quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A Arte de Fazer Arte

Peixe morto não tem mar.

As roseiras também dormem.

O paraquedas falhou...


O destino pisca o olho.

Eu jogo pedras de tarot.

Viramos mercadoria...


O pajé sambou na lata.

Jogaram meu doce no lixo.

Inventemos um enigma...


Caipiras de New York.

Pés na calçada da lama.

Mamãe quero amar...


Picasso quebrou o braço.

Vamos comer farofa de meias.

Dei um mortal na televisão...


O adivinho se enganou.

Falar sobre nada agora vale.

Coxinha com recheio de massa...


O trem da vida acabou freando.

O ladrão era tão inocente.

Estou de pé ainda que deitado...


A modelo caiu na passarela.

Pese meio quilo de nada.

Nunca vou na beira do Rio...


O barraco planou nas nuvens.

Narciso agora é striper.

As bacantes estão nas redes...


A musa agora está sepultada.

Acabou o café e a paz também.

Joguei muitos versos no vaso...


Eu faço cover de mim mesmo.

Meu heavy metal é suave.

Todas as tentativas estão...


Cara morto não tem ar.

Os espinhos também comem.

A emboscada falhou...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Panis et Merdensis

Estilhaços de vidro em meus olhos

Cidade canalha que só sabe mentir

A roupa suja mofa num canto qualquer

A gaze dos meus ferimentos apodrece

Eu vejo o mesmo filme tantas vezes

E engulo os restos que achei na rua

Meu sim é um não com todas as letras

E eu acabei me esquecendo o que era

Ela me mostra seu mais belo rabo

E todas as impossibilidades me atacam

Grânulos de veneno em minha boca

Pedaços de carne podre que me pertencem

Gasto muitos segundos para entender

A obviedade daquilo que não existe

Meu instinto da mais pura covardia ri

Não sei se acho graça ou me desespero

Ela ficou nua em plena praça pública

Não faz diferença alguma para o mundo

Já que este cai em inúmeros pedaços

Calem a boca donos da podridão real

As suas notas geniais agora desafinam

A minha loucura é bem vinda pelos cantos

E a sua raiz nunca há de secar jamais

O bem comportado rebelde falhou

E os cordéis dos marionetes chegaram

Os gladiadores tomam chá com torradas

Não tenhamos mais desespero algum

A nova remessa de leões há de chegar...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 252

São apenas ferimentos de guerra, apenas isso. Faz parte da moda rir sem motivo algum, chorar vez em quando. A inventiva tem lá suas desculpas, o menino faz caras e bocas por alguns likes e profusas palmas sem direção alguma. A partitura pode estar perdida e a bula mais ainda. Motivos para chorar temos muitos, para algumas folias ocasionais, ainda temos de qualquer forma. Toda possibilidade pode ser possível, dependendo do freguês.


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O epitáfio de uma perdida lápide no Alasca pode conter a nova receita que fará lanches sensacionais. O toco de giz achado no chão escreverá a partitura da mais grandiosa das sinfonias. A covardia do soldado que errou de botão pode ter salvo o mundo. O novo degrau da escada significa mais um tombo ou aquele voo que será espetacular. A placa-mãe deu gemidos sensacionais na mesa de parto arrancando aplausos efusivos. A nova espécie de abelha mutante recusou-se a dar entrevista exclusiva no programa matinal televisivo de grande sucesso. O espírito baixou na apresentadora de televisão que gargalhou até desmaiar de exaustão. Uma mosca dançou discretamente xaxado no topo silencioso do Empire State até quase meio-dia.


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É  que eu tenho certas manias... Dançar pelado na frente do espelho que não existe mais no meu quarto com a porta fechada que não está lá. É que eu tenho certas manias... Deixar a última fatia de bolo guardada no geladeira para quem não vai poder comê-la nunca mais. É que eu tenho certas manias... Coço meu nariz com uma solenidade impressionante como um profeta que declara que o fim do mundo está próximo. É que eu tenho certas manias... Ser o ladrão na peça da escola tentando roubar dela pelo menos um minuto de atenção. É que eu tenho certas manias... Junto todos os fragmentos do que me aconteceu para contar uma história sem pé e nem cabeça. É que eu tenho certas manias... Acabo escrevendo centenas de cartas no ar que tenho certeza que ela não irá ler e com a maior teimosia do mundo. É que eu tenho certas manias...


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Ele, mesmo gaguejando como era habitual, cantou um tango no bar quase vazio de um fim de noite triste e fria. Ela, com seu rosto feio, olhou para o fim da dose em seu copo relutante e tentou ter forças para poder levantar e dançar. O quase garçom pegou solícito o pano sujo e molhado e secou a mesa que não seria mais molhada até o dia seguinte. O poeta esquecido na outra mesa tentava em vão escrever alguns versos banais num papel que achou jogado no chão quase agora. De quando será o cartaz da moça falsamente sorridente que tenta vender a cerveja mais barata? Uma noite eterna, isso sim, mesmo que o sol teime em surgir amanhã mostrando todas as nossas feridas expostas à moscas que cumprem seu papel...


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Sensacional esse penúltimo cigarro que fumarei ao acaso enquanto rio das barreiras que constroem todos os dias e acabam caindo por si mesmas. Maravilhosa essa noção sem noção de todos os que se enganam com a falsa verdade que o motoqueiro trouxe no delivery de quase agora. Estupenda essa tontura de alguma altura que os altos prédios noz fazem sentir pensando que essa nossa cidade tem alguma coisa de feliz. A moedinha foi direta para chão e saiu procurando o próximo bueiro para lá descansar. Sepulcral esse silêncio que os transeuntes fazem olhando para o velho semáforo que ainda vai se abrir. Estupendo o estampado do vestido da moça de curvas tentadoras que se apressa para chegar em seu escritório. Pensativo o senhor de meia-idade sobre quantos dias faltam para que o diagnóstico de seu oncologista seja certeiro, O inexistente agora tem novos atributos que mesmo os reis mortos queriam ter e nunca acabaram tendo. O menino quase sujo ficou dono de toda a felicidade do mundo porque achou um real e comprou tudo de bala...


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Onde está a coragem covarde que subverte os homens? Heróis de nós mesmos sobrevivemos entre o conforto e o nada fazer. Cansamos de pensar para depois cansarmos de respirar. Nossa imortalidade é apenas um fardo, um peso em que procuramos as nuvens que nem existem. Onde estamos? Na cena do crime que não foi notada, lendo o manual de instrução de nossa mediocridade que terá sua execução feita com sucesso. Humanos, palavra torpe essa. filhos de um Deus que esconde seu rosto de vergonha em falsas palavras. Onde está a coragem covarde que subverte os homens? Talvez no gozo que acabou de acabar...


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Eu sou o rei de nada, o poeta do nada, minha vida? Alguns sabem, outros não. Alguns, minhas vítimas e outros, meus algozes. Caça constante pelos dias, isso sim. Cada dia, um amigo e um inimigo. Apague o poeta, mas não apague suas palavras. As rugas aparecem, mas as cicatrizes permanecem. Toda resposta é válida, sobretudo o silêncio. Um clipe antiga lembra muitas coisas, sobretudo as nunca vividas. Abra a janela aí, os sóis das madrugadas precisam entrar...


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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Dia de Tudo...

Dia de tudo,

Véspera de nada...

A apática plateia

Ficou emocionada!


Diante nossos olhos surgiu o que não existe

Mostraram toda alegria de quem está triste

A bomba explodiu para nosso total deleite

A pele e a roupa - qual deles é nosso enfeite?


Dia de tudo,

Véspera de nada...

Quem está agora

Dormindo na calçada?


A mentira foi contada e recontada tantas vezes

Nossos pesadelos agora são chamados meses

O amor é nada mais um capítulo de novela

Esquecemos de colocar tinta nesta aquarela


Dia de tudo, 

Véspera de nada...

Toda carta

Já vem marcada...


O jogador jogou pra fora na hora do gol

Toda tolice agora já faz parte do show

Quem é o errado do errado do errado?

Não podemos sequer escolher qual lado


Dia de tudo,

Véspera de nada...

A própria pedra

Ficou emocionada...


Está mais que provada a nossa teoria

De que a felicidade pode vir qualquer dia

Só não temos nem data e horário exato

Viver e viver é apenas o nosso grande fato


Dia de tudo,

Véspera de nada...

O meu silêncio

Deu uma risada!...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 251

Pular a cerca. Atravessar o cerco. Tentar estar em mais de um local ao mesmo tempo. Meu corpo aqui e minha alma lá. Nas nuvens, em algum lugar que não existe mais. Velhas paredes caídas. Velas que depois de acesas foram consumidas. Sem adiantar choro algum. Perguntas óbvias de um idiota. Nada mais a declarar. Tudo envelheceu com num pesadelo com efeito especial. Especialidade da casa. Alguns enigmas impossíveis. Por trás do filme, uma realidade. Por trás da novela, um drama possível...

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Galope de todas as letras. Toda forma de horror. O poeta é um idiota. Sua grana nada vale. Tudo morre. Até carpas longevas. Ao seu modo o ouro acaba enferrujando. Impossível? Nada é. Principalmente o que nos parece ilógico. Ali está a sombra do que fizemos. Farelo de pão. Resto e resto. Todo segundo passo é o que vai acabando. Todo olhar é cego. Palavra gaguejada antes do discurso. O mel acabou comendo o urso. Que seja bem explicado aquilo que não possui explicação. Pelo menos agora. Caso queira, dentro do armário está. E sob o tapete alguma sujeira inconfessável. Todo velho foi um dia. Vamos fazer da desesperança um sorvete?

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Eu estava calado - juro. Nunca estive tão calado como naquele dia. O meu paciente tem alguma chance de sobrevida. Ainda falarei alguma frase de fatal efeito - esta é minha meta. Espalharei a poeira do chão com meus pobres pés. Virarei as costas e sairei andando. Bobos. Perderam o doce que caiu do bolso. A moeda rolou na calçada e outrem achou. A fila nunca andou, permaneceu aonde estava. Eu ainda sinto um pouco, mas um pouco só. Pretendo me esconder em cavernas sombrias. Toda maldição tem um pouco de solene inocência. A farda do general está rasgada. Nem os ossos são brancos se não forem limpos...

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Todo fato atravessa o tempo. É uma flecha que parou depois de seu alvo atingido. Os átomos? Esses continuam em sua dança. Pelo tempo que não passou. Nossos olhos é que são cegos. Nossa mente acaba confusa. O pianista continua tocando. A bailarina continuará sua dança sem exaustão alguma. O gosto doce ainda ri do amargo que acabou chegando. Eu, você, nós, não temos mais noção alguma. Somos pássaros e não percebemos isso. Tudo é um tango. E um mambo também. Não esqueçamos do samba que estava no ar. Não é necessário carnaval, estrelas bastam. Um pouco de ar para cada um, eis a meta.

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Exclamo até não poder mais. É isso! As reticências guardo para momentos estratégicos... As interrogações para outras. Será? Ontem eu xingava o que louvo agora. É tão comum sermos apenas uns idiotas... O perdão é algo que aprendemos só para nós mesmos. Atrás de um erro, virão muitos outros. Mais uma dose e só. A ressaca é nosso arrependimento no dia seguinte. O bem comportado é que quebrou a louça. Eu vi mais um pouco. Por isso estou aqui sangrando. A letra da música pouco importa. Todo misticismo acaba sendo prático. Todo absurdo quase inatingível. A piedade está em falta no mercado. Os balões já estão caindo. Exclamo até não poder mais. É isso! As reticências guardo para momentos estratégicos... As interrogações para outras. Será?

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Desceu a ladeira e não subiu mais. A nova moda é conseguir os cobres em troca da paz. Não sabemos onde estamos? Ah, agora tanto faz. Alguns minutos ou alguns segundos, tanto faz. A cor vigente é o tom lilás. Estamos bebendo nosso aguarrás. Já diziam o profeta que enfartou, um tempo atrás. Eram tempos idos, tempos abissais. Em que eu fugia do capataz. Rimas bonitas, rimas feias, agora tanto faz...

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Ela subiu o morro com seu novo penteado fruto de um dia inteiro. Muitas vezes subiu, muitas vezes desceu, menos uma... Ele subiu também, desceu igualmente, menos uma. Onde estarão os dois? Onde estarão mais alguns? A minha curiosidade acaba estrangulando meu coração com suas perguntas, perguntas inocentes e malvadas. Estarei também morto e nem noção tenho disso?

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sábado, 24 de fevereiro de 2024

A Poesia É Um Pão Velho

A poesia é um pão velho

O único que tenho para comer....

No meio de tanta maldade

Vivo e sobrevivo como bilhões

Sem saber qual minha hora final...


A poesia é um pão de ontem

O único que sobrou para hoje...

O hoje pode ser o ontem piorado

Pois o tempo está conosco

E essa visita malvada nunca acaba...


A poesia é um pão quase mofado

Talvez tivesse que agradecer ou não...

Alguma surpresa pode acontecer

Mas nem sempre todas as novidades

Podem ser boas para se engolir...


A poesia é um pão esquecido

Mais que um pão é o único grito...

Não me interessam os que teimam

Só pode falar de coisas mais alegres

Os que as possuem entre seus dedos...


A poesia é um pão velho

Deixe-me então comê-lo em paz...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

 

Chorando Alto

O morto no asfalto

E alguém chorando alto...


Vamos juntar nossas tristezas

Como única vela e apaga-la?


O fim vindo de assalto

E alguém chorando alto...


Vamos levar nossas dúvidas

Para um crematório desses aí?


Mais uma trama no Planalto

E alguém chorando alto...


Vamos mostrar nosso prato vazio

E nosso peito mais vazio ainda?


A imaginação com sobressalto

E alguém chorando alto...


Vamos peregrinar para o abismo

E lá dar belos saltos ornamentais?


Foi grande o acidente do auto

E alguém chorando alto...


Vamos dar um passeio pela necrópole

Para ler epitáfios mais sentimentais?


Toda vez que amo me exalto

E alguém chorando alto...


Vamos fugir desse  manicômio

E dançar pelas praças tão vazias?


Estou morto no asfalto

E ninguém está chorando alto...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Poesia Gráfica LXXXIII

A B E L H A C E N T E L H A P A R E L H A T E L H A G A D E L H A O R E L H A O V E L H A P E N T E L H A A B E L H A


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O B E D E Ç A

N Ã O C R E S Ç A

P A R E Ç A

N Ã O P E N S A

C O M P E N S A

R E C O M P E N S A

S Ó D E S Ç A

E S Q U E Ç A

O B E D E Ç A


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R Ã D A N Ç A B A L É

S A P O D A N Ç A T A N G O

P E R E R E R E C A V A I D E F U N K

M A C A C O V A I D E V A L S A

P I R I L A M P O B E B E P I N G A

B E S O U R O C H O R A M Á G O A

C A M E L O P A S S A R O U P A

C A V A L O V E N D E M U A M B A

E L E F A N T E F A Z O R I G A M I

H U M A N O V A I F A Z E N D O M E R D A


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O B R A D E G R A N D E P O R T E 

S O B R A D E G R A N D E S O R T E

C O B R A D E G R A N D E M O R T E


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P u b l i c a d o n o j o r n a l :

M o r r e u e p a s s a m a l . . .

M o s t r a d o n a t e l e v i s ã o :

S e n t e f o m e e n ã o t e m p ã o . . .

E s c r i t o n a g a z e t a :

É l e n t o q u e n e m c o m e t a . . .


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OLOBOQUECOMEOLOBOQUECOMEOLOBO

AOVELHAQUEMATAAOVELHAQUEMATAAOVELHA

OHOMEMQUETRAIOHOMEMQUETRAIOHOMEM


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Ciência da Pressa

 

Diz a lenda

Mostra a venda

Queima a senda


É ilusão pensar que algo sai do lugar

É invenção achar que se pode sonhar

É presunção achar que amar pode nos livrar


Faz o fato

Quase exato

Gato e rato


Na verdade a fama sempre nos engole

Nesta cidade não há nada que nos console

Nesta crueldade a vitória nos escapole


É uma explosão

É uma involução

É uma depressão


Nos miramos no espelho e vemos estranhos

Nos pecados existem de vários tamanhos

Nossas perdas são os nossos pobres ganhos


Temos alguma pressa

O mais não interessa

A sentença está impressa...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Pílula

 

Estado de alívio quase imediato

Ascensão da queda da maldade

Ave, César! Ave, César!

Vida e morte igualmente parecidas...

Urnas luxuosas e esteiras de taboa 

Cumprem o mesmo rotineiro papel...


Febre de delírio que nos cerca

Epidemia de apatia mundial

Ave, César! Ave, César!

Ovelhas e lobos para o mesmo abate...

O corpo e a alma tão unidos

Em suas necessidades mais urgentes...


Zona de conforto que embosca

Sentados até o final dos tempos

Ave, César! Ave, César!

Tubarões e sardinhas na mesma água...

O sonho e o pesadelo chegaram

Para cumprirem seu mesmo papel...


Mentira piedosa que nos preserva

Agora temos todos os motivos para rir

Ave, César! Ave, César!

Moços e velhos na mesma fila do SUS...

O espelho e a máscara proclamam

A mesma sentença para execução...


Contém apenas uma grama e basta

Toda novidade jogada num canto

Ave, César! Ave, César!

O loucos e os sãos para o mesmo destino...

As sobras e o prato principal esfriam

Porque o tempo não aceita desculpas...


Estado de declívio mais imediato

Ascensão da queda da obviedade

Ave, César! Ave, César!

Vamos sobreviver e te saudamos...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Pela Primeira Vez


 Pela primeira vez foi a última

Tentou o babaca do poeta não morrer

Não morrer afogados nas lágrimas

Não ser debochado das queixas

Não tentar se esconder de si mesmo...


Pela primeira vez foi a única

Só existia uma bala para a sua roleta

Tentar voar com a asa quebrada

Escorregar na ponta da calçada

Pisar em falso no degrau da escada...


Pela primeira vez foi fatídica

Perguntar o que não se pergunta

Descobrir a iminência da queda

Quebrar o silêncio quando se medita

Entrar na contramão faltando freio...


Pela primeira vez foi enfática

A negativa que o amor me deu

O atraso que acabou com a chance

O medo que acabou com a festa

O destino que veio como uma febre...


Pela primeira vez foi a última

Tentar fazer do meu enterro um carnaval...

Verita Cachaça

 

Não existe Pásargada

Se não ir, não posso voltar

A verdade falha, mas não tarda,

Tudo sufoca, até o ar...


Tudo é jogo, é jogo,

Para apagar uso o fogo...


É o final da novela

Tudo foi bom, tudo foi mal

Eu me escondo, abro a janela

E me entristeço no carnaval...


Casa sem ter tijolos,

A cabeça não tem miolos...


Não existe Shangri-Lá,

Se existe, é na Baixada,

Fica em falta o verbo amar,

Agora é tudo ou nada...


Um soco? Ou um tiro?

Nem sei o que eu prefiro...


É o final do pagode,

Vão todos para suas casas,

É barba, cabelo e bigode,

Quem voa, use suas asas...


E o pandeiro caiu no chão,

A culpa foi sua, seu capitão...


Não existe um Paraíso,

Até mais de um que vá lá,

Feitos de sonhos, feito de riso,

Mas até nos matar...


Tudo é logro, é logro,

Para perder, uso o jogo...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 250

Pegou um pouco de óleo queimado no mecânico do bairro. Espalhou nas roupas velhas que separou para o grande dia. Deixou já guardado um saco que pegou no mercadinho. Aquele chinelo velho não poderia faltar. Vários jornais para colocar no saco. Tudo pronto. Passar parte do óleo no rosto e nos braços e nos pés. Colocar a roupa velha e suja. Saco cheio dos jornais em suas costas. Durante os dias dormiria na rua e comeria o que lhe dessem. Dormiria pela rua nas calçadas da cidade. Beberia muita cachaça e cerveja. Depois somente no próximo ano. O autêntico mendigo do carnaval. Imaginaria que existem outros que esta é a realidade?


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Todos juntos para ficarem sós. O pássaro caiu do alto do ninho. Todos unidos para morrerem sozinhos. A maré secou de repente e nada mais podemos fazer. Rir é uma estratégia, nada mais. A felicidade é um perigo como outro qualquer. Tudo é apenas uma merda questão de detalhes. Depois do tudo, o nada. E do nada acontece novamente. A ternura é tão necessária quanto respirar, só que dói menos, mesmo que doa também...


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Choro sem choro é o que agora temos. Valeu a pena não ter valido nada. Oremos pela volta do efêmero. Peçamos que os dias não se suicidem como antes. Que os passarinhos não caiam do galho. E que o tombo fatal das folhas seja menos rude. Choro sem choro é o que agora temos. Toneladas! Transformações milagrosas e patéticas. Mórbidas e estéticas. Nossos relógios enlouqueceram. A sitcom entrou em recesso. E os carrascos voltaram de férias. Choro sem choro é o que agora temos...


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Eu quase virei pião. Eu quase virei redemoinho. Eu quase virei estrela. Eu quase virei passarinho. Eu quase virei herói. Eu quase virei vilão. Eu quase virei verdade. Eu quase virei silêncio. Eu quase virei marca. Eu quase virei sono. Eu quase virei rua deserta. Eu quase virei choro sem vela. Eu quase virei possibilidade. Eu quase virei beco escuro. Eu quase virei prato vazio. Eu quase virei resposta sem pergunta. Eu quase virei oração sem fé. Eu quase virei um inseto na parede. Eu quase virei eu mesmo...


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Águas boas, águas más. Tudo aquilo quer podemos e não. Onde estarão nossos brinquedos? Muitos espelhos foram quebrados. E certas ilusões afastadas para longe. Não sabemos de forma exata o que existe e o que não. Derrotas e vitórias são tatuagens mais ou menos escondidas. Nossa pele tem boca. E nossa alma possui vários olhos. Nunca mais somos o que há um segundo. Escutamos nossos próprios passos. E não mais...


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Dentro de dentro de dentro

Exageros calculados

Para uma liberdade urgente

Mais de um par de asas

E muitos abismos fáceis

Que meu barco possa enfim

Evitar certas sereias...


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Na medida do possível

Engoli todos os amargos

Fui para todas as festas

Mesmo as sem convite

Contei as ondas do mar

Com incrível calma

Como condenado

Fumei mais um cigarro

Evitei de perguntar

Sobre ausentes amores

Na medida do possível...


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Esfero Gráfica

Manhãs megatônicas de puro tédio

Afinações fora da nota

Cadê os gatos do meu quintal?

Balões descem todos do ar em bando

O meio é quase um final

Os ventiladores estariam tontos?

Minha modernidade é de anteontem

Beijos e marcas d'água 

O zepelim estará navegando?

Eu tenho lampejos de pura sandice

A fome é maior do que eu

Meus mortos estarão todos vivos?

Fatos fantasiados de tolas mentiras

O pinguim saiu da geladeira

Quais fetiches estarão na moda?

Faço esculturas do mais puro ar

Todos faróis apagaram

Estou vendo fantasmas agora?

Noites catatônicas de algum assédio

Amofinações fora de rota

Cadê os ratos do meu quintal?...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Vidraria

Pedaços de estrelas

Sob um chão tristonho

(De cores? Sim! De cores...)

Como fosse areia

De qualquer praia aí...

E tantas belezas

Acabam sendo vulgares...

Frutas maduras no pé

Perigo iminente sempre

(Passarinhos? Sim! Eles...)

Tudo com seu lado bom

E um outro quase não...

Todos nós enjoamos

Após qualquer saciedade...

Poeira repetida sempre

Apesar de nossa teimosia

(Estou irritado? Sim! Ou não...)

Pedras são poeiras crescidas

E nós somos tão pequenos...

Todo abandono está só

E todo choro é silencioso...

Paredes ficam bêbadas

E logo irão para a queda

(Tomemos cuidado! Sempre? Se...)

O tamanho faz a queda

E prendemos a liberdade...

Temos vários cacos de vidro

Vamos deitar sobre eles...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Nem No Primeiro Dia Eu Fui

Nem no primeiro dia eu fui,

que dirá no último, não irei...

Deixo aos mais loucos do que eu,

os que possuem mais pernas,

os que ainda sobraram asas,

mas a mente acaba fugindo...

Em minha jaula permaneço,

como são as próprias feras...

Minha marchinha não tem letras,

os meus versos são impróprios,

poderia ser expulsa do baile

ou execrada das redes sociais...

Não colocarei nem a cara

na minha triste calçada de casa...

Nunca duvidei da alegria,

mas da felicidade não tenho certeza

que ela possa um dia existir

para mim ou para qualquer outro...

Nem no primeiro dia eu fui,

que dirá no último, não irei...

sábado, 10 de fevereiro de 2024

De Livros e Peixes

Nu na frente do espelho!

Que coisa mais ridícula...

Sem um real na conta bancária!

Parece uma tragédia grega...


Dançarinas de cancã mostrando coxas

cheias de veias qual mapas escolares

Cada som será algo mais que eterno

enquanto existirem espaços para ecoar...


Estou com tanta fome!

Como muitas e muitas pessoas...

Onde é que eu vou parar?

No mesmo lugar onde todos irão...


Peixes se afogando em muitas águas

como pássaros tendo vertigens do alto

O suicida ficou com medo da morte

e foi para casa assistir a sua novela...


Estou com muito medo!

Todos também assim estão...

Por que os carnavais passam?

É assim com quase tudo...


O camelô apregoa sua mercadoria

antes que o mundo se acabe de vez

A rua é sua cúmplice e amante

até chegar a noite e não conhecer...


Hoje começa o carnaval!

E será o último para muitos...

A poeira acumulou nos livros!

Até que as traças os comam...


(Extraído da obra "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida),

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 249

Não era assim, era de outra maneira. Era como um céu que só vemos sob ele com nuvens, pássaros, sol, além de alegres pipas e algumas outras coisas que agora fogem da minha pobre memória. Eram meus olhos que doíam de tanta imobilidade. Não era assim, era de outra maneira. Era meu medo em tristes desenhos que se espalham como papéis velhos que se espalham pelas ruas sem ninguém saber de onde partiram. Como folhas agora mortas no suicídio de todas as normalidades de fatídicos ciclos. Não era assim. Apenas um simples susto como tantos outros por aí...


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Acendo um cigarro no final do outro como quem não vence seu desespero. Gostaria que esse ventilador empoeirado fosse um carrossel. Tento me lembrar de quem são os rostos que nunca mais vi. Estou vivo! Mesmo que na memória de muitos, nem existi... Pego um copo de água na geladeira. Daria para filosofar? A porta fecha, a luz se apaga... Assim somos nós quando paramos de sorrir...


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Monstro impávido e colossal. Causa primeira de tragédias quase anunciadas. Acaba-se o dia e nem ao menos percebemos. As notícias ficam se mostrando até para quem fecha seus olhos num misto de sono e desprezo. Esperanças jogadas fora. Alvo atingido bem na mosca. Vidro caído no chão com seu impacto fatal. Só sabemos que nada mais sabemos. Toda nudez será recompensada. Sorrisos em inúmeras fotos com pura encenação. Onde estaremos no próximo instante?...


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Não há no meu canto novidade nenhuma, as palavras envelhecem junto comigo. O corpo acompanha a alma, os dias acompanham a tristeza em seus longos passeios que só sabem cansar, mais nada... A noite se aproxima, a vida é um dia que vai anoitecendo com novidades que não queremos, mas que chegam. Eu, por exemplo, gostaria que tivesse carnaval o ano todo, se eles vêm e vão, o desespero de perdê-los é ainda maior...


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Eles continuam em frente aos espelhos, isso não resolve nada, pelo contrário, aumenta aquilo que não queriam. Olhar no espelho é perigoso, existem perigos que conhecemos e teimamos, outros que nem fazemos ideia. Os espelhos ficam manchados com o passar do tempo, é imposição do tempo que corre, mas este tempo, malvado que é nos marca ainda mais. Não sei se os espelhos podem ser recuperados, mas nós nunca...


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A pedrinha que joguei no poço, desceu e foi até o fundo e lá repousará por prazo indeterminado. O passarinho que conseguiu fugir da gaiola, subiu aos céus, isso acontecerá até que, ser vivo que é, a morte o chame por alguma causa qualquer. Só amor, traído ou transformado em desamor, esse nunca retornará ao que um dia foi...


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Não precisam bater palmas. Se meu show não lhe agradou, passem no caixa, peguem seu dinheiro de volta e retornem para a mediocridade (in)segura de suas casas. Eu não sou do seu tempo, mesmo estando nele, não faço questão alguma disso. Meu tempo é outro, bem outro. Do tempo em que a inocência existia e reinava, do tempo que a ternura doía, mas ainda era bem vinda...


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A vulgaridade dá as cartas. E nesse jogo sempre perdemos. Nossos momentos mais felizes foram simples engano. Tudo que acaba, acaba nos entristecendo e nem damos conta disso. Clowns sem circo e sem picadeiros, sob intermináveis chuvas e contínuos sóis. Nada existe de novo, a velhice se repete em clichês. Todo infortúnio é repetitivo e insistente. Nem ao menos sabemos onde estamos...


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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Insolitez Imediata

Pra é

serpenteava sempre

todos os gostos

sobretudo os ruins

cadeira com duas mesas

algum mato e bananeiras

mosquitos disfarçados

de cerejas com avelãs

o primeiro será o primo

cena sexy na novena

e o casal sádico e terno

carrapatos solteiros

e a visão de um metro

ciência de chicotadas

e grandes maçãs do rosto

toda tentativa sai pulando

e as novidades nunca vêm

radiantes sete palmos

entrelinhas entre linhas

o monstro da lagoa voa

eu junto meus cacos

para um dia poder colar

mas nunca serão

os mesmos que eram antes

cada momento com seu AVC

palmas que ele não merece

tranquilamente como um doce

e o meu diabetes colabora sempre

há vários perfis perfilados

doces escondidos para sobremesa

a sinceridade me xinga muito

tenho dúvidas sobre a minha

tomo energético como chá

carnavais em muitos goles

Pra é...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...