sábado, 7 de novembro de 2020

Triste Poema Em Muitas Reticências

 


Não há maré...

As coisas vão indo... e vindo...

Para que a grande previsão aconteça...

Ou ela falhe... desse jeito...

Não há porto...

Todo lugar é meu... é nosso...

E ao mesmo tempo nada é...

Somos a eternidade de bolso vazio...

Não há vida... e nem morte...

Depende apenas de quem olha...

Mas todos olhares são cegos...

E os outros sentidos repousam...

Os sonhos... esses sim...

São armas perigosas... muito perigosas...

Apontadas para inocentes alvos...

Sejam eles certos... ou errados...

Minhas pálpebras pesam... pesam...

Mas as madrugadas fogem... apavoradas...

Pelo rugir das manhãs...

E pela grande maldade dos dias...

Tudo gira... é só tontura...

Gira o tempo engolindo tudo...

Giram os carnavais mal acabados...

Onde só há cansaço... lixo... fantasias rasgadas...

Tudo se transforma... mas permanece...

Um menino desenha no chão... é o sol...

Mas também o Sansara... 

Tudo segue as regras... mas quebrá-las...

É uma regra como outra qualquer...

Giram as estrelas... os grãos de poeira...

E sobretudo minha mente etilizada...

Mesmo sem uma gota sequer...

Gostaria ás vezes de dar um grito...

Congelar todas as cenas...

Para que tudo que amo ficasse...

Eu sou o louco... eu sou o tolo...

Covarde fugindo de mim mesmo...

Eu sou cada verso malfeito... mas sentido...

O aborto que falhou... antes fosse...

Eu sou o mocinho... sou o vilão...

O que gostaria... dormir ao teu lado...

Enquanto a insônia me ajudasse...

A ficar te vendo dormir tranquila...

Eu sou todo mundo... e ninguém...

O que colhe a rosa... e beija o espinho...

O sangue... a água... a areia...

O pé-de-vento em mágicas piruetas...

A margarida... o manacá... 

Os meses entrelaçados... as teias...

A mão estendida na súplica...

A cara virada para a parede...

O vexame... a timidez... a raiva...

A maldade de boas intenções...

A gaveta fechada... a chave perdida..

A tosse... a febre... o delírio...

O amargo mais amargo de todos...

Não sei... não quero... não vou...

Eu sei... eu quero... eu vou...

Nos grafites de banheiro...

Nas sentenças de morte...

O último cigarro ante o pelotão...

O perfume da puta... o suspiro...

Bijuteria barata... não faz mal...

A marca... a coceira... a tatuagem...

A minha cara-de-pau... tão cínico...

Não há maré...

O barco está furado... afunda...

Não importa... é de papel...

De jornal velho... amarelado...

Com as mesma notícias maquiadas...

Verdades tão mentirosas...

Não há porto...

Todo lugar é meu... é nosso...

Inferno e céu... céu e inferno...

A geografia nos confunde...

Só sei que estou triste...

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