domingo, 13 de dezembro de 2020

Alguns Poemetos Sem Nome Número 89

 


Eu me senti 

como um barco sem rumo

E algumas ruas

eram mares escuros


Eu me senti

como o morto no enterro

E a minha morte

era o fim de meu sonho


Eu me senti

como um anjo sem asas

E essa vida

era a antecipação do inferno


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um carnaval para cada tristeza

um carnaval parecendo tristeza

velhas melodias reencarnadas

fantasias rasgadas saindo das covas

eu trago comigo angústias mortas

acabei rindo e rindo de mim mesmo

não sei fazer os mais certeiros versos

mas saudade demais carrego sempre


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um, dois, três,

a expectativa de uma felicidade

que nunca virá


três, dois, um,

a festa preparada para o sonho

que acabou morrendo


um, dois, três,

o menino olhando para o céu

guardando inconfessáveis segredos...


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acendo meu cigarro

e vejo o mundo

mate-me antes

dos velhos sonhos

assim fazerem

os horários foram

esquecidos de vez

chove muito

o mundo é

um grande rosto

com várias lágrimas

nada mais

eu quero falar


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palavras presas

feito um navio negreiro

não se sabe qual morte

virá primeiro

se a morte do enfado

se a morte da doença

o tédio me matará

com sua simples presença


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sim e não ao mesmo tempo

eu fiquei jogando pedrinhas pelo caminho

a monotonia ensinou-me muitas coisas

algumas me ajudavam e outras não

me cansei de tantas fotografias

gestos estáticos semelhantes a morte

faltam-me ideias e muitas

gostaria de sair por aí andando

sem algum objetivo plausível

mas os domingos são tão malvados...


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o mundo não é mais cão

quem pensa assim erra

o mundo já deixou de ser cão

desde a primeira bomba

o mundo agora é rato

apenas rato

e andamos em limpos esgotos

por cima dos milhares de corpos

da nossa triste espécie


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não há mais espaço em minha pele

para tantas correntes

que se chamam compromissos

sobretudo os que eu não quero

gostaria de ter mais tempo

para poder com calma contar o tempo

e rir muito da morte

quando ela tentar chegar de surpresa

e ver que eu já a esperava faz muito


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