Perdido como hão de ser os pássaros na noite, eternos incógnitas... Quem sou eu? Eu sou aquele que te espreita em cada passo, em cada esquina, em cada lance, com olhos cheios de aflição... Não que eu não ria, rio e muito dos homens e suas fraquezas, suas desilusões contadas uma à uma... Leia-me e se conforma, sou a poesia...
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Alguns Poemetos Sem Nome Número 97
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
Um Poema Quase Silencioso
As aves no céu, um coração mudo,
As mãos de espinho, os pés de veludo...
As lágrimas escorrendo pelas faces,
A corrida desesperada pela escuridão,
Não adiantaram esses meus disfarces,
Já alcançou-me a solidão...
Quase silêncio, zumbido de inseto,
A carne exposta, meu amor mais secreto,
O próprio destino é o meu desafeto...
O brinquedo novo já foi quebrado,
O tiro quase que acertou no alvo,
Não houve crime, mas eu fui culpado,
O salvo-conduto não me deixa salvo...
Quase silêncio, velando o morto,
O barco nunca chegará ao porto,
O meu azul acabou torto...
O meu riso agora é desnecessário,
Estou rindo sem ter algum porquê,
Não há nada de novo no diário,
Nem segredos para esconder...
Quase silêncio, quase mudo,
Todo espinho fere, é agudo,
Deixem-me calado, acabou tudo...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
Quase Concreto
Quase concreto
Abstrato só
Quase objeto
Minha mente um nó
A menina se vendendo por cocaína
A miséria morando na próxima
esquina
Quase abjeto
Tenha pena e dó
Quase secreto
Sou apenas só
O garoto vendendo bala no
sinal
O louco fora de época pulando
carnaval...
Quase indiscreto
Como todo mundo é
Guardei o afeto
Destruí minha fé
O velho abandonado na calçada
A cidade grande não tem pena
de nada...
Quase quieto
Morto sempre em pé
Curvo quase reto
Esperei muito até
(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Um Poema Sem Maldade
Arma na mão
e um mundo mais perigoso lá fora
feito de maiúsculas incontáveis
A velha contradição
acabou de lubrificar
todas as suas velhas engrenagens
Milhares são
de meninos perdidos em seus
efêmeros pontos de vista
Eu choro até quando durmo
e esses soluços que escutam
são doces pesadelos
A morbidez entranha-se
pelas minhas carnes
e acaba me dando sustos
Gostaria de tapar meus ouvidos
e retirar as cores
a vida é agora filme antigo
Decerto a morte
(companheira inseparável da vida)
faz todas as lições de casa
Cenas e cenas e cenas
sua velocidade inatingível
apenas me confunde mais
Eu queria gritar
mas não sei se devo
e minha mudez é quase santidade
Dou um tiro sem munição
e ar é meu aliado
para estranhas canções
Não sei nada mamãe
não sei mais nada
aliás nunca soube
Minha inocência é milenar
e sua poeira é venenosa
como toda mesmo é
Me esqueci desculpem
a minha sentença
no bolso da outra calça
Rosas agora dão medo
e os cravos talvez sim
mas talvez não
Juro minha inocência
até que o tempo
escorra pelas paredes
Estou aflito
como qualquer mortal
ainda mais que não morrerei
Não enfeitei a casa
para que ocorresse a festa
e tudo virou um funeral
Não pude evitar
de que a rudeza
me invadisse feito tsunami
Foi quase nada e nada
do que sobrou do jardim antigo
onde tudo já existiu
Me deixem pelo menos
a memória de tudo
e não apaguem meus arquivos
Proibidas cenas
um café à mais
e o cigarro que quase não acendi
Não temos agora
isso é uma ilusão
só o ontem e o amanhã estão aqui
O destino é uma piada
que o comediante
não queria contar e contou
O palhaço fez piruetas
mas acabou falhando
e caiu pelo chão
A musa espirrou
na hora errada
e nem tinha lenço
Uma vez por semana
me visto de preto
para lembrar-me vivo
Toda filosofia caducou
envergonhada ficou
diante de um prato de comida
Toda reza calou-se
diante da morbidez
de uma fé inútil
Nem mesmo velas acesas
adiantam alguma coisa
perante nossa escuridão
Aniquilo-me totalmente
um dia sim um dia não
de acordo com o freguês
Escondo-me frequentemente
atrás de invisíveis portas
que minha mente constrói
Os gatos são anjos de bigode
que esperam com paciência
nossos frequentes tombos
Não existe mais razão
para consertarmos
os brinquedos quebrados
A casa toda desarrumada
os tênis jogados num canto
a cama de solteiro pra dois
Os desafios do tédio
como uma goteira
que teima em continuar
Não compro mais jornais
não coleciono mais domingos
e apenas posso chorar
Não esqueça o like
deixe ali a bike
terremotos também passam
Tudo estremece agora
muito além das possibilidades
de uma fantasia maliciosa
Nomes comuns
não são tão comuns
dependendo de onde
Quero reinventar
brinquedos antigos
e antigas cirandas também
Rebecas e Manuéis
ainda andam na corda bamba
e se assustam sem susto
O velho rádio ressuscitou
traz notícias impossíveis
não há mais sangue no chão
Eu não sou um novo Cristo
mas não me pendurarei
em qualquer uma árvore
Um cigarro no portão
e as intermináveis celas
compondo a paisagem
Toda cor agora é negra
sob os olhos da miséria
que tudo domina
Arma na mão
e um mundo mais perigoso aqui dentro
letras minúsculas de um contrato sujo...
Alguns Poemetos Sem Nome Número 96
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021
Uma Valeriana
Na casa de mãe Joana, Joana não mora
e sabemos isso quando o tempo passa.
Eu não sei mais nada porque tudo esqueci...
Sem sombra de dúvida - a dúvida
palitará os dentes com meus ossos.
Eu vivo evitando mirar nos espelhos...
Continuam minhas loucuras - todas elas
como um grande bloco que desfila.
Ser insano tem lá as suas vantagens...
Se existe felicidade - eu desconheço
seu gosto é estranho para minha boca.
Eu me entorpeço cada vez mais...
Há muitos rios por aí - morrem todos
e são sepultados no mesmo lugar.
Talvez de fogo me torne água um dia...
A lâmina brilhou no escuro - como pirilampo
e o vazio faz até o medo ir embora.
Toda tempestade traz seus clarões...
Nem sempre beleza e tesão deitam juntos - acontece
assim é feito nosso quadro de absurdos.
Minha reza pode ser uma ofensa ao sagrado...
Eu sinto o aroma do perigo - em muitos cantos
minha selva tem edifícios e muito asfalto.
Não sei se sou o carrasco ou o condenado...
Quero quebrar todas as regras - pisei em ovos
e mesmo assim juro a minha inocência.
O cinismo não precisa de nenhum ensaio...
Eu tenho todos os nomes - e nenhum deles
sou o anonimato mais público que existe.
Uso todos os vernáculos possíveis de vulgaridade...
Quase tudo nem notamos - são formigas no chão
e pisamos na cabeça de todas as oportunidades.
A felicidade muitas vezes o lixeiro levou...
Casa de ferreiro - o espeto é espeto
e sabemos isso quando o tempo passa.
Eu não sei mais nada porque tudo esqueci...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
Pequeno Poema para O Dia 15 de Fevereiro
É assim...
A impossibilidade brinca comigo
como uma criança malvada...
Não sei mais nada
só tenho esses meus versos...
Brindemos...
A vida vazia sem sentido...
A distância do tempo
é como o rio da morte...
A morte que respira
e dança pensando não ser...
Eu ando e a tristeza é
a minha sombra...
A solidão duma rua suja
é a minha pior companhia...
Gostaria de achar minhas asas
e voar para longe de vez...
Não olhar mais tua cara...
Esquecer meu próprio nome...
Mais uma alma morta
entre tantas que andam por aí...
É assim...
Não de outro jeito, meu amor...
domingo, 14 de fevereiro de 2021
Sobre Veneno
Teimo com o impossível
e por mais que capriche
minhas tentativas são vãs...
Nada do que faça
muda o correnteza do destino
e por isso só me lamento...
Não sei mais o que faço
e acabo me perdendo
entre milhares de desconhecidos...
As intenções foram as melhores
mas todos os planos
todos eles acabaram morrendo...
Sinto um gosto diferente
na dose de sonho que tento engolir
e desconheço o que isso é...
Acabo brigando com as nuvens
e talvez me arrependa depois
não foi sua culpa minhas ilusões...
Estou mais frio que o lá fora
e não posso culpar ninguém
que não seja eu mesmo...
Na frente de uma grande tela
construí um santuário
para todas as minhas decepções...
Os meus versos viraram-me as costas
porque a esmaguei a fantasia
com as minhas próprias mãos...
Faça um ritual
para falar com os mortos
através do meu celular...
Hoje está chovendo
e nos outros dias também
mesmo quando parece ter sol...
A minha poesia se esconde
com timidez pelos cantos
e talvez morra junto de mim...
Tenho visto tantos fracassos
que acabam dando certo
e rir disso de nada adianta...
Minha mente faz perguntas
que alma tenta ignorar
por estar tão cansada...
Escondo-me onde consigo
de algum amor fatídico
que possa chegar atrasado...
Só não consigo escapar
da menina de cabelos verdes
de veneno nos lábios...
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Pequena Reticência
Diferenças marcantes que marcam a nossa pele. Profetas itinerantes com desgraças tão familiares. Eu não vi o meu próprio nariz. Enchi minhas mãos do pó do minha própria memória e o joguei ao vento...
E entre rosas poderosas e cravos escravos minha via-crucis acontece por todas as manhãs...
Os rios feitos de gilete feitos na puta. Sonhos inalcançáveis de um lanche na esquina. Eu desconheço agora quem sou. Engoli num só trago a minha sensatez para que não me ferisse mais...
E eu sinto alguns dentes faltarem na minha boca como quem relembra seus mortos...
O pontapé inicial na decisão de um campeonato de futilidades. Mentirosos de plantão ditam para os alunos. O cheiro da droga inunda o ar como mais um lugar-comum...
Já me cansei de clichês que acontecem em todos os filmes exibidos no meio das tardes cheias de tédio...
Tenho um coração tão malvado como qualquer outro. Os tarados pela ilusão masturbam-se discretamente para o mundo. Eu me tornei a fumaça que sai de desconsoladas chaminés...
A bosta é o tesouro dos besouros e o nojo a medida de nossos próprios limites...
Nunca custou tanto nada ser apenas nada como tantos outros. Quantos mosquitos serão necessários para um massacre? Na barra da noite eu fiz feito uma saia...
Uma comédia grotesca e famosa acaba falando de porra nenhuma e rimos...
Agradeço minha miséria todos os dias até isso se tornar um vício. Berrei até ficar afônico com canções que não sabia a letra. O desejo é mais que uma piada de muito mau-gosto...
Ser enganado é um sedativo igual à qualquer outro e acaba fazendo efeito...
A necessidade faz as maiores transformações e estabelece as condições ideais. Temperei minhas impressões em solene arqueologia. Até o final não esperei coisa alguma...
Para todo final há um começo e essa monotonia do inusitado irá aos poucos nos consumindo...
Não foi por minha opção que atravesso todas estas selvas fazendo amizade com todas as feras. Convido pontuais leões para jantar. Todos os opostos são pura aparência...
O mendigo pede todas as sentenças do mundo para que a imortalidade prevaleça...
Toda paixão é uma piada que quase não foi contada e mesmo assim provocou riso. As emoções são paradas de um ônibus que perdeu seu percurso. O sinal de perigo já foi dado há muito tempo...
Acabei de abrir portas e janelas mas o sol teima em não entrar...
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
Mais Uma De Camaleão
movimentos de bote
e já era presa...
Quase raio de sol...
Cores e cores
numa profusão
mais que explosiva...
Não me faça perguntas
eu posso respondê-las...
Eu capturo os momentos
e os paraliso
em minha saudade...
A conta exata
da mira infalível...
Numa guerra
quase não-declarada...
Não sou falso
apenas sobrevivo...
Bonecos de Olinda
e mais algum...
Gerais feições
vivos e mortos...
Escolho palavras
para nada dizer
mas tudo sentir...
Sou eterna repetição
que se transforma
em novidades...
Até meus cigarros
são únicos...
Nada há além de mim
eu engulo tudo
com a voracidade
de um certo desespero...
Espelho sou
e nele reflito até
aquilo que amo ou odeio...
Acenda a luz
o show começou...
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021
Tristeza É Tudo Igual
Trança que nunca vi
Tristeza é tudo igual
Escuridão em que nasci
Debaixo de um temporal
Deixe-me por aqui mesmo
Recordando e chorando...
Fato que não vivi
A esperança é um mal
Não sei porque não parti
Vai que seja no carnaval
Deixe-me por aqui mesmo
Resmungando e delirando...
Quantas vezes caí
Sofrer é tão natural
Não sei porque não desisti
Numa teimosia anormal
Deixe-me por aqui mesmo
Sonhando e desesperando...
O livro fechou e não vi
Tristeza é tudo igual
Escuridão em que cresci
Eu sou esse temporal
Deixe-me por aqui mesmo
Recordando e chorando...
Desespero Em Qualquer Cor
Foi quase ontem mesmo, num sabe? Eu sambava em cima do prego que nem calango quando avoa pela primeira vez e dá de focinho na parede. Aí sim! Doeu? Fedeu... O mármore só é gelado enquanto é, bobagem pouca é besteira.
Amanheci com vontade de miar que nem um sapo dos grandes, mas sapão não! Longe de mim pelo menos um centímetro, que seja. É que às vezes tou de pião pra lá. Adianta nada ser de boa, a moçada acaba estragando o desenho. Não perco mais meu tempo, só se for fazendo nadinha como gosto.
Tomou, papudo? Verso e versico é o que mais tenho, nem que seja só pro forma, bolo e café. Tantas vezes fiz que acabei nem fazendo. Me dá uma peste braba que sai de perto. Nem eu me conheço, até que me apresentam novamente. Aí a conversança não pára até cair os dentes. Sempre acontece quando acontece.
Estalei os dedos na chuva, Deus me perdoe, livre e guarde, sou perigoso até pra mim. Só sonho sonhando. Já viu que absurdo? Além de burro, sou abusado. Nem quero, mas encho a barriga de doer respiro. Misericórdia, My, quase que eu caio em cima e ia bem gostar...
Todo pedaço é um inteiro, só faltou verem isso. Empurrei o cabra de ladeira abaixo e nem viram... É nota de cem, malandro, nota de cem! Faz até festa e macaco sai andando só na birra. De um tanto pra lá, eu sei bem muito. Já dei surra em jacará com violão.
É de monstro pra lá. Quem quiser corte o barbante e diga que eu enlouqueci que o charuto já está aqui. Quero doce e meio, sou muito exigente, isso lá e cá sou mesmo. Chato que nem bola cheia, sou sim.
Troco de canal direto pro padre xingar em latim.
É de merengue pra lá, me dê logo o troco, seu sem graça, senão eu aponto o dedo. Nuvem boa esse, engana até pobre. Rico não, rico só se engana quando respira. Tô precisado de todo ouro do mundo, me dá? Napoleão e seus cem soldados, Napoleão e seus cem soldados, Napoleão e seus sem salgados...
Nem é mais, saiu da reta, curva é. Tragédia grega é lição de casa, até faço de mão pro alto. Jujuba é banquete, não sabe? Então sabe agora, anota aí. Posta de peixe e camarão, pirão sem falta. E morango pro tango, isso sim.
Sou doce que nem jiló, isso sou, muito e até mais. Nem rondó eu faço mais, me bondó, é isso aí. Sem café eu mato mil, sai de perto, eu mato mesmo. Percorro os cinco cantos do mundo pra encontrar uma nova encrenca. Por isso, sou de muita paz.
Não tem bebedeira que me vença, é parquinho toda hora. O vento fora de hora me derruba e a cabeça dói. Linda, linda e mais linda ainda, pena que é pena e nem começa quando acaba. Vou numazinha só e que me dê por rogado.
Não vejo a hora porque o relógio morreu. Tá enterrado no meu pulso. É cigano se não me engano. A Bahia fica quase no Pará, pertim de Olinda. Pra mim é pouco ou demais, sem piscina, eu dispenso a despensa. Tão humilde quanto o rei.
A festa acabou antes de começar, assim são todas elas. Jerico meia mula sumiu na poeira e sem explicações. Eu mesmo sinto saudades da saudade que acabou se esquecendo de mim. Não quero falar bonito, a maioria nem isso consegue. De repente, acabou o sorriso, é a mesma oração que não faz milagre...
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021
Alguns Poemetos Sem Nome Número 95
Cicatrizes enganam...
Carregam consigo a memória de choros
que nem mesmo o tempo destrói
ainda que ele seja o responsável...
Saudade mata...
Mesmo que a morte não apareça
e assim continuemos andando
achando que estamos vivos...
Os sonhos gargalham...
São fantasmas que atormentam
e gargalham em nossos ouvidos
até que cheguemos na loucura...
Cicatrizes enganam...
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Eu sou o paciente
que a sobreviva maltratou
antes acabasse quase tudo
Parem o canto dos passarinhos
congelem o dia por inteiro
eu quero um silêncio absoluto
Se é que ele pode existir...
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Façam de conta que é ontem
que o dia nem mesmo nasceu
Façam de conta que é festa
mesmo que o silêncio nos engula
Façam de conta que o esquecido
foi apenas um erro de percurso
Façam de conta que é amor
o desejo que nasceu quase agora
Façam de conta que eu escrevi
um poema e esqueci onde foi...
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Eu escolhi morrer quase agora
sem sintoma algum
sem mal algum
porque você nem veio
por isso não partiu
Eu escolhi morrer quase ontem
sem medo algum
sem tristeza alguma
isso dói bem menos
que qualquer impossibilidade...
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Eu não sou nada
e por isso mesmo
acabo sendo alguma coisa...
Eu não vivi alegrias
e por isso mesmo
sei o valor que elas têm...
Eu não sonhei
e por isso mesmo
uma vertigem me acerta...
Eu não pulei do abismo
e por isso mesmo
sei calcular as distâncias...
Eu não fui amado
e por isso mesmo
conheço de perto o desamor...
Eu não sou nada
e por isso mesmo
acabo sendo alguma coisa...
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Os domingos morrem
as segundas festejam
É tudo uma caçada
mesmo que invisível
Os domingos agonizaram
as segundas riram
Há crueldade em tudo
como a forma mais natural
Os domingos desconheciam
as segundas e seus ardis
O tempo é uma sucessão
de inúmeros abismos
Os domingos vieram
as segundas fizeram tocaia
Só se esquecem
que as terças também virão...
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A chuva caiu!
Bem feito pra ela!
As nuvens bonitas
viraram água...
Andarão por terras
ou ficarão paradas
mas nada falarão...
Antes conversavam
sobre o que viam
aqui em baixo...
Brincavam juntas
de fazer desenho...
Agora são apenas
um choro apenas
de vida ou morte...
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Nada mata mais que a vida
nada mais deixa insone que o sonho
O caminho tem todas as cores
mas a que queremos faltou
A pressa é apenas mais um medo
o medo do relógio que dispara
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domingo, 7 de fevereiro de 2021
Intransponível Barreira de Tristeza
Ando levando comigo esse fardo pesado de mim mesmo como uma besta de carga - e é o que sou... Fico desejando alegrias que poderão nunca vir - e decerto não virão... Tento rotas de fuga da maldade que manda nos homens - mas também sou humano...
Intransponível barreira de tristeza que os sonhos ajudaram a construir...
Canto canções que foram esquecidas há muito e perderam o sentido - mas ainda assim canto... Erro as datas e acabo pensando que todos os dias são carnaval - mas talvez sejam... Fico olhando os edifícios (bestas de concreto) que construíram e não entendo - acho que ninguém...
Intransponível barreira de tristeza que a vida sempre nos oferece e não podemos recusar...
Tento entender filosofias baratas de um otimismo exagerado - mas a prática é outra... Em vão desejo arrancar o tumor da ternura e toda tentativa é inútil - ela há de me matar... Corro desesperado do amor que me aniquila - mas essa fera é mais ligeira do que eu...
Intransponível barreira de tristeza que me trouxe de presente a solidão...
Levanto o dedo quando chamam por um idiota - sou o maior deles... Tento me desviar dum tapa na cara - a verdade me agride... O destino me deu tantas negativas - como um indigente...
Intransponível barreira de tristeza que comeu minhas carnes e agora rói-me os ossos...
Não consigo conter as minhas taras - elas são simples demais... Os meus bolsos andam sempre vazios - muito mais a minh'alma... Acordo pelas manhãs tentando me livrar dos pesadelos - mas o dia será mais um deles...
Intransponível barreira de tristeza onde a misericórdia já foi embora faz muito tempo...
A chuva que cai agora de mais nada adianta - morreu o jardim... Eu olho em todas as direções - todos já partiram... Até respirar se torna um fardo - um dos mais pesados...
Intransponível barreira de tristeza feita de um óbvio que me foi uma grande surpresa...
Aquela que eu amava se tornou mais um espectro - agora é apenas isso... O veneno que corre em suas veias - é o que me mata mais... A paz é um muro alto que não consigo subir - sei que me machucarei demais...
Intransponível barreira de tristeza que cada segundo aumenta de tamanho até que me sufoque de vez...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021
Ferido
Andar por ruas que não quero
Ter o resultado que não espero
Um sonho abortado na maternidade
Perder o amor para a eternidade
Procurar pelo que não tem sentido...
Ferido! Ferido! Ferido!...
Ir por sob a chuva que não posso
Encher-me de ternura até dar um troço
O meu carro vai indo pela contramão
Eu sinto tanto e não tenho coração
Eu sou o anjo que foi corrompido...
Ferido! Ferido! Ferido!...
Não deixo meus passos pela areia
Me transformo em fera na lua cheia
Perdi a minha fé e continuo à rezar
Dar um passeio sobre as ondas do mar
Não sou o vencedor, apenas o vencido...
Ferido! Ferido! Ferido!...
Cortei minhas carnes, mas não sangro
Dispensei a valsa, agora quero um tango
Quero a embriaguez de quem nada tem
Acabo confundindo o mal com o bem
A vida é uma selva, eu estou perdido...
Ferido! Ferido! Ferido!...
Grito enquanto muitos ficam calados
Eis mais um privilégio dos desesperados
Gritar até não poder mais e ficar rouco
Entre ali na fila, é apenas mais um louco
Não é só de prazer que se tem o gemido...
Ferido! Ferido! Ferido!...
Vou parando estes tristes versos por aqui
Não sei mais em que floresta eu me perdi
Igualmente tristes me são a morte e a vida
Eu tenho a dor, mas não dói mais a ferida
Talvez seja mais uma dádiva ser esquecido...
Ferido! Ferido! Ferido!...
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
Alguns Poemetos Sem Nome Número 94
Se me perguntarem
porque ando,
eu não sei...
Se me perguntarem
porque insisto,
também não...
Os pés já estão feridos
com feridas absolutas,
dessas que não fecham...
O suor escorre da testa,
entra nos olhos
e queima junto às lágrimas...
Se me perguntarem
porque ando,
eu não sei,
pode ser por
simples força do impulso...
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O medo da morte ficou lá atrás,
numa curva qualquer
velando o cadáver dalgum sonho...
A tristeza de ficar velho foi embora,
junto com a vaidade
que já pediu as contas há muito tempo...
O desengano de não ter amor,
não consegue me ferir mais
me viciei com certos espinhos...
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O tiro se desviou e não foi por sorte,
foi apenas maldade do tempo
que quis me castigar mais e mais...
A doença queria me aniquilar de vez,
mas o destino chegou e disse:
- Agora não! Deixa sofrer ainda!
A minha memória tentou me aliviar,
fazendo que eu esquecesse velhas histórias
e agora me pergunto: Quem sou eu?...
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Um tic-tac diferente enche o ar
sufocante ser que nos sufoca
Eu engulo pedras
como qualquer condenado
E me satisfaço agora
com menos nada do que antes
Certeiras miras nos espaços
como noites que nem vi passar
Onde estão os pirilampos?
Esconderam-se em estrela qualquer
Lantejoulas não brilham mais
no vermelho da minha fantasia
Um tic-tac diferente enche o ar
é um marca-passo acabando a bateria...
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A carne não é culpada pela tristeza
os espinhos simplesmente estavam lá
A incerteza é nossa única certeza
e nós podemos apenas chorar...
Os versos é tudo aquilo que nos resta
o vento leva as folhas pra lá e pra cá
Toda vida acaba num final de festa
e nós podemos apenas chorar...
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Eu vejo a vida como uma serpente
que rasteja na areia quente
esperando um pé para picar...
Eu vejo a ilusão como um veneno
aguardando num frasco pequeno
a hora de nos matar...
Eu vejo o amor como uma fera
que na tocaia no espera
vai nos engolir sem mastigar...
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Espirais de fumo
sobem tranquilas
até chegarem ao céu
eu não quero mais nada
espero em silêncio
porque o grito morreu
antes de sair da boca
Bando de nuvens
passeiam até cansarem
e se jogarem
em abismos líquidos
alguns dias sim
alguns dias não
tristes ou alegres...
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Minha única certeza
é a incerteza
Meu amor
recebe ódio de volta
Essa é a vida
é tudo que temos
Meu choro
é riso de alguns
Bondade?
Isso não é coisa nossa...
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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322
O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...
-
O caminho que vai dar no mar. Consequências de tudo o que pode acontecer. E lá estão barcos e velas incontáveis. E amores em cada porto ...
-
Não sabemos onde vamos parar Mas qualquer lugar é lugar Quantos pingos nos is temos que colocar Quantos amores temos que amar Quantos ...
-
Um sorriso no escuro Um riso na escuridão Um passado sem futuro Um presente em vão... Mesmo assim insistindo Como quem em a...