quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Sobre O Seu Cadáver

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Vai, continua com suas loucuras, eu já não me importo mais. O meu tempo é pouco, muito pouco, ainda tenho que tentar alguns sonhos, e se não conseguir, pelo menos tentei, é o que mais importa.
Já viu o sol hoje? Talvez não, a madrugada comprou suas insanidades por qualquer uma moeda suja e isso lhe satisfez muito. Não a culpo, já fui amigo de muitas delas, mas foram diferentes. Vaguei por muitas ruas, sozinho e brincando de gato e rato com o perigo, mas você não. Você o convidava para dançar e ele sempre aceita o convite.
O que tem feito de bom ultimamente? Acho que continua sendo motivo de piada para os malvados e de censura para os que não conhecem sua história como eu. Nunca lhe apontei o dedo e nunca apontarei. O anjo que me conduz serenamente para algum fim, é aquele que trocou suas asas e um dia brincou comigo de sobrevoarmos perigosos abismos. Bem e mal se confundem entre sonhos e pesadelos...
Espera o que? A morte? Nisso me preocupo um pouco. Você convidou a morte, mas esquece deste convite todos os dias. Eu nunca a convidei, mas acredito em suas boas intenções e abrirei a porta na hora que ela chegar e apenas voltarei para a minha verdadeira casa.
Só peço uma coisa, somente uma. Já que meus pedidos foram todos negados, se eu não tive os carinhos que quis, os beijos que desejei, poder saber que estaria comigo o tempo quase todo que me fosse permitido, não peça que eu esteja perto, não peça que eu veja, nem pelo menos que eu saiba que seu plano deu certo.
Eu sempre gostei muito de flores, nunca neguei isto, sempre falo dela quando meus versos deixam. Mas, meu amor, não gostaria de sentir o cheiro delas, misturado com o cheiro do seu cadáver...

(Para J., extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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