quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 252

São apenas ferimentos de guerra, apenas isso. Faz parte da moda rir sem motivo algum, chorar vez em quando. A inventiva tem lá suas desculpas, o menino faz caras e bocas por alguns likes e profusas palmas sem direção alguma. A partitura pode estar perdida e a bula mais ainda. Motivos para chorar temos muitos, para algumas folias ocasionais, ainda temos de qualquer forma. Toda possibilidade pode ser possível, dependendo do freguês.


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O epitáfio de uma perdida lápide no Alasca pode conter a nova receita que o fará lanches sensacionais. O toco de giz achado no chão escreverá a partitura da mais grandiosa das sinfonias. A covardia do soldado que errou de botão pode ter salvo o mundo. O novo degrau da escada significa mais um tombo ou aquele voo que será espetacular. A placa-mãe deu gemidos sensacionais na mesa de parto arrancando aplausos efusivos. A nova espécie de abelha mutante recusou-se a dar entrevista exclusiva no programa matinal televisivo de grande sucesso. O espírito baixou na apresentadora de televisão que gargalhou até desmaiar de exaustão. Uma mosca dançou discretamente xaxado no topo silencioso do Empire State até quase meio-dia.


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É  que eu tenho certas manias... Dançar pelado na frente do espelho que não existe mais no meu quarto com a porta fechada que não está lá. É que eu tenho certas manias... Deixar a última fatia de bolo guardada no geladeira para quem não vai poder comê-la nunca mais. É que eu tenho certas manias... Coço meu nariz com uma solenidade impressionante como um profeta que declara que o fim do mundo está próximo. É que eu tenho certas manias... Ser o ladrão na peça da escola tentando roubar dela pelo menos um minuto de atenção. É que eu tenho certas manias... Junto todos os fragmentos do que me aconteceu para contar uma história sem pé e nem cabeça. É que eu tenho certas manias... Acabo escrevendo centenas de cartas no ar que tenho certeza que ela não irá ler e com a maior teimosia do mundo. É que eu tenho certas manias...


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Ele, mesmo gaguejando como era habitual, cantou um tango no bar quase vazio de um fim de noite triste e fria. Ela, com seu rosto feio, olhou para o fim da dose em seu copo relutante e tentou ter forças para poder levantar e dançar. O quase garçom pegou solícito o pano sujo e molhado e secou a mesa que não seria mais molhada até o dia seguinte. O poeta esquecido na outra mesa tentava em vão escrever alguns versos banais num papel que achou jogado no chão quase agora. De quando será o cartaz da moça falsamente sorridente que tenta vender a cerveja mais barata? Uma noite eterna, isso sim, mesmo que o sol teime em surgir amanhã mostrando todas as nossas feridas expostas à moscas que cumprem seu papel...


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Sensacional esse penúltimo cigarro que fumarei ao acaso enquanto rio das barreiras que constroem todos os dias e acabam caindo por si mesmas. Maravilhosa essa noção sem noção de todos os que se enganam com a falsa verdade que o motoqueiro trouxe no delivery de quase agora. Estupenda essa tontura de alguma altura que os altos prédios noz fazem sentir pensando que essa nossa cidade tem alguma coisa de feliz. A moedinha foi direta para chão e saiu procurando o próximo bueiro para lá descansar. Sepulcral esse silêncio que os transeuntes fazem olhando para o velho semáforo que ainda vai se abrir. Estupendo o estampado do vestido da moça de curvas tentadoras que se apressa para chegar em seu escritório. Pensativo o senhor de meia-idade sobre quantos dias faltam para que o diagnóstico de seu oncologista seja certeiro, O inexistente agora tem novos atributos que mesmo os reis mortos queriam ter e nunca acabaram tendo. O menino quase sujo ficou dono de toda a felicidade do mundo porque achou um real e comprou tudo de bala...


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Onde está a coragem covarde que subverte os homens? Heróis de nós mesmos sobrevivemos entre o conforto e o nada fazer. Cansamos de pensar para depois cansarmos de respirar. Nossa imortalidade é apenas um fardo, um peso em que procuramos as nuvens que nem existem. Onde estamos? Na cena do crime que não foi notada, lendo o manual de instrução de nossa mediocridade que terá sua execução feita com sucesso. Humanos, palavra torpe essa. filhos de um Deus que esconde seu rosto de vergonha em falsas palavras. Onde está a coragem covarde que subverte os homens? Talvez no gozo que acabou de acabar...


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Eu sou o rei de nada, o poeta do nada, minha vida? Alguns sabem, outros não. Alguns, minhas vítimas e outros, meus algozes. Caça constante pelos dias, isso sim. Cada dia, um amigo e um inimigo. Apague o poeta, mas não apague suas palavras. As rugas aparecem, mas as cicatrizes permanecem. Toda resposta é válida, sobretudo o silêncio. Um clipe antiga lembra muitas coisas, sobretudo as nunca vividas. Abra a janela aí, os sóis das madrugadas precisam entrar...


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