quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Aquela Alegria Que Eu Trago


Trago alegria...

Desculpe se ela é feita de retalhos

Não é o melhor dos meus trabalhos

É feita desses meus espantalhos...


Uma alegria tímida, calada

Que vem rindo do nada...


Trago alegria...

 Desculpe se ela é feita quase agora,

Feita de uma saudade que devora

Aproveite que ela vai embora...


Uma alegria pequena, colorida

Que vem rindo da vida...


Trago alegria...

Desculpe se ela é feita de improviso,

Se ela chegou sem dar aviso,

Se ainda falta nela algum sorriso...


Uma alegria fraca, nunca forte

Que vem rindo da morte...


Trago alegria...

Desculpe se ela é feita de lembrança,

Se é remendada de esperança,

Ela é a minha mais nova dança...


Uma alegria oprimida, calada,

Que vem rindo do nada...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Apenas Mais Um Poema Insone

Silêncio... ou quase...

Alguns pequenos barulhos

aos meus insones ouvidos...

No céu milhões de estrelas

com seu enganoso e eterno azul,

no quarto o barulho do ventilador

e o voo rasantes de alguns mosquitos...

Não sei mais onde minh'alma vai...


Silêncio... ou quase...

O peso dos meus olhos

não conseguem vencer a aflição...

Na cabeça muitos sonhos

teimosos em não sucumbir,

a incerteza mais que certa

de um dia que vai nascer...

Não sei mais onde minh'alma foi...


Silêncio... ou quase...

Acabo confundindo tudo

e nem sei mais qual o meu nome...

Eu acabo me confundindo

com a escuridão que é minha,

eu sou apenas mais um

entre tantos que choram...

Não sei mais até se tenho alma...


Silêncio... ou quase...

Pouco importa... ninguém me escuta...

 

domingo, 27 de dezembro de 2020

Pequeno Mundo ou Caim Chegou Para Almoçar

 


Muitos peixes no pequeno aquário. E aflições se repetindo que nem alguns ventos teimosos. Caim acabou de chegar para almoçar. Eu tenho certas saudades estranhas. Até de coisas mais ou menos ruins que lembro com certeira insistência. 

Os micos atravessam os fios com uma velocidade bem maior do que a da luz. Cenas impressionantes são imortais em quase todas as retinas. Como um balé que vi de soslaio quando atravessei a sala. Um brinde aos que ficaram e aos que partiram...

Muitos carros na rua apertada. E uma sinfonia inexplicável de certeiros semáforos. Acho graça em certas palavras, saboreio-as como um bem comportado mutante. Meus bolsos estão cheios de cartas que acabei não remetendo. Mal a friagem sabe que sou bem pior do que isto.

Estou exercendo um novo e interessante ofício: cato estrelas como se fossem conchinhas. Minha meninice chegou aos maiores extremos. E por isso mesmo não conhece limite algum. Uma câmera funcionando na mente. Acabo confundindo luz e escuridão ao meu bel-prazer. E muitos gritos que estão para eu dar...

Muitas palmas da plateia silenciosa. E alguns enigmas que se desfazem como a areia que um dia brinquei até não poder mais. Eu pulo sobre as nuvens e não tenho mais medo de escorregar. Faço mágicas prodigiosas com quaisquer sombras. Há muitos elixires, mas não possuo rótulos em seus frascos.

Não tenho preocupações acadêmicas e frustrantes. Chamam isso de loucura e na falta de outro termo também chamo. Gramática foi o meu forte, mas exageros sim. Nenhuma cabala me impressiona como foi antes. Coloco lentes de aumento em tudo que possa existir. E o que não existir, eu mesmo crio...

Muitos brindes ainda por fazer. Como o fim de inúmeras tolices que teimam de ficar entre os homens. As ilusões roem até os ossos. Quanto mais elas comem, mais vontade têm de comer, é assim que acontece sempre. Aos vencedores quase as batatas.

É uma vida quase normal. Feita de pedaços de tentativas, vários visitantes de vários lugares que chegam de imprevisto e nunca batem na porta. Quem poderia me salvar era eu, mas acabei decidindo o inverso. Vou rindo de todos os meus erros mais absurdos...

Muitos soldados sem seus uniformes. E guerras cotidianas não-declaradas. Guerras de gigantes e guerras de formigas, todas elas sem razão e sem sobreviventes. Holocaustos quase que invisíveis. Pandemias que existem sem sabermos e há muito mais tempo. Todos morrem.

Todas as decepções possuem pressa. E as águas dos rios somem de vez em quando. A normalidade é desagradável quando quer. E as histórias costumam mudar de roupa. Os tiros são cegos e os golpes mais certeiros provêm desse mesmo dilema. Algumas felicidades até enjoam...

Muitas pessoas em pequenas celas. E a importância sendo um conceito tão abstrato quanto as pedras. Eu evito a solenidade geralmente. As marcas na carne custam cada qual seu preço. E nunca existem prestações. Em cash, por favor. Meus mapas estão todos rasgados e o GPS falhou.

Todos os meus domingos eu prefiro esquecer. ão é preciso razão para qualquer querer. O desconhecimento pode consolar ou matar, dependendo da hora e do veneno que foi escolhido. Até o arame farpado pode agradar...

Muitos peixes no pequeno oceano. E aflições se expandindo que nem algumas águas caladas. Caim acabou de chegar para ficar. Eu tenho certas saudades estranhas. Até de coisas mais ou menos ruins que lembro com certeira insistência. 


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Máquinas Paradas (Nós)

 


As máquinas estão paradas,

Estão quebradas

Ou imóveis sem energia...

Os sonhos carcomeram as engrenagens,

Só há visagens,

Pobres fantasias...

As máquinas estão paradas,

Pobres sobrecarregadas

Já perderam o dia...

Os sonhos viraram simples pesadelos,

Inúteis os apelos,

Ora quem diria...

As máquinas estão paradas,

Estão sedadas,

Nesta monotonia...

Acabaram-se todos os motivos,

Sem adjetivos,

Só por teimosia...

As máquinas estão paradas,

Estão quebradas

Ou imóveis sem empatia...

Os sonhos fugiram são imagens,

Simples miragens,

Resta a ousadia...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Pressa

Me esbarro comigo mesmo nessas andanças por esse mundo. E às vezes tenho tempo de perguntar por mim, às vezes não. Tenho muita pressa...

Tenho muita pressa de chegar até o fim do caminho. Sem mesmo saber se esse caminho vai dar em algum lugar ou vai dar em nada. Ninguém sabe na verdade...

Ninguém sabe na verdade resposta alguma definitiva para quaisquer perguntas. As perguntas são simples brinquedos, podem nos divertir em quando, podem nos ferir outras vezes. Chorar ou rir...

Chorar ou rir, apenas os dois lados do mesmo espelho. Tudo é apenas um grande paradoxo, para uma vitória, tantas derrotas. Só rompe a fita da chegada, os outros são apenas alguns detalhes...

São apenas alguns detalhes os sonhos que temos também. Sonhos podem ser bem malvados quando querem, insistem em tocar em nossas feridas até que sangrem mais. Querem ser realizados de qualquer jeito, até quando o jogo é sujo...

O jogo sujo das necessidades mais básicas ou das excentricidades mais loucas possíveis. Não existem tamanhos, existem exigências. O pedaço de pão e o banquete são parecidos. O trocado no bolso e o milhão na conta são semelhantes. Todo orgasmo é igual. Depois da satisfação, vem o nada...

Vem o nada de um brinquedo desejado, de uma transa planejada, de tudo o que podemos imaginar. Tudo ao gosto do freguês, do amor platônico à cena do filme pornô, tudo tem seu motivo, mas nem sempre tem lógica...

Nem sempre tem lógica o que tentamos fazer. Nada consegue ser preservado indefinidamente, nada sobrevive o tempo todo ao próprio tempo. O que não é totalmente esquecido, é modificado, É a velha história da história que cresceu ou não. Nada mais sabemos...

Nada mais sabemos do que estamos tristes, que estamos sem motivos para nos mexermos. A sala de estar nos convida morbidamente para o nosso fim sem explicação alguma. Assistimos mentiras em capítulos, venenos em gotas homeopáticas. Temos apenas finais...

Apenas finais de dramas nada gregos de tragédias insanas. Eu sou um dos que queriam algo mais, um dos muitos que sofrem mais um pouco, os que gritam. Mas gritar nada adianta, as ruas se esvaziaram de repente, todos fugiram para as colinas. E eu me esbarro comigo...

Me esbarro comigo e não me reconheço. Sou apenas mais um monstro da minha própria criação. Nem me perguntei por mim, acabei me esquecendo. Tenho muita pressa... 

sábado, 19 de dezembro de 2020

Why I Sing

 


I sing because it hurts the wound...


I sing because I'm sad...


Why do other people sing?


Some sing for nothing ...


Others sing for fun ...


Some to make the pain less ...


Dreams are sometimes evil


and take us to dark paths ...


Where am I now?


I must be inside myself,


into the darkness of my chest,


where my dead loves go ...




I sing only out of desperation,


like who will die the next day


and you can do nothing to save yourself ...


The flowers have already died with me,


the leaves too,


even though it's not autumn...


Listen to my song,


love can also sadden you


this is part of everyone's destiny,


there is no way to fight it,


it's like fighting in vain


in a great endless war ...



I sing until I can't anymore ...

Alguns Poemetos Sem Nome Número 90

Cá sem os meus botões, 

era recordações

que o lixeiro levou,

se calaram as canções,

todo o som se calou,

não existem emoções,

coração se quebrou...


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Quero fazer todos os poemas possíveis,

roubar todos os versos ao alcance das mãos,

que eu não tenha mais tempo para nada

e até me esqueça como é que se respira...

O meu tempo já se acabou antes de acabar...

Versos de todas as matizes serão bem vindos,

os bonitos e os feios, os perfeitos e os ao acaso,

agora isso não me importa mais...


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a minha memória anda boa

consigo me entristecer

com as bobagens mais ternas...

a minha memória anda melhor ainda

lembrando histórias

impossíveis de qualquer retorno...

a minha memória está prodigiosa

sentindo cheiros e ares e cores

de tudo que está em minha volta...

a minha memória está extraordinária

tenho lembrado de mim mesmo

e isso me faz chorar um pouco menos...

a minha memória é a própria história

caça detalhes mais imperceptíveis

como um cão que fareja pistas...

a minha memória anda tão ruim

que ás vezes fico me perguntando:

o que eu estou mesmo fazendo aqui?


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sons cadenciados feito um tambor

numa parada militar

ou num samba-enredo

não há mais o que chorar

a vida é apenas um brinquedo

eu escuto os sons de meu peito

e acabo me assustando...


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a estética ao avesso

indo de encontro

à toda lógica possível

pedaços de carne falantes

grandes nadas em ação

fotos agora fora do papel

a existência mais efêmera

dependendo de likes

e mentiras açucaradas

escondendo o choro

toda realidade dói


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Hei de me preparar para chuva

dessas que gostam de nos pregar peças

dessas que nos gelam até os ossos

que nos fazem arrepender de ter saído

também vou me preparar para o vento

desses que assassinam folhas

mais do que o próprio tempo faz

ventos malvados que desmancham

tudo o que encontram pela frente

hei de me preparar para que até os sonhos

me peguem desprevenido e me matem...


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Que eu sou um tolo

acho que todos sabem

(pelo menos eu sei,

mesmo fingindo que não)

Tolo, mais humano

que eu deveria ser

(erramos além da conta,

isso é mais que certo)

Sempre e sempre tolo

como todos somos

(talvez mais um pouco

por teimar em sonhar)...


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A luz se apagou

apagou a luz

ou fecharam os olhos?

Fiquei surdo

ou os sons

foram embora?

Não sei mais nada

ou nunca soube?


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Vã Ciência Humana

 


Estamos confusos 

em nosso maior esclarecimento

Estamos tolos

providos da maior sabedoria

Estamos cruéis 

enquanto saturados de ternura

Estamos malvados

mesmo com o peito cheio de amor

Somos os reis do planeta

e a maior praga que ele possui

Nossa alma não tem preço

mas nossa dignidade tão pouco

Somos o que há de melhor

e o que há de pior também

Em palavras erguemos castelos

e em palavras matamos deuses

Estamos com fome

e devoramos o nada

Estamos com sede

e partimos para o deserto

Nossos amores nos maltratam

e nossos sonhos nos desesperam

Eu sou meu maior caçador

e não tenho pena de me ferir

Eu afio o machado para o carrasco

fui eu que inventei todos os castigos

Estamos bailando para o abismo

e preparo o mergulho no tsunami

Fui eu que dei o grito

para poder acordar a fera

Estamos confusos

em nossa maior ciência

Estamos tolos

em nossa maior filosofia...

domingo, 13 de dezembro de 2020

Inevitável Alegria de Um Desesperado

 


De mão dada eu vou comigo mesmo,

contando piadas para a minha sombra...

O caminho? Eu escolho à esmo,

pois nem fantasma mais me assombra...


Malvadas pedras que meus pés firam,

atalhos que favoreçam uma emboscada...

Mostro o meu peito para os que atiram,

tudo o que eu fiz já deu em nada...


Perdi o medo de qualquer assalto,

não me importo com prazo de validade...

Do topo do prédio que for mais alto

poderei ver a sujeira de minha cidade...


Entro em qualquer fila só por entrar,

sou um cara honesto, bom  cidadão...

Moro tão perto, mas nem vejo o mar,

conheço tudo, mas não tenho opinião...


De mão dada eu vou comigo falando,

contando piadas para a minha tristeza...

À cada segundo me desesperando

só existe uma única certeza...

Alguns Poemetos Sem Nome Número 89

 


Eu me senti 

como um barco sem rumo

E algumas ruas

eram mares escuros


Eu me senti

como o morto no enterro

E a minha morte

era o fim de meu sonho


Eu me senti

como um anjo sem asas

E essa vida

era a antecipação do inferno


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um carnaval para cada tristeza

um carnaval parecendo tristeza

velhas melodias reencarnadas

fantasias rasgadas saindo das covas

eu trago comigo angústias mortas

acabei rindo e rindo de mim mesmo

não sei fazer os mais certeiros versos

mas saudade demais carrego sempre


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um, dois, três,

a expectativa de uma felicidade

que nunca virá


três, dois, um,

a festa preparada para o sonho

que acabou morrendo


um, dois, três,

o menino olhando para o céu

guardando inconfessáveis segredos...


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acendo meu cigarro

e vejo o mundo

mate-me antes

dos velhos sonhos

assim fazerem

os horários foram

esquecidos de vez

chove muito

o mundo é

um grande rosto

com várias lágrimas

nada mais

eu quero falar


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palavras presas

feito um navio negreiro

não se sabe qual morte

virá primeiro

se a morte do enfado

se a morte da doença

o tédio me matará

com sua simples presença


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sim e não ao mesmo tempo

eu fiquei jogando pedrinhas pelo caminho

a monotonia ensinou-me muitas coisas

algumas me ajudavam e outras não

me cansei de tantas fotografias

gestos estáticos semelhantes a morte

faltam-me ideias e muitas

gostaria de sair por aí andando

sem algum objetivo plausível

mas os domingos são tão malvados...


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o mundo não é mais cão

quem pensa assim erra

o mundo já deixou de ser cão

desde a primeira bomba

o mundo agora é rato

apenas rato

e andamos em limpos esgotos

por cima dos milhares de corpos

da nossa triste espécie


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não há mais espaço em minha pele

para tantas correntes

que se chamam compromissos

sobretudo os que eu não quero

gostaria de ter mais tempo

para poder com calma contar o tempo

e rir muito da morte

quando ela tentar chegar de surpresa

e ver que eu já a esperava faz muito


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sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Alguns Poemetos Sem Nome Número 88










Há um preço justo

Para qualquer saudade 

Um tiro certo...

Em qualquer alvo

Presas e caçadores

Até se parecem um pouco...

Eu ás vezes me desconheço

Sem reconhecer minha cara...

Fujo dos espelhos

Como o diabo foge da cruz

E minha fuga de nada adianta...

Sinto um gosto metálico

Em meu mau-hálito

Que pode ser de nicotina

Ou ainda de puro desespero...


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Eu sonhei com passeios tranquilos

em jardins imaginários...

Em tardes mornas cheias de paz

E flores de caprichadas cores...

Quis que os contos de fada

em certo repente fossem reais...

E os castelos de pedras azuis

não caíssem nunca mais...

Eu apenas sonhei e nada mais...


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bichos e plantas e rostos

todos eles acabam partindo

a morte não tem escapatório

eu fico nu em plena praça

e vou rindo de mil insanidades

que eu mesmo fiz 

em dias mais ou menos longos

em que enganei-me pensado

que tudo poderia dar certo...


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Tudo é um jogo

apenas um simples jogo...

Gudes bonitos 

e flechas traiçoeiras

vão em nossa direção

com a mesma intensidade...

E enquanto eu choro

aquela poesia morta

vai escorrendo entre 

meus gélidos dedos...


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Eu nunca foi bonito

até o azul dos olhos

mudou de cor...

Eu nunca fui bom

me defendi do meu jeito

de maldades atiradas...

Eu nunca fui feliz

se tive essa impressão

é porque intoxicado estava...

Os meus sonhos morreram

um a um lentamente

como as folhas em seu tempo...


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eu tenho meu tempo todo

e não há como evitar tal feito

meu tempo me segue persegue

até e sobretudo se me deito

malvado tirano bandido

ri da minha cara e do meu jeito

num dia virá me buscar

para morar em seu peito...


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Como numa batalha interminável

os metais brilhavam debaixo do sol

Com seus sons desprovidos de melodia

traziam medos aos seus combatentes

Não sei porque mas em minha memória

surgiam antigas gravuras medievais

Um sangre negro e expostas feridas

é o que mais chamava minha atenção

Eu até hoje e sempre folheio o livro

das minhas emoções que se degladiam...


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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Feito Zunido

 


Escuto a madrugada em meus ouvidos. O silêncio da noite é um tango que acabou dando errado. Mesmo assim eu escuto. Com a solenidade que só os desesperados possuem. Eu nem tropeço mais. As minhas pupilas dilatam como as de um felino habitante de impossíveis malícias.

O zoom da minha câmera falhou na hora exata. Não há mais sonhos e nem peixes em sonoras redes. O menino que eu era acabou de fazer caretas no espelho quebrado. Nada mais importa. Talvez se o tropeção me der mais impulso. Eu voe para bem longe daqui. 

Os grilos fazem coro com os bacurais. Eis o meu medo em outras noites mais amenas quando nada tinha. E mesmo assim era o dono de todas as coisas que estivessem ao alcance da mão. Eram mágicas que eu não percebia. Mas mesmo assim eu era o seu autor. Eu era o senhor de todos os prodígios.

Sinto os cheiros mais diversos como um cão farejador. Não ha mais caça. A caça sou eu mesmo. Não há mais presa. Eu mesmo teço minhas armadilhas. Como quem mente dizendo que espera a morte. Até quando dizemos a verdade estamos mentindo. Nenhum espinho é motivo de aplausos. Nossas vaias estavam em falta.

As correntes quase enferrujadas rangem. Eis a minha teimosia feito maré que leva e traz todas as ilusões. Juntei todos os ingredientes possíveis para fazer a poção. Mas a magia não teve efeito algum. A própria realidade acaba se desconhecendo.

Vaga-lumes e cigarros agora se confundem. Somos quase humanos quando tentamos. O choro iguala todos. O riso nunca faz isso. Quantos cadáveres estreitei em meus braços. Cadáveres que respiram. O papel-moeda sempre cumpre o seu papel. Sempre fere de propósito. Nunca sabe pedir desculpas.

Eu já gritei tantas vezes! Mas a surdez continua na moda. Nunca me escutaram. Falei coisas tão compreensíveis. Deve ser por isso que fui desprezado. Nada mais resta. Pelo menos para mim. A esperança é a última dose no fundo da garrafa. Um suor alcoólico escorre em meu rosto. Principalmente nos dias de mais frio.

Eu quase tenho um desmaio qualquer. Sou vampiro e esqueci onde coloquei meu caixão. A noite desfalece aos poucos. Minhas presas agora se contraem com um bom sorriso burguês. A luz aos poucos surge me aterrorizando. E como um zunido. Um vento mais forte. Começa o dia....


(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Poética do Absurdo Mais Que Real

 


Eu choro em meio ao riso

Será uma festa o meu funeral

A paixão matou-me sem aviso

Todo começo foi um final


Vamos comemorar o que não tem comemoração

A realidade é apenas mais uma ilusão...


Eu me disfarço sem ter fantasia

Sou apenas mais um desastre formal

Um dragão engoliu-me o dia

Coitado ele acabou passando mal


Vamos explicar o que não tem explicação

O destino é um carro sem direção...


Eu cato as sobras jogadas no lixo

Transformo em bem o próprio mal

Toda necessidade é apenas um capricho

Vamos dançar um tango sob o temporal


Vamos extinguir o que não tem extinção

A alma morre e sobrevive o coração...


Eu sou apenas mais um saltimbanco

E dou o meu pulo arriscado e fatal

Quis que a vida não passasse em branco

E fiz o pior: tornei-me um sujeito normal


Vamos comemorar o que não tem comemoração

A realidade é apenas mais uma ilusão...


terça-feira, 24 de novembro de 2020

My Madness

In my madness

I keep looking at the days ... How will it be tomorrow? The days are similar ... Almost equal in their sadness ... Similar in their tears and worries ... I don't even know what I would want ... Loves have died like rivers that have dried up ...

Dreams flew awaylike frightened birds ...

I try and I can't ... Maybe it was better Put on the old fantasy And make a new carnival ... Or still sleep And never wake up ...


Simples - Um Poema

Não que eu queira

mas tem que ser assim...

Essa alma pequena

encarcerada nesse corpo doente

veio de tantos tempos idos

onde a simplicidade

era maior que muitas estrelas...

Não que eu me esforce

o esforço necessário...

Essas palavras vulgares

serviram-me bem até hoje

no lugar de gritos altos

mostrando-me o desesperos

dos mais sufocados amores...

Simples como a pele...

Mais simples do que uma cor só...

A velha roupa rasgada

que não quero jogar fora...

Simples como a água...

Mais simples que o próprio ar...

As velhas histórias

que insisto em me lembrar...

Não que não queria admitir

e aceitar a derrota do tempo...

A morte não vai me assustar

mais do que me assustou

essa vida cheia de maldades

que acabaram me enrudecendo

e impediram de ser feliz...

Não tenho mais palavras doces

o amargo tomou conta de mim...

Tudo que aprendi foi em vão

e mesmo os cálculos difíceis

perderam-se alcoolizados

pelas muitas e muitas madrugadas

que nem sabia mais meu nome...

Simples como o tesão...

Mais simples que a última intenção...

O amor que eu teimo

mas que nasceu impossível...

Simples... Muito simples...

Um velho poeta por aí chorando...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome Número 87

 


Tudo bem

Tudo zen

Tudo além


Nas tristezas que eu mesmo causei

A culpa foi só minha se eu te amei

Eu derrubei todos os meus muros

E no barco eu mesmo fiz os furos

Arrumei a minha cama na solidão

Eis a eterna espera do meu verão


Tudo sem

Tudo nem 

Tudo além


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Sem sabiás e sem manacás

eis aí minha poesia

o sabiá já morreu

o manacá nem floriu

Mil mentiras contadas

afligiram-me feito setas

que me acertaram alvo

Não quero complicar mais

do que assim está

As nuvens se despedaçaram

no mais frio dos choros


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Os aldeões com seu grande alarido

Iluminavam espectralmente a noite

Com suas dezenas de tochas acesas

Como naqueles filmes baratos

De um terror mais que infundados

Mas era um bocado diferente 

O seu mais revoltado objetivo 

Não queriam invadir o sinistro castelo

E matar o monstro criado em laboratório

Estavam querendo matar o sonho

Que tristemente sustentava

Suas próprias vidas já mortas...


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Eu não tenho culpa

Não tenho culpa alguma

É que eu saí pra rua

E não me preveni corretamente

Meu sonho atacou-me

E eu tive que sair voando...


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No caderno de minha memória

Guardei meus segredos mais caros

Como sou infeliz!

O papel foi amarelando e amarelando

As letras sumindo e sumindo

E o que me era tão caro

Acabou ficando sem valor algum

Apenas um velho caderno

Com enigmas indecifráveis


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Olho o relógio

Vejo nuvens

Confundo letras

Construo acasos

Faço propostas

Ganho negativas

É tudo tão simples

Feito um labirinto

A cafeína vai 

Lentamente nas veias

E um som de silêncio

Acompanha solitário

A mais pobre

Frequência cardíaca


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Talvez a dor passe ou me acostume

O que me parece a mesma coisa

Talvez a alma morra ou envelheça

O que me parece a mesma coisa

Talvez a maldade caia ou desmaie

O que me parece a mesma coisa

Talvez os tiros errem ou falhem

O que me parece a mesma coisa

E ainda sobre alguma coisa

Para afinal eu poder comemorar


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Foram tantas as vezes

que fechei meus olhos

e enxerguei a absoluta escuridão

mas isso foi inútil...

A luz voltou aos poucos

e o dia finalmente amanheceu...

Foram tantas as vezes

que eu jurei não mais amar

e sequei minhas veias

para que o coração não batesse...

Um anjo veio me visitar

e acabou me ressuscitando...


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sábado, 21 de novembro de 2020

Com Um Pouco de Sorte

 


Eu tremo de medo da solidão,

Já me cansei de ser sempre o peão,

Acho que morri e esqueceram da extrema-unção...


Vou dançar de olho fechado,

Com um pouco de sorte

Talvez dê errado...


A top model ganhou um tombo em Milão,

Meu dog roeu todos os ossos do barão,

Temos tantas bundas para tão pouco tesão...


Vou beber tudo o que conseguir,

Com um pouco de sorte

Até meu nome esqueci...


Até meu carrinho foi pela contramão,

Uma hora rimos, noutra hora não,

Toda regra estética é pura ilusão...


Vou gritar até não poder mais,

Com um pouco de sorte,

Acabou a minha paz...


Faltou farinha pra esse nosso pirão,

Ganhei um centavo e perdi um milhão,

Foi eleito mais um novo ladrão...


Vou dormir mais um segundo,

Com um pouco de sorte,

Acabou-se o mundo...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Já Está Feito



A sorte está lançada...

Eu ando desnorteado como sempre, labirintos de febre, cabelos azuis e faces debochadas. Misturados estão todos os sons, mas até que essa cacofonia ficou bem agradável. Baile sem máscaras, sim, senhor...

A lida se cansou...

Sou um ilustre desconhecido que cata as tristezas jogadas fora com as mãos. Estão sujas, mas agora pouco importa. O carteiro não trouxe notícias boas, apenas contas vencidas. Eu bem que tentei, não deu certo...

O corte ainda está aberto...

Falo perguntas só por perguntar, sei a negativa de todas elas. Não se trata de ser fatalista, apenas estar acostumado com realidades pequenas e doloridas. Tudo se repete, nós é que não notamos...

Parei de sangrar depois de morto...

Nossos monstros saem da tela, invadem a sala e se assustam conosco. Nossa modernidade está muito antiga, velhos preconceitos nos fazem corar. A tolice comprou seu duplex em frente ao mar...

O cálice está vazio apesar de cheio...

Minhas tatuagens ficaram mais vivas do que eu, sua estética valeu mais do que meus esforços. Olho com volúpia as pernas de Betty até que minha alma arda de tesão. Tapem os ouvidos das crianças para não verem o meu politicamente incorreto...

Acabou a bateria do meu milagre...

Não sou malandro de lugar nenhum, apenas mais um sobrevivente de um Titanic que ainda não partiu. O cenário não ficou pronto a tempo para encenarmos a peça. Nesse teatro mambembe comemos nossas palmas...

Assobios zunem no meio da noite...

Um terremoto derrubou todo banquete no chão, os convidados agora imitam os cães. Tudo é muito parecido, senão igual. Vermelhos e azuis declararam cessar-fogo por tempo indeterminado. Não estranho mais coisa alguma...

Não quero mais olhar na tua cara...

Perdi as contas de quantas vezes perdi as contas, mas isso deve ser muito ou pouco. Por isso virei todos os espelhos para a parede. Minha criatividade acabou criando várias criaturas...

A velha senhora só quer um rio...

Piedosamente meus pedidos de perdão foram recusados, o que é mais do que normal. Olhando para eu mesmo descobri meia dúzia de enigmas. Tudo perde a sua importância se finalmente acordamos...

A sorte está lançada... Não há mais novidades... O que foi feito, já está feito...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome Número 86



Vidros quebrados

Roupas rasgadas

Ilusões desfeitas

Rostos parados

Nem mais lembrados

Cenas imperfeitas

Tudo muda

Menos o esquecimento...


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Faz tempo que nem tenho tempo de ver que nem tenho tempo. As raízes da saudade entranharam-se pelo solo seco de minh'alma e são difíceis de serem arrancadas. Tudo passa, menos o vazio de muitas ilusões mutiladas. Não reclamo mais, as minhas reclamações gastei contra mim mesmo. Não choro mais, o choro se tornou um lugar-comum totalmente fora de moda. Estou preso com as minhas próprias liberdades. O descanso pode até cansar mais...


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Quem somos nós?

Evitamos esta pergunta incômoda

Pela exata falta de resposta

Nossa roupa agora é nossa pele

Nossa vontade são os comerciais

Nossa verdade a própria mentira

Matamos nossa empatia

Com as pedras que atiramos

Nada mais tememos

Porque somos o próprio medo

Quem somos nós?

Mais um aplicativo baixado

Em nossos aparelhos celulares...


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Ando tão mal da memória... Esqueci todos os compromissos firmados comigo mesmo em ser feliz. Transformei-os numa competição barata com outros infelizes. Nesta competição não há ganhadores, todos perdem. Até Machado errou, as batatas estavam todas estragadas... Quase tudo continua na mesma, mas eu mesmo me ceguei de forma proposital. Gosto de coisas ruins, menos da minha própria pessoa. Enveneno-me regularmente procurando a cura para a doença que não tenho. Sou um grande inventor. Transformo a sabedoria em tolice. Manipulo todos os conceitos para chegar ao nada. Ando tão mal da memória...


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Sol para um céu que chorou ontem

O movimento de formigas

Para os homens da feira aqui perto

Tudo é tão divertido

Mesmo com qualquer tristeza que há

Até alguns pés cansados

Ficam de repente com vontade de dançar


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Representações hediondas

De uma miséria qualquer

Cometemos o erro

E escolhemos o castigo

Assim e não mais

Eu me embriago com os sonhos

Rude e cínico e debochado

Até minha tristeza se maquia

Chegou a hora do espetáculo


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Todos os números desapareceram

Não os da agenda do meu celular

Mas os números da vida

A inexatidão pertence à minha saudade

Sinto meu coração doer

Como o mais triste samba-canção

Eu gostaria de um alegre frevo

Mesmo se faltasse o guarda-chuvas


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Sábados

Desejando quase serem domingos

E amedrontados com as segundas

Eu até gosto das segundas

Mas a sua pressa entristece

Eu até gosto das segundas

Mas os carros não diminuem

Sua loucura nem sua velocidade


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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...