conte até dez
Então espere
Ficar os anéis
É só brincadeira
A morte que chega
Balance a cadeira
Ô minha nega
Tudo dá poesia
Samba funk rock
Até que um dia
Se tenha um choque
Nada a declarar
Nem vi nem ouvi
O mundo pode desabar
Não tou nem aí...
sábado, 11 de agosto de 2012
De Um Cínico 6 ou Deus Quem?
Deus não fez o pecado
Porém fez a maçã
Deu o caso por encerrado
Mas criou o amanhã
O sexo deve ser evitado
Mas atrai como um imã
O sangue correu em Jerusalém
Deus quem? Deus quem?
Deus não criou a tristeza
Por que criou então o homem?
Quis lhe dar a nobreza
Mas por que criou a fome?
Como teremos certeza
Se o tempo tudo consome?
Canalhas dizendo amém
Deus quem? Deus quem?
Deus nos legou seus livros
Mas a história foi recontada
Em sua igreja somos cativos
Mas livres na encruzilhada
Quais serão os motivos
Pra seguir nesta estrada?
Criou o mal e criou o bem
Deus quem? Deus quem?
Deus é um deus de paz
Mas por ele vivemos em luta
Diz pra bebermos mais
E coloca no copo a cicuta
Quem fez as normas morais
Já sabe o destino da puta
Mandem-me notícias do além
Deus quem? Deus quem?
Deus não fez o abismo
Todavia criou o diabo
Não inventou o cinismo
Nem nos quis nos dar cabo
Mas sua lei fez o fanatismo
Que bota no nosso rabo
Morreu o encanto e a luz idem
Deus quem? Deus quem?
Deus não fez por menos
Condenou ao fogo os hereges
Morreram por somenos
Sem fazerem suas freges
E a cada dia nós morremos
Por cada ladrão que se elege
Eis aqui as bruxas de Salem
Deus quem? Deus quem?
Deus ainda é nosso pai
Mas será que ele se importa
Quando a casa cai
O que interessa a porta?
Do jeito que a coisa vai
Até nossa alma é morta
Um paraíso pra ninguém
Deus quem? Deus quem?
Deus não fez o pecado
Entretanto criou adão
Não deixou escolher o lado
Mas nos deu a indecisão
O sexo deve ser evitado
Mas nós temos tesão
O sangue correu em Jerusalém
Deus quem? Deus quem?
Certa Ciranda
Não duvide da peça
Não duvide da crença
Não duvide da dança
É maior que se pensa
Esta nossa esperança!
Não duvide da massa
Tudo que interessa
Vem logo mas passa!
Não duvide da lenda
Não duvide da graça
O sol não está à venda
Nós só temos a fumaça!
Não duvide do circo
Não duvide do fato
Nós corremos o risco
De qualquer desacato!
Não duvide do fogo
Não duvide da água
Pois nas regras do jogo
Acabou toda mágoa!
Não duvide de tudo
Não duvide de nada
Qualquer peito mudo
Tem o pó da estrada!
Não duvide da terra
Não duvide da trança
Nessa mais crua guerra
O inimigo não cansa!
Não duvide de deus
Não duvide do cão
Pois na hora do adeus
Não existe mais chão!
Não duvide da hora
Não duvide do dia
Esta dura demora
Não nos traz alegria!
Não duvide do corpo
Não duvide do jeito
Em paz tá o morto
Deitado em seu leito!
Não duvide do beijo
Não duvide da boca
Já morreu o desejo
Na mente da louca!
Não duvide da crença
Não duvide da dança
É maior que se pensa
Esta nossa esperança!!!
Assinar:
Postagens (Atom)
Alguns Poemetos Sem Nome N° 322
O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...
-
O caminho que vai dar no mar. Consequências de tudo o que pode acontecer. E lá estão barcos e velas incontáveis. E amores em cada porto ...
-
Não sabemos onde vamos parar Mas qualquer lugar é lugar Quantos pingos nos is temos que colocar Quantos amores temos que amar Quantos ...
-
Um sorriso no escuro Um riso na escuridão Um passado sem futuro Um presente em vão... Mesmo assim insistindo Como quem em a...