Certamente não há certeza nenhuma
nesse mercado sem regras
onde cada mercadoria
não tem seu preço fixado
Até os amores são vendidos!
A ilusão se espalha pelo ar
feita a fumaça amarelada e cinza
de velhos cachimbos de ópio
Certamente não há certeza nenhuma
nesse mercado sem regras
onde todas as preces
acabaram se calando...
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Eu mesmo me feri com minhas unhas
como na aflição de dias melhores
dias bem melhores do que estes
que teimam em não chegar...
Eu mesmo feri minhas pobres carnes
com os sonhos mais absurdos que tive
mordi com a maior raiva que pude
mas não senti gosto algum...
Eu mesmo me feri minh'alma
mas ela já acostumada nada sentiu...
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Nada contra modernidades
elas ficarão enquanto serem
Nada contra antiguidades
todas elas tiveram seu tempo
Nada contra atualidades
umas ferem e outras não
Tudo passa pelo tempo
só o amor é imortal...
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Eu faço e desfaço tanta coisa...
Já me arrependi de ter me arrependido
Tantas e tantas vezes...
Abriguei-me do frio
Sob o maior temporal
Enquanto te procurava em vão...
Se há sonoras notas não escuto
E costume me atirar em fundos fossos...
Eu te procuro como um suicida
E não confessei nenhum pecado...
Eu faço e desfaço tanta coisa...
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Não tenho mais tempo...
Os últimos estão quase terminando
Entre monotonia e tédio.
Não tenho mais razão...
A paixão devora-me aos poucos
Só sobrarão meus ossos.
Não tenho mais contentamento...
Se existir um motivo para continuar
Mandem-me logo pelo correio.
Eu percorrerei as tristes alamedas
Desta solitária e assustadora necrópole
Buscando a inscrição da minha lápide...
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Eu olho o rosto dela
Tão feliz
Entre os bichos de pelúcia
Eu olho o corpo dela
E maldigo intensamente
O que o tempo
Acabou me aprontando
Eu olho a tristeza dela
Mesmo com um sorriso
Eterno sorriso
Que quer enganar
Mas não consegue
Sou especialista em desenganos
Eu olho sua alma
E lamento desesperado
Que já perdi a minha
Faz tanto tempo...
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Escreverei teu nome
Naquele céu com brancas nuvens
Para que ele dure
Até depois do final dos tempos
Eu não sei onde estarei
Nessa exata hora
Eu-demônio choro e choro...
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Eu gosto de ver o movimento
Sou inquieto como um átomo
A pedra caída nas águas
As folhas dançando nas ruas
As fogueiras subindo e subindo
Sou a plenitude do grito
Que pula da garganta
A minha escuridão
Morre por todas as manhãs
Meu sangue é um rio transbordando
Quando chove demais
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Um, dois, três
a morosidade dos passos
os semblantes fechados
o luto em variadas cores
eu me esqueci de tudo
e os outros assim o fizeram
Um, dois, três
todos os caixões pesam
levando suas vãs eternidades...
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