Eu me senti
como um barco sem rumo
E algumas ruas
eram mares escuros
Eu me senti
como o morto no enterro
E a minha morte
era o fim de meu sonho
Eu me senti
como um anjo sem asas
E essa vida
era a antecipação do inferno
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um carnaval para cada tristeza
um carnaval parecendo tristeza
velhas melodias reencarnadas
fantasias rasgadas saindo das covas
eu trago comigo angústias mortas
acabei rindo e rindo de mim mesmo
não sei fazer os mais certeiros versos
mas saudade demais carrego sempre
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um, dois, três,
a expectativa de uma felicidade
que nunca virá
três, dois, um,
a festa preparada para o sonho
que acabou morrendo
um, dois, três,
o menino olhando para o céu
guardando inconfessáveis segredos...
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acendo meu cigarro
e vejo o mundo
mate-me antes
dos velhos sonhos
assim fazerem
os horários foram
esquecidos de vez
chove muito
o mundo é
um grande rosto
com várias lágrimas
nada mais
eu quero falar
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palavras presas
feito um navio negreiro
não se sabe qual morte
virá primeiro
se a morte do enfado
se a morte da doença
o tédio me matará
com sua simples presença
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sim e não ao mesmo tempo
eu fiquei jogando pedrinhas pelo caminho
a monotonia ensinou-me muitas coisas
algumas me ajudavam e outras não
me cansei de tantas fotografias
gestos estáticos semelhantes a morte
faltam-me ideias e muitas
gostaria de sair por aí andando
sem algum objetivo plausível
mas os domingos são tão malvados...
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o mundo não é mais cão
quem pensa assim erra
o mundo já deixou de ser cão
desde a primeira bomba
o mundo agora é rato
apenas rato
e andamos em limpos esgotos
por cima dos milhares de corpos
da nossa triste espécie
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não há mais espaço em minha pele
para tantas correntes
que se chamam compromissos
sobretudo os que eu não quero
gostaria de ter mais tempo
para poder com calma contar o tempo
e rir muito da morte
quando ela tentar chegar de surpresa
e ver que eu já a esperava faz muito
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